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Dos mecanismos pragmático-retóricos aos efeitos enunciativo-discursivos dos Bolsistas de Iniciação à docência

TABELA DE VERBOS (TEMPO, ASPECTO, MODO)

4.2. CATEGORIA DE ANÁLISE: IDENTIFICAÇÃO E DISCUSSÃO DOS PRINCIPAIS MECANISMOS DE SENTIDO NOS TEXTOS DOS PIBIDIANOS

4.2.3. Dos mecanismos pragmático-retóricos aos efeitos enunciativo-discursivos dos Bolsistas de Iniciação à docência

Nesta subseção, nos ocuparemos da problematização alguns dos principais efeitos de sentido que emanam do uso do sistema verbal nos textos dos acadêmicos que fazem parte dos subprojetos do PIBID participantes de nossa pesquisa. Como vimos na etapa anterior, esta categoria foi a que forneceu o maior número de textos para esta análise, por meio da qual podemos observar alguns mecanismos pragmáticos-retóricos, como: o caráter descritivo dos textos, as pressuposições e as marcas de subjetividade.

O primeiro destes mecanismos que notamos diz respeito a uma série de construções enunciativas que apontam para uma tendência descritiva, por meio do qual os sujeitos enumeram um determinado conjunto de características do PIBID e de seus respectivos membros. Em outros termos, é possível observar uma tendência argumentativa na qual se tenta esboçar um perfil de grupo, por meio de uma enumeração de características, para, posteriormente, arguir em prol de seu modo de inserção de neste grupo. Tal aspecto pode relacionar-se com os dados de nossa análise quantitativa no que diz respeito à grande porcentagem de formas no infinitivo, que correspondem a 29,97% do total de formas verbais. Neste sentido, é digno de menção a reincidência de textos que constam da construção enunciativa SER PIBIDIANO É + VERBO INFINITIVO, por meio da qual se enfatiza essencialmente a ação, conforme podemos visualizar no seguinte fragmento:

Figura 29 – Sequência enunciativa 29

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 06

Nesta sequência enunciativa, enumera-se um conjunto de características do “ser pibidiano”, introduzidas pelos verbos ser copulativos, ao qual se vinculam as formas verbais em infinitivo viver e compartilhar, por meio das quais se definem ações que descrevem o cotidiano de um BID. Também temos a introdução de uma terceira característica, introduzida pela conjunção aditiva e e o verbo sentir, igualmente conjugado no infinitivo, por meio do qual o enunciador expõe um estado de espírito, que ele coloca como sendo de consenso geral entre todos os BIDs com relação ao programa. Um dos possíveis efeitos de sentido que podemos inferir deste mecanismo descritivo seria o de uma ideia de unidade, e pertencimento a um grupo,

caracterizado por uma prescrição geral do cotidiano dos subprojetos, que seriam inerentes ao PIBID como um todo, e a todos os seus participantes.

Este tipo de construção discursiva, introduzida por SER PIBIDIANO É + INFINITIVO foi encontrada nos textos TBID05, TBID08, TBID13, TBID14, TBID17 e TBID19, e este tipo de construção também aparece em TBID15 no decorrer do texto. Acreditamos que esta presença reincidente de tal tipo de construção discursiva indica, por um lado, uma certa influência da primeira pergunta-guia de nosso instrumento de coleta de dados, que era “O que é ser pibidiano?” e, por outro, para dar um caráter mais descritivo e impessoal à argumentação. Convém salientar que esta mesma pergunta também constava no material de coleta de dados dos outros grupos analisados, mas que não engendrou essa mesma tendência enunciativa. Nossa hipótese é a de que tal fenômeno está relacionado à posição ocupada pelos locutores na dinâmica do PIBID e o que nos permite tal hipótese é o fato das diferenças entre perfis éticos resultantes da construção discursiva em cada categoria hierárquica

Porém, detectamos algumas diferentes tonalidades nestas descrições, como podemos notar no excerto de TBID05 a seguir:

Figura 30 – Sequência enunciativa 30

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 05

Se comparamos esse fragmento com a sequência enunciativa anterior de TBID06, temos um efeito de sentido de um tom mais pessoal nessa descrição, o qual podemos inferir devido ao uso da forma verbal poder conjugada em primeira pessoa do plural. Comparando com outras formas verbais analisadas anteriormente, como por exemplo Não tenho dúvidas e fortalecer, ambas pertencentes à Sequência enunciativa 13 (p. 75) notaremos aqui um grau de assertividade bem mais baixo, já que coloca os fenômenos verbais no universo das possibilidades. Em TBID13 também notamos este caráter enumerativo/descritivo, que é mais restrito à categoria dos acadêmicos que fazem parte do programa, conforme podemos visualizar no trecho a seguir:

Figura 31 – Sequência enunciativa 31

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 13

Além do uso do termo bolsista de iniciação no lugar de pibidiano, vemos o verbo copulativo seguidos de verbos no infinitivo, que caracterizam este perfil traçado pelo enunciador, e também o uso do nós inclusivo, que indica que ele se enuncia enquanto um sujeito que se insere neste grupo de acadêmicos.

Ainda sobre este tipo de construção discursiva, podemos afirmar que sua presença massiva nos textos desta categoria hierárquica sugere uma influência maior das perguntas-guia, já que tais enunciados mantêm uma relação de responsividade mais direta à questão o que é ser pibidiano. Em outros termos, se atentamos para o fato de que tais perguntas são elaboradas por um pesquisador e que esses locutores, em seu ato de elaboração textual, estavam em uma situação comunicativa na qual estariam cientes de estar escrevendo para uma futura pesquisa científica, concluímos que esse tipo de sequência enunciativa põe em evidência este outro, que estaria no papel do condutor de pesquisa. Portanto, temos aí uma possível representação da influência daquele que conduz um trabalho de campo e do próprio contexto de produção no modo como estes locutores se revelam no texto.

Outro efeito de sentido que encontramos ao longo destes textos, diz respeito à argumentação que se dá pelo uso de mecanismos de pressuposição, ou a veiculação de conteúdos implícitos que podem ser inferidos pelos enunciatários. Estes conteúdos implícitos nos fornecem algumas pistas, não somente sobre o discurso que está nas entrelinhas destes textos, como também do tipo de imagem discursiva que emana destes textos. Podemos exemplificar este fenômeno com o seguinte fragmento:

Figura 32 – Sequência enunciativa 32

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 13

Em uma análise semântica do verbo tornar (se), que indica um processo de transformação em curso, podemos inferir que este enunciado veicula os seguintes pressupostos: 1) o programa só é atraente na medida em que coloca desafios aos seus participantes, 2) um programa não é atraente se não propõe desafios a quem participa. Tais premissas os possibilitam assinalar que um dos pontos fortes do programa está no modo como ele proporciona estas “situações desafiadoras”, o que ocorre de maneira distinta da prática de um professor que não teria o suporte do subprojeto, já que a dinâmica do programa facilita a troca de ideias. Podemos afirmar tal ideia a partir do uso da conjunção adversativa mas e pelo adverbio diferentemente, por meio dos quais se introduzem argumentos que reforçam à premissa “o programa é atraente”, como a divisão de responsabilidades, o pensar em conjunto e o convívio com diversas vertentes de “inspiração para os estudantes”. Por outra parte, mesmo este tipo de construção enunciativa pode servir para matizar os argumentos de diversas maneiras. E um outro exemplo disto temos ao final de TBID15, na seguinte sequência enunciativa:

Figura 33 – Sequência enunciativa 33

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 15

Por meio deste enunciado, e do uso da forma verbal saber, em primeira pessoa do plural, temos um movimento argumentativo no no qual se menciona a precarização do ensino como algo dado como uma certeza, tanto para o locutor quanto para o interlocutor. Em outras palavras, pressupõe-se, por meio do uso do referido verbo, que o enunciatário também concorda com o conteúdo veiculado pelo enunciado. Outro exemplo de pressuposto podemos visualizar no seguinte fragmento de TBID 18:

Figura 34 – Sequência enunciativa 34

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 18

Neste exemplo, o conteúdo implícito introduzido pelo uso do verbo seguir, cujo conteúdo semântico indica a permanência de um estado, é a idéia de que, mesmo antes do programa correr riscos de extinção, este enunciador já tinha a esperança na permanência e ampliação do programa, devido a menção de característica que corroboram o fato de que o PIBID tem um impacto positivo em sua trajetória. Em contrapartida, o verbo tornar indica, a partir de seu conteúdo semântico, uma mudança de estado, proporcionada pela participação no programa. Nesse caso, esta mudança teria ocorrido de modo gradual, o que é indicado pelo adverbio mais, antes dos adjetivos humana e crítica,e também da locução adjetiva mais professora, na qual o substantivo professora cumpre a função de adjetivo.

Outros tipos de efeitos de sentido também são construídos por meio do modo como o enunciador se marca como sujeito do discurso. Ao longo de toda esta etapa metodológica de análise, notamos que o uso de tais marcas pragmático retóricas nos permite vislumbrar diversas nuances na argumentação destes sujeitos, como por exemplo, enfatizar uma determinada posição dos enunciadores, conforme o excerto de TBID18 a seguir:

Figura 35 – Sequência enunciativa 35

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 18

Neste trecho, podemos notar que a expressão tenho convicção em afirmar, introduzida por um verbo em primeira pessoa e que conta com um verbo assertivo, enuncia uma atitude do produtor do enunciado, no sentido de reforçar um argumento favorável ao supracitado programa, indicando certeza com relação ao conteúdo deste enunciado. Tais marcas de subjetividade também servem para pontuar a opinião deste locutor com relação a sua vivência no âmbito do projeto, o que causa nos interlocutores um efeito de sentido de que os argumentos

têm uma maior confiabilidade devido ao fato de ser proferidos por alguém que faz parte deste contexto, conforme podemos notar em TBID21:

Figura 36 – Sequência enunciativa 36

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 21

Tal efeito de sentido se dá pelo uso das formas verbais vivenciar e pela perífrase verbal venho estudando, de aspecto imperfectivo. Conforme vimos em nossa fundamentação teórica, esse tipo de forma aspectual suscita um efeito de ênfase em um processo que ocorre em um tempo transcorrido do passado até o instante em que se enuncia. Mas, neste caso, o uso dos verbos também serve para que o enunciador se afirme enquanto um estudioso na área, mesmo que em um âmbito acadêmico, o que reforçaria a idoneidade de seus argumentos, que neste caso, diz respeito à um distanciamento entre escola e universidade. Por outra parte, além de um ponto de vista positivo sobre programa, em TBID14, observamos que as marcas de subjetividade sinalizam um efeito de sentido de introduzir uma autocrítica, tanto no que tange à própria atuação no programa como à falta de intervenções de seu subprojeto. Tal fenômeno pode ser constatado no seguinte trecho:

Figura 37 – Sequência enunciativa 37

Fonte: Texto de Bolsista de iniciação à docência 14

A forma verbal esperar é dotada de um conteúdo semântico que localiza o fato extralinguístico descrito no âmbito das virtualidades e dos desejos, ou seja, o conteúdo descrito nesta expressão nos sugere que este locutor prevê essa “participação mais assídua no programa” em um futuro mais ou menos possível. Outro mecanismo linguístico que reforça esta ideia consiste do uso da conjunção adversativa mas, que introduz a esta situação negativa (a ausência na escola) como algo que relacionado somente ao seu curso e não ao programa como um todo e também a coloca uma espécie de empecilho para que esta “participação” possa se concretizar. A seguir, notamos que, mesmo com esta experiência pessoal insatisfatória, a conjunção ainda

veicula um ponto de vista no qual o programa é um fator de aprimoramento para os estudantes universitários, não somente no momento atual da produção do texto, como também em um momento anterior.

Ao longo de toda esta sessão, nos ocupamos de elencar e discutir alguns mecanismos pragmático retóricos, que engendram alguns efeitos de sentido, em um âmbito enunciativo- discursivo, que são provenientes das formas verbais presentes nos textos das três categorias hierárquicas de formas independente. Salientamos que tais discussões serão retomadas objetivando um esboço de perfil discursivo em cada categoria, o que será realizado a seguir. 4.3. CATEGORIA DE INTERPRETAÇÃO DE DADOS: ESBOÇO DE UM PERFIL DE ETHOS DISCURSIVO EM CADA CATEGORIA

Nesta etapa de nossas análises, iremos problematizar os resultados obtidos nas duas sessões anteriores, com o objetivo de esboçar um perfil de ethos discursivo dos enunciadores para cada um dos grupos que participaram de nossa pesquisa. Isto equivale a dizer que tal perfil está vinculado às marcas enunciativo discursivas, centradas no sistema verbal, e aos respectivos efeitos de sentido que, como pudemos visualizar na sessão 4.2, influenciam na perspectiva do locutor sobre o conteúdo de seus argumentos, que correspondem à forma como este sujeito se marca na língua.