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CAPÍTULO II AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO PERCURSO

2.2. MATERIALISMO DIALÉTICO HISTÓRICO-ESTRUTURAL:

DAS POLÍTICAS

“O método, no sentido estrito, designa um modo básico de conhecer” (PAVIANI, 2009, p. 61). Assim, indica caminho, orientação, direção, e aponta os modos básicos de se interpretar e analisar as realidades. A opção pelo método de análise é fundamental, pois é através dele que se irá descrever, sintetizar explicar e interpretar o objeto de pesquisa.

A pesquisa utiliza como método a dialética, que conforme Paviani (2009) é ao mesmo tempo uma filosofia e um método. Sendo assim, optar por esse método é tomar partido sobre uma concepção filosófica do homem e da sociedade, onde a realidade é vista como um jogo de contrários, de opostos, mediados pela totalidade, na dinâmica de superar a contradição entre a tese e

76 antítese, por meio da síntese.

A dialética apresenta três aspectos: o sentido objetivo – movimento concreto, natural e sócio-histórico da realidade estudada; o sentido subjetivo – a lógica do pensamento no que se pretende o conhecimento adequado dos processos históricos; e, o sentido metodológico - a relação entre o objeto construído pela ciência, o método empregado e o objeto real (BRUYNE, 1977). Demo (1995) afirma que não existe uma única dialética e, por isso, argumenta a favor da dialética histórico-estrutural, que para o autor é a mais adequada para analisar a realidade histórica, equilibrando as condições objetivas e subjetivas, pois “aposta mais nas transformações históricas do que nas estruturais” (DEMO, 1995, p.105).

A historicidade representa a roda viva da dialética, tese-antítese- síntese, movimento em que toda formação histórica está sempre em transição, o que supõe a visão intrinsecamente dinâmica da realidade social, no sentido da produtividade histórica. “Historicidade alega que a história não só expressa a trajetória do fenômeno, mas contém também sua explicação, como ocorre também na evolução” (DEMO, 2000, p.110). A historicidade não dilui a ideia de estruturas, pois acredita em “estruturas históricas”, que permitem análises históricas.

A dialética-histórico-estrutural reconhece no mesmo patamar de relevância condições objetivas e subjetivas. As condições objetivas são aquelas “dadas externamente ao homem, ou dadas sem sua opção própria” (DEMO, 1995, p.95) e as condições subjetivas consideram-se “aquelas dependentes da opção humana, a capacidade de construir a história em parte, no contexto das condições objetivas” (DEMO, 1995, p.95).

Partindo destas constatações o método dialético histórico-estrutural é o mais apropriado para utilização na pesquisa proposta. Por meio da apreensão do objeto pelo método indicado, será possível compreender a realidade social, interpretando o presente com base no passado, além das questões objetivas, relacionando a teoria e a prática, desvelando o que é estruturante nas políticas públicas de Turismo no Estado do Rio Grande do Sul.

77 As leis da dialética, assim como as categorias, refletem as leis universais do ser, as ligações e os aspectos universais da realidade objetiva. Conforme afirma Cheptulin (1982), as categorias refletem além das relações universais, e sim as propriedades e os aspectos universais da realidade objetiva. Pode-se dizer que as categorias exprimem modos e formas de ser determinados pela estrutura de existência de uma determinada sociedade.

As categorias se formam no desenvolvimento histórico do conhecimento e na prática social. Assim como afirma Moesch (2004, p. 302):

Apreendendo as categorias, como constituintes de um tipo de concepção, podemos entendê-las como formas de conscientização nos conceitos dos modos universais de relação do homem com o mundo, que refletem a propriedade e leis mais gerais e essenciais da natureza, a sociedade e o pensamento.

Considerando esses aspectos sobre as categorias, utilizar-se-á às seguintes categorias a priori da dialética histórico-estrutural: totalidade/fragmentação, teoria/prática, contradição/mediação, e ideologia.A fim de desvelar a ideologia existente nas evidências colhidas pela análise documental, e no tratamento de seus conteúdos.

Totalidade/Fragmentação: Na categoria da totalidade reconhece-se que as

mudanças provêm de dentro das coisas, toda a realidade pode parecer simples se não reconhecemos a sua história. A totalidade não é composta por partes tranquilamente justapostas, não é estática, mas incompleta, aproximada e imprecisa.

Forma um todo porque existe dinâmica comum, mas mostra rachaduras constantes, por onde sempre pode entrar a antidinâmica da mudança. A totalidade não possui apenas a dinâmica circular, que é sempre a mesma e lhe permite recuperar-se eternamente. Ao contrário, a dinâmica é feita de dinâmicas contrárias, feitas de convergências e divergências (DEMO, 2000, p.109).

Teoria/Prática: “Prática é condição de historicidade. Teoria é maneira de ver,

não de ser” (DEMO, 1995, p.100). A prática precisa da teoria, e vice-versa. Teoria tem pretensão universal, e prática é localizada, para renovar-se toda a prática carece de voltar para teoria. Para fins de análise, é possível focar em apenas uma. Mas teoria que nada tem a ver com prática, nunca foi sequer teoria. E prática que jamais volta à teoria, desanda em ativismo cego.

78 Toda prática é inevitavelmente ideológica, porque se realiza dentro de uma opção política, naquela parte da história que pode ser feita, conquistada, rejeitada pelo homem. Se a atuação humana histórica é intrinsecamente política, no sentido da realização da capacidade de conquista de espaço próprio e da potencialidade no contexto das condições objetivas, decorre que a marca ideológica transparece em toda prática. Não é que a teoria não seja ideológica, pois o próprio distanciamento para com a prática significa compromisso ideológico. Mas a teoria pode pelo menos iludir-se com a distinção formal entre fato e valor, meio e fim, teoria e prática. A prática sequer se realiza sem horizonte ideológico, sobretudo práticas mais diretamente confrontadas com estruturas de poder. Mas, igualmente, prática mais genéricas, subterrâneas, difusas, como a construção de uma cultura, são uma maneira, entre outras possíveis, de realização histórica, onde entram elementos opcionais, confrontos de interesse, privilégios e desprivilegio (DEMO, 1995, p.102).

Contradição/Mediação: A categoria fundamental para a dialética é a

contradição, pois para que haja diálogo é necessário haver conflito. Assim, a realidade é intrinsecamente dinâmica, porque atravessada por forças polarizadas de componentes que, ao mesmo tempo, forma e estabilizam o todo.

A unidade de contrário possui para o homem dubiedade típica histórica: ao mesmo tempo em que dói, é a raiz da mudança. O fenômeno do poder, que umas das típicas unidade de contrários, retrata esta dubiedade natural e dramática: de uma lado, o drama humano refletido na dicotomia entre poucos que mandam e muitos que obedecem, nas discriminações sociais entre privilegiados e desprivilegiados, nos choques entre minorias elitistas e maiorias populares; de outro, a provocação da reação entre os desiguais, que põem a história em marcha. Não escapamos do poder, porque fazer parte da vida social, de sua própria organização. Mas, se funda privilégios injustos, neles mesmos se dá o começo da superação, pois não há ideologia sem contra-ideologia (DEMO, 1995, p. 98).

Ideologia: Entende-se ideologia como “produção de representações mentais,

de ordem teórica, mas, sobretudo, práticas, com a finalidade de institucionalizar posições sociais vantajosas” (DEMO, 1985, p.69). A ideologia pode ter inúmeras faces, do ponto de vista da prática, pode ser falsa consciência, não identificando os reais conflitos entre os grupos dominantes e dominados e não identificando as mudanças históricas necessárias.

2.3. O DESVELAMENTO DA IDEOLOGIZAÇÃO DO DISCURSO DAS