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Os mecanismos de regulação, fiscalização e proteção às crianças e jovens e sua relação com os processos formativos

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS EMPÍRICOS

5.2 A PRODUÇÃO DOS SUJEITOS (IN)VISÍVEIS

5.2.1 Os mecanismos de regulação, fiscalização e proteção às crianças e jovens e sua relação com os processos formativos

no futebol.

Este tópico busca subsidiar a discussão sobre os dados empíricos que sugerem os impactos que a reorganização da rede de relações do negócio

futebol e a reconfiguração da Legislação Esportiva para atender a essa

reorganização causou à formação dos jovens que procuram se tornar jogadores profissionais de futebol.

Para isso, entendo que se faz necessário inverter um pouco a lógica esperada para mais um capítulo de apresentação e discussão de dados da pesquisa, pois considero que é preciso iniciar pela citação dos mecanismos que foram criados ou reajustados pela sociedade para reagir à reorganização da rede de relações do negócio futebol e à reconfiguração da legislação esportiva, levando em conta que ambas não garantem, sem controle e fiscalização externa, digamos assim, a proteção aos jovens da ganância de muitos dos novos agentes que surgiram nesse novo cenário do futebol.

Apresentarei os mecanismos utilizados para tentar proteger os menores em geral e aqueles em formação no futebol da exploração a que os gananciosos insistem em submetê-los; os principais problemas já detectados; os principais órgãos envolvidos; as principais propostas para solucionar o problema; e as formas com que essas propostas se relacionam com a realidade dos sujeitos mais vulneráveis nesse contexto.

Já no início dos anos 2000, reconhecendo os problemas aqui mencionados, foi apresentado um relatório sobre a CPI CBF/NIKE. A referida CPI havia sido convocada para apurar denúncia da empresa Pelé Sports

(intermediadora de patrocínios e de negócios de direitos de imagem televisivos na área esportiva) sobre suposta tentativa de chantagem sofrida por ela ao pleitear a compra dos direitos de transmissão de imagem do Campeonato Brasileiro de 1994. Segundo o documento, a polêmica que se seguiu à denúncia, revelou o interesse financeiro que já envolvia os bastidores do futebol brasileiro àquela época, com uma “concorrência feroz entre empresas de intermediação de negócios publicitários na área esportiva, envolvendo também emissoras de TV e grandes clubes de futebol agrupados no ‘Clube dos Treze’” (TORRES, 2001, p.11).

Esse mesmo relatório reconhecia que o futebol brasileiro havia se “convertido plenamente num produto comercial, (e) movimentava vultosos capitais” (TORRES, 2001, p.12), fruto da recente reconfiguração legislativa (Lei Zico e Lei Pelé, já citadas e comentadas neste texto), que abria espaço para o gerenciamento do futebol pelo mundo empresarial, inclusive com repercussões sobre “o sucesso de algumas parcerias como, por exemplo, Coca-Cola e Comitê Olímpico Internacional, Energil e Cruzeiro, Parmalat e Palmeiras” (TORRES, 2001, p.12). A CBF, maior entidade dirigente de nosso futebol, também se inseriu nesse novo contexto empresarial e fechou um contrato milionário com a empresa norte-americana de materiais esportivos Nike, o qual gerou a citada CPI.

Em seu Capítulo XII, o relatório apresenta um dos principais problemas da transformação do futebol num negócio de alta lucratividade: a falsificação de documentos de jovens jogadores16, visando diminuir suas idades, com registro

falso em cartórios que participavam do esquema fraudulento e a anuência dos pais e empresários, que queriam vê-los destacados em testes para as divisões de base dos clubes nacionais e obter lucro com a negociação para contratação. Esse esquema é apenas parte de um maior que envolve inclusive tráfico de atletas menores para o exterior, mas sobre essa questão falarei mais adiante, quando discutir a exploração que se impõe pela força do negócio futebol. Aqui, interessa-me apenas traçar um breve histórico dos acontecimentos que levaram a sociedade e seus representantes políticos, a propor mais

mecanismos legais de controle e fiscalização sobre esse mundo da formação no futebol.

O texto “Medidas de prevenção à saída do país de atletas menores de idade”, de autoria de Boudens (2002) é fruto de uma série de estudos intitulada “CPI NIKE/CBF: textos e contextos” e foi produzido com o objetivo de:

[...] instrumentalizar o parlamentar, membro da CPI CBF/NIKE, para a proposição de alterações na Lei nº 9.615, de 24 e março de 1998, que institui normas gerais sobre desportos, a fim de que o País disponha de uma legislação capaz de, por exemplo, evitar que a autonomia das entidades dirigentes e associações se torne um fim em si mesma, a Justiça Desportiva seja manipulada pelas entidades

de administração do desporto das quais, financeira e

administrativamente, depende, que as normas desportivas e regras de campeonato sejam ditadas pelo mercado ou, ainda, que o desporto seja gerenciado segundo critérios predominantemente político-eleitorais. (BOUDENS, 2002, p.3; 4)

Nesse texto, o autor sugere que a transferência de atletas menores de idade para clubes do exterior, está inserida num quadro mais complexo de tráfico de seres humanos, tipificando esse tráfico a partir da referência da jornalista Ana Beatriz Magno, do Correio Braziliense. O material também se vale de reportagens de outros jornais de grande circulação nacional para reforçar a tese da existência desse tipo de tráfico no meio do futebol. O texto ainda destaca as condições críticas em que se encontravam menores (cita depoimentos de alguns deles) que haviam sido levados para o exterior por empresários inescrupulosos, que os submeteram a contratos abusivos, e também discute como a nova legislação esportiva brasileira abre “brechas” legais para a ação desses agentes (BOUDENS, 2002).

Suspeito que a escolinha da associação comunitária acompanhada em minha pesquisa faça parte da base, apenas até certo ponto submersa, desse

iceberg que se tornou o mundo da formação de jovens no futebol brasileiro e

mundial, assim como seus colegas que atravessam o oceano em busca da realização do sonho idealizado na infância e acabam descobrindo a face obscura da realidade que os diversos agentes do negócio futebol lhes reservam, quando os descartam.

Em 2008 o Ministério Público do Trabalho, com o intuito de unificar as ações contra irregularidades relativas ao trabalho, institui a Resolução 76 que em seu item 7.4, da Coordinfância, trata do “Trabalho de Atleta”. A partir daí, a

Coordinfância idealizou o Projeto Nacional “ATLETAS DA COPA E DAS OLIMPÍADAS”, tendo por objetivo:

[...] enfrentar a exploração do trabalho de atletas-mirins que vêem nos esportes, em especial no futebol, um sonho de realização profissional e riqueza; e que, por isso mesmo, são presas fáceis de milhares de especuladores que vêm proliferando no país e que exploram o talento dos meninos para enriquecer, sem se preocupar em garantir os direitos mais comezinhos dos infantes. (MARQUES, 2013, p.1) No projeto está contido o Manual de Atuação, “idealizado para servir de apoio à atuação dos Procuradores do Ministério Público do Trabalho” (MARQUES, 2013, p.1). Esse manual é fruto do reconhecimento das lacunas e contradições existentes na legislação esportiva do país, que precarizam as relações de profissionalização, sobretudo no futebol. No referido manual também se argumenta que “a realidade é que a formação de atletas virou um negócio que atrai tanto pessoas ou grupos comprometidos com a infância e com o esporte quanto aventureiros comprometidos exclusivamente com o potencial de lucro que poderão obter explorando o trabalho de atletas-mirins” (MARQUES, 2013, p.1; 2) - e como esse contexto está inserido numa relação de trabalho, entende que nela surgem várias situações irregulares que demandam a atuação do MPT.

Quanto à argumentação de que há também entre as pessoas ou grupos tanto gente de bem quanto aventureiros interessados apenas no potencial de lucro sobre o trabalho de jovens atletas, constatei durante a fase da coleta de informações da pesquisa, que esse segundo grupo é maioria, notadamente circulando nos espaços onde treinavam e jogavam os menores da equipe da associação comunitária.

O Manual de Atuação do MPT destaca as principais irregularidades cometidas no contexto da formação de menores futebolistas. São elas:

A) Utilização pelos clubes de crianças e/ou adolescentes com idade inferior a 14 anos, que são submetidos à seletividade e hipercompetitividade típica do futebol praticado como esporte de rendimento;

B) Lesão ao direito à convivência familiar e comunitária. Os jovens, muitas das vezes, são alojados no clube e perdem o contato e até mesmo o laço com seus familiares, parentes e amigos;

C) Lesão ao direito à educação. Na busca da realização do difícil ou quase impossível sonho de se realizar profissionalmente pelo futebol, muitos adolescentes são afastados dos bancos escolares;

D) Excesso da carga de treinamento, incompatível com a condição peculiar do adolescente como pessoa em desenvolvimento, com lesão, às vezes irreversíveis, à saúde dos jovens;

E) Alojamentos com péssima qualidade, implicando condições de trabalho degradante;

F) Ausência de formalização do contrato do atleta não profissional em formação e não pagamento da bolsa de aprendizagem;

G)Tráfico nacional e internacional de crianças para fins de exploração de formação profissional como atletas. (MARQUES, 2013, p.2)

Percebi, ao conhecer as irregularidades elencadas pelo MPT no contexto da formação no futebol, que a maior parte delas estava presente em dois dos espaços por mim observados durante a pesquisa: a divisão de base do clube profissional e a associação comunitária - lesão, em parte, ao direito à convivência familiar e comunitária para os atletas da equipe da divisão de base, além de excessiva carga de treinamento; lesão ao direito à educação, pela flexibilização da escolaridade dos atletas da equipe da divisão de base e pelos arranjos do treinador da equipe da associação comunitária para que seus atletas pudessem participar de competições no interior do estado em período letivo; e também lesão a esse direito no caso dos menores que estavam há dois meses com o parceiro do outro técnico do campo, onde treinava a equipe da associação. Havia também problemas em relação a contratos, pois nenhum dos dois atletas da divisão de base tinha contrato de aprendizagem, conforme prevê a legislação para atletas entre quatorze e dezesseis anos. E, por fim, havia indícios de tráfico nacional de crianças e jovens para a exploração profissional como atleta, no caso das propostas feitas aos jovens da associação comunitária, como também dos doze atletas que se encontravam naquele momento em São Paulo, realizando testes em equipes do segundo e terceiro escalões do futebol.

Percebi, então, quanto ainda precisamos avançar em direção ao aprimoramento da legislação esportiva brasileira no que concerne à formação de jovens no futebol, como também quanto aos mecanismos de controle e fiscalização dos agentes desse contexto.

Entre as ações pensadas, relativas aos mecanismos de controle e proteção dos menores, o Projeto Atletas da Copa e das Olimpíadas procurou justamente,

[...] promover ações voltadas à tutela dos direitos de crianças e adolescentes, no contexto da formação profissional nos esportes, garantindo-se os direitos à formação profissional protegida, saúde, educação, trabalho digno e decente, direito ao não-trabalho antes da idade mínima, dentre outros. (MARQUES, 2013, p.3)

A partir da constatação de inúmeras irregularidades relativas aos direitos das crianças e adolescentes, esse mesmo projeto sugere a adoção de algumas medidas preventivas e fiscalizadoras, dentre elas: realização de inspeções e instauração de procedimentos investigatórios nas entidades desportivas formadoras de atletas; celebração de Termo de Compromisso de Conduta (TAC) e ajuizamento de ações civis públicas contra infratores; investigação e repressão ao tráfico nacional e internacional de crianças e jovens para a exploração no meio esportivo; e investigação e repressão a situações degradantes de trabalho nos alojamentos dos clubes formadores.

Essas medidas, obviamente, indicam que o MPT reconhece que há várias irregularidades no meio formativo do futebol, e no documento são apontadas aos procuradores do MPT as principais delas:

a) Idade mínima; b) Testes ou seleções informais; c) Contrato formal de formação desportiva; d) Alojamento e alimentação e) Assistência

médica/redução dos riscos interentes ao trabalho; f)

Responsabilidade por serviços prestados por terceiros. (MPT, 2008, p.4)

Para fiscalizar, o manual sugere que os responsáveis diretos pelas inspeções verifiquem se há no clube formador menores de quatorze anos, se existem jovens no local que não estejam na relação enviada previamente pelo clube aos órgãos fiscalizadores, se os alojamentos cumprem com o previsto na legislação esportiva, se existem empregados que garantam a segurança dos menores, se existe treinador no local, se há previsão de lugar para os atletas realizarem seus estudos e tarefas escolares, e as condições do refeitório e dos alimentos servido aos atletas. (MARQUES, 2013)

Em relação à idade mínima, o texto do manual reitera o que preconiza a Lei Pelé, ou seja, não deve haver nenhuma prática de esporte profissional antes dos quatorze anos, período em que “deve ocorrer apenas em escolinhas criadas especificamente com finalidade recreativa e educacional” (MARQUES, 2013, p.15), porém, reconhece que vários clubes insistem em manter crianças dessa faixa etária em suas equipes de divisões de base. O clube profissional

observado durante a pesquisa aqui referida adota essa prática, já que seu coordenador e o técnico da categoria sub-15 afirmaram ter categorias a partir do sub-11, isto é, antes dos onze anos completos já há atletas treinando nas divisões de base do clube. No depoimento de todos ficou claro que a rotina de treinos é diferente, apenas duas vezes na semana, mas nas observações que fiz da equipe sub-13, antes de focar na sub-15, percebi que já há uma cobrança típica de futuro atleta profissional. Os próprios jovens cobram-se bastante, pois sabem que a concorrência é muito grande naquele clube, são centenas de crianças e jovens sendo selecionadas a cada mês e milhares por ano. Na equipe da associação comunitária também era comum tal prática, já que, em algumas ocasiões ela formava equipes para participar de torneios sub- 13.

O documento que encaminhou o Manual de Atuação aos Procuradores do Trabalho de todas as regiões do país relata que em alguns casos concretos, de diligências realizadas em certos clubes, eles encontraram “atletas com 10 ou 11 anos de idade treinando desporto de rendimento, com contrato de trabalho (ou contratos equivalentes, em que o atleta cede seus direitos desportivos ao clube ou a empresário que indiretamente tem ligação com o clube)” (MARQUES, 2013, p.15).

Sobre as seleções informais, aquele período em que o candidato à atleta da base está em avaliação, o Manual reconhece os problemas, sobretudo os relativos ao comprometimento da educação desses jovens, no caso de o período de testes ser muito extenso, principalmente para os atletas não residentes na cidade onde o clube é sediado, e ainda afirma que essa prática tão comum fere a legislação esportiva (a Lei Pelé). Por fim, o Manual propõe alternativas para esse tipo de seleção. Vejamos quais são, em relação ao tempo:

1.1. Uma semana, caso o adolescente resida em localidade que não permita o deslocamento diário ao clube e, por conseguinte a frequência à escola.

1.2. Um mês, caso o adolescente resida em localidade que não permita o deslocamento diário ao clube, mas o período de teste/seleção ocorra durante as férias escolares.

1.3. Um mês, caso o adolescente possa manter sua residência habitual e prosseguir frequentando a escola habitual durante o período de seleção. (MARQUES, 2013, p.18)

Preocupado com o descarte dos atletas em testes, o Manual de Atuação propõe os seguintes compromissos:

1 Se aprovado no teste, o clube deverá proceder à celebração de contrato formal de aprendizagem, sem vínculo empregatício, na forma do art. 29, § 4º, da Lei Pelé.

1.1. A duração do contrato deverá ser estabelecida formalmente pelas partes, observado que não poderá ensejar prejuízo letivo para o adolescente, motivo pelo qual não poderá nem ser interrompido por iniciativa unilateral do clube (mesmo porque é um contrato por prazo determinado), nem ter expiração prevista para ocorrer após iniciado o semestre letivo.

1.2. Em caso de ruptura contratual antecipada, por iniciativa unilateral do clube, o adolescente deverá ser indenizado com a parcela correspondente à expressão pecuniária atribuída na especificação dos itens de gasto para fins de cálculo da indenização com a formação desportiva previsto no art. 29, § 6º, IV da Lei Pelé, pelo período de tempo a que teria direito o atleta até o término do referido contrato (art. 28, § 3º). (MARQUES, 2013, p.20)

Os clubes não cumprem a maior parte do proposto acima - sequer quase nenhum celebra contrato de aprendizagem - e mesmo que viessem a cumprir, como já visto e conforme depoimentos dos sujeitos da pesquisa, apenas um mínimo de atletas seria aprovado nos testes, portanto, o descarte já começa na seleção inicial. Como já dito, no caso do clube profissional observado, o próprio coordenador revelou que eles realizam uns 20.000 testes por ano. Como as equipes da divisão de base juntas somam 200 atletas, são 19.800 descartados por ano só nesse clube. Considerando que é um clube de porte médio, pode-se imaginar o percentual de dispensados em clubes maiores, com maior atração por suas vagas nas equipes de divisão de base.

Refleti também sobre o posterior descarte dos aprovados na seleção inicial, que acabam dispensados ao longo do tempo de formação. Num momento de seu depoimento, o coordenador da base do clube profissional observado foi interrompido por um funcionário da instituição que propunha apresentar um jovem para teste. O coordenador perguntou se o funcionário achava que o jovem em questão era mais habilidoso do que outros da mesma posição que já estavam na divisão de base do clube e ouvindo “sim” como resposta, autorizou a apresentação. Daí se depreende que, confirmada em testes posteriores a vantagem técnica daquele candidato sobre os jogadores aprovados anteriormente, o atleta mais velho no clube provavelmente seria

dispensado. O treinador da categoria sub-15 também confirmou que isso acontecia ali com alguma frequência.

O Manual de Atuação do MPT (MARQUES, 2013) alerta para outro problema já discutido aqui, o comprometimento da educação e da saúde dos jovens em formação no futebol. Pensando nisso, propõe que haja maior controle sobre o tipo de trabalho previsto na rotina do treinamento e, para isso, sugere que o programa de formação seja registrado no Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente (CMDCA), já que há o entendimento de que os centros de formação do futebol também “constituem uma forma específica e especial de entidade de atendimento que presta apoio sócio- educativo em meio aberto, conforme previsto no art. 90, II do ECA” (MARQUES, 2013) p.25), portanto, devendo inscrever seus programas de atendimento nos referidos Conselhos Municipais. Essa obrigação está prevista no Art.90 do ECA.

Os clubes resistem muito à sugestão do parágrafo acima, sobretudo, como afirma o texto do Manual, para fugir do controle e prestação de contas sobre o trabalho realizado, por isso o MPT elaborou notificações recomendatórias aos Conselhos Municipais de Direitos da Criança e do Adolescente, sugerindo que no prazo de sessenta dias esses órgãos de proteção ao menor tomem as seguintes providências:

1) Regulamente o registro de entidades formadoras de atletas que tenham adolescentes em seus quadros como entidades de atendimento não governamentais, bem como, a inscrição de seus programas e ou projetos que tenham por objetivo a profissionalização de adolescentes.

2) Estabeleça diretrizes para o deferimento da inscrição dos programas das entidades formadoras de atletas que tenham adolescentes em seus quadros, sem prejuízo dos critérios

estabelecidos pelo ECA e das orientações técnicas do

CONANDA/CNAS, quando a entidade mantiver alojamento.

3) Após o prazo que for assinalado para as entidades requererem seu registro e inscrição de seus programas para fiscalização prevista no art. 95 do ECA, informe ao Ministério Público do Trabalho as entidades formadoras de atletas adolescentes que tiveram deferidas seu registro e/ou inscrição de programas, bem como, os casos de indeferimento de requerimento de registro ou inscrição de programa e as que estão funcionando sem terem requerido tais providências. (MARQUES, 2013, p.28)

As ações sugeridas, obviamente exercem maior controle e fiscalização sobre o trabalho que é realizado na formação dos jovens no futebol. Mas,

diante da recusa da maioria dos clubes em cumprir tais recomendações e da dificuldade dos órgãos de proteção ao jovem em sensibilizá-los nesse sentido, visto que a legislação não prevê tais procedimentos, fica a certeza de que é preciso um esforço redobrado na tentativa de aprimorar a legislação, pois até o momento só temos visto o cumprimento, pelos clubes, de obrigações legais, e mesmo assim, com muitas tentativas de encontrar caminhos interpretativos que lhes favoreçam.

Fico pensando, por exemplo, como a CBF poderia ter aproveitado a oportunidade do lançamento do Certificado de Clube Formador, já analisado neste texto, para o qual estabeleceu vários critérios que vão ao encontro dos anseios protetivos aos menores, em relação à educação e saúde, para propor