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ma conjunção de fatores interage na forma como as mulheres se integram no mundo do trabalho, embora seja incontestável que as condições de realização das tarefas no âmbito da reprodução social e as condições socioeconômicas das mulheres são determinantes para a sua inserção nele. Quanto menor o acesso ao trabalho remunerado e às políticas públicas e maior o nível de pobreza das famílias, maiores são as dificuldades encontradas pelas mulheres de se inserirem em atividades econômicas remuneradas. No Brasil, país de características históricas e estruturais marcadas pela pobreza, por uma profunda desigualdade social e racial, estruturação do mercado de trabalho precária e alta concentração de renda, as múltiplas dimensões dessa gritante realidade se expressam de forma diferenciada, a depender do gênero e da cor ou raça.

Mesmo os momentos de maior dinamismo econômico (que promoveram uma maior incorporação das mulheres ao trabalho remunerado, ampliaram a sua integração em setores mais protegidos e contribuíram para reduzir, embora de forma moderada, as diferenças salariais) não alteraram, contudo, as proporções entre trabalhadoras dentro e fora da força de trabalho, empregadas e desempregadas, formais e informais, trabalho produtivo e reprodutivo. Tampouco tornaram a estrutura ocupacional e setorial mais equânime.

Um primeiro conjunto de questões surge ao se constatar que tratamos de relações sociais e de poder entre classes, raças e sexos, na contramão da doutrina dominante, que descreve a sociedade como um sistema de trocas, em que tudo pode ser transacionado, inclusive a força de trabalho. A decisão de permanecer ou não no mercado de trabalho é vista como uma escolha de indivíduos e, portanto, ele se autorregularia pelas forças invisíveis do mercado. Essas análises negligenciam as motivações que levam as mulheres a se incorporarem nos empregos mais precários e o quanto as suas “escolhas” estão determinadas por condições materiais e por

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novos arranjos familiares, distantes de modelos formais e tradicionais de família, profundamente inadequados.

O debate em torno das questões que envolvem a discriminação do mercado de trabalho por raça e sexo se iniciou na década de 1960, quando as atividades domésticas ganharam relevância nos estudos sobre trabalho não remunerado. A economia dominante procurou estender a teoria das escolhas racionais (Becker, 1981) para tratar as decisões no interior das famílias, argumentando, de forma circular, que as diferenças entre mulheres e homens resultavam de sua natureza. Dessa forma, os menores ganhos no mercado de trabalho eram utilizados para justificar a especialização das mulheres no trabalho doméstico, ao mesmo tempo em que as responsabilidades domésticas das mulheres justificavam seus menores salários.

Um segundo conjunto fundamental de questões refere-se à relação entre trabalho produtivo e reprodutivo. O mercado de trabalho assalariado necessita de controle sobre o trabalho e sua reprodução, o que só foi possível a partir de processos históricos e sociais que deslocaram a produção doméstica para o mercado, ao mesmo tempo que se estabeleceu uma relação específica entre o processo de produção e reprodução social. Isso se deu por meio do trabalho doméstico não remunerado, fundamental para o funcionamento de um sistema econômico que se mantém com o enorme volume de trabalho não pago, realizado pelas mulheres, que garante a funcionalidade do sistema.

Nesse sentido, é essencial compreender as interações que se constituem entre os sistemas econômicos e de reprodução social na manutenção da discriminação e exclusão das mulheres do mundo produtivo, uma vez que as políticas de ajuste estrutural de cunho neoliberal vêm reduzindo, de forma contínua, as políticas públicas dos Estados. Trata-se de um sistema que necessita cada vez mais do enorme volume de trabalho gratuito realizado pelas mulheres no âmbito do trabalho doméstico, que envolve cuidados, afeto, bem-estar e suporte emocional.

Com isso, se evidenciam os limites do conceito de trabalho que leva em conta apenas as atividades realizadas no âmbito do mercado (Hirata, 2002). Historicamente, o trabalho assalariado foi concebido em uma única dimensão e com o protagonismo do sexo masculino. A divisão sexual do trabalho é tratada como algo natural, e, quando não se questionam os aspectos que envolvem as condições de reprodução da própria força

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de trabalho, nega-se a contribuição efetiva das mulheres no sustento das famílias. A naturalização do trabalho doméstico representa a ausência de reconhecimento social da atividade doméstica como trabalho, o que não pode ser confundido com a defesa de um salário para as donas de casa, apregoado por alguns. Os defensores disso, movidos pelo desconhecimento ou motivados por teses já superadas pelo debate político, acreditam que, ao atribuir um valor monetário e remunerar o trabalho doméstico, estariam valorizando esse trabalho. Mas, na verdade, estão outorgando às mulheres a responsabilidade pela reprodução social. Portanto uma problematização se faz necessária, e soluções que impõem às mulheres uma maior sobrecarga devem ser refutadas.

As contribuições que destacam a especificidade do trabalho das mulheres no capitalismo (Beneria, 1981) ressaltam as principais tarefas atribuídas a elas nesse sistema de produção e reprodução: a reprodução biológica, a reprodução social e a reprodução ideológica da força de trabalho. Com isso, colocam-se três elementos centrais na abordagem do trabalho das mulheres. O primeiro se refere à articulação entre produção e reprodução: o trabalho reprodutivo é indispensável para a reprodução e os cuidados das pessoas e também para a própria reprodução social, que implica no acesso e no controle de recursos econômicos de uma geração para outra (mediante instituições como a família, por exemplo), além das próprias especificidades no interior do sistema capitalista, que não podem ser explicadas apenas como a herança de um passado patriarcal. Um segundo aspecto se refere às limitações das abordagens que indicam o trabalho de reprodução como o responsável pelas menores oportunidades para as mulheres e a necessidade de aprofundar a conexão com o trabalho produtivo. Em terceiro lugar, o trabalho reprodutivo tem uma tarefa específica na reprodução da mão de obra passada, presente e futura, por meio da educação, das técnicas de produção, de socialização e da ideologia do trabalho, conforme nos sugere Saraceno (1991; 1993).

Para Picchio (1999), o capitalismo pode ser tipificado a partir de três características fundamentais: imposição de uma relação específica entre o processo de produção de bens e serviços e o processo de reprodução social da população; é definido pela utilização do trabalho assalariado para produção de mercadorias e acesso aos bens de subsistência; e é mediado, para a grande maioria da população, pelos salários. Essa mediação, uma consequência do domínio privado dos meios de produção, determina a

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relação capitalista específica entre o processo de produção e o processo de reprodução social. Ou seja, quanto maior a quantidade de serviços prestados no âmbito doméstico, menor será a quantidade de bens e serviços que poderão ser adquiridos por meio do mercado para a subsistência e reprodução da força de trabalho, tornando-se uma variável de ajustes para a própria definição do valor da força de trabalho.

Fica explícita a conveniência, para o capital, do trabalho não remunerado realizado pelas mulheres no espaço dos domicílios. Ao assumir integralmente a responsabilidade pela reprodução social, as mulheres são compelidas a se inserir nas ocupações tradicionais, que apresentam elevado grau de segregação por sexo. Isso se associa, por sua vez, à criação e perpetuação de desigualdades entre os sexos dentro e fora do mercado de trabalho. Essas desigualdades servem de justificativa para a baixa taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho, e essa realidade não está presente apenas em nosso país. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2018), a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho ao redor do mundo era de 48,5%, ou seja, 26,5 pontos percentuais abaixo da taxa dos homens. No primeiro trimestre de 2020, a taxa entre as mulheres brasileiras era de 52%, enquanto entre os homens era 71%. O trabalho de reprodução não é estático, mas dinâmico, se transformando, se intensificando ou abrandando conforme o ciclo de vida.

Dessa forma, as mulheres serão integradas ao mundo produtivo sem redução das suas responsabilidades domésticas, criando um conflito que se expressa nas intermitências laborais, na integração em setores ou ocupações mais precárias, na maior vulnerabilidade em períodos de crise. Gera-se, assim, um paradoxo: ao mesmo tempo em que o capital não pode prescindir da força de trabalho das mulheres, ele reforça a exclusão por meio de práticas discriminatórias e excludentes, de ajustes fiscais e políticas de austeridade, como o corte de gastos com saúde, educação, infraestrutura e necessidades básicas, forçando as mulheres a buscar maneiras de compatibilizar a dinâmica produtiva e reprodutiva.

Para Federici (2019), são três os fatores que suscitaram o aumento da jornada de trabalho das mulheres e a volta para o ambiente da casa. O primeiro se refere ao processo de globalização e liberalização da economia mundial em que as mulheres foram as responsáveis por compensar a deterioração das condições econômicas por meio dos cortes orçamentários, assumindo o provimento das famílias; o segundo fator diz respeito ao

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processo de mudanças no mercado de trabalho, que inaugura novas formas de trabalho informal, como o trabalho a domicilio, uma estratégia amplamente utilizada pelos setores empresariais que fixa as mulheres ao trabalho doméstico sob a ilusão de reconciliar a obtenção de uma renda com o cuidado de sua família; o terceiro se trata da permanência das hierarquias de gênero e da violência contra as mulheres.

Um terceiro aspecto essencial para a nossa análise é compreender as razões de um número expressivo de mulheres encontrarem-se fora da força de trabalho. Essas mulheres são identificadas nas estatísticas como “inativas” ou “população não economicamente ativa”. As pesquisas sobre mercado de trabalho raramente fazem referência a essa condição e, tampouco, questionam o número elevado de mulheres fora da força de trabalho. No primeiro trimestre de 2020, 43,408 milhões de mulheres estavam fora da força de trabalho; com a crise atual, esse número saltou para 50,466 milhões, de acordo com os dados do terceiro trimestre de 2020.

Por fim, o paradigma dominante não reconhece a existência de relações de poder, sociais e econômicas entre classes, raças e sexos. Reduzir a teoria econômica a escolhas individuais tem implicações particularmente significativas na formulação de um padrão teórico que explique as relações humanas no interior das relações familiares e nas relações com a sociedade. Ao não distinguir as diversidades existentes, os indivíduos são reduzidos ao modelo de um homem branco. Nas relações no interior das famílias, busca-se enquadrar a teoria ao conceito da nova economia doméstica, que trata as decisões das mulheres em participar ou não do mercado de trabalho como simples escolhas maximizadoras de resultados, desprezando as relações sociais de sexo que se configuram no interior das famílias e da sociedade, pela interação entre produção econômica e reprodução social determinante na sustentação desse sistema econômico e social. Portanto esses modelos que se formam no interior da teoria não são capazes de explicar a posição inferior das mulheres em várias sociedades.

Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2019)1 apontam que o percentual de domicílios brasileiros chefiados por mulheres passou de 25%, em 1995, para 45%, em 2018. Somente entre

1 Lencioni, Caio. 28,9 milhões de famílias no Brasil são chefiadas por mulheres. Disponível em: www.observatorio3setor.org.br/carrossel/289-milhoes-de-familias-

no-brasil-sao-chefiadas-por-mulheres. CAD ERN OS S EMP RE VIV A

2014 e 2019, quase 10 milhões de mulheres assumiram essa posição. O trabalho remunerado e as mulheres

Nas últimas décadas, foram desenvolvidas várias pesquisas evidenciando a evolução e o comportamento das mulheres no mercado de trabalho, que nos ajudam a compreender o destacado crescimento mesmo em contextos adversos. Na década de 1980, Spindel (1987) nos alertava sobre a criação de empregos formais decorrentes do crescimento do setor público, formado majoritariamente por mulheres, e sobre o expressivo crescimento do setor terciário, visto como a porta de entrada das mulheres no mundo produtivo. Contudo, o acesso se dava de forma diferenciada. De acordo com Carneiro (2019), se baseando nos dados do Censo de 1980, mulheres pretas e pardas estavam destinadas a ocupações mais precárias; enquanto 81,2% das mulheres pretas se concentravam na agropecuária, na prestação de serviços e na indústria de transformação e construção civil, entre as pardas o percentual era de 68% e, entre as brancas, de 47,2%. Esses dados indicam o acesso limitado ao mercado de trabalho e à mobilidade social, especialmente para as mulheres negras.

À medida que as pesquisas evoluíram, novos indicadores foram incorporados às análises, como a situação na ocupação (com carteira, sem carteira, por conta própria). Os trabalhos que analisam a evolução das mulheres no mercado de trabalho a partir dos resultados dos anos de 1990 (Wajmann; Perpétuo, 1997) sugerem que o crescimento de formas atípicas de contratação, como o emprego sem carteira assinada ou por conta própria, pode representar um atrativo para as mulheres que, diante das exigências de compatibilização entre o trabalho doméstico e a atividade remunerada, identificam nessas formas de trabalho maiores oportunidades. Com o intuito de validar essas afirmações, as autoras analisaram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para os anos de 1992 e 1995, constatando que a posição no domicilio, se cônjuges ou com a presença de filhos com idade inferior a 6 anos, aumenta em mais de 50% a probabilidade da mulher aceitar trabalhos por conta própria. É diferente da situação das mulheres em empregos sem registro, em que a condição racial (negra ou não negra) é o fator mais relevante para determinar a sua condição de inserção; ou seja, o componente da vulnerabilidade presente nessas formas de contratação podem ser as únicas oportunidades que

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muitas mulheres experimentarão ao longo de sua vida laboral.

Examinemos os dados a respeito das relações de emprego: em 1995, 58% das mulheres convergiam para o trabalho doméstico (17,2%); por conta própria (16,6%); e não remunerados ou para o consumo próprio (22,4%). Nos anos 1990, elevou-se o número de pessoas ocupadas em atividades não assalariadas, destacando-se o emprego sem registro, por conta própria e não remunerado, esse último pouco abordado nas pesquisas gerais sobre mercado de trabalho. Nesses anos, a peculiaridade foi o aprofundamento de relações de trabalho já pouco estruturadas e com um caráter mais explicitamente flexibilizador, refletindo as mudanças em curso, a exemplo das subcontratações precárias e a terceirização.

A característica comum dessas novas modalidades é a corrosão de formas de emprego institucionalizadas próprias da organização da produção industrial, em que se distinguia claramente o local de trabalho e a casa, o tempo de trabalho e o tempo livre, o trabalho remunerado e o trabalho não remunerado; estamos diante da erosão de tais fronteiras, em um processo que está sendo fundamentalmente facilitado pelas novas tecnologias de informação e comunicação e coloca a discussão sobre a reprodução social em outro patamar.

Nesse cenário, a flexibilidade da jornada de trabalho para as mulheres é considerada uma forma de “conciliar” trabalho produtivo e reprodutivo. Isso introduz a possibilidade de obterem acesso ao trabalho remunerado e ao sustento da casa, sem comprometer – em princípio – uma alteração substancial da esfera doméstica. Ao mesmo tempo, a integração flexível das mulheres no mundo do trabalho traz consigo uma redução de custos trabalhistas, incluindo os relacionados com a reprodução, que permanecem sendo atribuídos às mulheres. O modelo também permite manter uma oferta flexível. Para Díaz e Todaro (2004), trata-se de um novo contrato social que visa equilibrar processos de produção e reprodução nessa nova etapa de acumulação do capital.

Durante todo o século XX, a entrada e permanência das mulheres na estrutura produtiva estiveram marcadas pela informalidade e pela precariedade, relações que absorveram um número muito maior de mulheres e, de certa forma, reservaram aos homens os empregos mais protegidos. Em 2003, 47,9% das mulheres ocupadas se encontravam em empregos precários e informais; esse número pouco se altera em 2013, sendo 44,9%. No primeiro trimestre de 2020, 52,1% das mulheres negras

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e 43,8% das mulheres brancas ocupadas se encontravam nessa condição. A informalidade2 é prevalecente entre as pessoas negras ocupadas. E o trabalho doméstico remunerado segue como a principal ocupação entre as mulheres, 5,494 milhões de mulheres se encontravam nessa ocupação no primeiro trimestre de 2020.

Quem são as mulheres fora da força de trabalho

Há muita pouca referência nas estatísticas sobre o número elevado de mulheres fora da força de trabalho. Naturalizou-se, nas sociedades industriais, o modelo de homem provedor e de mulher cuidadora, mesmo que isso nunca tenha sido a realidade da maior parte dos países de economia periférica. No período compreendido entre 2012 e 2019, analisando o total da população que se encontrava na condição de não economicamente ativa ou fora da força de trabalho, na faixa de idade entre 20 e 39 anos, 77% eram mulheres; essa proporção caiu para 74%, em 2019. Mesmo assim, o total de mulheres nessa condição continua expressivo: representavam 10,068 milhões em 2012 e passaram para 8,868 milhões em 2019, enquanto entre os homens o total era, em 2019, de 3,227 milhões.3

Essa condição de inatividade não pode ser explicada apenas pelas intermitências decorrentes da idade reprodutiva das mulheres. É necessário buscar outras explicações para a persistência de um elevado número de mulheres nessa condição. Ao mesmo tempo em que devem-se rejeitar justificativas que se apoiam na cultura da sociedade para reforçar a divisão sexual do trabalho e atribuir às mulheres a responsabilidade pelo espaço privado, é preciso contestar as explicações econômicas que resumem isso a uma escolha racional baseada nos custos de oportunidades definidos no interior das famílias.

Outro aspecto diz respeito à necessidade de uma reavaliação do conceito de inatividade, considerando que a maior parte das mais de 43,4 milhões de mulheres (dados do primeiro trimestre de 2020) está envolvida 2 A informalidade caracterizada aqui corresponde a uma pessoa empregada no setor privado sem carteira, setor público sem carteira, trabalho doméstico sem carteira, conta própria e trabalho familiar auxiliar.

3 Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do 4ºT de 2019. CAD ERN OS S EMP RE VIV A

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em atividades de reprodução social essenciais para a produção econômica e que ocultam um valor que, embora não seja monetizado, não significa que não possa ser reconhecido como trabalho.

A condição de maior pobreza tem sido um obstáculo à inclusão das mulheres no mercado de trabalho. Dependendo de sua situação socioeconômica e da faixa etária, a taxa de participação das mulheres em relação aos homens pode variar significativamente. Isso demonstra o quanto a condição de pobreza afeta sobretudo as mulheres.

Em 2019, 63% das mulheres que se encontravam fora da força de trabalho pertenciam a famílias cujo rendimento domiciliar per capita correspondia a até um salário mínimo; já entre as mulheres negras, o percentual se elevava para 75%. A taxa de participação das mulheres varia de acordo com o seu nível socioeconômico, expresso pela renda domiciliar per capita.

Dito de outra maneira, o diferencial entre mulheres e homens diminui à medida que a renda per capita cresce, evidenciando que a situação socioeconômica das mulheres é um fator decisivo para sua entrada e permanência no mundo do trabalho. Quanto mais pobres, mais tempo elas estarão afastadas do acesso a uma ocupação. Essa interrupção comprometerá de forma definitiva a sua vida laboral. Outro fator inibidor é a baixa escolaridade: 45,2% das mulheres fora da força de trabalho acessaram até o ensino fundamental incompleto. Em 2019, 24,566 milhões de pessoas viviam com renda per capita de até ¼ de salário mínimo, e 61,065 milhões com até ½ salário mínimo. Do total de pessoas em condições de extrema pobreza,4 52,3% eram mulheres e 47,7% homens; a pobreza é maior entre as pessoas negras, uma vez que mulheres negras representavam 39,8% do total (IBGE,2020).

A presença de filhos e o acesso a creches são elementos centrais para as mulheres em relação à participação em atividades remuneradas. O

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