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2.2 BIBLIOTECAS

2.2.1 Bibliotecas Universitárias

2.2.1.2 Material permanente versus material de bens de consumo

A informação, como matéria-prima da biblioteca, está contida em suportes de informações que compõem o acervo, que podem ser impressos, eletrônicos ou digitais.

No presente estudo busca-se focar no material impresso, para fins de empréstimo domiciliar e uma das dúvidas que se têm diz respeito à natureza jurídica desse material, se material bibliográfico permanente ou bens de consumo. Nesse caso, faz-se necessário trazer a lume algumas bases legais e administrativas que fundamentam essa questão, como, por exemplos, Portaria STN/MF nº 448, de 13 de setembro de 2002, a Lei que institui a Política Nacional do Livro – Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003 -, Acórdão nº 111/2006 do Tribunal de Contas da União, Manual SIAFI.

A Portaria nº 448 da Secretaria do Tesouro Nacional – órgão central do Sistema de Contabilidade Federal, divulga o detalhamento das naturezas de despesas 339030 – Material de consumo e 449052, a fim de garantir a consolidação das contas exigida pela lei de Responsabilidade Fiscal e utilização pela União, com o objetivo de auxiliar, para efeito de execução, o processo de apropriação contábil da despesa que menciona.

Para efeito dessa Portaria, o art. 2º da referida Portaria traz o entendimento para o que seja material de consumo e material permanente:

I - Material de Consumo, aquele que, em razão de seu uso corrente e da definição da Lei n. 4.320/64, perde normalmente sua identidade física e/ou tem sua utilização limitada a dois anos;

II - Material Permanente, aquele que, em razão de seu uso corrente, não perde a sua identidade física, e/ou tem uma durabilidade superior a dois anos. (BRASIL. Portaria nº 448..., 2002).

No artigo 3º, a Portaria classifica, para fins de despesas, parâmetros excludentes, os quais, em conjunto, identificam-se o que seja material permanente:

I - Durabilidade, quando o material em uso normal perde ou tem reduzidas as suas condições de funcionamento, no prazo máximo de dois anos; II - Fragilidade, cuja estrutura esteja sujeita a modificação, por ser quebradiço ou deformável, caracterizando-se pela irrecuperabilidade e/ou perda de sua identidade;

III - Perecibilidade, quando sujeito a modificações (químicas ou físicas) ou que se deteriora ou perde sua característica normal de uso;

IV - Incorporabilidade, quando destinado à incorporação a outro bem, não podendo ser retirado sem prejuízo das características do principal; e V - Transformabilidade, quando adquirido para fim de transformação. (BRASIL. Portaria nº 448..., 2002),

Por fim, colaciona dois anexos do que sejam considerados materiais de consumo e materiais permanentes, para fins de registro, respectivamente:

Anexo I – 339030 – Material de Consumo, da Portaria nº 448, de 13 de setembro de 2002.

MATERIAL BIBLIOGRÁFICO NÃO IMOBILIZÁVEL: Registra o valor das despesas com material bibliográfico não destinado a bibliotecas, cuja defasagem ocorre em um prazo máximo de dois anos, tais como: jornais, revistas, periódicos em geral, anuários médicos, anuário estatístico e afins (podendo estar na forma de CD-ROM).

Anexo IV – 449052 – Equipamentos e Material Permanente, da Portaria nº 448, de 13 de setembro de 2002.

COLEÇÕES E MATERIAIS BIBLIOGRÁFICOS: Registra o valor das despesas com coleções bibliográficas de obras científicas, românticas, contos e documentários históricos, mapotecas, dicionários para uso em bibliotecas, enciclopédias, periódicos encadernados para uso em bibliotecas, palestras, tais como: álbum de caráter educativo, coleções e materiais bibliográficos informatizados, dicionários, enciclopédia, ficha bibliográfica, jornal e revista (que constitua documentário), livro, mapa, material folclórico, partitura musical, publicações e documentos especializados destinados a bibliotecas, repertorio legislativo e afins. (BRASIL. Portaria nº 448..., 2002).

Nota-se que o material de consumo listado pela Portaria, constitui-se de material bibliográfico não imobilizável e não destinado a bibliotecas.

Já a Lei nº 10.753, de 30 de outubro de 2003, que institui a Política Nacional do Livro, prevê em seu artigo 18, que o livro não é considerado um material

permanente, o define em seu artigo 2º e o que seja equiparado a ele no parágrafo único deste mesmo artigo.

Nota-se que o artigo 18 da referida Lei diz que o livro não é visto como

material permanente quando se trata da “finalidade de controlar os bens patrimoniais das bibliotecas públicas.” (BRASIL, Lei nº 10.753..., 2003). Daí surgem

algumas dúvidas acerca desse dispositivo, uma vez que o legislador não define o que sejam bibliotecas públicas, bem como a do real objetivo da Lei.

De acordo com o entendimento de Silva (2011, não paginado):

...o objetivo da lei não é tratar da aquisição de material bibliográfico e sim de facilitar e incentivar o acesso à leitura estabelecendo diretrizes para a editoração, distribuição, comercialização e difusão do livro. A lei também não define o que é biblioteca pública.

A Secretária do Tesouro Nacional (STN), no Manual SIAFI, define biblioteca pública como

unidade bibliotecária destinada indistintamente a todos os segmentos da comunidade, com acervos de interesse geral, voltada essencialmente à disseminação da leitura e hábitos associados entre um público amplo, definido basicamente em termos geográficos, sem confundir com bibliotecas destinadas a atender um segmento da comunidade para um propósito específico. (BRASIL, 2017, online).

Esta é a definição majoritária na literatura de biblioteconomia. Esse conceito trazido pela Secretaria diz respeito a um conceito amplo de biblioteca, como aquela que atende a todo um conjunto da sociedade, sem restrições e que possui um acervo de caráter universal, com variados temas, o que foge bastante do conceito de uma biblioteca universitária, que atende a um segmento da sociedade (alunos, professores, pesquisadores etc).

Nesse sentido, torna-se possível identificar o material bibliográfico da biblioteca universitária, como material permanente, a luz do conceito trazido pelo Acórdão nº 111 de 2006 do Tribunal de Contas da União, o qual utiliza a classificação contábil de que trata o art. 18 da Lei 10.753/2003 (regulamentado no Manual SIAFI), mas dirime a dúvida acerca do conceito de biblioteca pública e do livro não considerado material permanente, ao prever em seus subitens 1.22 e 1.23, o seguinte:

1.22 utilize a classificação contábil de que trata o art. 18 da Lei 10.753/2003 (regulamentado no Manual SIAFI, transação >CONMANMF 02.11.38 item 3.3) exclusivamente para aqueles acervos que exerçam a função de “biblioteca pública” no sentido técnico do termo, a saber, uma unidade bibliotecária destinada indistintamente a todos os segmentos da comunidade, com acervos de interesse geral, voltada essencialmente à disseminação da leitura e hábitos associados entre um público amplo definido basicamente em termos geográficos, sem confundir-se com as bibliotecas destinadas a atender um segmento da comunidade para um propósito específico (a exemplo da biblioteca escolar, a universitária, a especial, a especializada e a infantil);

1.23 atente especialmente para a não-caracterização como “bibliotecas públicas”, no sentido técnico, daqueles acervos que destinem-se prioritariamente à prestação de serviços de informação, documentação e comunicação necessários para o desenvolvimento dos programas de ensino e pesquisa das suas unidades acadêmicas (bibliotecas universitárias). (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Acórdão nº 111..., 2006).

O Manual SIAFI “é o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal que consiste no principal instrumento utilizado para registro, acompanhamento e controle da execução orçamentária, financeira e patrimonial do

Governo Federal”. (BRASIL, 2017, online).

O fato de saber qual a natureza jurídica do material a ser incorporado na biblioteca universitária se dá, justamente, na questão do uso, ou seja, mais na forma do que seu conteúdo, uma vez que neste pode haver material que perdem sua durabilidade antes de dois anos, como, por exemplo, os códigos jurídicos, que são muito utilizados, ou materiais, cuja perda de sua utilidade pode se dar antes de dois anos (no caso dos bens de consumo) ou durar mais de dois anos (bem permanente).

Nesse sentido, o material bibliográfico permanente está mais voltado para a forma, porque sua avaliação se dá em relação ao suporte, à demanda, à quantidade, ao custo, ao estado de conservação e ao uso. Nesse caso, a classificação desse material tem como objetivo assegurar sua preservação e instaurar procedimentos mais rígidos para seu controle e descarte, através de sua política de desenvolvimento de coleções e regulamentos de uso do material, sobretudo, no setor de circulação, onde os usuários, normalmente, fazem empréstimos domiciliares.

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