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Capítulo 5 – Caminho Metodológico

5.3. Material e Procedimento

A fim de atender ao objetivo proposto, foram realizadas observações da criança em contexto de atendimento fonoaudiológico. Esta é a situação que pode tornar mais visível os aspectos relacionados ao espelhamento da criança com atrasos de linguagem e seu terapeuta e, portanto, de suas especificidades, que é a questão básica deste trabalho.

Num primeiro momento, foi realizado contato com os coordenadores das Clínicas de Fonoaudiologia das Universidades Federal e Católica de Pernambuco para explicitação da natureza e do objetivo desta pesquisa e para um levantamento das crianças que estavam em tratamento nas referidas clínicas dentro do perfil descrito anteriormente. Neste levantamento, foram encontradas apenas duas crianças com o perfil procurado para o estudo, as duas na Clínica de Fonoaudiologia da Universidade Católica. No entanto, perto do final da coleta de dados, a menina H. – que estava passando por uma nova bateria de exames – obteve um diagnóstico de atraso de linguagem devido a uma seqüela neurológica causada por falta de oxigenação na hora do parto. Isto fez com que não mais entrasse no perfil de participante desta pesquisa e, por isso, os seus dados de fala não foram utilizados, permanecendo, assim, apenas os dados de fala do menino W.

Os responsáveis pelos participantes da pesquisa foram informados verbalmente e por escrito sobre o objetivo do estudo e foi solicitada uma autorização dos mesmos através de um termo de consentimento (Anexo 1). O anonimato é garantido através de abreviatura do nome da criança.

Num segundo momento, foi realizado contato com a professora/fonoaudióloga responsável pelos pacientes para que se tivesse uma indicação da dificuldade na fala das crianças escolhidas, das histórias de vida, dos aspectos afetivos e das relações familiares das mesmas. Esta professora/fonoaudióloga intermediou o contato entre a pesquisadora e o aluno/terapeuta que estava fazendo os atendimentos para que a mesma pudesse explicar como se daria o procedimento de coleta de dados.

Os atendimentos eram conduzidos por alunos que estavam cursando o estágio obrigatório do final do curso de Fonoaudiologia da Universidade Católica de Pernambuco. Esses atendimentos ocorriam na Clínica de Fonoaudiologia da referida universidade e eram supervisionados por uma professora de fonoaudiologia. O aluno/terapeuta entrava na sala de atendimento com a criança; nesta sala havia um

espelho-espião13 através do qual, em outra sala, a professora/fonoaudióloga responsável por aquele aluno ficava supervisionando o atendimento. Nesta supervisão, a professora observava a conduta do aluno/terapeuta durante as sessões, a maneira como ele as conduzia e a evolução da criança. Posteriormente, os casos eram discutidos com os alunos e decisões sobre condutas e instrumentos a serem utilizados eram tomadas. É importante salientar que o aluno/terapeuta acompanha o paciente por um ano (tempo de duração do estágio), sendo substituído após esse período por outro aluno. No entanto, a professora/fonoaudióloga que supervisiona o tratamento do paciente é sempre a mesma, desde a data da primeira entrevista de triagem, ou seja, ela acompanha o caso desde a admissão para o tratamento até a alta do paciente.

O procedimento de coleta de dados consistiu na gravação em áudio das sessões de terapia fonoaudiológica. Pediu-se ao aluno/terapeuta que conduzisse a sessão da forma como já havia sido previamente programada para o tratamento da criança. A pesquisadora entregou um gravador de áudio ao aluno/terapeuta para que o mesmo gravasse as sessões. Vale salientar que tanto as crianças como seus responsáveis sabiam que as sessões estavam sendo gravadas e conheciam a pesquisadora. Esta não entrou na sala com o aluno/terapeuta e a criança, uma vez que isso seria prejudicial à relação terapeuta/paciente e, conseqüentemente, ao tratamento em si. A pesquisadora ficou ao lado da professora/fonoaudióloga, na sala ao lado da sala onde acorria o atendimento, observando as sessões através do espelho-espião fazendo anotações sobre o processo que, posteriormente, contribuiriam para um melhor entendimento dos objetivos do estudo.

Durante as sessões foram utilizados pelo aluno/terapeuta um relógio onde a criança tinha que encaixar os números nos locais adequados e, portanto, reconhecê-los, um jogo de dominó onde de um lado da peça havia desenhos diversos e diferentes quantidades e, do outro, números para que fossem correlacionados aos referidos desenhos. E, ainda, jogos no computador onde a criança tinha que reconhecer situações (por exemplo, pessoas numa praia) bem como, partes do corpo humano, frutas, cores, cômodos de uma casa, animais e nomeá-las para que o aluno/terapeuta completasse espaços em branco na tela. Em alguns momentos a criança pediu para desenhar e pintar e fez o desenho de

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O acompanhamento ocorre através do espelho-espião para preservar a relação terapeuta – paciente, uma vez que essa relação poderia ser prejudicada com a presença de um terceiro, neste caso a professora/fonoaudióloga, no contexto de atendimento.

uma casa e pintou uma árvore de Natal, também sendo incentivada a nomear as cores e os elementos que formam a casa e a árvore de Natal. Observou-se que estes instrumentos foram utilizados para incentivar a fala da criança e permitir o diálogo.

Foi, também, realizada pela pesquisadora uma conversa com os pais ou cuidadores da criança e pedido aos mesmos que falassem sobre a criança, que contassem a sua história de vida: como foi a gestação, o parto, se a gravidez foi desejada, com quantos anos a criança andou e como foi que aconteceu, com quantos anos a criança falou e como foi que aconteceu, qual foi a primeira palavra da criança, se há algum outro filho com o mesmo problema da criança. O diálogo foi conduzido pela pesquisadora através de perguntas que abrangiam os temas acima descritos, por exemplo: Como foi a gestação de W? Ele nasceu a termo? Como era a relação entre o casal (os pais da criança)? Com quantos anos ele andou? Com quantos anos ele falou? Como era que ele falava? Essa conversa teve o objetivo de obter algumas informações sobre a dinâmica familiar da criança e seu ambiente social.