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4.2 O QUE PENSAM AS PROFESSORAS

4.2.2 Materiais didáticos e o PNAIC: possibilidade de práticas inovadoras

Ao iniciar a análise das falas das professoras que participam dessa pesquisa, foi possível identificar, num primeiro momento, que a formação do PNAIC, iniciada no ano de 2013, foi importante, e ainda é, para o trabalho pedagógico de cada uma das docentes.

Durante as entrevistas, foi possível perceber que todas as formações que ocorreram durante o ano foram relevantes para que mudanças bem positivas na prática de cada uma ocorressem. Professoras, que antes não tinham o hábito de contar histórias em sala de aula, de usar os livros de literatura ou jogos de alfabetização com seus alunos durante as atividades específicas para a aquisição da leitura ou da escrita, começaram a fazer uso desses materiais a partir do PNAIC. Algumas comentaram que já usavam materiais disponíveis na escola, mas não como uma rotina de trabalho com esses materiais, que é o que propõe o PNAIC.

O material do PNAIC é riquíssimo. Hoje, uso muito mais jogos em sala de aula. Leio para os alunos os livros das caixas (que são duas para cada turma), e também eles podem levar pra casa. Isso facilitou muito o trabalho. Também me obriguei a ir mais na biblioteca e achei materiais que nem sabia que estavam disponíveis. O que acho bom da proposta é que as caixas dos livros e jogos são da turma, não da biblioteca. Não pode sair da sala. Como diz nossa orientadora... ninguém pode tirar o material da sala. Aquilo é dos alunos daquele ano (Gisela).

A fala da professora demonstra o quanto a formação e as discussões realizadas nesses encontros acabam desacomodando o professor para realizar outras práticas, outras rotinas em sala de aula. O professor passa a querer conhecer melhor o próprio material disponível na escola, o qual, muitas vezes, ele nem sabia que estava ali. É certo afirmar que, com o PNAIC, existe uma proposta diferenciada, no sentido de que os materiais específicos dos alunos sejam gerenciados pelo professor da turma, na própria sala. Então, nesse espaço pedagógico, o professor conta com jogos próprios para aquele ano de atuação, livros literários e dicionários.

Foi possível perceber também que os professores começaram a buscar outros materiais de apoio: na biblioteca, jogos disponíveis nas salas de informática ou, ainda, nas Mesas da Positivo48, utilizadas pelos alunos dos anos iniciais, com ênfase ao trabalho de alfabetização, tanto na área da linguagem como matemática. Com isso, perceberam que a riqueza de materiais enviados pelo MEC para as escolas está com eles há muito tempo. No entanto, o professor, muitas vezes, não busca acesso para trabalhar com esse material em sala de aula.

A formação do PNAIC, pareceu ter motivado as professoras a um “fazer” pedagógico diferente, com mais ludicidade, leitura, projetos desenvolvidos junto com seus alunos. No entanto, ainda se percebe a “insegurança” de se estar fazendo “certo” ou “errado”, voltando à ideia de que existe uma fórmula mágica para entender os processos de aquisição da leitura e escrita dos alunos. Na verdade, é preciso reflexão, fazer perguntas e tentar respondê-las. Ainda existe o perfil da professora que acha que é preciso um método único; esta é, inclusive, uma polêmica no meio acadêmico, uma vez que muitos pesquisadores apoiam a volta ao trabalho com o método fônico – assunto bastante discutido quando o material do PNAIC surgiu.

Eu gostei assim de algumas atividades que tinham no livro com jogos na parte da leitura ali, né? Assim tinha um jogo que era o troca letras, que era muito legal, tu trocava uma letra e a palavra se modificava. Eu gostei muito e eles amaram fazer aquilo. E depois eu tinha atividades, fiz atividades que o livro sugeria, dava exemplos, eu fiz. Eles gostaram muito de trocar letras e depois na parte escrita, escrever e parecia mágica pra eles. E eu gostei muito disso, de fazer essas atividades diferentes, e lúdicas, onde eles aprendiam brincando. E assim a anteriormente, Silvana, eu não fazia isso. Era mais o "Beabá", mesmo, quadro, caderno e deu. Fazia. Fazia bastante. É, isso foi uma das coisas que eu aprendi a fazer, né? Na verdade antes eu fazia, mas não era como eu aprendi na formação. Eu fazia assim sem motivação, aquela coisa meio corrida, né? Daí lá eu aprendi, fazer, né? Mostrar pra eles, algumas vezes pedir mostrando a capa, que título eles achavam que tinha. Como era a estória, não, isso eu não fazia antes. Eu aprendi no PNAIC (Soraia).

Em relação ao uso dos materiais, a partir da forma como a gestão desses materiais acontecem na escola, muitas vezes, os professores não têm acesso ou nem sabem da existência dos mesmos. Ao nos referirmos ao material do TRILHAS, apenas a professora Gisela fez comentários em relação ao seu uso. A professora Soraia, além de não saber sobre os jogos

48 As Mesas da Positivo foram adquiridas pela rede municipal de ensino, para todas as escolas de Ensino

Fundamental. O objetivo é que os alunos dos anos iniciais tenham prioridade para usá-las, já que as mesas trazem uma nova dimensão à interação dos alunos com o software. Os alunos utilizam o painel sensorial ligado a um computador de sala de aula para responder aos estímulos e perguntas apresentadas pelo software em vários níveis. As imagens, músicas, animações e jogos estimulam a colaboração fazendo do aprendizado uma experiência social concreta. Na escola pesquisada, existem seis mesas disponíveis para o trabalho com os alunos dos anos iniciais e duas, na Sala de Recursos, para o trabalho com alunos com Necessidades Educacionais Especiais.

TRILHAS, também revela que, na outra escola que trabalhou, não tinha acesso nem ao material de livros do PNAIC, de literatura.

Não. Nenhum. Agora. Muito pouco. Eu trabalhei numa escola, que não vem ao caso agora dizer, mas a Xxxxxx se lembra que eu falei pra ela. Que nós não tínhamos acesso, eu tinha terceiro ano e eu fui receber o material em junho, porque elas não carimbaram os livros. Acho que tu sabe, eu falei. Elas guardavam nas caixas e nós pedíamos e pedíamos e elas querem encapar os livros. Pra sala. Não. Elas seguravam na biblioteca porque elas queriam encapar para não sujar e não estragar. Até que elas fossem encapar tudo, né? Eu ganhei no meio do ano quase. Junho. Eu achei um horror. Fora tudo, é. Fora os jogos, tudo que foi. Mas é difícil, né? Murcha. Mas é. Lá elas não perguntavam nada, nem queriam saber de nada, nem se interessavam, lá nessa escola. Pois eu fiz esse trabalho, o jornal foi lá e tudo, pouco se importavam. O Supervisor que era muito legal. A diretora, a vice. Uma coisa assim bem distante, bem na delas (Professora Soraia).

Percebe-se que Soraia é uma professora dedicada e que gostou das formações e dos materiais disponibilizados, mas vê problemas nessa parte de os materiais chegarem até a mão dos professores.

Ah, eu acho que sim. Eu gostei muito da parte das poesias, das rimas. Que as ideias que a Xxxxxx levava, né? Mostrava pra nós. Ela dava muita sugestão de fundamentação teórica, eu lembro, mostrava. E eu trabalhei as rimas, trabalhei poesias, e as crianças adoraram. Eu fiz um projeto de folclore aí trabalhei parlendas. trabalhei versinhos, musiquinhas. Eles adoraram e eu lembro que uma aluna aprendeu a ler fazendo as parlendas, lendo, ela adorou ela amou, a gente fez varal. Foi muito legal. E depois também o projeto do lixo, né? Que tu lembra, a gente fez, e foi um projeto de meio ambiente, mas ali eu trabalhei tudo, né? Eu trabalhei a linguagem, trabalhei a leitura, a consciência ecológica dele. Foi muito legal. Trabalhei o lúdico, e com o lúdico eles aprendem muito. Eles amaram fazer. Aí eu ganhei as revistinhas delas, lá tinha várias atividades, caça palavras, labirinto, muita coisa tinha naquelas revistinhas. E cada um ganhou uma. Eu fui lá no jornal e pedi. Eles me doaram trinta revistinhas. E foi muito legal. Eu aprendi muito com o PNAIC, eu aprendi, e os alunos também. Pude ensinar bastante coisa assim, coisas diferentes, né? Ideias diferentes. Eu gosto de coisas assim, de fazer essa formações, porque a gente aprende muito e vê coisas novas, né? Se recicla, se renova. Isso que é importante. Eu acho (Professora Soraia).

A fala da professora Soraia evidencia uma apropriação sobre a prática do trabalho de alfabetização utilizando materiais diversificados. O uso dos livros das caixas oportunizou a ela o trabalho com vários gêneros textuais – lendas, parlendas entre outros. Para essa professora, essa troca, essa vivência com uma realidade mais lúdica na alfabetização foi um dos pontos mais positivos de fazer o PNAIC.

Na próxima seção, já encaminhando para a finalização das análises, buscamos excertos que revelem o que de fato mudou na prática das professoras a partir das formações do PNAIC.