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Materiais tecnogênicos nos cursos fluviais

No documento EDERSON DIAS DE OLIVEIRA (páginas 34-37)

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3. O processo de urbanização e seus impactos

2.3.1. Materiais tecnogênicos nos cursos fluviais

A apropriação do espaço geográfico pelo homem possibilitou o surgimento de novas feições na paisagem, que tem modificado a maneira de compreender o tempo geológico. Com o incremento de novos instrumentos de trabalho e técnicas as características do ambiente foram significativamente alteradas. O elemento “homem” passou a ser tão atuante, que na atualidade é visto como um agente geomorfológico, que age na dinâmica do relevo. Pellogia (1997, p. 257) aponta que as ações antrópicas têm ocorrido de forma tão intensa “a ponto de ter sido proposta a designação de um novo período geológico para caracterizar tal época: o Quinário ou Tecnógeno”. No entanto, Rossato et. al. (2002) salientam que esta denominação é ainda conflituosa na ciência. Para os autores a Geologia questiona essa denominação, haja vista interpretar o tempo profundo, não se permitindo em quase toda a sua totalidade, aceitar que se possa individualizar na evolução da superfície terrestre um período tão curto como o Quinário.

Para Casseti (1991) a dinâmica do relevo na escala de tempo humano resulta de fatores exógenos e de intervenções antrópicas, ao passo que os fatores endógenos com exceção dos fenômenos catastróficos desenvolvem-se em escala de tempo geológica. Quanto às atividades humanas, Guerra e Marçal (2006, p. 77) evidenciam o papel do homem como agente geomorfológico:

As encostas possuem uma evolução natural, mas nos ambientes que o homem ocupa e, na maioria das vezes, provoca grandes transformações, praticando extração mineral, construindo rodovias, ferrovias, casas e prédios, ruas, represas, terraços etc., são produzidas encostas artificiais, podendo abalar o equilíbrio anterior à ocupação humana.

Marques (1995) afirma que o homem tem acelerado e diversificado sua atuação na natureza, onde tem intervindo e até controlado processos geomorfológicos. O ambiente urbano, talvez seja a melhor forma de elucidar o papel do homem na alteração da natureza. Nesta perspectiva Gonçalves e Guerra (2006, p. 189) destacam que:

As áreas urbanas, por constituírem ambientes onde a ocupação e concentração humana se tornam intensas e muitas vezes desordenadas, tornam-se locais sensíveis às gradativas transformações antrópicas, à medida que se intensificam em frequência e intensidade o desmatamento, a ocupação irregular, a erosão e o assoreamento dos canais fluviais, entre outras coisas.

Neste enfoque o homem passa a ser visto como agente geológico, capaz de alterar a paisagem em curto espaço de tempo, se comparado com o tempo geológico. Os testemunhos da ação desse novo “agente” podem ser visualizados analisando os depósitos tecnogênicos. Para Oliveira e Queiroz Neto (1994), os depósitos tecnogênicos abrangem uma série de resíduos elaborados a partir de obras de engenharia, como os aterros de diversas espécies, principalmente, no espaço urbano.

Outro tipo comum de depósitos tecnogênicos, são os induzidos, como os corpos aluvionares resultantes de processos erosivos, desencadeados pelo uso do solo. Estes são transportados ao longo da encosta em direção ao fundo de vale, e também ao longo do canal, sendo depositado geralmente nas planícies fluviais e fundos de reservatórios. Esses depósitos são constituídos basicamente por um estrato de sedimentos com variadas granulometrias, além de artefatos antrópicos como metais, plásticos, vidros, borrachas, madeiras entre outros.

Com essa diversidade de materiais tecnogênicos encontrados facilmente nas áreas urbanas, Fanning e Fanning (1989)1 apud Casseti (2001) propuseram uma classificação para

os depósitos tecnogênicos, sendo distinguidos quatro tipos de materiais:

Materiais “úrbicos” (do inglês urbic): referem-se aos detritos urbanos, materiais terrosos que apresentam artefatos manufaturados pelo homem moderno, frequentemente em fragmentos, como tijolos, concreto, vidro, asfalto, pregos, plástico, metais diversos, cinzas, pedra britada e outros, provenientes, por exemplo, de detritos de edifícios demolidos.

Materiais “gárbicos” (do inglês garbage): trata-se de detritos como o lixo orgânico, de origem humana e que, apesar de conterem artefatos em quantidades menores que a dos materiais úrbicos, são suficientemente ricos em matéria orgânica que produz

1 FANNING, D. J; FANNING, M. C. B. Soil: morphology, genesis and classification. New York: John Wiley & Sons, 1989.

metano em condições anaeróbicas.

Materiais “espólicos” (do inglês spoil): correspondem aos materiais escavados e redepositados por operações de terraplanagem em minas a céu aberto, rodovias ou outras obras civis, sendo incluídos também os depósitos de assoreamento induzidos pela erosão acelerada. Enfim, contêm muito pouca quantidade de artefatos, sendo assim identificados pelas peculiaridades texturais e estruturais em seu perfil.

 Materiais “dragados”: são os materiais terrosos provenientes da dragagem de canais fluviais e comumente depositados em diques topograficamente alçadas em relação a planície aluvial.

O incremento desses materiais no ambiente altera a dinâmica dos processos hidrogeomorfológicos no sistema encosta, ficando os solos mais suscetíveis a processos torrenciais de erosão e escoamento. Os canais fluviais localizados em áreas urbanas mal planejadas recebem grande quantidade de material tecnogênico. Tucci (2000) menciona que à medida que se consolida a urbanização a tendência é haver uma redução na produção da carga de sedimentos. Contudo em áreas com urbanização estabilizada se nota um acréscimo na deposição de resíduos favorecendo a obstrução dos canais de drenagem e o assoreamento do leito fluvial. Essa problemática se agrava nos períodos de chuvas, pois maiores volumes de escoamento são gerados, intensificando o arraste de materiais tecnogênicos e poluentes.

O escoamento das águas pluviais e o lançamento de efluentes nas áreas ribeirinhas também acarretam alterações na composição dos materiais. Benetti e Bidone (2001) afirmam que as águas pluviais têm um efeito de lavagem sobre o solo, conduzindo aos fundos de vales, impurezas e detritos encontrados em ruas e pavimentos. Os autores mencionam que os primeiros quinze minutos de precipitação fornecem a maior quantidade de materiais poluentes, podendo essa água (escoamento superficial urbano) estar mais poluída que o próprio esgoto in natura. Portanto, a qualidade da água pluvial também está relacionada com fatores como: a limpeza urbana e sua frequência; a intensidade da precipitação e sua distribuição (temporal e espacial); a época do ano e o tipo de uso da área urbana.

No presente trabalho, será dando enfoque nos materiais tecnogênicos encontrados ao longo dos leitos fluviais, pois se trata de um relevante indicador do impacto das atividades humanas na geomorfologia do canal fluvial. Os materiais tecnogênicos resultam do transporte de variados materiais ao longo das vertentes, até a calha dos cursos fluviais, onde potencializam diversos impactos na dinâmica do canal. Entre eles destacam-se: a poluição dos recursos hídricos, a alteração das propriedades geométricas dos cursos fluviais e a obstrução

em seções transversais fechadas (pontes e cursos canalizados) favorecendo o extravasamento da água em episódios pluviométricos concentrados (TUCCI, 2003; VIEIRA e CUNHA, 2006).

2.3.2. Impermeabilização do solo: alterações na dinâmica dos processos hidrológicos

No documento EDERSON DIAS DE OLIVEIRA (páginas 34-37)

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