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3 O PROTOCOLO DE QUIOTO E OS MECANISMOS DE

3.3 Os mecanismos de flexibilização do Protocolo de Quioto

3.3.1 O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

Os países em desenvolvimento, como o Brasil, que não são obrigados a reduzir suas emissões, participam do Protocolo somente através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. O MDL é um mecanismo no qual países emergentes desenvolvem, de maneira voluntária, um projeto capaz de reduzir os níveis de

31 SOUZA, Gleice Donini de. Aplicação do mecanismo de desenvolvimento limpo: o caso NOVAGERAR. 2007. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

emissão destes gases e\ou sequestrar carbono da atmosfera e assim gerar ―créditos‖ que poderão ser vendidos e utilizados pelos países industrializados no cumprimento de suas metas determinadas no Protocolo. (MICHELLIS, 2008)

De acordo com Araújo (2007, p.23), a criação do MDL é praticamente fruto de uma proposta brasileira de estabelecimento de um fundo que, com algumas modificações, foi adotada em Quioto. A proposta brasileira foi de estabelecer uma ―penalidade‖ aos países do Anexo I, conforme contribuição de cada um para o aumento da temperatura global acima dos limites autorizados, de modo a criar um Fundo de Investimento Limpo, FDL, destinado aos países em desenvolvimento. Esse fundo evoluiu para o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

O artigo 12 do Protocolo de Quioto institui o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, in verbis:

1. Fica definido um mecanismo de desenvolvimento limpo.

2. O objetivo do mecanismo de desenvolvimento limpo deve ser assistir às Partes não incluídas no Anexo I para que atinjam o desenvolvimento sustentável e contribuam para o objetivo final da Convenção, e assistir às Partes incluídas no Anexo I para que cumpram seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões, assumidos no Artigo 3. 3. Sob o mecanismo de desenvolvimento limpo: (a) As Partes não incluídas no Anexo I beneficiar-se-ão de atividades de projetos que resultem em reduções certificadas de emissões; e (b) As Partes incluídas no Anexo I podem utilizar as reduções certificadas de emissões, resultantes de tais atividades de projetos, para contribuir com o cumprimento de parte de seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões, assumidos no Artigo 3, como determinado pela Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo.

4. O mecanismo de desenvolvimento limpo deve sujeitar-se à autoridade e orientação da Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo e à supervisão de um conselho executivo do mecanismo de desenvolvimento limpo.

5. [...]

6. O mecanismo de desenvolvimento limpo deve prestar assistência quanto à obtenção de fundos para atividades certificadas de projetos quando necessário.

7. A Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo deve, em sua primeira sessão, elaborar modalidades e procedimentos com o objetivo de assegurar transparência, eficiência e prestação de contas das atividades de projetos por meio de auditorias e verificações independentes.

8. A Conferência das Partes na qualidade de reunião das Partes deste Protocolo deve assegurar que uma fração dos fundos advindos de atividades de projetos certificadas seja utilizada para cobrir despesas administrativas, assim como assistir às Partes países em desenvolvimento que sejam particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da mudança do clima para fazer face aos custos de adaptação.

9. A participação no mecanismo de desenvolvimento limpo, incluindo nas atividades mencionadas no parágrafo 3(a) acima e na aquisição de reduções certificadas de emissão, pode envolver entidades privadas e/ou públicas e deve sujeitar-se a qualquer orientação que possa ser dada pelo

conselho executivo do mecanismo de desenvolvimento limpo. [...] (PROTOLOCO DE QUIOTO, 1997)32

Dessa forma, a proposta do MDL é de prestar assistência às Partes Não Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentável por meio da implantação de projetos que contribuam para o objetivo final da Convenção, e ao mesmo tempo, prestar assistência às Partes Anexo I para que cumpram seus compromissos quantificados de limitação e redução de emissões de GEE. O objetivo final da Convenção é atingido por meio da implementação de atividades nos países em desenvolvimento que resultem em redução ou remoção de CO2, mediante investimentos em tecnologias mais eficientes, substituição de base energética, racionalização do uso da energia, florestamento e reflorestamento. (SOUZA, 2008)

Segundo Araujo (2008, p. 26), para as empresas brasileiras, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo se constitui em uma grande oportunidade para o desenvolvimento de programas de redução de emissão, principalmente no que se refira a energias renováveis e a projetos de aumento de eficiência energética.

No tocante ao funcionamento do MDL, discorre Souza, (2007, pg. 16) que primeiramente identifica-se uma atividade que produza GEE, em um país em desenvolvimento. Posteriormente, instala-se uma equipagem para capturar gás e torná-lo menos impactante para o meio ambiente, mensurando-se a quantidade de gás documentada pelo interessado e submetendo-o a verificação por auditorias internacionais credenciadas, bem como pelo órgão do governo brasileiro, e à homologação pela ONU. Por fim, o interessado que promoveu a redução do impacto ambiental, recebe um certificado emitido pela ONU, denominado de Redução Certificada de Emissão (RCE).

O instrumento de troca do MDL são as Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), que poderão ser utilizadas, pelos países do Anexo I, como comprovações das suas metas de redução de emissões estabelecidas no Protocolo de Quioto. Dessa forma os países do Anexo I poderão comprar créditos que serão computados na sua meta de redução. Essas transações têm como moeda padrão o carbono equivalente (CO2), ou seja, a quantidade de quilogramas de carbono correspondente à redução do gás que está sendo eliminado. (GUIMARÃES, 2007)

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BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Protocolo de Kyoto – Texto editado e traduzido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia com apoio do Ministério das Relações Exteriores da República

Federativa do Brasil.1997. p. 14-15. Disponível em:

Pelo MDL os países ricos compram o ―direito de poluir‖, investindo em projetos que são postos em prática nos países em desenvolvimento e, após, utilizando os créditos (Certificados de Emissões Reduzidas– CERs) para reduzir suas obrigações; ou seja, os países ricos podem se manter dentro dos limites das metas estabelecidas pelo Protocolo de Quioto ao financiar projetos de reduções em países em desenvolvimento, recebendo os chamados Créditos de Carbono.

Por fim, em relação a sua natureza, expõem Frangetto e Gazani (2002, p. 134):

o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo possui natureza mista, haja vista a conjugação de aspectos sociais, ao buscar o desenvolvimento sustentável, aspectos ecológicos ao mitigar as mudanças climáticas reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, aspecto econômico e financeiros ao envolver financiamento para os projetos e comercialização das reduções certificadas de emissões e tem ainda, cunho internacional por ser derivado do Protocolo de Quioto.

Convém ressaltar ainda que a natureza jurídica do Protocolo de Quioto é de um verdadeiro tratado internacional, hierarquicamente paritário à própria Convenção do Clima, pois, embora seja denominado de Protocolo e tenha sido adotado durante uma Conferência das Partes, ele não deve ser interpretado como uma norma complementar, mas sim, como um autêntico tratado internacional. (SABBAG, 2008)