• Nenhum resultado encontrado

4. O estudo dos elementos de percussão do Casal do Azemel (Batalha, Leiria)

4.1.4. Matérias-primas

Os homens pré-históricos ao movimentarem-se num determinado tempo e espaço são agentes que se articulam e fazem parte de um meio onde influenciam ou são influenciados.

Neste sentido, as motivações por detrás da matéria-prima, estão numa primeira fase, ligadas ao conhecimento empírico, ou seja, à observação a “olho nu” das propriedades físicas da rocha. Assim sendo, eram colocadas logo de parte as rochas que pelas suas características físicas visíveis (falta de homogeneidade, impurezas ou fracturas naturais), não eram aptas ou viáveis para se poderem utilizar.

Com isto, ao realizar-se estudos acerca das estratégias de aprovisionamento para a obtenção de matérias-primas, tem de equacionar-se vários aspectos, como: a proveniência – única fonte ou várias fontes de matérias-primas; a disponibilidade – directa ou indirecta; facilidade ou dificuldade na extracção e a abundância – se esta é rara ou abundante. Estes estudos, podem ser indicativos importantes para a reconstituição dos comportamentos humanos no passado, tais como: critérios na recolha de matéria-prima, modo de exploração dos materiais, de acordo com a aptidão para o talhe e adaptação a objectivos técnicos precisos, compreender o nível de ocupação na sua articulação com a paisagem e os recursos que a rodeiam. Indirectamente pode-se até compreender a exploração dos recursos bióticos, a reconstituição dos ciclos naturais, a modalidade de deslocação e finalmente, a exploração do território (Aubry, et al., 2014; Merino, 1994).

Na presente área de estudo, os materiais não tinham uma origem estritamente local, passando a sua estratégia de aprovisionamento por incursões exteriores à jazida, nomeadamente para obter tanto a quartzite como o quartzo sob a forma de seixos rolados. Estas áreas foram identificadas através de acções de prospecção e de leitura da carta geológica regional a uma escala de 1/50000, as principais fontes de aprovisionamento dos mesmos.

No primeiro caso, trata-se de um local que dista geograficamente da jazida 1.5 km, correspondendo a um antigo terraço fluvial do rio Lena, que possuí seixos rolados de

57

quartzite de apreciáveis dimensões e com excelentes características para serem explorados por talhe (Cunha Ribeiro 1999). No segundo caso, com uma distância de 4.8 km, na margem oposta do rio Lena, assinalou-se um segundo sítio com grandes seixos rolados de quartzo e de quartzite. Existe ainda, a possibilidade da obtenção de matérias primas, se ter realizado noutros locais, como as imediações da Rebolaria, da Golpilheira ou de Vale do Horto, no Vale do Lena.

Neste sentido, foram identificadas as seguintes matérias-primas: quartzite, quarto, lidito e matérias-primas indeterminadas, sempre que não seja possível determinar com precisão, devido à grande alteração física que a peça apresente.

Determinou-se, desta forma, que “os seixos rolados atempadamente seleccionados como suportes e as lascas premeditadamente aí produzidas para o mesmo efeito foram em seguida transportados para a jazida, onde se processou a sua posterior transformação através da configuração dos utensílios já referidos ou a sua exploração como núcleos. A presença na jazida de algumas dessas lascas em bruto, bem como os vestígios da referida transformação patentes na abundante presença no local de lascas de média dimensão e de alguns seixos rolados eventualmente utilizados como percutores, constituem os testemunhos mais eloquentes dessa situação (…) O estudo da debitagem que se realizava na jazida do Casal do Azemel através dos inúmeros núcleos aí detectados, permitiu, por seu turno, identificar o recurso exclusivo ao talhe por percutor duro e a existência de uma única cadeia operatória de debitagem centrípeta na qual se integravam não só os diferentes tipos de núcleos centrípetos, como também os restantes grupos de núcleos identificáveis”. (Cunha-Ribeiro, 1999, p.470)

Ao pretender-se apresentar as diferentes matérias-primas identificadas na presente dissertação, foi realizado um quadro interpretativo geral com percentagens associadas (Gráfico 3).

Foi ainda realizado um segundo quadro com a indicação mais pormenorizada das matérias-primas directamente relacionáveis com as categorias da presente colecção (Gráfico 4).

4.1.5. Dimensões

Trata-se de um atributo quantitativo bastante importante, pois permite avaliar a variabilidade de uma colecção ou o grau de estandardização da mesma.

58

As dimensões foram realizadas tendo em conta o eixo morfológico da peça: comprimento máximo (eixo maior peça); largura máxima (eixo perpendicular ao eixo maior) e espessura na perpendicular do plano formado pelas duas dimensões anteriores. As medições são expressas em milímetros (mm).

Em primeiro lugar, realizou-se uma tabela geral com vários elementos, nomeadamente: o Número (N); Mínimo (Min); Máximo (Max), Média, Mediana e Desvio Padrão, de modo a expressar-se estatisticamente os valores associados. Foi realizado uma tabela interpretativa com percentagens associadas (Tabela 8). Estes foram divididos em cinco intervalos numéricos, tendo em conta os seus diferentes eixos:

▪ menos de 50 mm - correspondendo a peças de pequena aptidão; ▪ 51-79mm - correspondendo a peças de boa aptidão;

▪ 80-100mm - correspondendo a peças de boa aptidão;

▪ 101-130mm - correspondendo a peças de moderada aptidão; ▪ Mais de 130mm - correspondendo a peças de pouca aptidão;

Finalmente, de modo a facilitar a sua consequente divisão por eixos de dimensão morfológicos e de análise pormenorizada dos pontos enunciados anteriormente, realizaram-se 6 gráficos diferentes: para o Comprimento (Gráfico 5 e 6), Largura (Gráfico 7 e 8) e finalmente Espessura (Gráfico 9 e 10).

4.1.6. Peso

Trata-se de uma propriedade relevante na selecção das peças, podendo mesmo ter determinado a sua funcionalidade.

Os materiais foram divididos em três segmentos de peso, nomeadamente:

▪ 0-300g – quando a peça possui um peso compreendido entre 0 a 300g, podendo ser consideradas como de média aptidão para o seu uso nas actividades de percussão;

▪ 301-599g – quando a peça possuir um peso dentro deste intervalo numérico, estas podem ser consideradas de boa aptidão para o seu manuseio nas actividades de percussão, devido ao seu peso extremamente ergonómico e maleável;

▪ Mais de 600g – quando a peça possui um peso igual ou superior a este intervalo numérico, podendo ser consideradas de difícil manuseio e ergonomia, podendo ter servido para actividades de percussão indirecta.

59

Com isto, foi realizado um primeiro quadro geral descritivo com percentagens associadas (Gráfico 11) onde se procurou apresentar os diferentes pesos e intervalos numéricos enunciados anteriormente.

Foi realizado, um segundo quadro com a indicação mais pormenorizada do Peso, directamente relacionável com as categorias da presente colecção (Gráfico 12).