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Medição do coeficiente de ganho de Brillouin

Fibra óptica

2.5. Propriedades não lineares

2.5.1. Dispersão inelástica estimulada

2.5.1.1. Dispersão de Brillouin estimulada

2.5.1.1.1 Medição do coeficiente de ganho de Brillouin

Na figura 2.16 esquematiza-se o sistema utilizado para estudar a dispersão estimulada de Brillouin [91]. O sinal proveniente de um laser DFB, a emitir em CW num comprimento de onda de 1550 nm e com uma largura espectral de 20 MHZ, é amplificado no amplificador óptico e injectado num troço de fibra com 20 km, através do circulador óptico. O medidor de potência óptica (MO1) permite medir a potência do sinal injectado na fibra, através de uma amostra retirada no acoplador óptico colocado à entrada do circulador. Dois outros medidores de potência óptica (MO2 e MO3) colocados respectivamente à saída da fibra e do circulador permitem medir a potência óptica à saída da fibra do sinal transmitido e do sinal reflectido de Stokes.

Figura 2.16 – Esquema do sistema utilizado para o estudo da dispersão de Brillouin estimulada.

Foi analisada a potência óptica do sinal à saída da fibra e do sinal reflectido de Stokes, em função da potência óptica do sinal de bombeamento. Estes resultados encontram-se na figura 2.17. O sinal à saída da fibra varia linearmente com o sinal de entrada até que este atinge um limiar de potência, a partir do qual o sinal propagado se mantém aproximadamente constante. O valor da potência de bombeamento onde ocorre essa saturação é a potência de limiar do processo de Brillouin e tem neste caso um valor de 8.80 mW. 0.01 0.1 1 10 100 1E-5 1E-4 1E-3 0.01 0.1 1 10 100 Limiar 54.92 % -23.73 dB - 4.12 dB Transmitido Reflectido Potênc ia ópt ic a de s a íd a ( m W )

Potência óptica de entrada (mW)

Figura 2.17 – Variação da potência óptica do sinal transmitido e do sinal reflectido em função da potência óptica do sinal de entrada.

Para potências de bombeamento inferiores à potência de limiar, a constante de proporcionalidade entre o sinal transmitido e o sinal de entrada, em unidades logarítmicas,

é de –4.12 dB, o que corresponde à atenuação do troço de 20 km de fibra para o comprimento de onda do sinal de entrada (1550 nm). Para valores da potência óptica de bombeamento superior ao valor de limiar, existe uma transferência da energia excedente para o sinal de Stokes, mantendo-se a potência óptica do sinal transmitido praticamente constante. A potência óptica do sinal de Stokes reflectido varia, também, linearmente com a potência óptica do sinal de bombeamento, com uma constante de proporcionalidade em unidades logarítmicas de –23.73 dB para valores inferiores ao valor de limiar. Esta variação é devida à detecção do sinal proveniente da dispersão elástica de Rayleigh na fibra e de reflexões de Fresnel nos conectores ópticos do sinal de entrada. Quando o valor de limiar é atingido, a energia do sinal de entrada é transferida para o sinal de Stokes, cuja potência óptica aumenta linearmente com a potência óptica o sinal de entrada. Porém, desta vez, aumenta linearmente com uma constante de proporcionalidade de 54.92 %, correspondente à eficiência do processo de Brillouin. De referir, que foram utilizadas na figura 2.17 unidades logarítmicas e valores percentuais para descreverem a razão entre valores de potência óptica. Esta utilização foi feita para manter a consistência com a bibliografia publicada.

A substituição do medidor de potência óptica utilizado para medir o sinal reflectido (MO3) por um fotodíodo de elevada largura de banda (17 GHz), ligado a um analisador de espectros eléctricos, permite a obtenção do espectro da figura 2.18, medido com uma resolução de 300 kHz e para uma potência de bombeamento de 19.07 mW. Este espectro resulta do batimento do sinal de Stokes com uma frequência óptica de ωB – ωS e de uma

contribuição devido à dispersão de Rayleigh do sinal de bombeamento com frequência ωB,

no domínio eléctrico obtém-se a soma de um sinal CW com uma contribuição à frequência

ωB.

O desvio de Brillouin para a Sílica pura, calculado a partir da expressão (2.109) e considerando valores típicos de nn = 1.445 e Va = 5923 m/s, é de 11.045 GHz. Neste caso o

valor do desvio de Brillouin medido foi de 10.8592 GHz. Na fibra óptica, devido à dopagem com GeO2 no núcleo, o valor do desvio de Brillouin decresce. Nesta situação, o

valor medido corresponde ao desvio numa fibra com uma concentração no núcleo de 4 % de GeO2 [92].

10.2 10.4 10.6 10.8 11.0 11.2 11.4 11.6 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 Potên c ia (dBm) Frequência (GHz)

Figura 2.18 – Desvio de Brillouin medido com uma resolução de 300 kHz e uma potência de bombeamento de 19.07 mW.

Considerando um valor para a atenuação de 0.06 x 10-3 m-1 obtém-se, a partir da expressão (2.116), um valor de 11647 m para o comprimento eficaz da interacção, o que resulta num valor de 0.320 m-1 W-1 para o quociente

eff B

A g

obtido pela expressão (2.115).

Se for considerado o valor de área eficaz anteriormente calculado (91.61 µm2), tem-se para o ganho de Brillouin o valor de 2.93 × 10-11 m W-1.

Foram resolvidas numericamente as equações diferenciais acopladas (2.113 e 2.114) que nos permitem obter os valores exactos dos sinais de bombeamento e de Stokes ao longo da propagação. Analisou-se, também, a evolução dos sinais a partir das expressões (2.117 e 2.118) que, de uma forma aproximada, nos indicam os valores dos sinais. Foram considerados os seguintes dados experimentais nas simulações: 19.070 mW para a potência de bombeamento, 3.298 mW para a potência de saída e 7.912 mW para a potência do sinal reflectido de Stokes. Os resultados da simulação para a evolução dos sinais de bombeamento e de Stokes ao longo do comprimento da fibra podem ser respectivamente observados nas figuras 2.19 a) e b).

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 1E-18 1E-13 1E-8 1E-3 100 b) a) P o tênc ia óp ti c a ( m W ) Distância (km)

Sinal Stokes exacto Sinal Stokes aproximado 0 5 10 15 20 25

Sinal bombeamento exacto Sinal bombeamento aproximado

Figura 2.19 – a) Evolução do sinal transmitido e b) do sinal reflectido ao longo da fibra, considerando dois modelos diferentes.

Observa-se que a transferência de energia para o sinal de Stokes ocorre predominantemente nos 1000 metros iniciais da fibra. Verifica-se, também, que o modelo aproximado permite obter com exactidão a potência do sinal reflectido no início da fibra mas não descreve perfeitamente a evolução do sinal de bombeamento devido à não inclusão do efeito da atenuação. O modelo exacto descreve com precisão os valores de potência dos sinais de bombeamento e de Stokes medidos experimentalmente.

Na figura 2.20 comparam-se os resultados experimentais com os resultados simulados, utilizando o modelo exacto. Observa-se a evolução da potência do sinal à saída da fibra em função do sinal de bombeamento, verificando-se o efeito da saturação e da transferência de energia para o sinal de Stokes.

0.01 0.1 1 10 0.01 0.1 1 Po tê n c ia ó p tic a d e s a íd a (m W )

Potência óptica de entrada (mW) Dados experimentais Resultados simulados

Figura 2.20 – Variação da potência óptica do sinal transmitido em função da potência óptica de entrada: resultados experimentais e simulados. A linha é um guia visual.

Na figura 2.21 compara-se o efeito da variação da largura espectral do sinal de bombeamento na potência óptica de limiar do processo de Brillouin. Quando é utilizada uma fonte de bombeamento CW com uma largura espectral inferior a 10 MHz, a potência de limiar ocorre aos 7.5 mW. Se esse laser for modulado directamente a 3.0 GHz, de tal forma que a sua largura espectral seja de 14.9 GHz, regista-se, então, que a potência de limiar sobe para valores não mensuráveis. Segundo a expressão (2.115) este valor será aproximadamente 3 ordens de grandeza superior ao da situação anterior.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 laser CW, ∆λ < 10 Mhz laser modulado, ∆λ = 14.9 Ghz Po tê nci a óp ti ca tr a n sm it id a ( m W )

Potência óptica de entrada (mW)

Na prática a SBS não coloca constrangimentos num sistema de comunicações ópticas a elevados ritmos de transmissão, visto que o sinal é modulado com a informação a transmitir, o que resulta no incremento da sua largura espectral que desloca a potência de limiar do processo de Brillouin muito para além dos valores de potência óptica utilizados. Porém, em situações onde a SBS possa representar um constrangimento ao desempenho do sistemas, algumas estratégias podem ser utilizadas para reduzir a SBS, tal como a intercalação de isoladores ópticos nos troços de fibra, o encadeamento de troços de fibra com desvios de Brillouin diferentes, o que origina um aumento da potência de limiar do conjunto ou, então, a dopagem da fibra [87,93].

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