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3. MERCADO DE CARBONO SOB A ANÁLISE DOS CO-BENEFÍCIOS SOCIAIS E

3.3 MDL e Resíduos Sólidos

A UNFCCC enquadra diversas atividades no âmbito do MDL para o setor de resíduos sólidos, disponibilizando metodologias aprovadas para projetos de grande e pequena escala que levam em consideração a gestão de resíduos sólidos, conforme demonstrado pelo Quadro 3.2:

Quadro 3.2: Metodologias da UNFCCC para projetos de Gestão de Resíduos Sólidos Metodologias para projetos de

GRS de grande escala (UNFCCC) Descrição

ACM0010 - Metano evitado e captura de metano (destruição ou

aproveitamento) – Resíduos Sólidos

Esta metodologia é fruto da consolidação das metodologias AM0002, AM0003, AM0010 e AM0011. É utilizada para captura e queima de

gás de aterro. Implantação de sistema de cogeração de energia também pode ser

contemplada.

AM0025 – Emissões de resíduos orgânicos evitados por meio de processos alternativos de tratamento

de resíduos

Esta metodologia tem como finalidade implementar processos inovadores de tratamento de resíduos sólidos com o intuito de

reduzir/ evitar a geração de biogás em aterros. Exemplos: Compostagem, digestores anaeróbicos, tratamento mecânico/ térmico,

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incineração dos resíduos objetivando geração de energia. Esta metodologia encontra-se em sua

12ª versão.

AM0053 – Inserção de biogás na rede de distribuição de gases

Esta metodologia pode ser empregada em conjunto com outras metodologias aprovadas no

âmbito do MDL. É também uma extensão da metodologia ACM0001, permitindo a captação

de gases originários de outras atividades além dos aterros. Exemplos: Estação de tratamento de

esgoto e de dejetos de animais.

AM0075 – Metodologia para coleta, processo e fornecimento de biogás a usuários finais para a produção de

calor

Esta metodologia visa a captação de biogás de aterros e estações de tratamento de esgoto para a

produção de calor.

AM0083 – Minimização de emissões de gás de aterro através da aeração

in-situ

Esta metodologia visa a prática de injetar ar nos maciços dos aterros induzindo o processo

aeróbico para antecipar o processo de mineralização da fração orgânica, reduzindo a

produção de CH4.

Metodologias para projetos de GRS de pequena escala22

(UNFCCC)

Descrição

AMS-III.E – Produção de metano, decorrente da decomposição da

biomassa, evitada por meio de combustão controlada, gasificação

ou tratamento mecânico/térmico

Esta metodologia está em sua 16ª versão. É uma adaptação da AM0025 para projetos de pequena

escala.

AMS-III.F – Emissões evitadas de Esta metodologia está em sua 8ª versão. É uma

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metano por meio do tratamento biológico controlado da biomassa

adaptação da AM0075 para projetos de pequena escala.

AMS-III.G – Recuperação de Metano em Aterro Sanitário

Esta metodologia visa a captura e combustão de metano em aterros sanitários, podendo ser queimado de forma controlada ou empregado para uso térmico, geração de energia elétrica,

entre outras possibilidades.

AMS-III.L – Produção evitada de metano decorrente da decomposição

da biomassa por meio de pirólise controlada

Essa metodologia visa o metano evitado por meio do processo de pirólise do resíduo, caracterizado como a decomposição térmico- química de materiais orgânicos com alto teor de

carbono não condensado.

AMS-III.AF – Minimização de emissões de metano por meio da

aeração dos aterros e áreas contaminadas (lixões) para posterior

compostagem, escavação e classificação dos resíduos, com

recuperação da área

Esta metodologia encontra-se, especialmente, em harmonia com a Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS). Possui como finalidade evitar emissões de metano para atmosfera por meio do tratamento dos resíduos

sólidos previamente depositados nos aterros sanitários. A tecnologia consiste na aplicação de injeção de ar comprimido, enriquecido com uma fração de oxigênio nos maciços dos aterros

sanitários, reduzindo a concentração do biogás e, deste modo, permitindo a escavação segura

dos resíduos depositados. Em seguida, os resíduos removidos podem ser reutilizados ou

destinados para incineração controlada, corroborando para a descontaminação das áreas

dos aterros, bem como das águas superficiais e subterrâneas.

AMS-III.AJ – Recuperação e reciclagem de plásticos de resíduos

sólidos municipais

Esta metodologia encontra-se, assim como a AMS-III.AF, em consonância com a PNRS, com elevado potencial de aplicabilidade pelo setor público. Possui como objetivo recuperar e

reciclar materiais de polietileno de alta e baixa densidade, com posterior tratamento e inserção

de mercado. Deste modo, substituindo os materiais originários de componentes fósseis. Fonte: UNFCCC; BM&FBOVESPA (2011); CETESB (2010).

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Ressalta-se que as atividades mais empregadas são os projetos relacionados aos métodos que evitam a geração e captação de metano em aterros sanitários.

Para que as outras metodologias sejam igualmente difundidas, necessita-se de: maior esforço em pesquisa e desenvolvimento; implantação de projetos-pilotos; organização e engajamento do setor público em prol destas atividades, uma vez que as ações adotadas para o campo da GRSU necessitam, em sua maior parte, do envolvimento e legitimação deste setor.

A metodologia (AMS-III.AF) que visa a minimização de emissões de metano por meio da aeração dos aterros e áreas contaminadas (lixões) para posterior compostagem, escavação e classificação dos resíduos, com recuperação da área, foi aprovada recentemente.

Trata-se de uma promissora metodologia sob a perspectiva de atrelar-se a um sistema de reciclagem e compostagem dos resíduos, para posterior reciclagem energética dos materiais termoplásticos para geração de energia. Deste modo, esta iniciativa tende a contribuir também para melhorar as performances dos projetos de captação e queima do biogás dos aterros.

De acordo com o estudo realizado sob coordenação da BM&FBOVESPA (2011) que verifica o potencial de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil em diversos setores, a avaliação é dividida fundamentada em 3 elos. Para o setor de resíduos, os elos são:

Elo 1 - Geração de Resíduos; Elo 2 - Tratamento de Resíduos; e Elo 3 - Destinação de Resíduos.

A análise de cada elo baseia-se em metodologias de linha de base e monitoramento aprovadas e em fase de aprovação pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC).

O Quadro 3.3 apresenta para cada elo as fontes de emissão de GEE, os potenciais de redução de emissão e as metodologias de base relacionadas.

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Quadro 3.3: Os Três Elos do Setor de Resíduos e as Metodologias Relacionadas Elo 1: Geração de Resíduos Elo 2: Tratamento de Resíduos Elo 3: Destinação de Resíduos Fonte de Emissão – Linha de Base (Baseline scenery) Zero CO2; N2O, CH4 CO2; N2O, CH4 Iniciativas de Redução de Emissão de GEE - Educação ambiental com foco na redução da geração de resíduos/ habitante - Redução de geração de RS - Metano evitado e captura de Metano (recuperação e destruição) - Eficiência energética nos processos de reciclagem de RS - Captura de metano em aterros sanitários - Aeração de Aterros - Compostagem de resíduos orgânicos de aterros - Geração de energia com resíduos de biomassa (cogeração) Metodologias (UNFCCC) Não foram encontradas metodologias aprovadas ou propostas no âmbito do MDL CM0014; AM0039; AM0080; AM0073; AMS-III.I; AMS-II.D.; AMS-III.H.; AMS- III.I.E.; AMS-III.Y; AMS-III.F; AM0053; AMS-III.L. ; AM0075; AM0069; AM0053; ACM0010; AM0075; M0025; AMS-III.AJ. ACM0001; AM0069; AMS- III.G; AM0053; AM0075; AMS- III.AF; AM0083; NM0333; AM0057; AMS-III.R.

Fonte: Adaptado de BM&FBOVESPA (2011)

Conforme explicitado pelo Quadro anterior, a falta de metodologias específicas para o desenvolvimento de projetos no Elo 1, ratifica e reproduz o modo com que as ações no âmbito da GRSU são conduzidas: Agindo-se no efeito (tratamento e, mais ainda, na destinação) e não na causa (geração e redução) do problema.

Também, não foi desenvolvido, no Brasil e nos outros países em desenvolvimento com participação no MDL, nenhum projeto de eficiência energética com enfoque na reciclagem de resíduos sólidos.

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Cabe ainda apresentar as oportunidades colocadas para a GRSU no escopo do denominado MDL Programático. O CDM Programme Activities, conhecido também por MDL Programático, foi aprovado durante a COP-11, realizada em Montreal, em 2005, como alternativa dentro do MDL, com o objetivo de facilitar e contribuir para o registro de um grupo de pequenos projetos que apresentam a mesma metodologia, mas em localidades e/ou tempos diferentes.

Desde então, o Executive Board (EB) do MDL vem trabalhando extensivamente para definir e aplicar essa nova modalidade de projeto. Na 32ª reunião do EB, em seu Anexo 38, foi definido PoA como:

“Um PoA é uma ação voluntária coordenada por uma entidade pública ou privada que coordena e implementa qualquer política/medida ou meta declarada (sistemas de incentivo e programas voluntários) que lida com reduções de emissão antropogênicas de Gases de Efeito Estufa (GEE) ou remoções líquidas de GEE provenientes de fonte humana que são adicionais as que ocorreriam na ausência do PoA, através de um número ilimitado de CPAs (CDM Programme Activities).”

Resumidamente, pode-se dizer que um PoA trata-se de um Programa “guarda-chuva” com um número ilimitado de atividades similares, as chamadas CDM Programme Activities

(CPAs), conforme ilustrado na Figura 3.3. Essas atividades são de projetos individuais, porém,

de natureza idêntica, nas quais se deve aplicar a mesma metodologia de linha de base e de monitoramento estabelecida no Documento de Concepção do Programa de Atividades (Programme of Activities Document Design - PoADD).

Figura 3.3: Representação esquemática do MDL Programático (CDM Programme Activities)

Fonte: Elaboração Própria CPA CPA CPA CPA CPA CPA CPA CPA

PoA

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Assim como o MDL tradicional, o MDL Programático também é uma ação voluntária, de coordenação pública ou privada com a finalidade de redução de GEE.

A partir desta iniciativa, enquadram-se diversas oportunidades para o setor público, com destaque para o segmento de resíduos sólidos a partir dos projetos de manejo e destinação de resíduos sólidos compreendendo as oportunidades evidenciadas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), tais como: Gestão compartilhada; articulação com outros setores; e integração regional.