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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4. Material fresado

A reciclagem de pavimentos remonta da década de 70. A crise do petróleo foi a força motriz que estimulou a busca por novas técnicas que fossem mais econômicas para restaurar vias a níveis de serviços adequados. Até então, o pavimento deteriorado era removido por escarificação. À partir da segunda metade da década de 70, houve o advento da máquina fresadora,o que permitiu o controle da espessura do revestimento a ser removida. Um grande progresso na técnica de reciclagem de pavimentos (BONFIM, 2001, apud CORREIA, 2012).

O material fresado, também denominado reclaimed asphalt pavement (RAP), nada mais é do que revestimento asfáltico que sofreu um processo de trituração na pista (MCDANIEL e ANDERSON, 2001).

O material fresado é composto por agregados e ligante asfáltico. Ocorre a presença de grumos, formado pela aglomeração de material. Devido a estes grumos, quando realiza-se ensaio de granulometria constata-se que existem poucos finos no material fresado (BALBO, 2007).

A granulometria do revestimento original possui influência direta no material fresado a que origina. Por exemplo, fresado de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ) é bem graduado enquanto fresado de Stone Matrix Asphalt (SMA) é descontínuo. Pode haver contaminações por materiais utilizados em remendos, capas selantes e outros serviços de manutenção. Além disso, outros fatores que influenciam a granulometria do material fresado são: velocidade do equipamento fresador, sentido de rotação do cilindro de fresa e técnica de fresagem (BALBO, 2007; MCDANIEL e ANDERSON, 2001). A Figura 8 demonstra as diversas frações de uma amostra peneirada de material fresado.

Figura 8 - Frações granulométricas do material fresado

Fonte: Autoria própria (2015)

Diversos autores demonstram preocupação com a reutilização de material fresado. Bonfim (2001) identifica que a aplicação como revestimento primário em rodovias não pavimentadas mostra-se como ineficiente e ambientalmente agressiva. Esta é uma prática corrente, no Brasil. Sullivan (1996, apud MOREIRA, 2006) afirma que em 1986, nos Estados Unidos, 23% dos revestimentos asfálticos possuíam algum percentual de material reciclado e que 5% dos materiais utilizados na produção de revestimentos asfálticos eram materiais reciclados. O mesmo autor estima que em 1996, um terço de todo o fresado produzido nos Estados Unidos era reutilizado.

Correia (2012) estudou a incorporação de material fresado em diferentes teores, com adição de pó-de-pedra, em camadas granulares de pavimentos flexíveis. O autor constatou que a mistura com 70% de pó-de-pedra e 30% de fresado apresentou maior Índice de Suporte Califórnia (ISC) e Massa Específica Aparente Seca do que a mistura com 30% de pó-de-pedra e 70% de fresado. O mesmo autor, ainda, construiu uma pista experimental para avaliar, por retroanálise, o módulo de resiliência da mistura com 30% de pó-de-pedra e 70% de fresado, obtendo 340 MPa de MR na camada de base. Correia (2012) concluiu, por fim, que

a utilização da mistura 30% de pó-de-pedra e 70% de fresado demonstra-se como uma alternativa ambientalmente correta para disposição de material fresado, economicamente viável, pois é de fácil execução e necessita de equipamentos simples, e tecnicamente viável para rodovias de baixo volume de tráfego.

Pasche (2013), por sua vez, substituiu 10% e 20% do agregado mineral virgem por material fresado asfáltico e utilização de 0 e 1% de filler cal calcítica em misturas de concreto betuminoso usinado a quente. O autor constatou a redução do teor de ligante para misturas com incorporação de fresado e redução ainda maior para misturas com fresado e cal calcítica. O autor verificou perdas na resistência à tração com aumento do teor de fresado incorporado, mas que para 10% de fresado incorporado, a diferença foi de apenas 0,04 MPa em relação à mistura de referência. A cal calcítica atuou como filler ativo, melhorando a resistência à tração das misturas, mas prejudicou o desempenho face ao dano induzido por umidade. O autor avaliou a perda de massa no ensaio Cantabro e verificou que a redução do teor de ligante causou maior perda de massa. Portanto, a mistura com 20% de fresado e 1% de cal apresentou o pior desempenho (5,42% de perda de massa) e a mistura de referência apresentou o melhor desempenho (3,96% de perda de massa). O autor julga que este valor não é significativo.

Trichês et al (2000, apud MOREIRA, 2006) verificou o comportamento de uma mistura asfáltica a frio, utilizando fresado como agregado estabilizado com RM- 1C. O autor sugere que o solvente presente na emulsão seria capaz de diluir o CAP presente no fresado. Constatou-se que o material fresado, reciclado em usina com emulsão RM-1C em camadas de revestimento conduziram à durabilidade 70% superior à de revestimentos em TSD, mostrando-se uma alternativa viável em revestimentos de vias de baixo e médio volume de tráfego.

Jurach et al (2006) executaram um traço de Pré-Misturado a Frio com 100% de material fresado, para eliminação de degraus entre pista e acostamentos. Após dois anos de utilização, o autor verificou que a superfície do acostamento apresentou-se isenta de defeitos, ainda que submetida à carga de veículos de transporte coletivos que utilizam o local como parada para embarque e desembarque de passageiros. A solução apresentada foi três vezes mais barata do que se comparada com a utilização de CBUQ.

Moreira et al (2006) comparou a resistência à tração e o módulo de resiliência de misturas asfálticas a frio com diferentes teores de fresado incorporado: 25%, 50% e 75%. Não foi feita nenhuma alusão ao ligante envelhecido presente no material fresado. Esta pesquisa revelou que a resistência à tração (RT) de PMF com fresado é inferior à do CBUQ, mas é superior à RT a de areia asfalto usinada a quente (AAUQ), mostrando-se tecnicamente viável em vias de baixo e médio volume de tráfego. Os autores notaram que o teor de fresado incorporado é inversamente proporcional ao desempenho mecânico da mistura.

McDaniel e Anderson (2001) citam que a influência do ligante envelhecido no material fresado é mínima em CBUQ, até limites de teor de fresado incorporado entre 10% e 40%. Nestes casos, o fresado é chamado de “agregado negro”. À medida que o teor de fresado aumenta, o ligante envelhecido aglomera ao agregado virgem em quantidade suficiente para influenciar o desempenho da mistura, sendo necessário extrair o ligante envelhecido para caracterizá-lo e utilizá-lo como parâmetro de dosagem através de metodologia Superpave.

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