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Em meados do século I a.C., surgem diversas moedas em que se exaltam os feitos heroicos praticados pelo

Olhares à escala da mão RE

1. Em meados do século I a.C., surgem diversas moedas em que se exaltam os feitos heroicos praticados pelo

retratado. Seguiu-se a generalização das representações das diversas personagens que participaram nos acontecimentos políticos que levaram ao desaparecimento da República, depois substituída pelo Império, que viria a perdurar ainda por cinco séculos.

o verismo do rosto humano. As imagens de imperadores ao longo desta época se- guem o modelo de forma fidedigna, sem terem medo nem constrangimentos ao exaltarem as marcas da idade cravadas no rosto. Para muitos romanos, estes si- nais de idade avançada traduziam a ex- periência e a responsabilidade necessá- ria para se poder governar. 

No Renascimento, o Homem passa a ser considerado o centro de tudo, faz-se renascer a Antiguidade Clássica e os seus valores, bem como o gosto pelo retrato e pelas moedas antigas1. Para os retratos

do Renascimento exigia-se que estes fos- sem uma representação verosímil da face humana, mas também um retrato “idea- lizado.” De acordo com Leon Baptista Al- berti (1404-1472), no livro De Statua, um retrato deve dar ênfase àquilo que dife- rencia um indivíduo do outro; este autor sugere também que seja feita uma avalia- ção dos seus detalhes de modo a que es- tes se inscrevam nas proporções médias que geralmente devem ser utilizadas em cada retrato. O artista, para além de ca- racterizar e individualizar, deve estabele- cer relações harmoniosas. Visto que, para a caracterização, se pretendia definir e particularizar as características próprias de cada sujeito, daí decorria uma perspe- tiva “moderna” para as atitudes fisionó- micas e psicológicas, daqui decorrendo a inscrição do homem na sua finitude.

A isto acrescia a intencionalidade expressa pelo escultor, para além do con- sentimento, da vontade da pessoa retra-

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tada. A importância da intencionalidade e do consentimento deve-se ao facto de que, ao retrato, tem sido atribuída ao longo dos tempos uma série de funções sociais, mas também de reconhecimento pessoal e de comemoração. 

A pose mais comummente encontra- da é o retrato individual, no qual a figura se representa individualmente sobre fun- do variado e se apresenta pelo busto ou pela cintura, consoante o gosto vigente. Este tipo de retrato foi muito utilizado nas coleções privadas, formato ideal para fazer apresentar e salientar alguém. No século XVI, o retrato individual esteve na origem do chamado retrato de corte ou de aparato, que se distancia daquele pelo facto de representar um modelo em suporte de maiores dimensões, apresen- tando-o como ente de grande poderio político e social, bem como modelo de virtudes inspiradoras da conduta huma- na. 

A consciência de se fazer um retra- to exigia a participação ativa de ambas as pessoas: com o retrato, longe de ser apenas uma imagem baseada na seme- lhança física, era também imagem crip- tografada com a qual os valores morais, sociais e até políticos associados à pessoa faziam parte da sua definição, pois eram a sua razão de ser.

2. Figueiredo 2004: 15.

Figura 2 – Pisanello (1455, bronze, ø 93mm).

 

As representações idealistas da numis- mática, sobretudo a grega e romana, vão servir de mote ao desenvolvimento da medalhística pela “necessidade de per- petuar a imagem dos seus chefes e gover- nantes através de retratos identificáveis, o modo mais eficaz de tornar concreto e tangível o conceito de autoridade.”2

 

Retrato na moeda e na medalha

Situada a meio caminho entre a pintura e a escultura, a medalha em baixo-rele- vo com duas faces tinha, no anverso, um retrato constituído por cabeça ou busto de perfil, à direita ou à esquerda, com ri- gorosa individualização – de acordo com a tradição pictórica da época –, e ainda, geralmente, a identificação inscrita do personagem representado. No reverso da medalha, surgia um motivo relacionado com o retratado, que funcionava como um contributo ou valor acrescentado para um melhor conhecimento das suas qualidades específicas, enaltecendo a sua personalidade: um símbolo, uma divisa, uma alegoria, com ou sem inscrições.

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A referência direta da Medalhística en- contra-se na Numismática grega e ro- mana. Serão essas representações que servirão de mote ao desenvolvimento da prática, pela “necessidade de perpetuar a imagem dos seus chefes e governantes através de retratos identificáveis, o modo mais eficaz de tornar concreto e tangível o conceito de autoridade.”3

No todo são medalhas, mas há exce- ção no tamanho. A temática é essencial- mente honorífica, reservada aos deuses e depois alargada aos homens e ao seu persistente individualismo:

 

“Nas moedas, as cabeças reservam- -se aos deuses. [...] Só a dinastia dos Selêucidas torna regular a prática do retrato dos soberanos nas moedas, mas, de princípio, com os cornos de Ámon. A razão era, em parte, de or- dem política; os monarcas helenísti- cos preferiam os símbolos, que lhes conquistavam maior popularidade. [...] o retrato conquista gradualmen- te maior importância. Não desapare- cem, no entanto, as convenções. Os modelos divinos, os Zeus barbudos, os Apolos sem barba, continuam a ser modelados.”4

 

É por influência grega que Roma adota a moeda metálica. A moeda metálica de influência grega vai ser rapidamente adotada por Roma, que a incorpora na sua economia e na sua cultura. É, aliás, nesta época que surge uma das moedas mais influentes na história monetária do

3. Figueiredo 2004: 16.

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