• Nenhum resultado encontrado

4 A CIDADE DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM ANTE O GOLPE E A

5.3 MDB X ARENA: O EMBATE E SEUS REFLEXOS NAS URNAS

Na primeira eleição municipal pós-instituição do bipartidarismo, ocorrida em 1966, a Câmara Municipal teve, tal como era a precisão dos condutores do regime, uma supremacia arenista. Entretanto, o que vale ressaltar é o destaque de dois representantes do MDB, Hélio Carlos Manhães e Juracy Magalhães Gomes.

Segundo relatório emitido pela Justiça Eleitoral, na disputa pela Prefeitura, dos 19.316 votos válidos, Hélio Carlos obtém 7.686, contra 5.184 do arenista Nello Vola Borelli. Já para a Câmara de Vereadores, Juracy Magalhães Gomes foi o mais votado entre eles, com 1.582. O mais votado da Arena, David Cruz, obteve 990 votos. Entretanto, no relatório final de apuração do pleito, fornecido pelo TRE75, verifica-se o seguinte:

[...] Tendo em vista a votação obtida pelos PARTIDOS, constatou-se que a ALIANÇA RENOVADORA NACIONAL recebeu nove mil e trezentos votos (9300), e o MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, recebeu oito mil quinhentos e trinta e um (8531) votos. Assim, de conformidade com o disposto na Resolução 7965, de 10 de outubro de 1966, do Supremo Tribunal Eleitoral, é proclamado eleito Nello Vola Borelli, para o cargo de PREFEITO MUNICIPAL DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM, candidato que obteve maior número de sufrágios na organização vencedora.

Assim, embora tenha conseguido a maioria dos votos nominais, Hélio Carlos não se elegeu por conta dos votos na legenda. Na Câmara de Vereadores, a Arena também assumiu mais cadeiras. Para a composição do legislativo municipal, nos pleitos seguintes, 1970, 1972 e 1976, verificam-se importantes resultados conquistados pelos emedebistas, mesmo que de forma mais modesta, como pode ser visto nos gráficos abaixo:

Gráfico 2 – Composição da Câmara de Vereadores de Cachoeiro de Itapemirim, em 1966, distribuídos por partido.

FONTE: Elaboração própria, a partir das Atas de Resultados Eleitorais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) Gráfico 3 – Composição da Câmara de Vereadores de Cachoeiro de Itapemirim, em 1972, distribuídos por partido.

Gráfico 4 – Composição da Câmara de Vereadores de Cachoeiro de Itapemirim, em 1976, distribuídos por partido.

FONTE: Elaboração própria, a partir das Atas de Resultados Eleitorais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) Gráfico 5 – Desempenho dos Vereadores mais votados por partido nas eleições de 1966 / 1972 / 1976.

Ao analisar os gráficos percebemos que mesmo possuindo um quantitativo menor de parlamentares o MDB conseguiu manter-se nos três pleitos municipais (1966 / 1972 / 1976) com o vereador mais votado do município como está abaixo descrito na Tabela 14. Ademais quando calculamos o percentual de desempenho dos vereadores mais votados em cada um desses pleitos, chega-se à números bastante expressivos, por exemplo, em 1966 o vereador mais votado do MDB obterve um percentual de desempenho de 60% sobre o também mais votado da Arena. Já em 1976 esse percentual de desempenho chega à 149%, nesse caso o vereador em questão foi Roberto Valadão.

Tabela 13 - Filiação dos Vereadores de Cachoeiro de Itapemirim nos pleitos de 1966 / 1972 / 1976, distribuídos por partido.

PLEITOS 1966 1972 1976

ARENA 13 6 6

MDB 4 5 6

TOTAL DE CADEIRAS 17 11 12

*Quanto ao pleito de 1970, não se obteve o relatório de desempenho nas eleições para vereadores. FONTE: Elaboração própria, a partir de dados dos resultados eleitorais fornecidos pelo TRE.

Tabela 14 – Desempenho eleitoral dos vereadores mais votados nas eleições de 1966 / 1972 / 1976, distribuídos por partidos.

PLEITOS MDB ARENA

1966 1582 (Juracy Magalhães) 990 (David Cruz)

1972 1777 (Roberto Valadão) 1708 (Idalgizo Simão)

1976 2791 (Roberto Valadão) 1119 (Laurindo Sasso)

FONTE: Elaboração própria, a partir das Atas de Resultados Eleitorais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE)

Comparando o número de votos dos vereadores eleitos e os mais votados por partido, nas eleições de 1966 a 1976, nota-se já um desempenho crescente dos emedebistas. Em 1972, 45% da Câmara era composta por emedebistas, enquanto, no estado, foram eleitos 87 contra 346 da Arena, o que corresponde a apenas 20% das cadeiras dos legislativos municipais.

Já no pleito de 1976, no Estado, foram 305 vereadores eleitos pela Arena, correspondendo a 69% das cadeiras, contra 134 do MDB, 31%. Em Cachoeiro, cada partido – Arena e MDB – ocupou 50% das cadeiras existentes.

Considerando as eleições para prefeito, nos quatro pleitos de vigência do bipartidarismo, 1966, 1970, 1972 e 1976, todas tiveram votação majoritária para emedebistas: em 1966, com Hélio Carlos Manhães; em 1972, com Gilson Carone, mesmo que pela legenda eles não tenham assumido; e, em 1970 e 1976, também com Hélio Carlos Manhães, que assumiu o mandato.

Em entrevista realizada com Roberto Valadão, no findar de 2016, quando foi perguntado a que ele atribuía os resultados positivos nas urnas, tanto o resultado dele quanto o do vereador mais votado de 1972 a 1976, assim como as demais lideranças, Valadão atribuiu à forte campanha “corpo a corpo” realizada pelo MDB e seus filiados. Segundo ele, era comum a realização do que chamou de “Comício Relâmpago”, com panfletagem e palavras de ordem em qualquer lugar ou hora.

Trazendo Schwartzenberg (1978), para a discussão, poderíamos atribuir a esses indivíduos o papel do homem comum, igual a todos, que cativa pela imagem próxima ao seu eleitorado, que discursa a partir da possibilidade dos grandes sendo superados pelos pequenos. Essa postura assumida pelos emedebistas em Cachoeiro foi duramente criticada em reportagem publicada pela Revista Ágora de outubro de 197876. Ao mencionar Hélio Carlos, a matéria dizia,

[...] o advogado Hélio Manhães é um desses políticos típicos de província. Sem grande cultura, mas muitos amigos. Sua administração passada, em Cachoeiro de Itapemirim, foi um fracasso em termos administrativos. Ele não conhece nada de administração de empresas; é um advogado cheio de retórica. Passa por pobre quando não é, cumprimenta até o ascensorista de um edifício aonde jamais voltará, bebe cachaça nos bares, não é fino, não tem elegância no vestir. Em resumo: é o contrário do arquétipo burguês. A diferença é que ele tem a ambição de ser burguês. E para isso usa a fantasia de pobre. É um sucesso total que explica como se faz política no Espírito Santo. A mimese política é imediata na presença de Hélio Manhães. As pessoas não procuram saber sua capacidade, partido, nada. Acreditam nele. E votam. (Ágora, 1978, p. 12)

Perguntado sobre essa crítica feita a Hélio Carlos Manhães, Valadão, sendo correligionário de Manhães, se restringiu apenas a dizer que, embora muito cortês e bom político, Hélio era mais reservado, que a “proximidade com o povo” era exercida mais por ele.