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CAPÍTULO 2: O CONTROLO DA ATIVIDADE POLICIAL

3. OS Mecanismos de Controlo da Atividade Policial

3.1. Mecanismos de Controlo Interno

De acordo com Ávila (2014), o controlo interno pode ser identificado em três níveis, designadamente, controlo entre os pares, controlo hierárquico, através da supervisão direta e pelo órgão central do controlo interno.

O controlo entre os pares, como já referimos acima, é um controlo horizontal previsto no Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, segundo o qual, o responsável pela aplicação da lei deve denunciar ao seu superior hierárquico, a uma entidade externa, responsável pelo controlo ou comunicação social, caso os anteriores não se revelarem eficazes, sobre alguma irregularidade ou má conduta de um outro elemento policial. Não devendo o tal responsável ser castigado por ter efetuado a denúncia28.

Estudos têm revelado que a má conduta quase sempre persiste onde a supervisão é ineficaz e é difícil encontrar uma solução quando há interesse por parte do superior hierárquico em encobrir tais irregularidades (UNDOC, 2011). Por outro lado, inevitavelmente, elemento policial está sujeito a subcultura policial em que se integra pela socialização. Esta subcultura define o aceitável e o não aceitável que pode não corresponder ao ideal da legalidade que deve guiar a atuação policial (Ávila, 2014).

O controlo de supervisão direta efetuada pelo superior hierárquico está associado ao poder de "vigilância hierárquico interno", devendo ser exercido através de uma vigilância constante, bem como, dar conhecimento das atividades aos subordinados e responsabilizá- los pelos seus desvios, mediante a aplicação de castigo disciplinar. (Ávila, 2014). Este controlo tende a ser forte e rigoroso ou quase militarizada, destinada a produzir um serviço disciplinado e responsável (Mawby & Wright, 2005).

28 Cf. Condigo de Conduta Para os Responsáveis pela Aplicação da Lei, Assembleia Geral das Nações Unidas,

A estrutura hierárquica interna da Polícia é determinante para um controlo interno efetivo da atuação policial, desde a administração estratégica até a supervisão quotidiana. Pois, dela depende a integridade da atuação policial, que se traduz na legalidade e o profissionalismo dos seus atos (UNDOC, 2011, p. 73)29.

As ações policiais são moldadas pelos limites estabelecidos nas leis, política e as instruções. Assim, a supervisão direta ocorre antes da ação policial, mediante o instruções e despachos estabelecido superiormente, autorização do supervisor para executar certas diligências; durante a ação policial, através de comunicação, por exemplo, via rádio, GPS ou presencial, (no caso de algumas operações extraordinárias e de maior complexidade); e depois através de expedientes e relatórios produzidos pelos elementos policiais que atuaram, avaliação do desempenho e analise de reclamações (Ávila, 2014; UNDOC, 2011).

A responsabilidade da Polícia exige um sistema eficaz de relatórios que permita à administração e a outros órgãos de supervisão verificar a trilha deixada pelas ações e omissões dos polícias e avaliar sua adequação. Em particular, qualquer uso de armas de fogo deve ser sempre relatado, além do uso de outros poderes da Polícia. No interesse de manter a integridade deste sistema de relatórios, é essencial estabelecer uma cultura de trabalho em que integridade e transparência sejam valorizadas. Isto pode ser impulsionado por várias intervenções, inclusive por atores externos à Polícia, no entanto, os principais responsáveis são as autoridades policiais (UNDOC, 2011, p. 76).

O órgão central de controlo interno age de acordo com as atribuições e competências estabelecidas por lei e o regulamento disciplinar. Dentre outras competências, inspeciona as condutas dos elementos policiais individualmente com base no regulamento disciplinar, através do qual procede a investigação das infrações decorrentes da má conduta do elemento policial, julgamento em audiência disciplinar e a respetiva punição, que vai de reprimenda, multa até demissão no último caso (Mawby & Wright, 2005). Uma punição disciplinar não

29 Traduzido pelo autor.

impede o agente de responder criminal ou civilmente, caso a conduta praticada constitua um tipo de crime (ibidem)30.

Em suma, o controlo interno da atividade policial, enquanto um requisito do direito internacional, é garantido pelo compromisso da liderança policial em impor o profissionalismo e integridade das forças sob o seu comando. Começando com a valorização desta integridade pelos líderes de superiores e os “subalternos” e a efetivação da constante supervisão, bem como as decisões adequadas (UNDOC, 2011).

O Manual de Responsabilidade, Supervisão e Integridade da Polícia, produzido pelo UNDOC (2011) apresenta alguns aspetos essências através dos quais a liderança policial poderá assegurar a integridade policial e o cumprimento da lei, os quais são mencionados no quadro seguinte31.

• Uma linha clara de comando;

• Instruções e pedidos claros e não ambíguos; • Transparência do processo de tomada de decisão;

• Instalação de um sistema de relatório efetivo que é seguido pelos supervisores;

• Procedimentos operacionais padronizados;

• Implementação de um mecanismo para registo de queixas e reclamações do público das atuações policiais;

• Apoio inequívoco ao órgão de supervisão independente e sua autoridade em relação ao tratamento de reclamações;

• Estabelecer e reforçar um mecanismo para a arquivação de queixas contra os elementos policiais;

• Estabelecer e reforçar um procedimento para denúncias; • Uma estrutura para efetuar processos disciplinares;

• Tomar medidas corretivas após negligência comprovada de deveres ou ofensas disciplinares, através de um código de condutas claro em harmonia com outras legislações e regulamentações (UNDOC, 2011, p. 90).

30 Traduzido pelo autor.

Um outro aspeto que os responsáveis do controlo devem ter em conta é o da integração de novos elementos policiais na cultura organizacional. Pois é necessário garantir que os procedimentos de recrutamento sejam justos, transparentes e baseados no mérito, sem parcialidade, através de critérios seletivos, visando atrair uma parte representativa da sociedade (ibidem). Os conteúdos de formação devem envolver questões morais do trabalho policial, bem como os de direitos humanos, buscando assim uma aplicação prática no âmbito da atividade policial (ibidem).