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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.7 Crescimento das plantas

4.7.3 Matéria Seca da parte aérea (MSPA)

Como a interação entre ciclo de cultivo e lâminas de irrigação aplicadas nos teores médios de MSPA foi significativa, estudou-se a resposta das lâminas de irrigação dentro de cada ciclo de cultivo por meio da análise de regressão (Figura 31). No 1º ciclo, o ajuste dos dados apresentou tendência linear decrescente, demonstrando que o maior valor de MSPA foi encontrado na ausência do biofertilizante. A aplicação do insumo reduziu os valores médios da variável em torno de 15% por incremento unitário da dose, o que pode ter ocorrido pela fertilidade inicial do solo que apresentava baixa necessidade de complementação nutricional, não respondendo à aplicação do biofertilizante caprino líquido para esta variável.

Figura 31 – Matéria seca da parte aérea (MSPA) do girassol BRS-324 em função das doses de biofertilizante caprino líquido em cada ciclo de cultivo. Redenção, Ceará, 2014/2015

Fonte: Elaborado pela autora.

A precipitação intensa e irregular do 1º ciclo com o incremento das doses de biofertilizante pode ter proporcionado condições de hipoxia, que ocasiona redução da parte aérea (LETEY; STOLZI; BLANK, 1962). Malavolta et al. (1997) mencionam que os parâmetros de rendimento de matéria seca estão intimamente associados à quantidade de N colocados à disposição da planta.

O ajuste polinomial quadrático dos dados no 2º ciclo apresentou coeficiente de determinação (R²) de 0,54 (Figura 31). A partir da equação proposta, estima-se que a dose de 820 mL planta-1 semana-1 proporcionou o valor máximo de 30,41 g planta-1. Os dados de MSPA variaram entre 24,6 e 32,8 g planta-1, maiores que os valores encontrados no 1º ciclo.

Com respostas semelhantes aos dados obtidos no 1º ciclo, Lobo et al. (2013) verificaram aumento de matéria seca de mamona com a aplicação de lodo de esgoto. Diniz et al. (2011) observaram incrementos na biomassa do maracujazeiro amarelo adubado com esterco bovino líquido, sendo os valores observados tão maiores quanto maior foi a dosagem do fertilizante aplicado, porém, semelhantes aos dados do 2º ciclo.

A condutividade elétrica (CE) média do biofertilizante, após os 30 dias de fermentação foi de 14,78 dS m-1 no 1º ciclo e 10,63 dS m-1 no 2º ciclo. Esta redução da matéria

seca pode ser associada ao desvio de energia em decorrência do aumento dos níveis de salinidade do biofertilizante e do solo, principalmente nas maiores doses. A CE no 1º ciclo variou de 1,1 a 3,74 dS m-1 e no 2º ciclo a variação foi de 1,04 a 5,8 dS m-1. Logo, os menores valores da MSPA podem ser indicativos dos prováveis efeitos deletérios decorrentes da elevada concentração de sais. 0 5 10 15 20 25 30 35 0 300 600 900 1200 M S P A (g pl a n ta -1)

Sousa et al. (2010), em condições de campo, embora avaliando a salinidade da água de irrigação na cultura do milho, concluíram que a produção de MSPA das plantas sofrera decréscimo com o aumento da CE da água de irrigação, o que pode ser aplicado às doses de biofertilizante.

Pesquisas desenvolvidas por Duarte et al. (2010), avaliando o crescimento em mudas de melancia sob doses de adubo orgânico no substrato, registraram um modelo quadrático para matéria seca do caule. Em divergência aos estudos, Lima et al. (2012) e Sousa et al. (2012), na cultura do milho e amendoim, respectivamente, apontam a influência positiva do biofertilizante bovino sobre a matéria seca.

A MSPA em função das lâminas de irrigação (% ECA) para os dois ciclos de cultivo (Figura 32) apresentou um comportamento linear decrescente com menor produção de MSPA na maior lâmina aplicada.

Figura 32 – Matéria seca da parte aérea (MSPA) do girassol BRS-324 em função das lâminas de irrigação em cada ciclo de cultivo. Redenção, Ceará, 2014/2015

Fonte: Elaborado pela autora.

No 1º ciclo os valores apresentaram uma discreta variação com o incremento das lâminas de irrigação, estando os seus valores entre 12,9 e 18,6 g planta-1, fato que não ocorre no 2º ciclo pois além de se apresentarem superiores em termos absolutos, tiveram uma maior variação (21,0 a 38,5 g planta-1). Cumpre salientar que a precipitação no 1º ciclo foi acima do esperado, e com distribuição irregular durante os diferentes estádios de desenvolvimento da cultura, fato que acabou mascarando a aplicação dos tratamentos. O estresse hídrico, seja por falta ou excesso de água, refletiram em baixa produção de matéria seca.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 33 66 99 133 166 M S P A (g pl a n ta -1)

Outro fato existente é que os percentuais da ECA quando convertidos em lâminas aplicadas (precipitação + % ECA) possuem magnitudes divergentes para cada ciclo. A maior lâmina aplicada no 1º ciclo foi de 594,6 mm, ficando entre 100% (508,6 mm) e 133% (675,8 mm) da ECA do 2º ciclo. As maiores lâminas aplicadas no segundo ciclo resultaram em menores valores de MSPA, porém a partir da lâmina 100% da ECA (508,6 mm) os valores seguiram quase constantes.

Muitos estudos divergem dos resultados expostos neste trabalho. Nobre et al. (2010a) obtiveram crescimento linear da fitomassa seca da parte aérea do girassol cv. Embrapa 122/V-2000, com o incremento da lâmina de irrigação, indicando um aumento de 280,9% em comparação ao tratamento em condição de hipoxia e 40% de necessidade hídrica. Dutra et al. (2012) e Sobrinho et al. (2011) também verificaram aumento nos valores de matéria seca das folhas de plantas de girassol com o acréscimo da lâmina de irrigação.

Boareto et al. (2012) também verificaram que a menor lâmina de irrigação, correspondente a 50% da evaporação de um mini tanque evaporímetro, proporcionaram os menores valores de matéria seca do caule de plantas de girassol, cv BRS 122 V2000. Para esses autores, a aplicação de menores lâminas de irrigação reduz a evapotranspiração, o que amortiza a assimilação de carbono, levando a redução da produção de biomassa.

A produção de biomassa reduzida tem pouco efeito sobre o rendimento final, uma vez que a cultura é capaz de compensar em termos de capacidade de produção (SMITH, 1991). O autor ainda menciona que, em alguns casos, os períodos de estresse hídrico podem desencadear processos fisiológicos que efetivamente aumentam o rendimento de óleo de girassol.

O rendimento médio de matéria seca é de fundamental importância tendo em vista que essas partes da planta (capítulo, caule e folha) podem retornar ao solo, trazendo benefícios às plantas subsequentes, contribuindo com uma retenção maior de umidade no solo e melhor disponibilidade de nutrientes (LOBO et al., 2013). Ainda conforme informações divulgadas pelos autores, a decomposição da folha e do capítulo é rápida, por apresentar baixa relação C/N. Já a decomposição do caule é mais lenta haja vista apresenta alta relação C/N. Fato interessante pois as partes que se decompõem rapidamente fornecem nutrientes para a próxima cultura enquanto, por outro lado, a outra parte permanecerá mais tempo no solo favorecendo a retenção de umidade e protegendo o solo.

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