7.4 Propostas de Incentivos ao Uso Energético do Biogás
7.4.3 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)
Como já mencionado, o objetivo principal do MDL é apoiar os países em desenvolvimento na implantação de tecnologias e projetos que visem a recuperação e preservação ambiental, além de auxiliar os países desenvolvidos a cumprir as metas de redução de emissões estabelecidas pelo Protocolo de Quioto, ou seja, o MDL visa atingir o desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento, utilizando recursos de países desenvolvidos. Desta forma, os países poluidores investem uma quantidade menor de recursos, se for comparado ao custo de implantação destes projetos no próprio local de emissão.
Para que um projeto seja enquadrado no MDL, é necessário seguir os critérios definidos pelo artigo 12 do Protocolo:
a. Participação voluntária pelas partes envolvidas, não sendo aceitos projetos impostos pela legislação local;
b. Benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo relacionados com a mitigação da mudança climática;
c. Reduções de emissões adicionais às que ocorreriam na ausência de determinado projeto.
Para que se comprove este último item, é necessário que seja traçado um cenário de referência, a partir do qual será possível determinar as alterações ocasionadas pelo projeto em questão. Este cenário de referência é denominado linha de base, que possibilita definir o patamar, a partir do qual será calculada a diferença de emissão após a implantação do projeto.
O acordo de Marrakesh, assinado em 2001 no COP 7, estabeleceu três enfoques para a definição da linha de base: emissões atuais ou históricas, emissões de uma tecnologia atrativa do ponto de vista econômico ou média das emissões de projetos similares ao que será implantado, baseado nos cinco anos anteriores, cujo desempenho esteja entre os primeiros 20% de sua categoria. Por fim, a análise da adicionalidade contempla, além dos cálculos de redução de emissões em relação ao cenário de referência, os aspectos financeiros e viabilidade econômica do projeto, contando ou não com os recursos advindos do MDL (LORA, 2008).
Para que um projeto seja passível da obtenção de reduções certificadas de emissões (RCE), suas atividades deverão passar por algumas sete etapas, sendo que a primeira consiste na elaboração do documento de concepção de projeto (DCP ou PDD) que contem todas as informações, como a localização, metodologia adotada para o cálculo das emissões, definição
da linha de base, determinação do período de obtenção de créditos de carbono, descrição do plano de monitoramento e informações para demonstrar o critério de adicionalidade. Este documento é então submetido à validação, por uma entidade credenciada no Conselho Executivo do MDL e, em caso de aprovação, segue para registro. O projeto será monitorado durante todos os anos de competência para que, por fim, as emissões sejam certificadas e aprovadas.
De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, até 1º de janeiro de 2011, 6.963 projetos encontravam-se em alguma das fases de projetos descrito anteriormente, sendo que destes, 2.743 já estão registrados pelo Conselho Executivo do MDL. Dentre os países proponentes de projetos de MDL, a China encontra-se na primeira posição, com 2.672 projetos, a Índia, na segunda, com 1.894 e o Brasil, na terceira, com 477 projetos, correspondendo a 7% do total. (CIMGC, 2011).
No cenário mundial, as reduções anuais de emissões de gases de efeito estufa no país atingem 50.539.873 de tCO2e/ano, que representam 5% do total, sendo que a predominância
dos projetos brasileiros está no setor energético. A distribuição das atividades destes projetos, por escopo setorial é apresentado no Gráfico 7.1, em que os aterros sanitários correspondem a um percentual de 7,5%, correspondente a 36 projetos.
Gráfico 7.1. Número de projetos por escopo setorial. Fonte: CIMGC (2011).
Dentre os estados brasileiros, São Paulo possui o maior número de atividades de projeto do MDL, seguido por Minas Gerais e Rio Grande do Sul, conforme ilustra o Gráfico 7.2.
Gráfico 7.2. Atividades de projeto por estado brasileiro. Fonte: CIMGC (2011).
Os projetos de MDL no Brasil tiveram início em junho de 2004, com a aprovação do projeto da Nova Gerar no Rio de Janeiro e do projeto Vega na Bahia, ambos com a finalidade de geração de energia elétrica por meio do aproveitamento do biogás produzido nos aterros sanitários. A tabela 7.4, a seguir, descreve os projetos de créditos de carbono realizados em aterros sanitários no país, bem como a situação em que se encontram.
Tabela 7.4. Situação dos projetos de aterros sanitários no Brasil.
Aterro Localização Situação
Vega Bahia Bahia Registrado
Nova Gerar Rio de Janeiro Registrado
Onyx (Tremembé) São Paulo Registrado
Marca Espírito Santo Registrado
Cont. Tabela 7.4. Situação dos projetos de aterros sanitários no Brasil.
ESTRE (Paulínia) São Paulo Registrado
Caieiras São Paulo Registrado
São João São Paulo Registrado
Lara (Mauá) São Paulo Registrado
Anaconda São Paulo Registrado
Central de Resíduos do Recreio Rio Grande do Sul Registrado
Aurá Pará Registrado
Canabrava Bahia Registrado
ESTRE (Itapevi) São Paulo Registrado
Quintaúna São Paulo Registrado
ESTRE (Pedreira) São Paulo Registrado
Probiogás (João Pessoa) Paraíba Registrado
Embralixo/Araúna (Bragança) São Paulo Registrado
Urbam/Araúna São Paulo Registrado
Terrestre Ambiental São Paulo Registrado
CTRW Espírito Santo Registrado
Proactiva (Tijuquinhas) Santa Catarina Registrado
Feira de Santana - projeto de gás Bahia Registrado
Alto Tiête São Paulo Registrado
Santech Santa Catarina Registrado
CTRS / BR.040 Minas Gerais Em validação
Manaus Amazonas Em validação
Tecipar – Progat São Paulo Em validação
Marília / Araúna São Paulo Em validação
VCP Jacareí São Paulo Em validação
CGR Guatapará São Paulo Em validação
Corpus / Araúna São Paulo Em validação
Itaoca Rio de Janeiro Em validação
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da UNEP RISOe (2011).
Como é possível observar, a grande parte destes projetos encontra-se na região sudeste do Brasil, local de grande concentração populacional e, consequentemente, com grande geração de resíduos. O elevado volume de resíduos concentrado nestes poucos locais permite uma geração significativa de metano, contribuindo com a viabilidade e atratividade dos projetos.
Desta forma, o Brasil apresenta potencial para a geração de créditos de carbono em aterros sanitários, que poderá contribuir para promover a sustentabilidade socioambiental, por meio de uma correta gestão dos resíduos sólidos urbanos nos municípios (CRUZ, 2009).