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3. MÉTODOS E RESULTADOS

3.4. Estudo 4: compreensão de passivas eventivas

3.4.1. Materiais e métodos

Foram recrutadas para este estudo 45 crianças com idade entre três e seis anos, sendo que quinze não tiveram seus resultados computados no teste por não terminarem a atividade, por desistirem de participar durante a realização do teste ou por que não quiseram retornar em outro dia para dar continuidade. Não participaram

do experimento as crianças que mostrassem possuir alguma alteração auditiva, de linguagem ou que tivessem dificuldades para entender a atividade. Com relação aos adultos, de doze adultos testados, dois tiveram suas respostas descartadas por terem tido resultados discrepantes aos dos outros sujeitos, por exemplo, o tempo de realização do teste. O tempo médio de realização do teste foi de dezoito minutos para os dez adultos que tiveram seus dados computados, enquanto que os dois adultos que tiveram suas repostas descartadas obtiveram um tempo médio de resposta de mais de 40 minutos, pois tiveram dificuldades para compreender as sentenças.

Participaram efetivamente do primeiro estudo trinta crianças, com idade entre três anos, dois meses e vinte e três dias e seis anos, e dez sujeitos adultos, que compuseram o grupo controle, com idade entre 21 e 27 anos, sendo as crianças e adultos naturais da Região Metropolitana de Campinas. As trinta crianças foram divididas em três grupos com dez crianças em cada, sendo o G1 composto por crianças com idade entre 3 anos e 2 meses e 3 anos e 11 meses, com idade média de 3 anos e 7 meses; o G2 foi composto por crianças com idade entre 4 anos e 4 anos e 10 meses, com média de 4 anos e 5 meses; e o G3, por crianças com idade entre 5 anos e 6 anos, sendo a idade média de 5 anos e 6 meses. As crianças que participaram deste estudo não foram as mesmas que participaram dos estudos apresentados nas seções 3.2. e 3.3.

Tabela 13 – Faixa etária testada pelo experimento de compreensão de passivas eventivas

Grupo Experimental Faixa etária

G1 3a2m – 3a11m (m: 3a7m) G2 4a – 4a10m (m: 4a5m) G3 5a – 6a (m: 5a6m)

Foi inicialmente proposto que os participantes desse estudo escolhessem, entre quatro figuras, a que melhor correspondesse à sentença por eles ouvida. Após a aplicação de um piloto com essa metodologia em cinco adultos, houve a

necessidade de adotar apenas duas figuras, pois estes tiveram dificuldades em lembrar da sentença ouvida e associá-la com uma das quatro figuras. As duas figuras que compuseram o teste foram a figura alvo e a figura inversa. Na figura alvo, está presente a ação que corresponde à sentença ouvida em que um personagem A realiza uma ação sobre o personagem B, e na figura inversa há os mesmos dois personagens, mas o personagem B realiza a ação sobre o personagem A.

Após a modificação da metodologia, foi solicitado que as crianças e os adultos controle participantes deste estudo experimental escutassem uma sentença e escolhessem a figura que correspondesse à sentença por eles ouvida.

Em cada figura havia três personagens: o pai, o avô e o menino, ou a mãe, a avó e a menina, sendo que dois realizavam uma ação, e um outro personagem estava presente, conforme adaptado do estudo de Armon-Lotem et al. (2012)25 e

Estrela (2013). Na figura alvo, que correspondia à sentença ouvida pela criança, o personagem A realizava alguma ação em relação ao personagem B e na figura inversa, o personagem B realizava alguma ação sobre o personagem A. Nas duas figuras, havia um personagem C que não estava envolvido com as situações representadas nas figuras. O experimento foi apresentado em um notebook, por meio de uma apresentação em que a figura alvo e a figura inversa estão dispostas uma do lado da outra e, após a apresentação das figuras, escutava-se a sentença-alvo. Abaixo podem ser observados exemplos de sentenças-alvo escutadas pelos participantes desta pesquisa.

(90) a. O menino foi molhado (pelo pai) b. A menina foi amada (pela avó)

A aplicação do experimento com as crianças foi realizada em dois dias diferentes, geralmente com uma semana de distância entre a primeira aplicação e a segunda, de forma que a criança não ouvisse sentenças passivas curtas e longas de um mesmo verbo em um mesmo dia. Desta forma, foram apresentados aos participantes 30 pares de figuras, sendo que em 10 pares se investigou a

25 O estudo de Armon-Lotem et al. (2012) descreveram um estudo interlinguístico realizado em diversos

países do continente europeu, no qual de investigou a compreensão de passivas eventivas. Esse estudo foi realizado no âmbito do COST ACTION A33 (Crosslinguistically Robust Stages of Children's Linguistic Performance). Para maiores detalhes, cf. Armon-Lotem et al. (2012).

compreensão de sentenças ativas, em 10 a compreensão de passivas curtas (PC) e em 10, a compreensão de passivas longas (PL). No primeiro dia, apresentou-se 15 pares de figuras, em que cinco correspondiam a sentenças ativas, cinco a sentenças PC e cinco a sentenças PL. No segundo dia, apresentou-se os outros 15 pares. Não foram utilizados distratores em decorrência do tempo de aplicação do teste, que durou em média 30 minutos para as crianças mais novas. Cada criança participou individualmente da sessão, permanecendo sentada em uma mesa, em frente ao

notebook. Foi explicado para a criança que ela ouviria uma pequena história e teria

que apontar para a figura que correspondia à história escutada.

A escolha dos estímulos se deu com base na primeira hipótese defendida por este trabalho, a qual foi abandonada: de que haveria relações entre a passiva eventiva, passiva estativa, passiva resultativa e os verbos de alternância. Contudo, optou-se por olhar os verbos com base em permitir ou não os três tipos de passivas, uma vez que parte dos verbos que alternam não sofrem necessariamente alternância causativa e sim outro tipo de alternância, que não será discutida neste momento. Foi selecionado um conjunto de verbos entre aqueles presentes em outros estudos sobre a compreensão de voz passiva, os quais foram categorizados com base em ter ou não uma estrutura argumental mais restrita.

A escolha dos verbos testados em sua forma passiva se deu com base nos seguintes critérios:

(i) permitir passiva eventiva, resultativa e estativa, ou seja, com uma estrutura argumental menos restritiva – accomplishments;

(ii) permitir apenas passiva eventiva, ou seja, possuem uma estrutura argumental mais restrita – achievements, estados e atividades.

Os verbos em (i) podem ser acionais como não-acionais, sendo que os verbos de não-ação são verbos objeto-experienciador (OE). Os verbos em (ii) também podem ser acionais e não-acionais, mas esses verbos de não-ação são verbos sujeito- experienciador (SE), conforme apresentado na seção 2.4.

Com base nos critérios apresentados acima, os verbos escolhidos foram agrupados em dois grupos, conforme apresentados no quadro 7.

Quadro 7 – Verbos selecionados para compor o experimento de compreensão de passivas eventivas

Verbos do tipo 1 Pentear, molhar, lavar, assustar, aborrecer, envergonhar

Verbos do tipo 2 Beijar, perseguir, derrubar, amar, ver, ouvir

A testagem com os adultos foi realizada com os doze verbos presentes no quadro 7. Contudo, durante a aplicação de um piloto com quatro crianças com idade entre três anos e dois meses e quatro anos, foi necessário reduzir o número de verbos, uma vez que o tempo total para a aplicação do experimento de seleção de figuras ultrapassava quarenta e cinco minutos. Para tal, foram retiradas as figuras que estavam resultando em ambiguidade, beijar e ouvir26.

Os verbos efetivamente testados em sua forma passiva foram categorizados em duas classes com base em ter ou não uma estrutura argumental mais restritiva: verbos do Tipo 1, com uma estrutura argumental menos restrita e verbos do Tipo 2, com uma estrutura argumental mais restrita. O quadro 8 apresenta os verbos testados.

Quadro 8 – Verbos testados no experimento de compreensão de passivas eventivas Verbos do tipo 1 Pentear, molhar, lavar, assustar,

aborrecer, envergonhar

Verbos do tipo 2 Perseguir, derrubar, amar, ver

Seguem abaixo exemplos das figuras aplicadas no experimento de compreensão de passivas eventivas.

26 MINELLO (2015) observou que a compreensão de passiva eventivas com o verbo beijar por meio da

metodologia de seleção de figura foi baixa em comparação com outros verbos acionais, possivelmente em decorrência da dificuldade em se visualizar a ação. Sobre a forma passiva do verbo ouvir, é discutido em outros estudos sobre esta não ser comum. Entretanto, como o presente estudo se baseia em estudos anteriores que buscam justificar a aquisição de passivas por causa de dificuldades na realização de movimentos sintáticos, optou-se por manter uma fidelidade quanto aos verbos selecionados.

Figura 6: Cena referente ao verbo lavar

Figura 7: Imagem referente ao verbo amar