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O presente trabalho foi conduzido na Unidade de Ensino, Pesquisa e Extensão em Gado de Leite (UEPE-GL) do Departamento de Zootecnia (DZO), na Universidade Federal de Viçosa (UFV) Viçosa-MG, entre fevereiro e maio de 2006.

Foram utilizadas 12 vacas da raça Holandesa, distribuídas em três quadrados latinos 4 X 4, definidos de acordo com o período de lactação. Os animais iniciaram o experimento com média de 152 dias de lactação e apresentaram no final do experimento menos de 150 dias de gestação.

O experimento foi constituído por quatro períodos, com duração de 18 dias cada um, sendo os 10 primeiros dias de adaptação às dietas e os demais para avaliação da excreção de uréia na urina, a concentração de uréia no plasma e no leite, o balanço de compostos nitrogenados e a síntese de proteína microbiana, comparadas à dieta

Os animais foram alimentados com quatro dietas à base de silagem de milho (Zea mays, híbrido AG-1051) com níveis crescentes de substituição da ração concentrada (RC) à base de milho, farelo de soja e farelo de trigo, pelo farelo de glúten de milho (FGM), nos níveis 0, 33, 66 e 100%, com base na base da MS.

As dietas foram formuladas para serem isonitrogenadas, com 14% de PB, de forma a atender as exigências nutricionais de uma vaca com 550 kg de peso corporal, 30 semanas de lactação, produzido diariamente 20 kg de leite com 3,5% de gordura (NRC, 2001). Na Tabela 1, é apresentada composição química das dietas experimentais e dos concentrados. A composição percentual dos ingredientes das dietas, na base da MS pode ser observada na Tabela 2.

No sétimo dia de adaptação e no final de cada período experimental foram feitas pesagens individuais dos animais para avaliar a variação de peso corporal. Os pesos dos animais corresponderam às medias de duas pesagens, feitas antes do fornecimento das alimentações e após as ordenhas. Para o cálculo da variação diária de peso (VP), foram considerados os pesos do sétimo dia de adaptação e do final de cada período experimental.

Tabela 1 – Composição percentual dos ingredientes da dieta e da ração concentrada com base na matéria seca

Dieta Ingrediente 0 33 66 100 Silagem de milho 60,00 60,00 60,00 60,00 Milho em grão 17,10 11,40 5,70 0,00 Farelo de soja 11,30 7,60 3,80 0,00 Farelo de trigo 9,50 6,30 3,10 0,00

Farelo de glúten de milho 0,00 12,60 25,30 37,90

Uréia + SA (9:1) 0,90 0,90 0,90 0,90 Suplemento mineral2 1,20 1,20 1,20 1,20 Concentrado Milho em grão 42,75 28,50 14,25 0,00 Farelo de soja 28,25 19,00 9,50 0,00 Farelo de trigo 23,75 15,75 7,75 0,00

Farelo de glúten de milho 0,00 31,50 63,25 94,75

Uréia + SA (9:1) 2,25 2,25 2,25 2,25

As ordenhas foram realizadas duas vezes ao dia, às 6h00 e 16h00, sendo as produções de leite medidas diariamente para acompanhamento do desempenho dos animais. Através de dispositivo acoplado a ordenhadeira, foram coletadas amostras de leite, nos 14º e 15º dias de cada período, proporcional às produções da manhã e da tarde, fazendo-se amostras compostas segundo, Broderick & Clayton (1997). Posteriormente, as amostras de leite foram acondicionadas em fracos plásticos com conservante (Bronopol®), mantidas entre 2 e 6°C e, encaminhadas ao Laboratório de Qualidade de Leite da Embrapa Gado de Leite, no município de Juiz de Fora – MG, para fins de análises dos teores de proteína bruta, gordura, lactose e extrato seco total, pelo processo de infravermelho através do analisador Bentley 2000 (Bentley Instruments®), segundo descrito por International Dairy Federation (1996).

Uma alíquota da amostra composta foi desproteinizada, pela filtração em papel de filtro da mistura de 10 mL de leite com 5 mL de ácido tricloroacético a 25 %, por Tabela 2 - Teores médios de matéria seca (MS), matéria mineral (MM), matéria

orgânica (MO), proteína bruta (PB), compostos nitrogenados não protéicos (NNP), insolúveis em detergente neutro (NIDN) e insolúveis em detergente ácido (NIDA), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente neutro corrigida para cinzas e proteína (FDNcp), carboidratos não fibrosos (CNF), lignina, NDT estimado e energia líquida (EL), obtidos nas dietas experimentais

Níveis de substituição da RC pelo FGM1(%) Itens 0 33 66 100 MS (%) 65,62 63,11 63,22 64,02 MO2 96,37 95,79 95,20 94,61 PB2 14,44 14,20 13,94 13,68 NNP3 32,36 36,28 38,71 38,95 NIDN 3 11,66 10,01 10,96 15,22 NIDA 3 7,19 6,99 7,23 7,74 EE2 2,83 2,29 1,76 2,22 FDN2 41,72 43,94 46,19 48,45 FDNcp2 39,59 40,64 44,23 47,11 CNF2 41,05 39,96 36,98 33,93 LIGNINA2 7,94 10,25 11,79 12,29 NDT mantença4 69,74 68,95 68,16 67,36 ELp4(Mcal/kg) 1,71 1,69 1,67 1,65 1

-RC= ração convencional e FGM= farelo de glúten de milho;2- %MS; 3- % do N total; 4- estimado pelas equações do NRC (2001).

aproximadamente 30 minutos, e congelada a – 20º C, para posteriormente serem feitas análises de uréia e alantoína.

A produção de leite foi corrigida para 3,5% de gordura (PLG) pela equação citada por Sklan et al. (1992); onde:

PLG = (0,432 + 0,1625 x G) x kg de leite, em que G = % de gordura no leite. Amostras de sangue foram coletadas no 17° dia por punção da veia coccígea, utilizando tubos de ensaio com anticoagulante (EDTA). Imediatamente foram centrifugadas por 20 minutos a 2700 x G, sendo então retiradas amostras de plasma que foram acondicionadas em recipientes de vidro e congeladas a -15°C para análises de uréia.

O balanço de compostos nitrogenados (BN) foi obtido pela diferença entre o total de nitrogênio ingerido (N-total) e o total de nitrogênio excretado nas fezes (N- fezes), na urina (N-urina) e no leite (N-leite). A determinação do nitrogênio total na fezes e na urina foi feita segundo metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002).

Coletas spot de urina foram realizadas nos 13º e 16º dia do período

experimental, quatro horas após o fornecimento da alimentação aos animais, no período da manhã, sendo que, alíquotas de 10 mL de urina foram diluídas em 40 mL de ácido sulfúrico 0,036 N e congeladas a –20º C, para posteriormente serem feitas análises para a determinação de derivados de purinas (ácido úrico e alantoína), creatinina e uréia, como descrito por Valadares et al. (1997).

A uréia foi quantificada na amostra spot de urina diluída, no plasma e no leite desproteinizado, e a creatinina e o ácido úrico foram determinados na urina diluída, utilizando-se kits comerciais (Labtest Diagnóstica S.A.). O N-uréico foi obtido, multiplicando-se o teor de uréia no plasma e no leite por 0,466.

As análises de alantoína na urina spot diluída e no leite desproteinizado foram feitas pelo método colorimétrico, conforme método de Fujihara et al. (1987), descrito por Chen & Gomes (1992).

O volume urinário total diário foi estimado, dividindo-se as excreções urinárias diárias de creatinina pelos valores observados de concentração de creatinina na urina, segundo Valadares Filho & Valadares (2001). As amostras de urina foram centrifugadas para eliminar possíveis cromógenos ou contaminantes. A excreção urinária diária de creatinina foi estimada a partir da proposição de 24,05 mg/kg de peso vivo (PV) de creatinina (Chizzotti, 2004). A excreção total de derivados de purina foi calculada pela

soma das quantidades de alantoína e ácido úrico excretadas na urina e das quantidades de alantoína secretadas no leite, expressas em mmol/dia.

As purinas absorvidas (X, mmol/dia) foram calculadas a partir da excreção de derivados de purinas (Y, mmol/dia), por intermédio da equação Y=(X- 0,385PV0,75)/0,85, em que 0,85 é a recuperação das purinas absorvidas como derivados de purina e 0,385PV0,75 é a contribuição endógena para a excreção de purinas (Verbic et al., 1990). A síntese ruminal de compostos nitrogenados (Y,gN/dia) foi calculada em função das purinas absorvidas (X, mmol/dia), utilizando-se a equação de Chen & Gomes, (1992): Y = 70X/(0,83 x 0,134 x 1000), em que 70 é o conteúdo de N nas purinas (mgN/mmol); 0,134 a relação N-purina / N-total nas bactérias (Valadares et al., 1999); e 0,83 a digestibilidade das purinas microbianas.

As amostras de fezes foram coletadas em intervalos de 26 horas a partir do 11º até o 16º dia do período experimental, tendo início às 8h00 e término às 18h00, respectivamente.

Os dados obtidos de concentração de nitrogênio uréico no leite e no plasma, balanço de compostos nitrogenados e produção de proteína microbiana, foram submetidos à análise de variância e teste de Willians (Willians, 1971), utilizando-se o programa SAS, utilizando nível de 1% de significância. As médias foram monotonicamente ordenadas segundo os procedimentos exigidos para a aplicação do teste.

As variáveis foram analisadas segundo o modelo estatístico: Y ijkl = µ + Qi + Tj + (P/Q)ik + (V/Q)il + QxTij + eijkl, sendo:

Y ijkl = observação na vaca 1, no período k, submetida ao tratamento j, no quadrado latino i;

µ = constante geral;

Qi = efeito do quadrado latino i, sendo i = 1, 2,3; Tj = efeito do tratamento j, sendo j = 1,2, 3, 4;

(P/Q)ik = efeito do período k, dentro do quadrado latino i, sendo k = 1, 2, 3,4; (V/Q)il = efeito da vaca 1, dentro do quadrado latino i, sendo l = 1, 2, 3, 4; QxTij = efeito de interação entre o quadrado latino i e o tratamento j; e eijkl = erro aleatório, associado a cada observação,pressuposto NID (0; σ2).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os níveis de excreção urinária de uréia (EU-urina), as concentrações de nitrogênio uréico no leite (NUL) e no plasma (NUP) e a relação NUL/NUP obtidos para as dietas estão apresentados na Tabela 3. Não foram observadas diferenças para EU- urina, NUL, NUP e na relação NUL/NUP entre as dietas experimentais.

Tabela 3 – Médias e coeficientes de variação (CV) para a excreção urinária de uréia (EU-urina), concentração de nitrogênio uréico no leite (NUL) e no plasma (NUP), e relação NUL/NUP obtidos para as dietas experimentais

Níveis de substituição da RC pelo FGM1,2 (%) Itens 0 33 67 100 CV (%) EU-urina(mg/kg PV) 225,64 213,07 194,41 168,53 36,0 NUL (mg/dL) 21,42 22,68 19,90 24,16 24,1 NUP (mg/dL) 20,51 21,33 22,06 22,86 18,0 NUL/NUP 1,17 1,05 1,05 0,89 28,7 1

RC = ração concentrada. 2FGM = farelo de glúten de milho

Médias seguidas por (*) indicam o nível de substituição a partir do qual se observa diferença em relação ao tratamento controle (nível zero) pelo teste de Williams (P<0,01).

A concentração de NUP apresenta alta correlação positiva com os teores dietéticos de proteína bruta (Broderick & Clayton, 1997; Jonker et al., 1998; Chizzotti, 2004; Hojman et al., 2004 e Nousiaine et al., 2004) e proteína degradável no rúmen (Oliveira et al.,2001; Chizzotti,2004 e Hojman et al., 2004). O valor médio observado para a concentração de NUL (22,04 mg/dL) está acima do considerado adequado de balanceamento de energia e proteína, de 12 a 17 mg/dL (Broderick,1995), 11 a 17 mg/dL (Harris, 1996), 12 a 16 mg/dL (Jonker et al., 1998) e 10 a 14 mg/dL (Machado & Cassoli, 2002). Por outro lado, está abaixo da faixa de 24 e 25 mg/dL a partir do qual ocorreriam perdas de compostos nitrogenados (Oliveira et al., 2001).

A relação NUL/NUP média encontrada para as dietas (1,04) reflete alta correlação entre as duas variáveis, observados em diversos trabalhos (Broderick & Clayton, 1997; Jonker et al., 1998; Chizzotti, 2004). Broderick & Clayton (1997), utilizando dados de 482 vacas da raça Holandesa, recomendaram a seguinte equação

para estimar NUP a partir de NUL: NUP = 1,021NUL + 0,339 (r2 = 0,918), que

Os valores de consumo de compostos nitrogenados totais (NT), excreções de compostos nitrogenados nas fezes (N-fecal), na urina (N-urina) e no leite (N-leite), balanço de nitrogênio (BN) e médias das excreções em relação ao NT obtidas para as dietas estão apresentadas na Tabela 4.

O balanço de compostos nitrogenados em g/dia (P<0,01) manteve-se até o nível de 67% de substituição da RC pelo FGM, provavelmente em função do menor consumo de MO. A MO representa os componentes capazes de fornecer energia, proteína e ácidos graxos para síntese de leite na glândula mamária, assim a queda no consumo de MO explica a queda na produção de leite, e o que justifica também a diminuição do nitrogênio total ingerido (P<0,01).

O valor de N-leite também diferiu (P<0,01) para a dieta que substituiu 100% da RC pelo FGM. Este resultado pode ser explicado pelo consumo de proteína não ter suprido as exigências dos animais na dieta com maior nível de participação do FGM.

Tabela 4 – Médias e coeficientes de variação (CV) para os consumos de componentes nitrogenados totais (NT), excreção de compostos nitrogenados nas fezes (N- fecal), na urina (U-urina) e no leite (N-leite), balanço de N (BN) e médias

Níveis de substituição da RC pelo FGM1,2 (%) Itens 0 33 67 100 CV (%) NT (g/dia) 387,45 360,61 362,76 327,06* 11,5 N-fecal (g/dia) 135,88 133,90 139,51 132,01 20,7 N-urina (g/dia) 22,22 18,45 17,88 19,00 39,6 N-leite (g/dia) 125,25 115,88 118,75 105,44* 14,6 BN (g/dia) 104,11 92,38 86,63 70,61* 23,5 N-fecal (% NT) 35,39 38,87 38,97 40,34 15,2 N-urina (% NT) 5,81 5,47 5,01 6,11 44,2 N-leite (% NT) 32,44 32,95 32,78 32,74 9,0 BN (% NT) 26,36 22,71 23,23 20,81 30,4 1

RC = ração concentrada. 2FGM = farelo de glúten de milho.

Médias seguidas por (*) indicam o nível de substituição a partir do qual se observa diferença em relação ao tratamento controle (nível zero) pelo teste de Williams (P<0,01).

Na Tabela 5 as excreções de alantoína na urina (ALU), no leite (ALL), ácido úrico na urina (ACU), purinas totais (PT), purinas absorvidas (PA) em mmol/dia, síntese de compostos nitrogenados microbianos (Nmic), em g/dia e eficiência microbiana (Emic), cujas variáveis não foram influenciadas pelas dietas (P<0,01). As excreções de alantoína na urina (ALU), no leite (ALL), ácido úrico na urina (ACU), purinas totais (PT), purinas absorvidas (PA) em mmol/dia, síntese de compostos nitrogenados microbianos (Nmic), em g/dia e eficiência microbiana (Emic), cujas variáveis não foram influenciadas pelas dietas (P<0,01).

Porém, mesmo não tendo dado diferença estatística, talvez pelo maior coeficiente de variação que não permitiu identificar tal diferença, sendo a variação percentual entre o nível zero e 100% de 16,5%, o refletiu no valor médio obtido para a eficiência microbiana de 118,62 g de PB microbiana/kg de NDT ficando abaixo do recomendado pelo NRC (2001) que é de 130 g de PB microbiana/kg de NDT.

Tabela 5 –Médias e coeficientes de variação (CV) para as excreções de alantoína na urina (ALU), no leite (ALL), ácido úrico na urina (ACU), purinas totais (PT), purinas absorvidas (PA) em mmol/dia, síntese de compostos nitrogenados microbianos (Nmic), em g/dia e eficiência microbiana (Emic) em função das dietas experimentais

Níveis de substituição da RC pelo FGM1,2 (%) Itens 0 33 67 100 CV (%) ALU (mmol/dia) 296,84 269,90 266,35 225,53 26,1 ALL (mmol/dia) 4,21 4,22 3,95 3,80 24,6 ACU (mmol/dia) 48,32 40,05 36,04 37,07 59,0 PT (mmol/dia) 349,36 314,17 306,34 266,69 26,5 ALU (% das PT) 86,23 87,17 88,09 84,84 6,9 PA (mmol/dia) 357,03 315,64 307,48 260,50 31,1 Nmic (g/dia) 259,57 229,49 223,55 189,40 31,1 Emic(gPB/kgNDT) 130,35 121,41 113,88 108,83 30,6

1RC = ração concentrada. 2FGM = farelo de glúten de milho.

Médias seguidas por (*) indicam o nível de substituição a partir do qual se observa diferença em relação ao tratamento controle (nível zero) pelo teste de Williams (P<0,01).

CONCLUSÕES

Em dietas à base de silagem de milho, até o nível de 67% de substituição da mistura contendo milho e farelo de soja e trigo pelo farelo de glúten de milho, pode ser utilizado para vacas de produção média diária de 20-25 kg de leite/dia, sem comprometer a eficiência de utilização de nitrogênio dietético e a síntese de proteína microbiana ruminal.

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