• Nenhum resultado encontrado

MATERIAL E MÉTODOS EMPREGADOS Seleção de Espécies Bioindicadoras

do Pontal do Paranapanema

MATERIAL E MÉTODOS EMPREGADOS Seleção de Espécies Bioindicadoras

Considerando-se a definição de espécies bioindicadoras e os objetivos traçados pelo trabalho realizado, optou-se por selecionar para o estudo uma classe predeterminada de espécies sensíveis e responsíveis da Avifauna e da Mastofauna, visto que esses grupos possuem vasta gama de conhecimento adquirido academicamente e apresentam um conjunto representativo de elementos da comunidade que podem ser amostrados em curto intervalo de tempo, possibilitando uma análise rápida e consistente dos sistemas biológicos.

Desta forma, respaldando-se pelas particularidades de cada grupo pertencente à fauna de vertebrados terrestres (mastofauna e avifauna), bem como pelos impactos potenciais a que cada conjunto de espécies estão direta ou indiretamente submetidos, foram definidos diferentes parâmetros para a definição das espécies a serem consideradas bioindicadoras.

Assim, para a avifauna foram selecionados como potenciais elementos da comunidade a serem amostrados o conjunto de espécies listadas nas categorias de ameaça de extinção consideradas para o Brasil (BRASIL, 2014) e para o Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2014; SÃO PAULO, 2018).

Como forma de selecionar tais espécies foram realizados levantamentos de dados secundários acerca da ocorrência de espécies nos municípios que compõem a área de estudo, sendo consultados os bancos de informações do Wikiaves27 e do Táxeus28, além das listas de espécies apresentadas nos planos de manejo das Unidades de Conservação descritas na descritas no Quadro 1 (PEMD e ESEC Mico–Leão–Preto).

Já para a mastofauna, a identificação das espécies bioindicadoras foi preestabelecida mediante lista de espécies do Estado de São Paulo (DE VIVO et al., 2011) e a aplicação do Índice de Sensibilidade a Alterações Humanas (SAH)29, que indica a sensibilidade do organismo segundo a escala categórica Baixa (B), Média (M) e Alta (A), da seguinte forma:

27Wikiaves – disponível em: www.wikiaves.com.br/ 28Táxeus – disponível em: www.taxeus.com.br/

1) Indicação direta na literatura;

2) Caso não haja indicação na literatura, foi considerada:

a) Alta – indicação de pelo menos 4 fatores de impactos descritos na literatura e/ou ocorrência apenas em ambientes restritos (Florestal ou Florestal-aquático) e/ou indicação nas categorias de ameaça CR (Criticamente Ameaçada), EN (Em Perigo) e VU (Vulnerável) pela lista estadual (SMA, 2014; 201830) e/ou federal (MMA, 2014);

b) Média – relação de três fatores de impactos e/ou necessidade de ambiente de mosaico Área Aberta/Floresta (F/A) e/ou indicação nas categorias NT (Quase Ameaçada) ou DD (Dados Deficientes) pela lista oficial do Estado (SMA, 2014; 2018) e/ou da Federação (MMA, 2014);

c) Baixa – Demais espécies.

Com base no respectivo índice, foram consideradas para a realização deste trabalho todas as espécies enquadradas na categoria Alta de Sensibilidade a Alterações Humanas.

Definição dos Pontos de Amostragem

Para a avaliação da composição e do fluxo de fauna foram selecionados nove pontos de amostragem ao longo dos corredores ecológicos implantados na região do Pontal do Paranapanema, conforme descrito no Quadro 2 e ilustrado na Figura 3.

Quadro 2 – Pontos de amostragem definidos para a realização do estudo

Ponto Coordenada UTM Município Fisionomia* Observação

Fuso E N

C1 22K 358424 7518716 Teodoro Sampaio FES Contato PEMD

C2 22K 355708 7518957 Teodoro Sampaio FES Remanescente florestal

C3 22K 351455 7517670 Teodoro Sampaio Reflorestamento Reflorestamento

C4 22K 350295 7515451 Teodoro Sampaio FES Contato ESEC

C5 22K 347901 7516061 Euclides da Cunha Paulista FES Contato ESEC

C6 22K 346359 7518507 Euclides da Cunha Paulista FES Contato ESEC

C7 22K 341820 7522491 Euclides da Cunha Paulista FES Remanescente Florestal

C8 22K 345875 7526549 Teodoro Sampaio Não indicado Áreas de Várzea ou Mata Ciliar

C9 22K 341354 7529224 Teodoro Sampaio Não indicado Áreas de Várzea ou Mata Ciliar

* Fitofisionomia segundo o Inventário Florestal do Estado de São Paulo (KRONKA et al., 2005). FES: Floresta Estacional Semidecidual

30 No período da amostragem foi considerada a lista da fauna ameaçada de 2014 (SMA, 2014), mas para o presente trabalho os dados foram atualizados segundo a publicação mais recente (SMA, 2018).

Figura 3 – Imagens parciais dos pontos utilizados para análise dos corredores ecológicos

C1 C2

C3 C4

C5 C6

C9

Fotos: Nardy (2017).

Já a espacialização destes pontos na paisagem amostral pode ser visualizada na Figura 4 a seguir.

Figura 4 – Distribuição espacial dos pontos de amostragem

Coleta de Dados

A coleta de dados foi efetuada em duas campanhas, uma na estação fria e seca (julho/agosto de 2016) e outra na quente e chuvosa (dezembro/janeiro de 2016/2017).

As amostragens das espécies predefinidas dos grupos mastofauna e avifauna foram realizadas através do método de transecções não lineares, sendo percorridos 500 metros em cada ponto de amostragem selecionado, totalizando 9 km percorridos no acúmulo das campanhas realizadas.

Complementarmente foi também utilizado o método de ponto-de-espera, sendo distribuídos 3 pontos por transecção de 10 min cada, totalizando 9 horas de amostragem neste método.

A identificação dos indícios de rastros, arranhões e fezes de mamíferos seguiram as orientações apresentadas por Becker e Dalponte (1991), Borges e Tomas (2004) e Moro-Rios e colaboradores (2008). Já para a avifauna foram utilizados, em caso de dúvidas, guias de campo (SIGRIST, 2007; SOUSA, 2003) e sonoros (VIELLIARD, 1999, 2002), além dos arquivos do site Xeno-Canto.

As espécies de mamíferos foram classificadas utilizando a nomenclatura indicada por Paglia e colaboradores (2012). Dados sobre hábitos alimentares, preferência de habitat e sensibilidade a atividades humanas foram obtidos nos livros de Eisemberg e Redford (1999), Emmons e Feer (1997), Nowak (2005a), Nowak (2005b), Reis e colaboradores (2006), Reis et al. (2010, 2011).

Já para a avifauna, a nomenclatura adotada foi a proposta pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2015), enquanto os dados biológicos e ecológicos foram consultados nas publicações de Stotz et al. (1996), Silva (1997) e Bressan et al. (2009).

Para o grau de ameaça foi utilizada a atualização da lista oficial do Estado de São Paulo publicada pela Secretaria do Meio Ambiente (SMA, 2018), considerando os apêndices I – Espécies de vertebrados e invertebrados da fauna silvestre ameaçadas de extinção; III – Espécies quase ameaçadas e; IV – Espécies que não possuem informações suficientes para a análise do seu grau de conservação (Dados Deficientes).

Com base nas informações obtidas, as espécies foram caracterizadas pelo seu componente taxonômico, pelo grau de ameaça e pelas características ecológicas e biológicas de guilda alimentar, habitat preferencial e sensibilidade ambiental.

Análise dos dados

Os dados coletados foram inicialmente avaliados de forma qualitativa, considerando a riqueza geral alcançada pelo acúmulo de espécies amostradas em todos os pontos pelas metodologias aplicadas.

Posteriormente, foi também realizada uma análise de agrupamento utilizando o índice de Jaccard como medida de similaridade e uma regra de aglomeração simples, buscando apenas os “vizinhos” mais próximos. Nesta análise foram considerados os dados separadamente e em sua totalidade, buscando-se avaliar as semelhanças (similaridade em nível de espécies) entre as comunidades dos fragmentos conectados e dos corredores em si.

Por fim, as espécies registradas foram analisadas qualitativamente em função das características biológicas e ecológicas relevantes indicadas na literatura, buscando-se compreender a utilização dos corredores frente às peculiaridades biológicas e ecológicas de cada espécie registrada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através das amostragens realizadas foram registradas 10 espécies de aves e 15 de mamíferos, considerando apenas as espécies bioindicadores predefinidas para a realização do estudo, compilando-se uma riqueza total de 25 espécies (Quadro 3). Os dados coletados por ponto são apresentados na Tabela 2.

Quadro 3 – Lista de espécies bioindicadores registradas na área de estudo

Classe Ordem Família Espécie Nome Popular

Aves Anseriformes Anhimidae Anhima cornuta anhuma

Aves Cathartiformes Cathartidae Sarcoramphus papa urubu-rei

Aves Coraciiformes Momotidae Momotus momota udu-de-coroa-azul

Aves Piciformes Ramphastidae Pteroglossus castanotis araçari-castanho Aves Accipitriformes Accipitridae Spizaetus melanoleucus gavião-pato

Aves Psittaciformes Psittacidae Ara ararauna arara-canindé

Aves Psittaciformes Psittacidae Ara chloropterus arara-vermelha-grande

Aves Psittaciformes Psittacidae Amazona amazonica curica

Aves Passeriformes Furnariidae Synallaxis albescens uí-pi

Aves Passeriformes Cotingidae Procnias nudicollis araponga

Mammalia Pilosa Myrmecophagidae Myrmecophaga tridactyla tamanduá-bandeira Mammalia Pilosa Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla tamanduá-mirim

Mammalia Artiodactyla Cervidae Mazama gouazoubira veado-catingueiro

Mammalia Artiodactyla Cervidae Mazama americana veado-mateiro

Mammalia Artiodactyla Tayassuidae Pecari tajacu cateto

Mammalia Perrissodactyla Tapiridae Tapirus terrestris anta

Mammalia Primates Cebidae Sapajus nigritus macaco-prego

Mammalia Carnívora Canidae Chrysocyion brachyurus lobo-guará

Mammalia Carnívora Felidae Leopardus pardalis jaguatirica

Mammalia Carnívora Felidae Panthera onca onça-pintada

Mammalia Carnívora Felidae Puma concolor onça-parda

Mammalia Carnívora Felidae Puma yagouaroundi gato-morisco

Mammalia Carnívora Mustelidae Eira barbara irara

Mammalia Carnívora Procyonidae Procyon cancrivorus mão-pelada

Mammalia Rodentia Dasyproctidae Dasyprocta azarae cutia

Tabela 2 – Registros de espécies por ponto para a análise de corredores

Espécie Pontos de amostragem

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 Anhima cornuta 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 1/0 Spizaetus melanoleucus 0/0 1/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Sarcoramphus papa 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/1 0/0 0/0 Pteroglossus castanotis 0/0 0/0 0/0 1/0 1/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Ara ararauna 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/1 Ara chloropterus 0/0 1/0 0/0 0/0 0/0 0/0 1/0 0/0 0/0 Amazona amazonica 0/0 0/0 0/0 1/0 1/1 1/0 1/0 0/0 0/1 Momotus momota 0/0 0/0 0/0 0/0 1/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Synallaxis albescens 0/1 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Procnias nudicollis 1/1 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Myrmecophaga tridactyla 1/0 1/0 0/0 1/0 1/0 0/0 0/0 0/0 0/1 Tamandua tetradactyla 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Mazama gouazoubira 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 1/0 0/0 0/0 Mazama americana 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 1/0 0/1 0/0 0/0 Pecari tajacu 0/0 0/0 0/0 0/1 0/0 0/0 0/1 0/0 0/0 Tapirus terrestris 1/1 1/1 1/0 0/1 0/0 1/1 1/1 0/0 1/0 Sapajus nigritus 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 1/0 0/0 0/0 0/0 Chrysocyon brachyurus 1/0 1/0 1/1 1/0 0/0 1/1 1/0 1/1 0/0 Leopardus pardalis 0/1 1/0 1/0 1/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Puma concolor 0/0 0/0 0/1 1/0 1/0 0/0 1/0 0/1 0/0 Puma yagouaroundi 0/0 1/0 0/1 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Panthera onca 0/0 0/0 1/0 1/0 0/0 1/0 0/0 0/0 0/0 Eira barbara 0/0 1/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 Procyon cancrivorus 0/0 0/0 0/0 0/0 0/0 1/0 0/0 0/0 0/0 Dasyprocta azarae 0/0 0/0 1/0 1/1 0/1 1/0 0/0 0/1 0/0 Organização: Guarda (2020).

Na primeira campanha, conforme demonstrado na Figura 5, o ponto com maior riqueza de aves foi C2, com 3 espécies, enquanto para os mamíferos 5 pontos apresentaram este mesmo valor (3 espécies). Do restante, C3 não apresentou registro de aves, sendo que outros 4 pontos constaram com um único registro cada para este grupo. Já para os mamíferos, 3 pontos apresentaram um único registro.

Já na segunda campanha, os pontos C1 e C5 apresentaram as maiores riquezas, com 11 espécies cada, sendo C1 o ponto com maior registro de espécies de aves (5 espécies) e C5 de mamíferos (9 espécies). Vale ressaltar que, nesta campanha, todos os pontos apresentaram registros de espécies de aves e mamíferos.

Considerando as duas campanhas, o ponto C5 apresentou a maior riqueza acumulada, com 12 espécies, bem como a maior riqueza de mamíferos (9 espécies), enquanto o ponto C1 apresentou a segunda maior riqueza, com 11 espécies, contando com a maior riqueza de aves, concomitantemente com o ponto C2 (5 espécies).

De maneira geral, focando-se principalmente na compilação dos dados das duas campanhas, pode-se evidenciar uma variação significativa na riqueza entre os pontos amostrados, com os maiores valores evidenciados nos pontos situados mais próximas aos fragmentos florestais de maior expressividade, tanto em tamanho quanto em estágio de regeneração natural.

Figura 5 – Riqueza de espécies por ponto para Aves e Mamíferos para a primeira campanha (C1), segunda campanha (C2) e Geral (G)

C1 C2

G

Organização: Guarda (2020).

Em relação à análise de similaridade para o grupo da avifauna, considerando a composição de espécies, evidencia-se pela Figura 5 que os pontos centrais analisados, C4, C5 e C6, apresentaram maior similaridade, superior ou igual a 50%, valendo destacar que estes pontos estão localizados próximos a áreas da ESEC do mico leão preto. Ressalta-se ainda que o coeficiente de correlação cofenética31 do dendrograma foi de 0,89, sugerindo um método de agrupamento adequado (Figura 6).

31A correlação cofenética afere o grau de ajuste entre a matriz de similaridade original e a matriz resultante da simplificação realizada pelo método de agrupamento (MEYER, 2002)

Este grupo apresentou uma similaridade de cerca de 35% com os pontos C7 e C9, localizados ao norte e 25% com C2, situado a leste. Esses 6 pontos formam um grupo contínuo no centro do dendrograma, não apresentando associação com os pontos C1, C3 e C8.

Esta condição sugere uma descontinuidade no corredor, principalmente se analisarmos a ausência de associação entre 3 dos pontos analisados em relação aos pontos centrais. Este fato pode estar relacionado ao tempo de existência do corredor, que ainda não formou uma estrutura florestal contínua para o deslocamento e uso do espaço pelas aves, ou indicar a existência de fatores de barreira ao longo do corredor como um todo.

Figura 6 – Gráfico de similaridade entre os pontos amostrais utilizando o índice de Jaccard para Aves

Organização: Nardy (2017).

Correlacionando-se com as características ecológicas das espécies (Quadro 4), nota-se que, com exceção de Anhima cornuta, todas as demais necessitam de áreas florestais e, algumas delas, habitam preferencialmente ambientes mais preservados e com melhor estruturação da floresta, como é o caso daqueles classificados como estritamente florestais, corroborando a tese de que o deslocamento de espécies mais restritivas quanto à seleção do habitat aumentará à medida que a vegetação dos corredores atinja estágios de regeneração mais avançados.

Quadro 4 – Características ecológicas das espécies da avifauna Espécie Habitat preferencial Guilda alimentar Sensibilidade ambiental* (SMA, 2018) MMA, 2014)

Anhima cornuta Próx. corpos d’água

Onívora Média NT -

Sarcoramphus papa Borda florestal Carnívora Média NT -

Momotus momota Florestal Onívora Média NT -

Pteroglossus castanotis Florestal Onívora Alta VU -

Spizaetus melanoleucus Borda florestal Carnívora Alta EN -

Ara ararauna Borda florestal Frugívora Média VU -

Ara chloropterus Área aberta Frugívora Alta CR -

Amazona amazônica** Florestal Frugívora Média - -

Synallaxis albescens** Borda florestal Insetívora Baixa - -

Procnias nudicollis Florestal Onívora Média NT -

* Sensibilidade segundo Stotz et al. (1997); ** Inserida na lista de espécies ameaçadas de extinção do Estado de São Paulo de 2014 (SMA, 2014) e retirada da última atualização, de 2018 (SMA, 2018).

Organização: Guarda (2020).

Para a análise do grupo de mamíferos, embora tenha sido encontrado um coeficiente de correlação cofenética menor (0,686), o agrupamento obtido também pode ser considerado adequado.

Assim, na Figura 7 é possível verificar que os pares de pontos C1/C2 e C3/C4 apresentaram as maiores similaridades (cerca de 70%), notando-se posteriormente uma aproximação de 50% entre estes pares e o ponto C9, sugerindo uma continuidade destes ambientes para os mamíferos. Continuando, este grupo apresentou uma associação de aproximadamente 45% com o par de pontos C5/C8, enquanto C7 e C6 apresentaram maior distanciamento dos demais pontos e entre si, com cerca de 40% de similaridade.

De forma geral, para os mamíferos é observada maior associação da comunidade ao longo dos corredores, visto que nenhum ponto apresenta associação com valor zero. No entanto, nenhuma estrutura pode ser vinculada ao processo observado, mas pode-se sugerir que o corredor apresenta-se mais uniforme para mamíferos do que para as aves, e isto se deve ao fato de que a maioria das espécies de mamíferos bioindicadores aqui analisados apresenta características generalistas na seleção de habitat (Quadro 5) e com baixa restritividade alimentar, deslocando-se com facilidade entre ambientes distintos.

Figura 7 – Gráfico de similaridade entre os pontos de amostragem utilizando o índice de Jaccard para Mamíferos

Organização: Nardy (2017).

Quadro 5 – Características ecológicas das espécies da mastofauna

Espécie Habitat preferencial Guilda alimentar Sensibilidade ambiental* (SMA, 2018) MMA, 2014)

Myrmecophaga tridactyla Área aberta/ floresta

Insetívora Alta VU VU

Tamandua tetradactyla Generalista Insetívora Alta - -

Mazama gouazoubira Generalista Herbívora Alta - -

Mazama americana Florestal Herbívora Alta EN DD

Pecari tajacu Generalista Herbívora Alta NT -

Tapirus terrestris Florestal-aquática Herbívora Alta EN VU

Sapajus nigritus Florestal Onívora Alta - NT

Chrysocyion brachyurus Área aberta/ floresta

Onívora Alta VU VU

Leopardus pardalis Florestal Carnívora Alta VU -

Panthera onca Generalista Carnívora Alta CR VU

Puma concolor Generalista Carnívora Alta VU VU

Puma yagouaroundi Generalista Carnívora Alta NT VU

Eira barbara Florestal Onívora Alta - -

Procyon cancrivorus Florestal-aquática Onívora Alta - -

Dasyprocta azarae Florestal-aquática Herbívora Alta - -

* Segundo a aplicação do índice de sensibilidade a alterações humanas – SAH descrito nos procedimentos metodológicos.

Por fim, para a análise de agrupamento dos dois grupos taxonômicos concomitantemente (Figura 8) foi encontrado um coeficiente de correlação cofenética médio (0,58), indicando um agrupamento não tão satisfatório como os anteriores.

No entanto, é válido interpretar este dendrograma, pois nele foram encontradas condições relevantes, como uma associação de quase 40% entre o par de pontos C1/C2, próximos ao PEMD, e os pontos C3, C4, C5, C6 e C8, localizados na região com maior influência das áreas da ESEC Mico-Leão-Preto, sugerindo que estas duas unidades de conservação devam atuar como polos independentes para a dispersão da fauna na região.

Também é possível notar uma hierarquização do grupo formado por estes pontos descritos anteriormente (de C1 a C6 e C8) com C7 e C9, exatamente nesta ordem, sugerindo uma condição de continuidade ao longo do corredor.

Figura 8 – Gráfico de similaridade utilizando o índice de Jaccard para os dois grupos em conjunto

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A região do Pontal do Paranapanema se apresenta como o mais importante reduto de biodiversidade do interior do Estado de São Paulo, abrigando o maior remanescente de Mata Atlântica situado fora dos limites litorâneos, e que atualmente se encontra legalmente protegido nos domínios do Parque Estadual Morro do Diabo. Complementarmente, constam ainda na região importantes remanescentes florestais de menor porte, que abrigam inclusive algumas populações de mico-leão-preto, espécie ameaçada de extinção (SMA, 2014), o que acabou por viabilizar a implantação da Estação Ecológica que leva o nome desta espécie.

Somado a isso, o fato de a região comportar a um grande número de outras espécies ameaçadas e de alta sensibilidade contribui para reforçar a importância biológica da região, a mais expressiva do interior paulista.

No que se refere à análise dos Corredores de Biodiversidade, pode-se notar uma descontinuidade para as espécies de aves analisadas, embora evidenciadas em diversos pontos das áreas amostradas, sendo que este fato pode estar associado ao tempo de existência das áreas de conexão (reflorestamentos), que ainda não se encontram com uma estrutura florestal contínua para o deslocamento e uso do espaço para este grupo de espécies. Já para os mamíferos analisados pode-se observar maior associação da comunidade ao longo do corredor, visto que nenhum ponto apresenta associação com valor zero, apontando o deslocamento de espécies entre as áreas interligadas.

Vale também destacar que para o presente estudo foram considerados apenas um conjunto específico de espécies, denominadas bioindicadores, para cada grupo faunístico avaliado, podendo-se deduzir, pelos resultados obtidos, que para espécies com menor restrição, tanto alimentar quanto no uso do habitat, e com menor sensibilidade a alterações ambientais, os corredores certamente cumprem sua função ecológica no atual estágio de regeneração em que se encontram.

Por fim, pode-se concluir que, mesmo os corredores ainda não apresentando uma estruturação florestal semelhante à florestas mais maduras, os mesmos servem como abrigo, fonte de alimentos, refúgio, área de nidificação e propicia o fluxo gênico (mesmo que por hora seletivo) entre remanescentes florestais, indicando que a implantação de corredores ecológicos em matriz de cana-de-açúcar atuam para minimizar os efeitos da fragmentação da paisagem em ambientes rurais.

REFERÊNCIAS

BECKER, M.; DALPONTE, J.C. Rastros de mamíferos silvestres brasileiros: um guia de campo. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1991. 180p.

BENITES, M.; MAMEDE, S. B. Mamíferos e aves como instrumentos de educação e conservação ambiental em corredores de biodiversidade do Cerrado, Brasil. Parque Nacional das Emas, Brasil. Mastozoología

Neotropical, v. 15, n. 2, p. 261-271, 2018.

BORGES, P.A.L.; TOMAS, W.M. Guia de rastros e outros vestígios de mamíferos do Pantanal. [s/l]: Embrapa Pantanal, 2004.

BRASIL. Lei 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm. Acesso em: 20 set. 2020.

BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Portaria 444, de 17 de dezembro de 2014. Lista da fauna ameaçada de extinção. Brasília: MMA, 2014.

BRESSAN, P.M.; KIERULFF, M.C.M.; SUGIEDA, A.M. Fauna ameaçada de extinção no Estado de São Paulo: vertebrados. São Paulo: Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente, 2009. CEOLIN, L. P. W; AGUIAR JUNIOR, T. R.; MORAIS, M. M. Avaliação de impactos ambientais em sistemas aquáticos. Caso de estudo do Rio Órbigo, Espanha. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 10, n. 2, p. 535-542, 2017.

COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS CBRO. Lista das aves do Brasil. Versão 2015. Disponível em: http://www.cbro.org.br. Acesso em: 20 fev. 2017.

DE VIVO, M.; CARMIGNOTTO, A.P.; GREGORIN, R. et al. Checklist dos mamíferos do Estado de São Paulo, Brasil. Biota Neotropica, v. 11, n. 1a, 2011. Disponível em:

http://www.biotaneotropica.org.br/v11n1a/pt/abstract?inventory+bn007 1101a2011. Acesso em: 02 out. 2020.

EISEMBERG, J. F.; REDFORD, K. H. Mammals of the neotropics: the central neotropics. Chicago: University Chicago Press, 1999.

EMMONS, L.M.; FEER, F. Neotropical rainforest mammals: a field guide. Illinois-Chicago: The University of Chicago Press, 1997.

FARIA, H.H. et al. Parque Estadual Morro do Diabo – Plano de Manejo. Governo do Estado de São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente, Instituto Florestal. Santa Cruz Do Rio Pardo, São Paulo, Brazil, 2006.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMBIO). Plano de manejo da Estação

Ecológica Mico-Leão-Preto – resumo executivo. Brasília: Diretoria de Unidades de Conservação de Proteção

Integral, 2007.

INSTITUTOFLORESTAL/GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. SIFESP – Sistema de Informações Florestais do

Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.iflorestal.sp.gov.br/sifesp/. Acesso em: 4 out. 2020.

KRONKA, F. J. N.; NALON, M. A.; MATSUKUMA, C. K. Inventário florestal da vegetação natural do Estado de

MEYER, A. S. Comparação de Coeficientes de similaridade usados em análises de agrupamento com dados

de marcadores moleculares dominantes. 2012. Dissertação (mestrado) – Escola Superior de Agricultura

Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, SP, 2012.

MORO-RIOS, R. F.; SILVA-PEREIRA, J. E.; MOURA-BRITO, M. et al. Manual de rastros da fauna paranaense.