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MATERIALIDADE AUDIOVISUAL E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO: SOBRE O

No documento helenacristinaamaralsilva (páginas 73-76)

O método de pesquisa adotado para a presente investigação foi a Análise da Materialidade Audiovisual, metodologia que vem sendo desenvolvida no âmbito das pesquisas realizadas no Laboratório de Jornalismo e Narrativas Audiovisuais (CNPq-UFJF), do qual a autora faz parte. Conforme aponta Coutinho (2016, p.10), esse sistema de investigação tem como “objeto de avaliação a unidade texto + som + imagem + tempo + edição” dos produtos audiovisuais.

Acredita-se que as interpretações de edições de programas jornalísticos ou de parte deles, de uma cobertura particular ou de séries de produtos de jornalismo audiovisual, em uma eventual perspectiva comparativa, não devem realizar operações de decomposição/ leitura, que descaracterizariam a forma de enunciação/ produção de sentido do telejornalismo. (COUTINHO, 2016, p. 10)

Assim, de acordo com a proposta, os procedimentos metodológicos envolveriam diferentes etapas. A primeira delas se destinaria à identificação do objeto empírico e à definição de critérios de avaliação. Estes últimos deveriam levar em conta aspectos como as questões colocadas na investigação, o referencial teórico de pesquisa, os elementos paratextuais que acompanham os produtos (no caso do telejornalismo, a cabeça e vinheta são alguns exemplos) e a proposta dos materiais analisados (tais como as promessas de determinado noticiário).

Elabora-se, então, uma ficha de análise, composta pelos itens definidos, que vão subsidiar avaliações quanti e qualitativas dos conteúdos. Antes de partir para a próxima etapa, que consiste na definição do recorte do objeto empírico, efetua-se um teste de aplicação dos critérios determinados. Definida a amostra, parte-se para a obtenção/armazenamento destes materiais. Por fim, realiza-se a etapa final do processo, que consiste na análise propriamente dita.

Para o presente estudo, o recorte das edições do Repórter Brasil Noite a serem investigadas foi feito com base na data de realização da 61ª Reunião do Conselho Curador da EBC: dia 19 de abril de 2016. A escolha da mesma como referência na definição do período de análise se deu em vista da importância dos aspectos nela abordados acerca da cobertura do

impeachment de Dilma Rousseff pelos veículos da Empresa, dentre os quais figura a TV

Brasil, e da aprovação da Recomendação nº 03/2016 (Apêndice A) que “dispõe sobre a necessidade de equilíbrio na cobertura jornalística dos veículos da EBC e cumprimento do Manual de Jornalismo da Empresa” (CONSELHO CURADOR, 2016, p. 01).20

Dentre as recomendações feitas no documento, destacam-se:

 a realização de reuniões de pauta periódicas e reuniões para que a chefia e os trabalhadores discutam a cobertura do impeachment;

 a promoção do equilíbrio de opiniões nas entrevistas em estúdio;

 a problematização do processo em curso, a partir de argumentos governistas e oposicionistas;

 a realização de audiência públicas para receber contribuições da sociedade, e

20 Ainda que o documento tenha sido datado de 26 de abril, sua elaboração foi aprovada durante a realização de

reunião ordinária do Conselho Curador, no dia 19. Logo, essa última foi escolhida como data parâmetro das análises, tendo em vista também a importância dos tópicos abordados pelos conselheiros durante o encontro.

 a produção de conteúdos que contextualizem o processo e aspectos políticos e históricos.

A partir das diretrizes estabelecidas no documento e de outras previstas no Manual de Jornalismo da EBC e na Lei 11.652/2008, montou-se um roteiro de análise (Anexo A), que foi aplicado a cada um dos conteúdos analisados. Foram levantados dados quanti e qualitativos, que viabilizaram uma comparação entre as produções antecedentes e posteriores à data de realização da reunião.

Para avaliar em que medida o jornalismo da emissora acata e coloca em prática os apontamentos feitos pelo Conselho Curador, refletindo com que grau a gestão participativa dos veículos da EBC se manifesta, foram avaliados quesitos mais específicos, relativos à cobertura do impeachment. Dentre outros tópicos, levantou-se o tempo de fala dado à pessoas contrárias e a favor do impedimento, a presença de movimentos e grupos sociais e seus respectivos posicionamentos e o direcionamento das matérias (se neutros ou mais voltados à ações contrárias ou favoráveis ao processo).

Também foram avaliadas questões mais gerais, com objetivo de diagnosticar como as produções jornalísticas da emissora tem incorporado alguns dos princípios atribuídos à comunicação pública, tais como a contextualização dos fatos, a pluralidade de vozes, a inovação nas narrativas e formatos, e a inserção do público nas notícias e na discussão dos acontecimentos.

Para tanto, analisou-se os conteúdos exibidos nas semanas anterior e posterior ao encontro do colegiado, correspondentes aos períodos de 11 à 16 e 25 à 30 de abril. Para as avaliações, foram utilizados os vídeos disponíveis no site do Repórter Brasil. Ressalta-se aqui a ausência dos materiais exibidos no dia 27 de abril e um dos conteúdos da edição do dia 13, que, portanto, não integram a análise. No total, foram assistidas 82 matérias, correspondentes à 169 minutos e 19 segundos de telejornal.21

É importante destacar que a ordem em que os vídeos se encontram no site não necessariamente corresponde àquela em que foram exibidos na televisão. Portanto, não foi possível avaliar aspectos como a ordem de inserção dos materiais no telejornal ou mesmo quais conteúdos antecedem e procedem uns aos outros (o que permitiria, por exemplo, analisar a hierarquia e o grau de importância dado a cada um deles).

21 Essa contagem foi feita considerando o tempo total das matérias, o que inclui as cabeças (introduções feitas

pelos âncoras) e notas pé (informações acrescentadas pelos apresentadores, em estúdio, após a exibição dos VTs).

No documento helenacristinaamaralsilva (páginas 73-76)