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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4 MATRIZ FOFA DO GRUPO “MULHERES DA TERRA”

Após a apresentação dos resultados do trabalho de campo, também apresentamos a matriz FOFA, construída do ponto de vista da pesquisadora sobre o objeto de estudo, (Figura 41).

Figura 41 - Matriz FOFA do cenário atual do Grupo Mulheres da Terra

Fonte: elaborado pela autora.

Esse grupo apresenta forças, oportunidades, fraquezas e ameaças. A construção de uma matriz FOFA, durante a pesquisa, permitiu evidenciarmos alguns pontos que devem ser levados em consideração para o estudo desse caso. Essa

FORÇAS OPORTUNIDADES

Área rural próxima área urbana Alimentos sazonais Cadeias curtas de produção Alternativas de Consumo responsável

Certificação OCS Feiras

Conhecimento técnicas agroecológicas Mercado local

Diversificação culturas Parceria com Universidades/Institutos Empoderamento feminino Preservação soberania alimentar local

Presença cooperativa Produtos orgânicos

FRAQUEZAS AMEAÇAS

Pouca articulação interpessoal no grupo Autoritarismo governamental Pouca busca de parcerias para comercialização Concorrência produtos convencionais

Pouca divulgação do grupo Instabilidade contexto político Pouca organização para gestão produtiva Posse definitiva da terra Pouca organização para projetos/financiamentos Redução apoio políticas públicas da AF

Pouco/inexistente capital de giro Transporte dependente de combustível fóssil (Food Miles)

A MB IEN T E IN T ER N O A MB IEN T E EX T ER N O MATRIZ FOFA

matriz deve ser utilizada agora porque, a cada ano, poderemos ter alterações dessa realidade, profundamente enraizada no contexto interno e externo das UPA’s. Esse contexto sofre a ação econômica, política, social e ambiental do município de Viamão, onde são desenvolvidos os cultivos e, do município de Porto Alegre, onde é realizada a maior parte das feiras orgânicas.

4.4.1 Forças

Foram percebidas forças, ligadas ao ambiente interno das UPA’s, do grupo, que devem ser destacadas;

a) a área rural é próxima da área urbana, em mercados de cadeias curtas, esses dois quesitos são fundamentais pela economia e logística de entrega dos produtos, comercializados pela agricultura familiar;

b) as agricultoras já detêm as técnicas agroecológicas, embora estejam caminhando para o equilíbrio do ambiente ser mais adequado aos preceitos da agroecologia;

c) a certificação OCS é participativa e por essa razão não há o encarecimento dos produtos devido aos custos de uma certificação orgânica, habilitada pelo estado ou por mecanismos regionais, que por essa razão seria mais onerosa;

d) a diversificação das culturas é natural, tendo em vista que as agricultoras trabalham com alimentos sazonais e mais adaptados ao clima regional; e) o trabalho cooperativo é uma outra força a ser considerada, e que também

auxilia a certificação ser participativa. Quanto mais os agricultores se unem, mais usufruem de vantagens no sentido das estratégias de reprodução social adotadas pelo grupo;

f) e, o empoderamento das mulheres tem sido essencial para que elas decidam o rumo das suas vidas e imprimam o seu jeito de gerir as suas UPA’s, embora se perceba que trabalham bem com toda a família, com igualdade de gênero.

4.4.2 Fraquezas

O levantamento das fraquezas também consistiu em um importante instrumento de avaliação do desempenho das UPA’s do grupo:

a) a articulação interpessoal tem sido prejudicada principalmente devido a questões políticas divergentes, mas também por haver algumas mulheres que não atendiam aos termos de ajuste de conduta do INCRA. Essas discussões provocaram um certo desgaste que desencadeou o desligamento de membros do grupo;

b) a busca de parcerias ainda tem sido fraca, tendo em vista que as mulheres são multitarefas e não há, ainda, uma gestão para alcançar outros pontos possíveis para feiras, e mesmo parceria com restaurantes vegetarianos, ou veganos, com boa aceitação dos produtos orgânicos;

c) ainda não há uma divulgação eficiente dos trabalhos do grupo, como por exemplo, elas não têm um vídeo que fale de suas experiências e demonstre seus alimentos, a exemplo de outros grupos que já adotaram essa forma de divulgação;

d) a gestão da produção também se relaciona à divulgação, muitas vezes elas não conseguem programar entregas semanais de determinados alimentos, não há uma organização de escala semanal, cada uma manda o que tem em casa, mas aquele alimento que teve destaque em uma feira, pode não estar presente nas outras, denotando um planejamento frágil da sua produção, ou escalonamento inadequado, seja pela falta, ou excesso de algum tipo de produto da horta e pomar, impactando também a oferta de alimentos;

e) não há um preparo das mulheres quando surgem oportunidades de participação em projetos e prêmios, elas ainda não têm um registro formal de todas as atividades do grupo;

f) vejo o último ponto como um destaque entre as fraquezas, a maioria das mulheres não têm e não projetam um capital de giro para investirem nas suas UPA’s, feiras e formação. Essa situação pode levar a uma descontinuidade do grupo, caso ocorra alguma emergência financeira.

4.4.3 Oportunidades

As oportunidades, ligadas ao ambiente externo das UPA’s do grupo, são: a) a existência de outros alimentos sazonais que elas ainda não cultivam e

podem vir a plantar e diversificar ainda mais a sua produção;

b) a implementação de novos grupos de produção/consumo responsável, com uma melhor exploração do mercado local, incrementando iniciativas de venda direta;

c) a continuidade de parcerias com universidades, institutos e outras instituições, interessadas na aquisição de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos;

d) a própria preservação da soberania alimentar local pode ser um meio de continuar a oferta de alimentos saudáveis e a continuidade da produção de alimentos orgânicos, com valor diferenciado no mercado.

4.4.4 Ameaças

As ameaças que afligem as UPA’s do grupo do estudo, mas que podem afetar outras redes de alimentação alternativa também vêm do ambiente externo. São elas: a) o autoritarismo governamental e a instabilidade do contexto político brasileiro, que podem vir a causar problemas sérios para essas redes alimentares alternativas;

b) políticas públicas que estavam surgindo, no sentido de apoiar esse tipo de movimento de preservação dos valores culturais, éticos e ambientais, por meio da própria lei dos alimentos orgânicos, além dos programas e políticas voltadas para a agricultura familiar, como o PAA e PNAE, estão sofrendo um resfriamento do apoio governamental;

c) a existência de um mercado predominantemente constituído por alimentos convencionais, dispostos nas prateleiras dos supermercados e que oferecem uma certa facilidade e conforto de acesso pelos consumidores, também se configura como uma ameaça, e uma forte concorrência;

d) a presença de poucos consumidores dispostos a saírem de suas casas e frequentarem feiras ao ar livre, sem ar condicionado e lojas de

departamentos, oferecendo mercadorias bonitas, aos olhos interessados e curiosos por novidades, da nova geração;

e) o transporte dependente de combustíveis fósseis é e continuará a ser um obstáculo para os mercados de cadeias curtas e longas, no Brasil. A força e as ações propositivas, de um grupo maior de pessoas, podem auxiliar na criação de um novo modelo para o transporte dos alimentos;

f) e, por fim, mas não entendendo que são apenas esses pontos que destacamos na pesquisa, os principais, para outros grupos que trabalham com essas alternativas, a posse definitiva da terra, pode ser uma ameaça fatal. As agricultoras acreditam que a posse definitiva da terra poderá causar um esvaziamento, não só no grupo, mas no assentamento como um todo, devido ao repasse das terras para outras pessoas de fora do assentamento, inclusive aquelas desconectadas de propostas de cultivo orgânicas.

Essa matriz FOFA foi construída no sentido de pontuar aspectos importantes da pesquisa com a finalidade de visualização dos aspectos internos e externos às UPA’s do grupo, considerados mais importantes, sintetizando os resultados para posterior discussão com as mulheres.

4.5 MULHERES EM AÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DA MULHER NA COMPOSIÇÃO