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O 4º Distrito de Porto Alegre, enquanto área de interesse cultural da cidade, vem, ao longo das últimas décadas, demonstrando a necessidade de apresentar diretrizes de planejamento urbano, de modo possibilitar sua requalificação e restruturação socioeconômica. Buscando atender a uma demanda da própria comunidade e, simultaneamente, preparar a cidade para a Copa do Mundo de 2014, foi criado o Grupo de Trabalho (GT) do 4º Distrito. O GT envolveu a Secretaria Municipal da Fazenda (SMF), a Secretaria Municipal do Urbanismo (SMURB), a Secretaria Municipal da Cultura (SMC), a Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV), a Secretaria Municipal de Governança Local (SMGL), a Procuradoria – Geral do Município (PGM), a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), o Gabinete de Inovação e Tecnologia (Inovapoa) e o portal PoaDigital. Essa equipe diversificada foi encarregada de desenvolver estudos

técnicos para a região, de modo a viabilizar a elaboração de um plano de desenvolvimento urbano local pautado pela sustentabilidade, além de um regime urbanístico específico (PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, 2015a).

Em 2015, o GT do 4º Distrito apresentou os estudos de diagnóstico desenvolvidos, os quais identificaram potencialidades e carências presentes nos bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Farrapos e Humaitá. Foram estudadas as questões que envolvem a acessibilidade e mobilidade, as barreiras físicas existentes na Avenida Farrapos e na Rua Voluntários da Pátria, o histórico da região, o patrimônio arquitetônico e urbanístico, os equipamentos urbanos, as áreas públicas, os pontos de comércio e serviços, a rede de fibra ótica, a insegurança, as áreas alagáveis, a altura do cone do aeroporto, o tamanho dos lotes, o potencial de renovação e as demandas da Associação dos Empresários dos Bairros Humaitá e Navegantes (AEBHN) e do Distrito C (PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, 2015a). Nesse mesmo ano houve ainda a criação da empresa InvestePoa, responsável pela gestão dos ativos do município, e a aprovação, por parte do poder público, dos primeiros incentivos fiscais para a região. Trata-se da isenção da cobrança do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) por 5 anos e da isenção do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) para empresas de base tecnológica e inovadora que se instalarem no 4º Distrito, além do estabelecimento da alíquota de 2%, referente ao Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN) para as empresas que realizam pesquisa e desenvolverem tecnologia para o setor da saúde (VIDAL, 2016).

A partir do diagnóstico, o GT do 4º Distrito buscou definir os objetivos e as diretrizes para o plano de desenvolvimento urbano local. Foram realizadas visitas técnicas a Barcelona, ao Rio de Janeiro e a São Paulo, além de seminários, reuniões internas da equipe e pesquisas a respeito do urbanismo sustentável e dos projetos para o 4º Distrito em razão da Copa do Mundo de 2014. Para a definição das premissas, o poder público dividiu o 4º Distrito em três setores: Área 1 ou Perímetro Preferencial, Área 2 ou Perímetro de Transição e Área 3 ou Perímetro do Programa Integrado da Entrada da Cidade (PIEC) e Entorno, conforme é demonstrado na Figura 12. O Perímetro Preferencial corresponde à área mais consolidada, com 229 hectares e 76% da população do 4º Distrito. Apresenta vazios urbanos, edificações subutilizadas e presença significativa do patrimônio arquitetônico. Faz limite com a Avenida Sertório, ao norte, a Avenida Farrapos, a

leste, o Centro Histórico, ao sul, e com o Cais do Porto, a oeste. O Perímetro de Transição corresponde ao entorno imediato da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes. Trata-se de um local com 4,95 hectares, que abriga 1% da população do distrito. Por fim, o Perímetro do PIEC e Entorno incorpora os bairros Farrapos e Humaitá, em uma área de 637 hectares, onde reside 23% da população do distrito. Caracterizado por ser o acesso norte da cidade, é marcado por ocupações de baixa renda e, recentemente, pela implantação do Complexo da Arena do Grêmio (PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, 2015b).

Figura 12 – Setores do 4º Distrito segundo a Prefeitura Municipal de Porto Alegre

O plano de requalificação urbana e reconversão econômica proposto para o 4º Distrito teve como referência o projeto 22@ Barcelona2. Similar à cidade espanhola,

o Masterplan tem a finalidade de estabelecer novas estratégias para o uso e a ocupação do solo, de modo a promover a densificação e a mescla de atividades na região, qualificando e reestruturando economicamente a área. O plano visa integrar as ações entre os agentes públicos e privados, responsáveis por realizar investimentos em infraestrutura e na implantação de empreendimentos de base criativa (MELLO, 2016). Elaborado a partir do envolvimento de moradores, universidades, empresários e representantes de entidades sociais, o Masterplan buscará consolidar o 4º Distrito enquanto uma região com vocação para a inovação e a produção de conhecimento. Para isso, propõe-se uma estruturação a partir de uma rede de clusters voltados à tecnologia, à saúde, à educação, à habitação e à indústria criativa, além da criação de um living lab, um laboratório de pesquisa, inovação e experimentação integrado à sociedade (VIDAL, 2016).

Inicialmente, o Masterplan foi elaborado para a área que envolve os bairros Floresta, São Geraldo e Navegantes. Dentre os principais objetivos estipulados pelo poder público para essa região destaca-se a necessidade de qualificação dos espaços públicos, dos sistemas de acessibilidade e mobilidade e da infraestrutura urbana. A existência de patrimônio arquitetônico e urbanístico na área também condicionou a proposta, em razão de que a proteção e a valorização dos mesmos dependem da definição de novos incentivos fiscais e de uma proposta urbanística que busque preservar as características da paisagem urbana local. Além disso, houve a preocupação com o estímulo ao reaproveitamento de edificações, ao uso de tecnologias sustentáveis, à segurança e à construção de novos equipamentos urbanos como um polo médico com centro clínico e hospital metropolitano, um parque linear na Rua Voluntários da Pátria, um centro de eventos, um terminal turístico rodoviário, uma biblioteca pública, um terminal hidroviário, a Praça das Artes e um centro administrativo municipal. O Anexo B traz um detalhamento geral das diretrizes definidas para o Masterplan do 4º Distrito. (MELLO, 2016; PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, 2015b).

2 Segundo Souza e Awad (2012), a intervenção realizada no antigo bairro industrial de Poblenou, no

Distrito de São Martí, em Barcelona, alterou o regime urbanístico, possibilitando a diversificação dos usos e a definição de novos índices de ocupação do solo. Além disso, o plano 22@ propôs o incentivo às economias criativas, à tecnologia, à mobilidade, ao ensino e à criação de novos equipamentos culturais na região, reaproveitando o patrimônio arquitetônico e urbanístico para novas funções.

Após essa definição, o poder público optou pela contratação de uma consultoria para definição da minuta de lei do plano urbanístico. O acordo com o Núcleo de Tecnologias Urbanas (NTU) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) deu-se em março de 2016 e os estudos finais foram entregues ao prefeito José Fortunati em dezembro do mesmo ano. O NTU foi responsável por desenvolver estudos e simulações na área do 4º Distrito, de modo a atender os objetivos previamente estipulados. Por ser uma área que necessita retomar seu desenvolvimento, preservando a paisagem urbana local, o NTU utilizou-se da ferramenta de simulação Cityzoom. Este software, desenvolvido pela UFRGS, tem o objetivo de simular os impactos do regime urbanístico e dos projetos de arquitetura propostos. Ao integrar-se com outros programas computacionais, o Cityzoom possibilitou avaliações amplas como a exposição solar das fachadas, o sombreamento, o potencial construtivo dos terrenos, a densidade demográfica projetada, o skyline e a obstrução visual ocasionada na paisagem urbana, dada a inserção de novos projetos arquitetônicos (HENRIQUE, 2011; MELLO, 2016).

As próximas etapas para a implantação do Masterplan envolvem o desenvolvimento do plano econômico e do plano social do 4º Distrito. Estes dois novos trabalhos poderão, eventualmente, alterar alguns aspectos definidos no plano urbanístico, uma vez que será avaliada a viabilidade de cada uma das propostas. Além disso, é necessário que a prefeitura desenvolva uma regulamentação para as parcerias público-privadas e faça a discussão do Masterplan no Conselho do Plano Diretor da cidade. Posteriormente, o documento deverá ser levado à Câmara Municipal para votação e, se aprovado, deverá ser regulamentado pelo Comitê Gestor do Masterplan, constituído pelo poder público, pela sociedade local e pelas demais instituições envolvidas (MONTEIRO, 2017).