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Capítulo 3 O factor risco na contratação de PPP

3.3 Medição e mitigação do risco

Na quantificação do risco deve-se ter em consideração, genericamente, duas variáveis, por um lado, a probabilidade de ocorrência de determinado risco e, por outro, a magnitude do impacto esperado do risco, obtendo uma indicação da importância do risco para determinado projecto, tal como indicado por Heemstra e Kusters (1996).

De forma simplista, pode-se quantificar o valor esperado do risco utilizando a fórmula EV = (P)(I), considerando P como a probabilidade de ocorrência do risco e I como sendo (i) a magnitude esperada do mesmo, de acordo com o definido por Carter, Hancock, Morin, e Robins (1994), ou (ii) a estimativa de risco média, tal como defendido por Tweeds (1996). A utilidade associada à análise do valor esperado do risco revela-se essencial para a análise e a escolha de soluções alternativas de investimento, devendo optar-se pelo projecto com menor valor esperado do risco.

A diversidade de técnicas para a quantificação do risco, quer qualitativas e quer quantitativas, condiciona a abordagem de todas as técnicas disponíveis, não sendo esse o propósito desta análise. Por conseguinte analisam-se, sinteticamente, as técnicas consideradas mais adequadas e úteis para o desenvolvimento do capítulo seguinte.

3.3.1 Técnicas qualitativas

A subjectividade associada ao conceito de risco, assim como a dificuldade para a sua medição conduziu à defesa por autores como Raftery (1994) das técnicas qualitativas de análise do risco.

As técnicas qualitativas de análise de risco assentam, em grande medida, na experiência, no conhecimento e no feeling dos analistas de risco, tal como defendido por Boothroyd e Emmett (1996). Foi desenvolvida, por Simons (1999) uma medida do nível de exposição ao risco, designada de risk exposure calculator (REC), a qual deve ser utilizada pelos gestores para análise da exposição da sua empresa ao risco. A utilização deste tipo de metodologias é particularmente aconselhável quando existe escassez de informação histórica, tal como referido por Tummala e Burchett (1999). Existem outras técnicas identificadas por Simon, Hillson e Newland (1997), tais como a utilização de brainstorming e as técnicas delphi.

3.3.2 Técnicas quantitativas

A diversidade de técnicas ou metodologias quantitativas de análise de risco limita, fortemente, uma análise aprofundada de cada uma delas, obrigando a uma síntese daquelas que se consideram mais relevantes.

O expected monetary value (EMV) é um dos indicadores mais utilizados, sendo construído com base no produto entre o valor monetário do impacto do risco e a sua probabilidade de ocorrência. A determinação do EMV global de um projecto é efectuada através do somatório do EMV de todas as componentes significativas do projecto, resultando no cálculo do EMV global do projecto, permitindo, consequentemente, a análise comparativa entre diferentes projectos. Outro indicador regularmente adoptado é o expected net present

value (NPV), similar ao EMV, com excepção do facto de os valores serem actualizados

uma data de referência, aplicando uma taxa de desconto, tal como indicado por Jovanovic (1999).

A análise de probabilidades é outra das técnicas frequentemente adoptadas para a análise do risco de projecto. A técnica baseia-se, sinteticamente, na utilização de diversas variáveis

input, tais como a média e o desvio padrão, permitindo o cálculo da probabilidade de

ocorrência do risco, tal como defendido por Paek, Lee e Ock (1993), Reutlinger (1970) e Tweeds (1996).

A Teoria da Utilidade é outra das técnicas de análise do risco habitualmente utilizadas, tendo como base, tal como a sua designação indica, a determinação da utilidade, em alternativa ao valor monetário associado. Esta técnica é defendida por Birnie e Yates (1991) e Mckim (1991). A adopção desta metodologia tem em consideração a predisposição para o risco dos decisores, ou seja, se este é avesso ao risco, neutro ao risco ou risk-seeking. Outra técnica utilizada é o programme evaluation review technique (PERT), tendo como objecto a análise da duração de determinados processos de um projecto, assim como o

critical path method (CPM). A utilização destas técnicas permite o conhecimento dos

processos, das componentes ou das especificidades que contribuem de forma mais significativa para o desenvolvimento de um projecto, permitindo que a análise do risco seja focalizada nas componentes basilares do mesmo.

A MERA, ou seja, multiple estimating using risk analysis, é outra das metodologias utilizadas para a análise e quantificação do risco, desenvolvida por Tweeds (1996). Esta técnica baseia-se no desenvolvimento de diferentes cenários de risco associados ao projecto: (i) risk-free estimate, determinando o custo de um projecto sem a consideração de qualquer risco, (ii) average risk estimate, calculando o custo do projecto, tendo em consideração a probabilidade de 50% de sucesso do projecto e (iii) maximum likely risk

estimate, determinando-se o risco do projecto, considerando-se uma possibilidade de

A análise sensitiva é outra das metodologias recorrentemente adoptadas, tendo como objectivo a análise do impacto da alteração de determinadas variáveis input sobre o output, tal como referido por Woodward (1995) e Burchett, Rao Tummala e Leung (1999). Conclui-se que uma variável é sensível quando uma pequena alteração na variável input provoca uma significativa alteração do output.

Por último, surge a Teoria dos Jogos, tendo como base a participação de diferentes agentes, com diferentes opções estratégias, optando pela estratégia que optimize os seus resultados, através da maximização da utilidade resultante da solução obtida pelo jogo.

Após o processo de identificação do risco, a gestão do mesmo aconselha à sua mitigação, ou seja, à adopção de medidas que minimizem a probabilidade da sua ocorrência, o que se revela uma tarefa de significativa relevância, tal como afirmado por diversos autores, como por exemplo, Zhi (1995).

As estratégias de mitigação de risco poderão ser agrupadas em quatro grandes tipos, de acordo com o definido por Zhi (1995) e Baker, Ponniah e Smith (1999). Em primeiro lugar, surge a estratégia de redução de risco, assente, em grande medida, no desenvolvimento de esforços de obtenção de conhecimento sobre os comportamentos internos ao projecto, que poderão potenciar a ocorrência de alguns riscos, podendo o redesenhamento de soluções e a educação dos participantes no projecto, entre outras medidas, reduzir a probabilidade de materialização de determinados riscos.

Por outro lado, pode ser tomada uma estratégia de eliminação do risco, implicando, necessariamente, a adopção de medidas mais drásticas, tais como o desenvolvimento de projectos mais arriscados, uma vez que, tal como referido anteriormente, a eliminação total do risco é uma tarefa impossível.

A transferência de risco é outra estratégia a considerar na mitigação do risco, tendo como característica principal a transferência de responsabilidades de determinadas componentes

do projecto para o parceiro mais capaz de o gerir e minimizar. A transferência de riscos poderá ser obtida através do estabelecimento de contratos ou de condições que indiquem claramente a partilha de responsabilidades num determinado projecto e, consequentemente, a partilha do risco associado.

Por último, a entidade poderá optar pela internalização do risco, nos casos em que a sua transferência ou eliminação se revele inviável.