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Mastectomia e suas repercussões no envelhecimento feminino

No documento 2014SibeliCarlaGarbinZanin (páginas 111-118)

Mastectomia: vivências e significados para um grupo de mulheres

6 Revisão da literatura

6.4. Mastectomia e suas repercussões no envelhecimento feminino

Projeto de Pesquisa e 2010, conforme Figura 1, das décadas. Fonte: IBGE, 2010. Composição da populaçã 1991/2010.

O Brasil está num especialmente da feminina contexto, altera o perfil ep degenerativas, como diab dentre eles o de mama, que simboliza a feminilidade, frequentemente atingidas c geralmente não reconstro processo de reabilitação po

O câncer de mama r em mulheres, sendo supera Este tipo de câncer é o seg

, o estreitamento da base e a ampliação do áp

ão residente total, por sexo e grupos de id

m processo acelerado do envelhecimento a, caracterizando a feminilização da velhic

pidemiológico, aumentando o número de d etes, moléstias cardiovasculares e metabó e tem caráter progressivo e mutilador, afetand fonte de alimento e aconchego. As mulh com esse tipo de câncer, e, ao submeter-se oem a mama, tendo como consequência

stural e estética (LOPES, 2012).

representa, em nosso país, uma das principais ado apenas pelas mortes de causa cardiovasc gundo mais frequente no mundo e entre as m

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dade – Brasil -

da população, ce. Dentro deste doenças crônico- ólicas, câncer e, do um órgão que heres idosas são e à mastectomia, dificuldades no

s causas de óbito cular e externas. mulheres. Existe

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considerado um câncer de prognóstico relativamente bom quando diagnosticado e tratado oportunamente, a mortalidade por câncer de mama continua elevada no Brasil devido ao fato de que, no país, a doença ainda é predominantemente diagnosticada em estágios avançados (IBGE, 2010).

Por sua vez, a prevenção e o tratamento precoce dessa neoplasia ainda não é possível devido à variação dos fatores de risco, características genéticas e influências ambientais, envolvidas no câncer de mama. Uma das principais ações para a prevenção secundária é o rastreamento realizado pela mamografia em mulheres acima dos 40 anos (CAMACHO; COELHO, 2010).

Devido à alta incidência de metástase e à não-aceitação da idosa em realizar a mastectomia devido à questões culturais, a extirpação da mama tem todo significado para a mulher, independentemente da idade. Esse procedimento requer uma atenção especial e muita informação respeitando-se sempre a autonomia das pessoas, seus significados, suas crenças, seus valores e seu contexto cultural (FERNANDES, 2009).

Dentro dessa perspectiva a pessoa idosa deve receber informações a respeito da existência de tecnologia, tratamento e recursos na reconstrução da mama. Uma estratégia é a utilização de próteses como forma estética, mas principalmente recomendado para manter a postura, evitando a elevação do ombro do lado afetado e o encurvamento da coluna vertebral, em função da diminuição do peso ocasionado pela retirada da mama (COELHO, 2010).

Assim sendo muitas vezes o processo de envelhecimento pode ser um período extremamente difícil para algumas pessoas, muitas delas, não conseguem se adaptar às mudanças físicas, psicológicas e sociais que ocorrem nesta etapa da vida. Umas das maiores dificuldades nesta fase que reside no sentimento que acompanha o processo de perdas e de declínio físico, de reflexões profundas sobre a própria vida e a proximidade da morte. O fator decisivo não é somente a consciência da própria morte, mas a consciência da proximidade e consequentemente da ausência de perceptivas futuras

Projeto de Pesquisa 26 A velhice é um fato existencial que ultrapassa o biológico. Apesar dos estigmas negativos que a caracterizam, a maioria das pessoas quer chegar lá, pois o contrário significaria morrer jovem. Deparamo-nos, assim, com um campo de contradições e paradoxos de difícil resolução. A velhice é o momento da existência humana mais próximo da morte, ligado ao declínio físico e as diversas questões culturais - neste momento determinado de nossa cultura - campo fértil para um representação social negativa que propicia atitudes de marginalização e autoexclusão.

Quanto mais se aprofunda no tema, mais difícil se torna definir quando começa a velhice e o que é ser “velho”. Neste sentido, devemos diferenciar os termos velhice e envelhecimento. O termo envelhecimento alude a processo, a movimento contínuo a um constante e sempre inacabado processo de subjetivação; velhice, por sua vez, refere-se a um estado, a certa permanência, a um tempo que não passa, que não avança, tempo sem movimento (GOLDFARB, 2009).

Tempo, temporalidade, história, finitude, tempo subjetivo são conceitos que marcam um caminho a ser trilhado para melhor compreendermos os fenômenos que caracterizam o envelhecimento humano. Se temos uma história, é porque conseguimos registrar na memória os acontecimentos significativos de nosso passado, descobrir aquilo que permanece e que muda, e, assim, confirmar nossa identidade. Na consciência, o sentimento de finitude é exclusivo do ser humano. Ele é o único ser vivo que sabe que vai morrer e, como tal, organiza-se para isso.

Acredita-se que a temporalidade humana se constrói sobre uma linha temporal que, a partir do presente, permite-nos avaliar o passado, retificá-lo e projetarmo-nos no futuro. Esse é o movimento da historicidade humana, que cria subjetividade e preserva a identidade, dando um sentido de permanência. Uma das características do tempo do envelhecimento é a presença do sentimento de finitude, que é vivenciado com diferentes qualidades e intensidades emocionais, dependendo de cada sujeito e das diferentes experiências de proximidade com a morte vivenciadas ao longo do seu desenvolvimento. Essa proximidade com a morte marca uma experiência de luto, ou seja, um trabalho de elaboração de perdas, processo sempre necessário para que se instaurem outros objetos no lugar do perdido, para que outros investimentos sejam

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O processo natural do envelhecimento e a vivência de uma situação crônica, por si só, podem acarretar a perda da autonomia (BORGES, 2006). A autonomia esta relacionada à capacidade a que a pessoa possui para decidir sobre aquilo que julga ser melhor para si mesma. Para isso, o indivíduo deve possuir capacidade para compreender, analisar logicamente uma situação (racionalização) e habilidade para escolher entre várias possibilidades (deliberação) com o objetivo de tomar uma decisão intencional por uma das alternativas que lhe são apresentadas. Esta escolha só poderá ser considerada autônoma, se uma pessoa estiver livre de qualquer influência para tomar esta decisão (voluntariedade) (DIAS; GAUE; RUBIN, 2007).

A construção da autonomia e do cuidado de si são processos vividos, interdependentes, que se potencializam e tem em comum o exercício de práticas de superação de condições ou situações opressoras. A primeira significação pedagógica que o cuidar de si assume na questão do envelhecimento humano esta embutida na consciência que se deve adquirir sobre o fato de que uma velhice saudável é o resultado de um longo processo que começa antes da velhice (DALBOSCO, 2006).

Dentro do processo de envelhecimento humano existem intercorrências em relação ao processo saúde/doença que trazem repercussões significativas e marcantes na vida de muitas pessoas. Dentre estas existe a mastectomia no grupo feminino. Por isso busca-se ampliar informações e dados sobre significados e repercussões desse processo da mastectomia entre um grupo de mulheres.

A contribuição da Psicologia no campo da oncologia não se restringe apenas na gênese dos tumores. A presença do câncer modifica a história de uma pessoa, de suas relações, de sua família. A história de uma existência, não pertence ao acaso, pertence às escolhas feitas para um determinado caminho e nosso corpo saudável ou doente, é nossa própria história e a ela pertence. É o instrumento, e ao mesmo tempo o sujeito, para a realização dos desejos, sentimentos de angústia, sujeito e objeto na construção do sentido da existência. O adoecimento desse objeto, não é apenas um defeito de máquina. Ao contrário, é uma tentativa de reconstruir uma história perdida, de dar sentido a uma

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O diagnóstico de câncer, assim ser submetida à cirurgia de mastectomia, provocam nas mulheres várias repercussões, dentre elas, sentimentos de desespero, ansiedade, insegurança, falta de esperança no futuro. Esses sentimentos não são exclusivos daqueles que são diagnosticados com câncer. Ao contrário, são características de um ser que se vê ameaçado pela possibilidade de não-ser. A ansiedade ocorre sempre que a pessoa se vê diante de uma possibilidade de ser algo diferente ou não ser mais aquilo que planejou. Estar diante de novas possibilidades do existir humano, de novas escolhas, sempre implica, de alguma forma, na perda da segurança e estar doente é apenas uma dessas possibilidades (SOUZA, 2003).

Dados atuais nos apontam para um crescimento significativo do câncer de mama entre mulheres do mundo. Esta enfermidade acarreta consequências psicológicas e físicas nestas mulheres, levando o temor de recidiva e da morte, degradação da auto- imagem, problemas em relação à sexualidade, dentre outros. E, sendo a mama um órgão símbolo da feminilidade, a sua retirada pode levar a danos significativos. Além disso, a sociedade é altamente exigente em termos de padrões estéticos femininos que se associam ou não à saúde. Então, uma mulher saudável hoje seria aquela que corresponde também aos valores estéticos esperados, nos quais incluem seios fartos e perfeitos (MULLER; HOFFMANN; FLECK, 2006).

A realidade da doença e os tratamentos, como a mastectomia são apenas uma parte da vida de alguém que é portador de câncer. Quando uma pessoa se vê vivendo com a experiência do câncer, é obrigada a reorganizar suas prioridades, tomar decisões, redefinir sua vida social e suas relações de amizade, familiares e de suporte; conhecer e manejar suas reações emocionais. Isso tudo não é possível por meio de uma prescrição, requer ajuda muitas vezes do profissional da psicologia, da colaboração familiar, da compreensão médica para facilitar seu acesso ao tratamento psicológico e possibilitar a reconstrução de sua história, agora com um novo personagem: a doença (SOUZA, 2003).

A imagem corporal como já mencionado anteriormente, é um componente fundamental no complexo mecanismo de constituição da identidade pessoal. E a

Projeto de Pesquisa 29 componentes: a imagem idealizada; a imagem fornecida através da impressão de terceiros (informações externas) e a imagem objetiva (FIGUEIREDO et al., 2004).

O corpo transforma-se em um palco de imagens construídas. E as descobertas que temos de nos mesmos vão se revelando a partir do instante em que nos reconhecemos com um ser que reage a diversas inter-relações estabelecidas pelos mesmos corpos que tentam realizar a busca pela compreensão da existência das imagens a busca pela própria existência (SPEER et al., 2005).

A perda da mama ou a mama com má aparência poderia causar mais aflição em mulheres jovens, que tem uma maior expectativa pela beleza física. Então a procura pós tratamentos para câncer de mama é um estressor especial para as mulheres solteiras (FEHLAUER et al., 2005).

Uez (2006) em sua pesquisa com mulheres com câncer notou que existe uma idéia concreta de finitude da vida humana e o envelhecimento, apesar de normal do ser humano, é gerador de limitações e doenças. As marcas do sofrimento psicológico acompanhadas pela incerteza quanto ao adoecer e a idade avançada propiciam que, mesmo após o procedimento cirúrgico e tratamentos associados como a radioterapia e a quimioterapia, o câncer se mantenha como uma realidade constante em seus pensamentos, influenciando suas vidas.

Com a aproximação da velhice, o corpo, operando a tarefa de modificar-se, suscita sentimentos de perda, vividas na desoladora recrudescência do desamparo. Importa reconhecer os próprios desejos e seguir na busca dos meios para satisfazê-lo, tarefa exaustivamente reiniciada e persistentemente marcada pela incompletude (SAUTHER, 1994).

Na maturidade, momento de despedida do corpo jovem, estamos imersos no processo de socialização da representação que se opera nos corpos. È preciso responder ao apelo social, traduzido em marketing da juventude. São necessários aí, esforços e ajustes, compreensões ilegítimas do tempo, tentativas de reversão do impossível, tudo a

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Moreira e Nogueira (2008) apontam que o envelhecimento pode ser uma experiência que se traduz na identificação de um estereotipo negativo e como a recusa e ser portador de uma marca que o inferioriza ou exclui: ser velho. Envelhecer em um cenário marcado pelo culto a juventude e a beleza transforma essa experiência que é um fenômeno biológico “inevitável” em um fenômeno cultural da ordem do ‘indesejável”.

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