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4.3. FILTRO LENTO DE AREIA PARA TRATAMENTO DE ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO

4.3.2 Mecanismos de Filtração do FLA

Alguns estudos mostram que os mecanismos de filtração do filtro lento de areia podem ocorrer de duas formas, por mecanismos físicos e biológicos. Esses dois mecanismos podem ou não funcionar em conjunto durante a filtração da água (Haarhoff & Cleasby, 1991). É evidente que o mecanismo físico ocorre logo no início da operação de filtro lento, enquanto que o biológico ocorrerá já na fase avançada do processo de filtração. Sánchez et al. (1999) referem que o crescimento biológico no leito do filtro exerce uma função crucial em relação a eficácia do tratamento dentro de filtros lentos de areia. Assim, de acordo com Sá (2006) a remoção de particulas ocorre por:

- mecanismo de transporte, que conduz as partículas em direcção ao grão de areia;

- mecanismo de aderência, que opera para manter as partículas em contacto com a superfic dos grãos do leito filtrante;

- processo biológico, desempenhado pelos microrganismos responsáveis pela remoção dos contaminantes no filtro lento.

O mecanismo de aderência sofre a influência de interação física-química uma vez que se não houver contacto entre a partícula e a superfície de grão, de nada adianta o transporte da partícula até ao meio filtrante, visto que esta não será retida pela areia (Pizzolatti, 2010).

Quando o filtro é colocado em funcionamento pela primeira vez, os organismos responsáveis pela remoção das bactérias, turbidez, matéria orgânica entre outros, ainda não estão presentes, e necessitam de um tempo de instalação. Por isso, o referido tempo da fase inicial de funcionamento de filtro lento de areia é conhecido como o período de amadurecimento e este período ocorre num espaço curto de tempo, de duas a três semanas no começo da operação do

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filtro lento, em resultado do desenvolvimento biológico na parte interna de leito de areia e na camada suporte (Aguila & Di Bernardo, 2003).

Para Bellamy et al., (1985) o nível de crescimento biológico é reconhecido de acordo com a maturidade biológica do leito do filtro de areia. E não é medido, mas depende do tempo de funcionamento de filtro lento e também do tipo de água bruta que está sendo tratada (Logsdon

et al., 2002).

De acordo com Aguila & Di Bernardo (2003), o leito de areia pode apresentar diferentes microrganismos que podem ajudar no processo de purificação da água, dependendo das característica e funções na cadeia biológica dos mesmos. Os responsáveis pela formação da atividade biológica nos filtros são as bactérias e protozoários (Farias, 2011). As bactérias formam o biofilme na superfície dos grãos de areia que adsorvem as partículas de impurezas presentes na água bruta, enquanto que alguns microrganismos produzem polímeros extracelulares que permitem a aderência das partículas no meio filtrante e melhoram a remoção no filtro. Os protozoários também podem contribuir na remoção de partículas alimentando-se de bactérias, inclusive de patogénicas para o homem (Farias, 2011).

É evidente que com o escoamento da água no meio de areia e as partículas suspensas retidas na parte superior, há um favorecimento da deposição de grandes quantidades de bactérias e outros microrganismos (Aguila et al, 2003). A intensa atividade bacteriana, além da libetação do conteúdo celular, pode ajudar na formação de uma película gelatinosa, promovendo a barreira de partículas suspensas e criando por colmatação uma dificuldade para a passagem de água por gravidade.

Os diferentes organismos presentes na camada biológica do processo crescem dependendo das condições. De acordo com Neves (1987), a taxa de crescimento dos organismos no meio filtrante pode depender da quantidade de matéria presente na água, da taxa de filtração e do tamanho efetivo da areia. As bactérias percorrem as partes mais intensas do leito assim que ocorrer o amadurecimento do filtro (Varesche, 1989 e Murtha et al 2003).

Bellamy et al., (1985) argumentam ainda que existem fatores como a disponibilidade de nutrientes e a temperatura que podem afetar o período necessário à maturação de leito. A forma de funcionamento do filtro lento de areia e as características da água afectam

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directamento os processos microbiologicos que são realizados pelo biofilme formado na interface entre a água e a areia. Esse biofilme é desenvolvido em função do tempo do contacto de água com meio filtrante, devido às baixas taxas de filtração utlizadas na filtração lenta (Dias, 2011).

Claro que o nível de desenvolvimento microbiológico no processo do filtro lento não depende somente do seu amadurecimento mas também de fatores como características de água bruta, temperatura ambiente e luminosidade (Sá, 2006). Mas torna-se evidente que o sucesso do filtro lento depende principalmente do processo biológico, pois no começo a eficiência é limitada, mas aumenta à medida que vai crescendo o seu amadurecimento. Após o período de amadurecimento os filtros encontram-se em condições para gerar a água de boa qualidade (Belamy, et al 1985a).

A passagem de água por meio de um material poroso remove a matéria suspensa e coloidal, reduzindo o número de bactérias e outros organismos e destrói a matéria orgância através de oxidação, sendo a qualidade da água melhorada (Staciarini, 1998). A remoção de vários tipos de partículas e bactérias, nos processos de filtros, ocorre predominantemente nos 30 cm iniciais do leito filtrante, sendo que, para a extensão restante, são observadas apenas variações pouco significativas (Murtha e Heller, 1999b). A eficiência demonstrada em filtros lentos nos 30 cm iniciais do leito filtrante pode indicar a possibilidade de redução da sua espessura útil (mínima) para faixas de 40 a 60 cm que, conforme demonstrado, assegura uma eficiente redução dos indicadores básicos de qualidade da água (Emmendoerfer, 2006).

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