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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 Maturação da via auditiva

A introdução dos potenciais evocados auditivos de tronco encefálico, como procedimento clínico, foi de grande importância tanto na avaliação auditiva infantil quanto na da maturação das vias auditivas (Issac, 1999).

Durante os primeiros 12 a 18 meses de vida, os potenciais evocados auditivos de tronco encefálico são afetados pelo processo de maturação do SNC. Estas facetas da maturação e modificações nos potenciais evocados auditivos de tronco encefálico foram relatadas por trabalhos internacionais de: Hecox e Galambos (1974); Schulman-Galambos e Galambos (1975); Starr et al. (1977); Uziel et al. (1980); Cox (1985); Durieux-Smith et al. (1985); Collet et al. (1987); Ken- Dror et al. (1987); Zimmerman et al. (1987); Deorari et al. (1989); Gorga et al. (1989); Adelman et al. (1990); Sininger et al. (1998); Tibusseck e Meister (2002); Eggermont (2002), Burkard et al. (2006); Karpijoke e Jaaskelainen (2007); porém, no Brasil, existem poucos trabalhos realizados analisando a maturação auditiva em crianças por meio dos potenciais evocados auditivos de tronco encefálico (Castro Júnior, 1991; Issac, 1999; Dias, 2000; Marques et al., 2003 e Sleifer et al., 2007).

As medidas dos componentes do PEATE podem oferecer evidências objetivas sobre a maturidade da porção periférica e da porção central da via auditiva. O desenvolvimento da via auditiva envolve tanto a porção periférica (diminuição da latência da onda I) quanto a porção central (diminuição do intervalo I-V) e o tempo de condução central, representado pelo intervalo interpico I-V, é muito aumentado nas crianças pré-termo (Starr et al., 1977). Os autores acreditam que este fato é relacionado com a maturação das vias auditivas ao nível do SNC, principalmente a mielinização das fibras auditivas que é incompleta nos pré-termos.

Uziel et al. (1980) estudaram os PEATE em 60 neonatos com idade gestacional entre 30 e

36 semanas e observaram que as latências absolutas das ondas estavam aumentadas em função da prematuridade. Concluíram que existe uma maturação progressiva do sistema auditivo, no sentido caudo-rostral que se completa ao redor de 12 a 18 meses de idade cronológica, através da análise da diminuição das latências absolutas das ondas no PEATE.

O nível de maturação revela a velocidade de condução e eficácia da sinapse ao longo do nervo auditivo e do tronco encefálico em neonato. Ken-Dror et al. (1987), estudando PEATE em recém-nascidos, demonstraram existir uma correlação significante entre a idade gestacional e as medições eletrofisiológicas periféricas e centrais e uma correlação inversa entre a idade gestacional e as latências absolutas das ondas.

Zimmerman et al. (1987) acompanharam um grupo de crianças desde o nascimento até 26 meses de idade. Observaram que a onda I tem um padrão de amadurecimento diferente; as ondas III e V diminuíram com o seguimento. As latências diminuíam com a idade e continuam aos 12

meses, e os sítios mais rostrais demoram mais para amadurecer, ou seja, que a maturação do

sistema auditivo no sentido caudo-rostral inicia depois do nascimento e se completa ao redor de 12 meses de idade.

Adelman et al. (1990) estudaram os limiares, as latências e os interpicos das ondas de 125 orelhas de neonatos sem alteração auditiva logo após o parto e analisaram como esses dados modificam até se aproximar dos valores encontrados em adultos jovens. Para tanto, utilizaram 1024 clicks, com taxa de freqüência de 10-20 estímulos por segundo, de polaridade alternada,

com janela de análise de 12,75 ms e filtros de 200 e 2000Hz. Observaram que o limiar nas

primeiras cinco horas de vida foi 29dB maior do que o dos adultos e que, a cada dia, o limiar diminui 2,15dBNA. Referem que as diferenças iniciais ocorrem devido à velocidade de maturação, sendo que, conforme existe desenvolvimento, os valores se aproximam dos apresentados pelos adultos.

Castro Junior (1991) realizou uma análise comparativa do PEATE em neonatos e lactentes sem alteração auditiva e com alto risco para perda auditiva, acompanhou do nascimento a 60 semanas de idade pós-concepcional. Pela análise das latências das ondas I, III e V e intervalo interpico I-V, concluiu que a maturação auditiva em ambos os grupos ocorre no sentido caudo- rostral, com diferença na velocidade de maturação.

Natalino (1992) observou que crianças nascidas pré-termo, com idade de 38 semanas, no dia do exame, apresentaram onda V com latência maior do que outro grupo de crianças com idade de 47 semanas. Concluíram que os PEATE permitem estudar a maturação do sistema auditivo, mostrando encurtamento das latências com a idade.

Uysal et al. (1993) estudaram a maturação do SNC de recém-nascidos pré-termo e a termo. Referem encurtamento do intervalo I-V e acreditam que variações na propriedade de membranas e aumento da velocidade de neurotransmissão têm importância na maturação do sistema auditivo.

Passman et al. (1997) analisaram os PEATE em crianças, a termo e pré-termo, em dois momentos: a primeira avaliação foi na 40° e na 52° semanas de idade, e a segunda, aos cinco

anos de idade.Verificaram velocidade de maturação diferente entre as crianças a termo e pré- termo, por meio das latências aumentadas das ondas e dos intervalos interpicos nas crianças nascidas pré-termos quando comparadas às crianças nascidas a termo.

Isaac (1999), estudando a maturação da via auditiva em crianças a termo e pré-termo, refere que o mecanismo de redução na condução neural está associado com a mielinização e/ou variações na eficiência sináptica em vários núcleos das vias auditivas.

Dias (2000) comparou o PEATE de crianças menores de 18 meses com as crianças maiores de 18 meses. Analisando os dois grupos, concluiu que há diferença estatística significante entre o tempo de latência das ondas III e V, existindo um prolongamento do tempo de latência registrado nas crianças menores, podendo ser referente à maturação das vias auditivas.

Marques et al. (2003) estudaram os PEATE em RN a 12 meses de idade, que falharam na triagem auditiva neonatal com EOA, analisando o tempo de latência da onda V. A alteração mais encontrada no estudo foi o prolongamento da latência da onda V que, segundo os autores, pode-se dar pelo processo de velocidade de maturação das vias auditivas, ou por alteração condutiva, ou ainda retrococlear. Referem que maturação interfere nos resultados obtidos, uma vez que o processamento da informação acústica se equipara ao do adulto por volta dos dois anos e seis meses, enquanto a onda V está em processo de maturação até os dois anos de idade. Concluíram que a metade das crianças que falharam na triagem auditiva neonatal possuía limiar eletrofisiológico normal.

Sleifer et al. (2007) compararam as latências absolutas das ondas I, III e V e dos intervalos interpicos entre crianças nascidas pré-termo e a termo. Avaliaram 73 crianças nascidas pré-termo e 51 crianças nascidas a termo que realizaram PEATE em três avaliações (aos quatro, 12 e 20 meses de idade), precedido de avaliação otorrinolaringológica e audiológica, com o objetivo de garantir que não apresentavam alteração auditiva. Não encontraram diferença estatística (P>0,05) na

comparação dos resultados entre os gêneros, bem como interaural. Na comparação entre as crianças nascidas pré-termo e a termo, através do teste t de Student para as amostras

independentes, aos quatro e aos 12 meses, as latênciasabsolutas nas ondas I, III e V e os intervalos

interpicos das ondas I-III, I-V e III-V apresentaram diferenças estatisticamente significativas. Os autores verificaram diferença estatisticamente significativa nas latências absolutas das ondas III e V entre crianças pré-termo e a termo avaliadas em diversas faixas etárias (quatro, 12 e 20 meses). Encontraram maior diferença entre os dois grupos na primeira avaliação, aos quatro meses de idade. Os autores referiram que os achados podem corresponder ao retardo da condução elétrica por processo de mielinização, menor desenvolvimento, em crianças pré-termo. Aos 20 meses, somente não apresentou diferença a latência absoluta da onda I. Foi encontrada correlação inversa forte (coeficiente de Pearson) entre a idade gestacional e as latências absolutas das ondas, bem como com os intervalos interpicos. Os autores concluíram que a maturação do sistema auditivo, avaliada através do PEATE, ocorre de forma distinta entre crianças nascidas pré-termo e a termo.

Essas mudanças observadas com a maturação indicam a importância da obtenção de dados normativos dependentes da idade gestacional e da idade cronológica, na qual se está realizando a avaliação para interpretar corretamente os resultados nas diferentes faixas etárias.

Com base nestes dados da literatura pesquisada, verificamos a escassez de estudos nacionais com a análise da maturação da via auditiva por meio dos PEATE, principalmente, em crianças nascidas pré-termo.

3 JUSTIFICATIVA

Acreditamos ser necessário que cada clínico realize a normatização de seu equipamento, com crianças nascidas pré-termo sem alterações auditivas, definindo o padrão de cada equipamento para determinar os parâmetros na pesquisa dos PEATE. Isto porque, quando usados diferentes protocolos, o tempo de latência das ondas pode alterar.

Os PEATE vêm sendo preconizados para a população neonatal e em crianças pequenas devido à dificuldade de se obterem resultados fidedignos em avaliações audiológicas subjetivas e por ser um instrumento clínico muito útil na avaliação da maturação das vias auditivas em crianças nascidas pré-termo, pela análise eletrofisiológica. Mudanças observadas com a maturação auditiva indicam a importância da obtenção de dados normativos dependentes da idade gestacional e da idade cronológica, na qual se está realizando a avaliação para interpretar corretamente os resultados nas diferentes faixas etárias.

Devido à escassez de pesquisas na literatura nacional, analisando a maturação da via auditiva em crianças pré-termo, e frente à grande importância e aplicabilidade do exame, acredita- se que seja imprescindível cada hospital desenvolver seu próprio estudo de normatização em crianças nascidas pré-termo, aumentando, assim, a precisão do diagnóstico audiológico.

4 OBJETIVOS

4.1 GERAL

Observar a maturação da via auditiva pela análise dos potenciais evocados auditivos de

tronco encefálico em crianças nascidas pré-termo em três idades (quatro, 12 e 20 meses de idade).