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4 A AMPLIAÇÃO DO PRESENTE: AS NARRAÇÕES AUSENTES

4.1 MARIA – 82 ANOS

Figura 2: 38 anos de ofício

Fonte: co-criação entre a autora e a ilustradora Rocio Tenaglia

Ela é Maria. Tem 82 anos e ri a cada duas frases. Foi parteira por 38 anos, iniciou-se na cidade de Passo Fundo, no estado do Rio Grande do Sul. Conta que seus três primeiros partos foram atendidos por uma parteira anciã e, depois de vivenciados, acho que queria ser parteira também. Ele pagou dinheiro para a parteira para ser sua aprendiz e, antes que ela pudesse terminar com os meses de treinamento prático acordados, a parteira morreu e desde então ela foi a parteira que ficou substituindo aquela mulher. Ela conta com orgulho que seus últimos três filhos ela mesma atendeu: “Eu mesma atendi, teve até gêmeo. Eu mesma atendi,

eu aprendi, ta aprendido né? Porque vou tá ai pagando dinheiro pros outros ai vim atender se eu sei?”

Figura 3: Primeiro encontro

Fonte: Arquivo da autora

Com a Dona Maria éramos bem novatas nas entrevistas grupais e nisso de convidar fazer uma narração de vida, por isso que com ela fomos direto ao grão: perguntamos que significa o ofício de partejar, no que ela definiu:

Ser parteira não é assim no facão não, no grito. Tem que aprender um monte de coisa. Que tem parto difícil, tá na hora da criança nascer mas não vem. É, as coisas não é assim, "ê ê", não é assim de qualquer jeito. Tem que saber, muito bem sabido, e tem que ter coragem também, e não pode ter nojo também, porque parto é uma coisa nojenta, é verdade ou não é? Parto normal é coisa nojenta, é coisa nojenta, não é nada bonito nem cheiroso, não é perfume não, tem que ser boa de estômago.

Ante tamanha claridade não fizemos mais que rir uma e outra vez com as formas de expressão que até ela mesma faziam divertir.

Ela conta que sempre usou banha de porco ou óleo para facilitar o parto, e faz movimentos da mão para explicar como é feito para ajudar a vagina a se abrir e não rasgar e o bebê nascer, no que alguma de nós perguntou: mas o que fazia a senhora se a vagina se rasgava? E a Dona Maria respondeu duramente: “Mulher nenhuma se rasgou comigo, nasceu criança com 5 quilos nas minhas mãos, e não foi rasgada.”, e voltou explicar como colocar muita “muita” banha ou óleo.

Lembra e conta como em segredo para nós, que a rodeamos numa roda de cadeiras e chimarrão, de quando propôs a uma mulher, que estava num trabalho de parto de dias, ser pendurada em cordas presas no teto para que a criança que estava sentada nascera, para esse caso ela pediu ajuda para outra parteira do bairro e à família responsabilizou, já que era a mesma parturiente que não queria ir ao hospital e acabou sendo um parto de muito risco. Mas dessa vez a mulher e a criança saíram bem.

A Maria gosta de compartilhar todos os detalhes dos partos, vai falando das ervas que usava e ainda hoje planta, se põe de pé e caminha até fora, todas nós detrás dela, vai pegar a mangueira para botar água em seu plantio no pátio minúsculo que tem ao redor da casa no Morro da Cruz, um bairro nas periferias da cidade de Porto Alegre, onde ela acompanhou muitos nascimentos. Rega e vai contando:

É bom, em casa a gente tem que ter de tudo. A gente tem que estar sempre aprevenida, melhor aprevenir do que desaprevinir. Ainda mais quando tem mulher com nenezinho encomendado. Né? Então é marcela, faz o chá de marcela, bota manjerona, se não tem marcela e manjerona, se tem arruda tu da um chá de arruda com um pouco de cachaça. Faz um chá de arruda, quentinho, bota cachaça e toma, é pra já a dilatação. Serve pra resfriado também.

Nesse momento olha para a Fer como lembrando para ela esse último dado, a Fer foi quem nos levou até a casa da Dona Maria, conheceu ela faz dez anos, fazendo um resgate de saberes sobre plantas medicinais no bairro da Maria e daí que são amigas. A parteira continua: “Tem tudo isso ai. Porque tem gente que aprende só por livro né, por isso é bom aprender parto normal atendendo parto normal, não só por livro, porque o livro não explica muita coisa não”, e assim ela faz nos entender que a prática é seu valor mais visível, se até continua plantando aquelas plantas embora ela não mais acompanhe mulher no parto. Também tem plantado tabaco, erva doce e várias "Comigo ninguém pode", a Dona Maria marca essa última como especial para curar o olho grande, mas não explica muito bem como.

Figura 4: Escuta grupal no segundo encontro

Fonte: Arquivo da autora

Na metade do encontro a Sonia, nora da Dona Maria, se somou na conversa, e lembrou para nós de uma parenta que tinha ficado com a placenta grudada no fundo do útero, a Dona Maria deu então sua última receita, “senta a mulher num banho de assento em chá de erva mate”. Na mesma hora também se soma na conversa o homem que cuida da Dona Maria e diz que ele já foi parteiro, de cachorro, no que a Maria dá uma risada forte como um grito e faz piadas sobre ele como parteiro, e volta a explicar que ser parteira não é coisa simples.

Todos os anos a Maria é visitada por alunos dos cursos de medicina e da biologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Um professor que conheceu a parteira faz muitos anos envia seus alunos para escutar os ensinamentos, ela manda preparar café para todo mundo e passa horas cercadas por jovens que ouvem suas

histórias de plantas, de partos, de doenças próprias, de piadas e orações da bíblia. A Maria é evangélica faz 20 anos. Acaba nossa entrevista com ela nos abençoando, fazendo imposição de mãos e falando em línguas que não compreendemos.

Saímos da casa da Dona Maria, felizes e surpresas de tanta informação, depois de ter vivenciado esse encontro já podíamos nos animar e sair pelas estradas de chão em busca das parteiras mais afastadas, que já estavam esperando por nós – porque já tínhamos contatado elas ou suas famílias - em cidades pequenas ou rurais. As seguintes seriam as de mais de perto de Santa Maria RS. Assim da mão de sua neta chegamos à casa da Dona Neca:

4.2 NECA – 74 ANOS

Figura 5: Boneca parteira

Fonte: co-criação entre a autora e a ilustradora Rocio Tenaglia

Ela é Josefina, a Dona Neca para nós, é seu apelido de criança que vem de "boneca". Começa a entrevista se auto-definindo, ela afirma ser ajudante de parteiras e conta uma e mil histórias de como com sua avó e outras vizinhas tem ajudado e acompanhado os partos de sua comunidade:

Eu ganhei o meu filho com dezesseis anos e depois sempre ajudei. Ajudava sabe?! Mas sozinha não né, essa da Loreci nasceu comigo, Hornélio e outro que nasceu da minha irmã que morava aqui também nasceu comigo, eu cortei imbigo e tudo, mas é

que a gente sempre tinha uma companhia, uma sozinha não. Elas também chamavam eu pra companhia, sabe como é? Daí umas ia pra ajudar.

É de São Martino da Serra, uma população rural aos redores de Santa Maria, no Estado do Rio Grande do Sul. Lá mora desde que nasceu há 74 anos, é agricultora até hoje, cria animais, planta comida e lava suas roupas a mão ainda tendo uma máquina de lavar disponível. Já foi artesã, fazia queijo e doces e criava às vezes sozinha e às vezes com marido, cinco filhos e filhas, um deles morreu com sete meses.

Figura 6: Um chimarraõ para aquecer o encontro

Fonte: Arquivo da autora

A Dona Neca vem duma linhagem de mulheres, mãe e avó, que foram viúvas muito jovens e por isso foram como ela definiu: “Fêmeas machos”: “minha vó não tinha medo! Ela foi peituda!. A Jossi, a neta que nos ajudou no encontro, olha para sua avó e diz: “a senhora também, é igual a ela” e volta a vista para nós. E a Neca como se não ouvisse continua a fala com entusiasmo e orgulho de sua avó, que era a parteira que lhe ensinou, além de ser agricultora, artesã e cozinheira, criou oito filhos sozinha e ajudou a sua filha também viúva com mais cinco crianças. Nós perguntamos para ela se ser parteira traz problemas com a família e ela, que só consegue reconhecer como parteira a sua avó continua falando dela e diz: “para ela não trazia problemas, ela não tinha marido, era dona de si, depois que seu marido se matou ela ia onde queria, mas ela ia só para fazer o bem, não ganhava nada e até levava comida para os partos”.

Continua contando como sua avó além de parteira era a organizadora das festas na comunidade, que sempre dava pousada a quem precisasse e para ir acompanhar um parto preparava uma cesta cheia de "E levava um pão, ou se tinha uma galinha carneada levava um pedaço de galinha, ela ia ainda em vez de cobrar ainda ajudava. Porque chegar nessas casa pobre não tinha, ai fazia o caldo, e graças a Deus nunca falto", diz a Dona Neca.

Figura 7: A equipe

Fonte: arquivo da autora

A Neca nos olha, olho no olho, uma por uma, às três visitantes que nesse dia estivemos com ela, se preocupa para que tomemos mates e comamos suas bolachas, e como passando uma pocima mágica conta que sua avó fazia chá de mate para dar ao recém-nascido:

Por causa que a minha avó era gente que dá o chá. Lá era assim, se dava o banho, já tinha que ter o chá de mate pronto, fazia o chá de mate com erva de mate e dava umas gotinha pra criança, aquilo, porque ela diz que depois, se a mãe toma mate, não doía, a barriga do neném” e fecha essa lembrança: “ela achava que era assim, não tinha tanta ciência.

Numa hora saímos da casa da Neca para fazer um vídeo, ela pega em seus braços a criança da Carol, uma doula do Grupo que acompanhava na entrevista, e ao tempo que

balanceia ao bebezinho pedimos para ela contar sobre seu trabalho como parteira e voltasse a definir como ajudante de parteira, a Nani, parteira jovem diz para ela: “más você já pegou nenê?” e ela muito feliz responde: “Claro, e mais de um, uma porção nasceu em minhas mãos” e começa a dizer os nomes dos nascidos com a ajuda dela, então “você já foi parteira” diz a Nani, e ela apenas sorriu.

Figura 8: Avó parteira e os oito filhos

Fonte: arquivo familiar da Dona Neca

Relata mais de um parto difícil, do tipo que o bebê parece que nunca vai nascer, que uma vez, depois de um final de semana inteiro de acompanhar junto com outras vizinhas o trabalho de parto de sua cunhada se decidiu grupalmente chamar à Benta Gaita, a parteira mais experiente de toda a região. Quando a Benta chegou o bebê já estava no canal de parto, mas o cordão umbilical vinha antes da cabeça, a Neca lembra que a Benta fez algumas manobras muito estranhas no corpo da mulher, abrindo e fechando as pernas e balançando-se para o bebê reentrar, "é muito perigoso que o cordão venha antes". Uma das jovens parteiras presentes na entrevista disse a Neca que até hoje esta manobra é realizada quando vêm com essa complicação, Neca ficou surpresa.

Volta a nomear a Benta Gaita quando estamos fazendo o vídeo fora, conta que ela era uma parteira profissional, que tinha feito curso, que ela tivesse gostado de fazer, “saber como a Benta colocar injeção e tudo mais”. Mas no mesmo momento se contradiz e rememora como sua avó tinha ensinado fazer de suas mãos as massagens, as injeções, os chás de ervas, as salmouras e os remédios para a mulher no parto: folhas de laranjeira, funxo, abrofo, canela,

marcela, qualquer dessas com açúcar queimada ajudava nos diferentes momentos do parto, além da banha de porco “bem limpinha” para acompanhar abertura da vagina e para a higienização e cicatrização depois do parto.

Depois de valorizar o uso das ervas e as sabedorias das parteiras, perguntamos para ela qual é sua visão sobre a cena de parto hoje, no que a Neca definiu:

É por causa que tem muita, burlamia, eu acho que é isso ai. Porque agora a mulher quando ta grávida não sei, tu, mas ta com 3, 4 mês é exame, exame, e vá na médica, eu ganhei tudo os meus, nunca fui em médico, nunca fiz exame, o meu médico era o gardame, era a enxada.

Nós rimos, mas com a consciência de que nessas palavras estávamos achando grandes aprendizagens. E continua nesse relato de mulher rural: “é, o trabalho! Carregando trigo, carregando alfafa, e os filho nascia quando tinha o tamanho desse ai, já levava para roça e dai trabalhava! A gente era pobre mesmo mas graças deus que tudo tem saúde sou bem feliz com o que deu meu deu”. Como a todas as parteiras, também para a Neca perguntamos por sua religião, ela contou que fazia 30 anos que era da Assembleia de Deus e que antes tinha sido católica, como sua avó. Nessa hora, a Nani – parteira jovem - a convidou a lembrar de alguma reza para os partos, a Neca nomeou o Salve Rainha e sem mais a parteira jovem e a parteira anciã começaram a dizer em vozes altas aquele rezo. Por sorte o gravador estava ligado e temos esse áudio.

Poderíamos fazer uma narração completa sobre a participação de João Carlos, marido da Neca, na entrevista, sobre o intercâmbio do casal, os comentários sobre ter filhos um de traz de outro e a Neca dizendo: que bom para ele, que não os pariu, ou seu reconhecimento à sua mulher que pariu sozinha um de seus filhos porque a parteira não chegava, ou contar como ele relatou quando foi “parteiro” dum terneiro, ou valorar seus saberes sobre pedras preciosas, ou de suas falas a respeito de como os agrotóxicos estão matando todo o remédio que temos nas ervas medicinais. Mas nesta vez achamos melhor só dedicar um parágrafo para falar sobre a presença do João Carlos e agradecer também sua ausência em quase toda a entrevista.

Figura 9: O interior da preciosidade

Fonte: arquivo cedido pela Nani

Voltando para a Dona Neca, ela não sabe quantos partos foi que acompanhou na real, mas lembra com muito detalhe o último:

Nós ajuntemo uma, eu e uma outra amiga minha, nós fomos parteiras duma mulher ali em cima que nasceu lá, a muié ganhou nenê no meio da macega, debaixo dumas goteira, mas ela matou a criança, era por causa que a criança não nascia sabe, e daí quando chegou ali que já tinha coroado, daí não nascia, e não nascia, e aí ela apertava a cabeça da criança dentro dela assim, que a cabeça... Quando ela nasceu à cabeça era igual quando quebra uma térmica, que tu pegava os ossinho e fazia trrrrrrrrr, era tudo farelinho, uma criança bonita, bonita! Mas as irmã dela não queria que ela ganhasse mais filho, já tinha bastante e, não sei era o 11 ou 12 que ia nascer, e daí ela foi pro mato e ficou lá segurando o nenê, um frio, um frio, uma serração, coisa mais triste do mundo! E daí tivemo que fazer chá queimado pra dar pra ela, daí nasceu a criança, mas a cabecinha era moída, moída assim ó, de tanto ela apertar sabe, daí isso moeu tudo a cabeça da criança! Trouxemos a mulher pra dentro e sabe onde deitemo ela? Em cima dum couro de criação, em cima dum couro com uns trapo, e daí fizemos escalda pé, e fizemos chá queimado de abrofo com açúcar queimado e demo pra ela e daí nasceu a criança, e daí a outra parteira, não eu, a outra, rasgava a vagina dela pra nascer, daí nasceu, e depois ela lavou, porque é uma gente muito... Além de pobre é relaxada, eu digo assim de não se cuidar, e daí a outra minha... Nós esquentemos água e lavamos bem ali com sabãozinho de...

Sabãozinho, e depois ela passou banha, foi o que passou porque não tinha outra coisa, tinha que ser com o que tinha, daí passou banha ali. E quando deu 2, 3 dias já apareceu aqui, mora lá em cima, coisa caminhando já, era 13 filho com aquela, mas faleceu a criança, quer dizer... Já nasceu morto.

Tínhamos chegado de dia e saímos de noite da casa da Dona Neca, fazer aquela entrevista em Grupo foi muito emocionante. No dia seguinte acordamos bem cedo e pegamos as estradas até a cidade rural de Jarí, RS. Onde iriamos conhecer duas parteiras, nesse mapa/colcha que começava se desenhar.

4.3 PAULINA – 93 ANOS

Figura 10: O sorriso falante

Fonte: co-criação entre a autora e a ilustradora Rocio Tenaglia

Ela é Paulina, tem 93 anos e mora na pequena cidade rural de Jari, no centro do Estado do Rio Grande do Sul. A conversa começa com a Dona Paulininha – como diziam para ela suas tias amadas - nos mostrando as fotos do pai e do avô penduradas nas paredes da sala onde nos recebeu, os dois homens foram práticantes do espiritismo, médiuns, médicos - nunca fica claro se eles foram médicos populares e/ou acadêmicos - e falecidos bem novos. Sua mãe, que era afro descendente, também era parteira e ensinou-lhe o ofício e o serviço levando-a como assistente nos partos que acompanhava.

Ela sente pena por não saber a origem real de sua mãe, o que sabe é que ela foi trabalhar como empregada doméstica ainda adolescente na casa da família de seu pai e lá eles se conheceram e se casaram, “foi de empregada e no fim ficou de patroa”, diz ela com um tom meio estranho. É que já sendo adulta acabou sabendo que sua mãe havia sido vendida para brancos de Jari quando ele tinha apenas dois anos de idade, parece impossível, mas a escravidão chegou até 1888 no Brasil: “Tinha um senhor ai que disse que conheceu o pai dela na Vila Norte, de cá, que eles trouxeram ela pra lá e nunca mais deixaram que ela convivesse com a família. Isso das escravas como se diz? que traziam uma pessoa, criavam pra trabalhar pesado”, relata a Dona Paulininha ao tempo que bate em sua mão tentando expressar o sofrimento dos pretos do Brasil. Sua mãe, então, foi treinada como parteira pela mão de sua sogra, também chamada Paulina, uma branca, que, como lembra a Paulina: “era bem racista, mas ela aguentou o negócio no peito e nunca disse nada pra nós”.

Figura 11: Todas as Paulinas

Fonte: arquivo da autora

No final da década de 1950, a Dona Paulininha já era uma adulta, mãe de vários meninos e meninas, dividia seu tempo entre ser mãe, costureira, lavandeira e parteira junto com sua a mãe que também ajudava ela com os filhos e filhas. Já vinha práticando a parteria

fazia 15 anos quando fez o curso – em 1957 - na cidade de Tupanciretã, RS. O treinamento era dado como políticas públicas para regularizar e registrar o trabalho de parteiras "curiosas"30. Ali as parteiras eram formadas sobre higiene, injeções, medicamentos e suturas básicas. Paulina lembra-se do curso com amor, porque foram meses de encontro com outras parteiras e troca de experiências e sobre os ensinamentos ditados pelos médicos apenas fala de algumas ferramentas-chaves em relação à medicação para a dor, mas nos detalhes diz que elas foram as que explicaram aos médicos. “Na prática a gente vai adquirindo. Muita gente diz que mais vale a prática do que a gramática, porque ás vezes os livros diz uma coisa, mas vai práticar. Tu vai com outro jeito”, e assim fecha a conversa sobre aquele curso.

Figura 12: A equipe visitante junto à parteira

Fonte: arquivo da autora

Acompanhou mais de 2 mil mulheres, foi parteira quase 50 anos, acompanhou três gerações em sua comunidade: a avó, a filha e também a neta. Mas no momento que nós convidamos ela para relatar alguns partos significativos que estejam em sua memória ela só conseguiu ir no parto de sua filha que ela acompanhou como parteira:

Um é da minha filha, até a criança nasceu morta, mas eu não tive culpa, por causa que eu tava junto com esse meu genro que era médico, custou muito pra nascer. Minha filha encarricou de não querer ir pro hospital e o marido dela queria, queria, queria que ela fosse, ela não quis.

Todas as mulheres presentes na entrevista ficaram caladas, emocionadas pelo relato e a Nani –a parteira jovem- perguntou:

E como é que foi pra senhora assim, pegar o seu neto?”, a Dona Paulina falou: “ah,