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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1.1. Material Fresado

Um pavimento é projetado e construído para propiciar viagens confortáveis, seguras e econômicas, o que é determinado pela qualidade de sua superfície. Quando o revestimento não atende mais a essa finalidade, deve-se em ele intervir visando a sua restauração (BONFIM, 2011).

A reciclagem de revestimentos asfálticos consiste em um processo pelo qual uma mistura asfáltica existente, geralmente em condição deteriorada, é fresada e pode ser misturada a um novo ligante asfáltico e a novos agregados, possibilitando o seu reaproveitamento, conforme Vasconcelos & Soares (2003).

Conceituando, a fresagem é a operação de corte, através de equipamento especial - fresadora -, de parte ou de todo o revestimento asfáltico existente em um trecho de via, ou até englobando outra camada do pavimento, como forma de restauração da qualidade à pista de rolamento ou como melhoria da capacidade de suporte (BERNUCCI et al., 2006).

Bonfim (2011) conceitua fresagem de pavimentos como sendo o corte ou desbaste de uma ou mais camadas do pavimento, com espessura pré-determinada, através de processo mecânico realizado a quente ou a frio, visando à restauração do pavimento.

O material proveniente do corte de revestimento asfálticos tem sido designado de RAP - Reclaimed Asphalt Pavement - que, traduzido para o português, seria pavimento asfáltico recuperado (ZUBARAN, 2014).

De acordo com a NCHRP - National Cooperative Highway Research Program - Report 452 (2001), o RAP é o velho pavimento asfáltico moído, retirado da faixa de rolamento. Este material pode ser reutilizado em novas misturas asfálticas pois seus componentes - ligante e agregados - ainda tem valor. Usando o RAP em misturas novas reduz-se a quantidade de material novo que precisa ser adicionado à mistura asfáltica, economizando assim, dinheiro e recursos naturais.

Além da reutilização dos agregados do pavimento degradado, propiciando uma diminuição da demanda de novos materiais e das respectivas distâncias de transporte, também pode-se reutilizar os ligantes asfálticos, pois o asfalto remanescente no pavimento antigo é um recurso valioso (DNIT, 2006). Todavia há uma ressalva para o asfalto, que devido ao seu envelhecimento, acaba perdendo algumas das suas propriedades originais, decorrentes dos fatores de oxidação e volatilização, mas que podem ser reestabelecidas combinadas com um asfalto novo ou adicionando um agente rejuvenescedor.

Corroborando com esta ideia, Bernucci et al. (2006) também falam a respeito da reciclagem, dizendo que os agregados de uma mistura envelhecida mantêm as suas características físicas e de resistência mecânica intactas. Porém, em contrapartida, o ligante asfáltico tem suas particularidades alteradas, pois se torna mais viscoso nessas condições.

Ratificando o que consta na NCHRP Report 452 (2001), Pradyumna et al. (2013) também afirmam que um projeto executado corretamente com misturas

recicladas, pode ter um desempenho melhor ou semelhante aos de novas misturas asfálticas convencionais.

A reciclagem é mais uma opção de reabilitação de pavimentos degradados, e não se deve simplesmente reciclar porque é um cenário ecológico, mas sim, porque é tecnicamente adequado e dela derivam vantagens econômicas, tanto para as empreiteiras como para os orgãos administradores da rodovia, como relatam as diposições normativas de Portugal, segundo o INIR - Instituto de Infraestruturas Rodoviárias IP - (2015).

As principais vantagens da reciclagem são: redução nos custos de construção, conservação de agregados e ligantes, preservação da geometria do pavimento existente, manutenção da drenagem, preservação do meio ambiente, conservação de energia, homogeneização estrutural, readequação estrutural e rápida liberação da pista (SPECHT et al., 2013).

Salienta-se a grande relevância da reciclagem: de que todo material triturado ou cortado pelas fresadoras pode ser reaproveitado, não estocando assim resíduos sobre o meio ambiente. Assunto este que é tão debatido num século onde as agressões ao ambiente buscam veemente serem controladas e contornadas com utilização de novas técnicas de reaproveitamento de materiais, em todas as áreas de trabalho.

De acordo com o DNIT (2006), a seleção da reciclagem, entre as diversas alternativas disponíveis para a restauração de um pavimento, depende de diversos fatores, entre eles:

 Observação dos defeitos do pavimento;

 Determinação das causas prováveis dos defeitos, baseado em estudos de laboratório e de campo;

 Informações de projeto e histórico das intervenções de conservação;  Custos;

 Histórico do desempenho do pavimento;

 Restrições quanto à geometria da rodovia (horizontal e vertical);  Fatores ambientais;

Nos dias atuais, como comenta Bonfim (2011), a fresagem de pavimentos asfálticos é uma técnica constantemente aplicada como parte de um processo de restauração de pavimentos deteriorados, buscando a solução de problemas tipicamente urbanos, a fim de evitar problemas como, por exemplo, o alteamento de calçadas e de drenagem pluvial, assim como a atenuação do efeito da propagação de trincas.

O processo de fresagem, segundo Bonfim (2011), teve início na década de 1970, motivado pela escassez dos materiais asfálticos e pela crise econômica internacional. No Brasil, de acordo com o mesmo autor, essa técnica foi utilizada, pioneiramente, na década de 1980, utilizando uma fresadora norte-americana na obra de restauração da Via Anchieta, no estado de São Paulo.

As fresadoras utilizam rolos especiais munidos de pontas (bits) cortantes, devido à presença de diamantes nas mesmas. Antes do uso das fresadoras, o material era extraído do pavimento com o auxílio de escarificadores.

Segundo Bonfim (2011), existem três tipos de fresagem:

Fresagem superficial: conhecida como fresagem de regularização, destinada à correção de defeitos existentes na superfície do pavimento, não necessitando de posterior recapeamento da pista, uma vez que a textura obtida permite o rolamento de forma segura, porém sem muito conforto;

Fresagem rasa: tipo de fresagem que atinge normalmente as camadas superiores do pavimento, em alguns casos, podendo chegar à camada de ligação, com corte médio em torno de 5 cm; utilizada na correção de defeitos funcionais e em remendos superficiais;

Fresagem profunda: nesse tipo de tecnologia o corte atinge níveis consideráveis, podendo alcançar até a camada de sub-base do pavimento; utilizada em intervenções que objetivam o aspecto estrutural, seja por recomposição da estrutura do pavimento ou para a incorporação dos materiais do revestimento à camada de base.

A fresagem traz benefícios como a praticidade e a rapidez na execução dos serviços. Ela possibilita a manutenção dos greides originais da pista, evitando que se elevem quando da aplicação de um novo revestimento asfáltico. Também ajuda a corrigir ou alterar a inclinação da pista, assim como, nivela os tampões de ferro.

A técnica da fresagem dos pavimentos é apontada também como a melhor alternativa para aliviar o peso de estruturas que receberam sucessivos recapeamentos, sem ser retirado o revestimento anterior, como por exemplo, pontes e viadutos (OLIVEIRA, 2013).

Bonfim (2011) apresenta um estudo sobre a granulometria resultante do processo de fresagem de revestimentos asfálticos. O autor estudou dois trechos experimentais na mesma pista, onde um se apresentava mais trincado do que o outro. Esses trechos foram fresados adotando-se três profundidades de corte diferentes - 3, 5 e 8cm - combinadas com três velocidades de avanço da fresadora - 3, 6 e 10m/min - para análise da granulometria do material resultante. Foram realizados ensaios com e sem extração do CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo).

Com relação às curvas granulométricas obtidas, como conclui Bonfim (2011), a fresagem provoca um deslocamento das mesmas se comparadas às respectivas curvas originais. As curvas granulométricas obtidas com a extração do betume, ou seja, após a fresagem e sem grumos, são deslocadas para cima, tornando a curva mais fina. Isso ocorreu devido aos agregados terem seus tamanhos máximos nominais diminuídos, por causa da quebra dos mesmos após o processo de fresagem. O inverso ocorre com as curvas resultantes do material fresado sem a extração do betume. Como o material é analisado da maneira como resulta da fresagem, com os grumos, há um aumento no tamanho nominal dos agregados, o que faz com que a porcentagem de material passante em cada peneira seja menor. Sendo assim, há uma falta de finos, fato que se acentua com o aumento da velocidade de avanço da fresadora, fazendo com que a curva obtida se situe abaixo da curva original.