3. MICROEMULSÕES E NANOEMULSÕES APLICADAS À FLOTAÇÃO DE
3.2. Materiais e métodos
3.2.1.1. Espécies minerais
As espécies minerais utilizadas foram hematita, fornecida pela Mina de Casa de Pedra (CSN Mineração, Congonhas - MG, Brasil) e quartzo, coletada no município de Turmalina (MG). As amostras minerais consistiram de cristais bem formados com dimensões em torno de 5 cm. Inicialmente, as amostras foram fragmentadas com o auxílio de um martelo manual para atingir o tamanho máximo de 0,5 cm. Um almofariz de porcelana com pistilo foi usado para produzir partículas com tamanhos na faixa de -150 +75 µm. Os resultados das análises químicas por fluorescência de raios-X (FRX) são mostrados na Tabela 3.1, indicando que o grau de pureza satisfaz o requisito para as execuções experimentais.
Tabela 3.1 – Análise de Fluorescência de Raios X de amostras de hematita e quartzo. Hematita – Porcentagem na amostra (%)
Fe Al2O3 SiO2 Mn P Cu Sr
90,883 5,224 3,274 0,315 0,228 0,046 0,03
Quartzo - Porcentagem na amostra (%)
SiO2 Al2O3 Ge Ni
96,988 2,268 0,425 0,319
Fonte: Próprio autor.
3.2.1.2. Sistemas microemulsionados e nanoemulsionados
Os produtos químicos utilizados para obtenção dos sistemas microemulsionados e nanoemulsionados foram: sistema alquil éter monoamina (tensoativo; Flotigam EDA- Clariant), amido de milho de alta pureza (depressor), querosene (fase oleosa; Petrobrás), álcool n-butílico (co-tensoativo; Pró-Análise, 99%) e água destilada (fase aquosa), utilizados sem qualquer purificação adicional. Para o ajuste do pH dos sistemas microemulsionados e nanoemulsionados, antes dos testes de flotação, foram utilizadas soluções de NaOH a 0,5 M (CRQ, 98%) e HCl a 0,5 M (VETEC, 37%).
A região de microemulsão dentro do diagrama de fases pseudoternário foi determinada por titulação. Primeiro, determinou-se o ponto máximo de solubilidade da matéria ativa (tensoativo (T) + co-tensoativo (C)) na fase aquosa. Num frasco de vidro, pesaram-se 2 g de
Paula Romyne de Morais Cavalcante Neitzke Tese d e doutorado
matéria ativa utilizando uma relação C/T constante, variando entre 0,5 e 4, à temperatura ambiente (27 °C). A matéria ativa foi titulada gota a gota com a fase aquosa até se obter a transição da aparência clara para turva. O frasco foi pesado e a quantidade de solução aquosa adicionada ao sistema foi determinada neste ponto final de titulação. A solução de titulante foi preparada adicionando 10% em peso de água acima do ponto final de titulação (endpoint). Nove misturas (2 g) com diferentes proporções de matéria ativa + fase oleosa (10 a 90% em peso) e nove misturas de fase aquosa + fase oleosa (10 a 90% em peso) foram tituladas gota a gota com o titulante até atingirem uma aparência turva. Os frascos contendo os sistemas foram pesados e a quantidade de titulante foi determinada. O diagrama de fases pseudoternário foi, assim, construído pela representação gráfica das quantidades de fase aquosa, fase oleosa e fase co-tensoativo/tensoativo utilizadas em cada experiência. Para obter os diagramas pseudoternários com amido de milho, utilizou-se uma solução aquosa de amido de milho como fase aquosa (10 e 100 ppm; relação C/T = 1). Os sistemas microemulsionados (MS) usados para realizar os experimentos de microflotação de quartzo e hematita foram compostos por (% em peso): (i) 85,5% de água, 0,5% de querosene, 7% Flotigam EDAe 7% de álcool n-butílico, C/T = 1; e (ii) 79,5% de água, 0,5% de querosene, 10% Flotigam EDAe 10% de álcool n-butílico, razão C/T = 1. Esses sistemas foram selecionados por conter uma grande quantidade de fase aquosa e uma pequena quantidade de matéria ativa.
Para produzir o sistema nanoemulsionado, o sistema microemulsionado descrito no item (ii) foi diluído para atingir a concentração desejada de tensoativo, de acordo com a metodologia descrita por Bellocq e Roux (1987). Primeiro, os sistemas microemulsionados (100 mL), com e sem amido de milho, foram obtidos em um béquer de 150 mL, adicionando os componentes em um processo de duas etapas. Na primeira etapa, a matéria ativa (tensoativo + co-tensoativo) foi misturada a 500 rpm por 10 min. Em seguida, no segundo passo, os demais componentes da microemulsão foram adicionados (500 rpm, 10 min). Para obter a nanoemulsão, empregou-se uma metodologia de baixa energia. Adicionou-se água lentamente ao sistema microemulsionado, sob agitação constante (500 rpm). Cinco sistemas nanoemulsionados com concentrações variadas de tensoativos foram obtidos (10, 25, 50, 75 e 100 ppm). A escolha desses sistemas foi baseada na relação entre tensão superficial e concentração de tensoativo, sempre buscando um sistema estável. A tensão superficial foi medida usando um tensiômetro SensaDyne (QC6000), a 27 °C. As estabilidades em tempo real dos sistemas de nanoemulsão, com e sem adição de amido de milho, foram verificadas por testes de armazenamento em longo prazo (seis meses), a 27 °C e luz natural (KALE & DEORE, 2017). Após um longo período de armazenamento, a separação de fases não foi
Paula Romyne de Morais Cavalcante Neitzke Tese d e doutorado
observada. O tamanho das gotas e a distribuição de tamanho de partículas (PSD) para microemulsões e nanoemulsões foram obtidos usando um Nanotrac NPA252 (Microtac), em triplicata. Tamanhos de gotículas entre 10-100 nm e a presença de apenas um único pico estreito são esperados para microemulsões. Para nanoemulsões, o tamanho das gotículas em uma faixa mais ampla entre 20-500 nm e picos únicos ou múltiplos, que podem ser estreitos ou amplos, podem ser observados (MC CLEMENTS, 2012).
3.2.2. Métodos e condições experimentais, aparelhos e cálculos
Os testes de microflotação foram realizados em tubo de Hallimond modificado de 320 mL, originalmente desenhado por Hallimond e modificado por Fuerstenau, Metzger e Seele (1957). Utilizou-se um agitador magnético para promover a mistura completa dos reagentes em suspensão, sem ocorrência de arraste hidrodinâmico, a um fluxo de ar constante (60 mL/min), para garantir uma operação eficiente do aparelho. A Figura 3.1 ilustra um diagrama esquemático do aparato experimental e como a adição de materiais foi realizada.
Figura 3.1 – Diagrama esquemático da célula de microflotação com indicação da adição de materiais.
Fonte: Próprio autor.
Nas execuções experimentais, quartzo e hematita foram utilizados separadamente com sistemas de solução coletora, microemulsão e nanoemulsão com e sem a adição de depressores e/ou modificadores de pH. O pH da polpa, a amostra mineral (1,0 g) e a solução de coletor, microemulsão ou nanoemulsão (V = 100 mL) foram ajustados às condições / valores requeridos e, em seguida, condicionados por 5 min sob agitação constante. Após a agitação, o ar foi borbulhado através da placa porosa, localizada na base do tubo de Hallimond, por 1 min (60 mL/min). A Tabela 3.2 resume as condições operacionais usadas nos experimentos e a Tabela 3.3 mostra as condições experimentais, composições, tamanhos de gotas e PSD dos sistemas utilizados nos testes de microflotação. O produto flotado após
Paula Romyne de Morais Cavalcante Neitzke Tese d e doutorado
secagem em estufa a 100 °C até peso constante (mf), e a massa inicial (mi) foram utilizados no
cálculo da flotabilidade, conforme a Equação 3.1. ( ) [( )
( )]
(3.1)
Tabela 3.2 – Condições operacionais usadas nos experimentos de microflotação.
Parâmetros Condições operacionais
Amostra mineral 1 g
Tempo de condicionamento 5 min
Tempo de flotação 1 min
Vazão de ar comprimido 60 mL/min
Granulometria -150 +75 µm
Volume de microemulsão Volume de nanoemulsão Volume de solução de Flotigam EDA
100 mL 100 mL 100 mL
Paula Romyne de Morais Cavalcante Neitzke Tese d e doutorado
Tabela 3.3 – Condições experimentais e composição dos sistemas utilizados nos experimentos de microflotação.
Estudos Condições experimentais
Efeito do pH dos sistemas no processo de microflotação pH 5 – 12 Microemulsão Sistema 1 Sistema 2 Álcool n-Butílico 70.000 ppm 100.000 ppm Flotigam EDA 70.000 ppm 100.000 ppm Querosene 5.000 ppm 5.000 ppm Tamanho da gota 13,31 nm 13,38 nm
PSD Pico estreito único Pico estreito único Nanoemulsão Álcool n-Butílico 30 ppm Flotigam EDA 30 ppm Querosene 0,0015 ppm Tamanho da gota 215,80 nm PSD Picos múltiplos (≥2) Análise da flotabilidade de quartzo e hematita com solução de coletor e nanoemulsão
Solução Coletora Concentração (ppm)
Flotigam EDA 5 – 50 Nanoemulsão Concentração (ppm) Álcool n-Butílico 5 – 50 Flotigam EDA 5 – 50 Querosene 0,005 – 0,05 Análise da depressão de hematita com amido de milho Nanoemulsão Concentração (ppm) Álcool n-Butílico 30 Flotigam EDA 30 Querosene 0,0015 Amido de milho 0 – 100 Análise de diferentes concentrações de amina e amido de milho na capacidade de flotação de quartzo Nanoemulsão Concentração (ppm) Álcool n-Butílico 10 – 100 Flotigam EDA 10 – 100 Querosene 0,01 – 0,1 Amido de milho 0 – 100
Paula Romyne de Morais Cavalcante Neitzke Tese d e doutorado