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Como discorrido no ponto 1.2 do primeiro capítulo da presente monografia, a Lei nº 11.101/2005 prevê em seu art. 6º84 a suspensão do curso da prescrição e de todas as ações em fazer da empresa devedora, ao ser deferido o processamento da recuperação judiciária – stay period. Quanto a isso, o Projeto de Lei 10.220/2018 realiza alterações significativas no que concerne ao marco inicial e o prazo de duração da suspensão85.

83 GOMES, Conceição. A formação de magistrados como instrumento de transformação da justiça. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, 05.11.2018. Disponível em: http://journals.openedition.org/rccs/7881. Acesso em: Acesso em: 02 abr. 2019.

84 Art. 6º A decretação da Falência ou o deferimento do processamento da Recuperação Judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.

85 Art. 6º A decretação da falência ou o ajuizamento do pedido de recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções contra o devedor, além de qualquer forma de retenção, arresto, penhora

Em primeiro lugar, quanto ao marco inicial, a previsão legal é de que a suspensão terá seu início no deferimento do processamento da Recuperação Judicial, então, após análise do magistrado e preenchidos todos os requisitos do art. 5186, da referida lei, será deferido o processamento da Recuperação Judicial e, com isso, as ações e execuções contra o devedor são suspensas.

O Projeto de Lei em análise alterou o marco inicial que passou a ser o ajuizamento do pedido de Recuperação Judicial. Vê-se que pode se tratar de um ato arriscado, vez que tal suspensão poderia ser utilizada como instrumento até mesmo por empresas que não tem interesse em se submeter ao instituto da Recuperação Judicial, mas apenas retardar o pagamento aos seus credores. Contudo, a essas empresas que agem de má-fé, o art. 6º, § 12, do Projeto de Lei 10.220/201887, prevê a anotação do ato em sentença, para que em caso de futuros pedidos de Recuperação Judicial e Falência seja considerado o ato doloso, além disso, será indeferido o processamento da Recuperação Judicial.

ou constrição judicial ou extrajudicial contra o devedor, incluídas aquelas dos credores particulares do sócio solidário. § 4º Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput perdurará até a data de seu encerramento.

86Art. 51. A petição inicial de Recuperação Judicial será instruída com: I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento; V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores; VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras; VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial; IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores demandados. § 1º Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares, na forma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado. § 2º Com relação à exigência prevista no inciso II do caput deste artigo, as microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituração contábil simplificados nos termos da legislação específica.

§ 3º O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que se referem os §§ 1º e 2º deste artigo ou de cópia destes.

87 Art. 6º A decretação da falência ou o ajuizamento do pedido de recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções contra o devedor, além de qualquer forma de retenção, arresto, penhora ou constrição judicial ou extrajudicial contra o devedor, incluídas aquelas dos credores particulares do sócio solidário. § 12. A decretação da falência ou o ajuizamento de pedido de recuperação judicial não impede a adoção da via arbitral, hipótese em que caberá ao juízo da recuperação a determinação da qualificação do crédito

O marco inicial antecipado pode ser considerado como um ponto positivo às empresas que encontram no stay period seu fôlego – como reconhecido pelo autor Marlon Tomazzete88 – para se recuperarem da crise.

Em segundo lugar, há alteração também do tempo de duração da suspensão. A Lei em referência prevê que a suspensão dure até a aprovação do plano de Recuperação Judicial ou em até 180 dias, enquanto o Projeto de Lei propõe que seja alterado e a suspensão dure até o encerramento da Recuperação Judicial. Prazo para que a empresa planeje sua recuperação,

tornando o cenário mais propício a apresentação de um bom plano. 3.3.1 Suspensão da ação de despejo

O projeto de lei prevê ainda a suspensão das ações de despejo89, fundamentadas no não pagamento de aluguéis até a data do pedido de recuperação judicial. Essa alteração é positiva, construindo uma previsão expressa ao que era discutido em sinal de divergência na jurisprudência.

Com isso, consolida-se o objetivo do projeto de lei analisado em construir um cenário mais positivo para organização da empresa, ao ser prolongado o tempo e inclusa outra ação no rol das previstas a serem suspensas, viabilizando a possibilidade de criação de estratégias para superação da crise.

3.3.2 Ressalvas ao stay period

O § 7º, do art. 6º, do PL 10.220/201890 realiza ressalvas quanto à suspensão de ações e execuções: “(...) não suspende o curso das execuções fiscais, inclusive do Fundo de Garantia

do Tempo de Serviço – FGTS, as quais prosseguirão normalmente, permitida a constrição e a

alienação de bens e direitos no juízo que as processa, hipótese em que não competirá ao juízo da Recuperação Judicial avaliá-las”.

88 TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: falência e recuperação de empresas, 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2017, p. 94. v. 3.

89 Art. 6º. § 9º O pedido de recuperação judicial suspende a ação de despejo fundada em não pagamento de aluguéis até a data do pedido.

90 Art. 6º A decretação da falência ou o ajuizamento do pedido de recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções contra o devedor, além de qualquer forma de retenção, arresto, penhora ou constrição judicial ou extrajudicial contra o devedor, incluídas aquelas dos credores particulares do sócio solidário. § 7º O ajuizamento da recuperação judicial, ressalvada a suspensão de exigibilidade nos termos da legislação de regência, não suspende o curso das execuções fiscais, inclusive do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, as quais prosseguirão normalmente, permitida a constrição e a alienação de bens e direitos no juízo que as processa, hipótese em que não competirá ao juízo da recuperação judicial avaliá-las.

A Lei de Recuperação Judicial e Falência não realizava nenhuma previsão expressa quanto ao FGTS, contudo, além de não suspenderem, não haverá restrições quanto à constrição e alienação de bens, não se submetendo aos efeitos da Recuperação Judicial. O modo em que a presente situação reflete às empresas é muito subjetivo, dependendo sempre do valor dos créditos, entretanto, abre-se uma ressalva para que as empresas estejam em alerta quanto ao assunto e reservem no seu plano de recuperação de crise um tópico especial aos créditos e ações que envolvem o FGTS91.

Por agora, basta o discorrido, uma vez que, acerca das questões fiscais, será aberto, ainda, um tópico para tratar especificamente.

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