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Mediação, informação, competência em informação e criticidade Oswaldo Francisco de Almeida Júnior

Camila Araújo dos Santos

Introdução

A mediação da informação e a competência em informação, ambas, são recentes e tiveram uma rápida aceitação, quando comparada com outras propostas inovadoras.

Seus conceitos também foram construídos de maneira gradual, observando as contribuições de vários autores. As visões diferenciadas, em qualquer ramo do conhecimento humano, existem e são salutares, pois apenas a partir delas podem existir o debate e as reflexões. O desenvolvimento de uma área não pode prescindir das discussões, dos debates e dos embates entre várias concepções. Há, claro, formas diversas de se entender tanto a mediação da informação como a competên- cia em informação. No entanto, trabalhamos aqui com abordagens que representam o nosso pensar sobre esses segmentos. Advogamos que os conceitos aqui apresentados e seguidos, melhor interpre- tam e explicam os dois focos de interesse deste trabalho.

Muito poderia ser dito sobre cada um deles, mas nos limitamos a destacar alguns aspectos, aqueles que entendemos relevantes, que deveriam ser abordados e que atendem ao espaço restrito determinado por produções científicas como esta.

As estruturas e relações sociais vêm, ao longo dos anos, sendo modificadas vertiginosamen- te por três processos histórico-culturais interdependentes:

Revolução tecnológica: as tecnologias de informação e comunicação (TIC) transforma- ram o processo de comunicação e mudaram as formas de produção, consumo, gestão, informação e pensamento, fazendo com que as atividades estrategicamente dominantes estejam organizadas em redes globais de decisão e intercâmbio;

Economia globalizada: retrata a estruturação dos processos econômicos universalmente

e é denominada como sendo a condição social que permite a articulação com o tempo real, enquanto uma unidade em um espaço mundial, tanto para o capital como para a gestão, a tecnologia, a informação e os mercados envolvidos;

Economia informacional: a produtividade e a competitividade encontram-se fundamen- tadas, gradualmente, na geração de novos conhecimentos e no acesso e uso da informa- ção adequada (CASTELLS, 2000).

A leitura pressupõe uma coautoria, uma reescrita do que é lido, independentemente de sua forma, ou seja, a escrita, a imagem em movimento, a imagem fixa e o som. Além disso, a leitura se dá tanto no plano físico como no virtual. E, como veremos, a leitura é a única forma de nos apro- priarmos da informação.

Como dito acima, somos consumidores de informação e, ao mesmo tempo, produtores de informação. E isso só pode se dar quando nos apropriamos da informação.

Mediação da Informação

A ideia de mediação da informação, apesar de utilizada em alguns momentos durante o século XX, na Biblioteconomia e na Ciência da Informação, sempre o foi a partir de uma concepção genérica, sem aprofundamento e, principalmente, sem um conceito. No Brasil, a primeira vez em que o termo foi empregado no título de um artigo (Novas formas de mediação da informação), ocorreu no ano de 1995, na revista Transinformação, e foi escrito por Leila Mercadante. Nesse artigo, a autora:

[...] estabeleceu uma reflexão sobre as necessidades de se rever o conceito de negocia- ção da informação, enfatizando o compartilhamento de recursos devido a chegada da informática no âmbito das bibliotecas e na sociedade. Ainda que a autora tenha sido pioneira no uso do termo “mediação da informação” no título da publicação, não há uma conceituação em relação a ele no corpo do texto. No entanto, enfatiza o serviço de referência (propulsor para a conceituação de mediação anos depois) como conceito e não como local físico. (SANTOS NETO, 2019, p. 182)

Assim, começando em 1995, apenas para termos um marco, e lembrando que o termo mediação é antigo e utilizado de maneira específica em várias áreas do conhecimento humano, a mediação da informação pode ser considerada como uma concepção recente. Menos de 25 anos nem sempre é um tempo adequado para que uma ideia possa ser divulgada e aceita por um número de pesquisadores de tal forma que, além da contribuição para a área, também consiga interferir nas concepções mais gerais de um segmento do conhecimento.

Apenas como constatação, o mesmo ocorreu com a competência em informação que, apesar de recente, já possui uma ampla aceitação e é empregada por muitos pesquisadores da área da Ciência da Informação.

A mediação da informação, paulatinamente, foi sendo aceita. Hoje, nos cursos de pós- graduação o termo está presente em várias áreas de concentração e linhas de pesquisa, eviden- ciando como o termo e sua concepção foram aceitos na academia da área, como nos informa Santos Neto (2019, p.232-244).

O conceito surge quando se percebe que a mediação da informação passa a ser comen- tada e utilizada de forma dissociada de uma base teórica. Além disso, nasce (lembrando que todo nascimento não pode prescindir de uma gestação) vinculado à aspectos concretos do fazer bibliotecário, em especial o Serviço de Referência e Informação. Tal Serviço possuía uma lacu- na teórica e a ausência de bases conceituais impedia uma discussão, uma reflexão mais ampla

e, ainda mais, trazia problemas para as pesquisas da área. As ações desenvolvidas nos equipa- mentos informacionais estavam embasadas tão somente em algumas metodologias e atividades apresentadas em alguns textos veiculados, em especial, nas revistas especializadas que tinham interesse na temática.

A menção ao Serviço de Referência e Informação no artigo de Leila Mercadante, já trazia à tona e demonstrava a consciência da não existência de teorias que sustentassem as teo- rias e os fazeres nesse segmento das bibliotecas. Os autores entendidos como teóricos da área, apresentavam propostas muito mais metodológicas, como já mencionado, do que, propriamen- te, teórico-conceituais. Tal lacuna exigia um novo olhar e novas formas de se estudar o tema.

A mediação da informação é aceita como uma possibilidade de trazer algumas concep- ções teóricas para o Serviço de Referência e Informação, embora sua abrangência ultrapassa os limites desse espaço, apropriando-se de todos os setores, departamentos e segmentos dos trabalhos desenvolvidos nas bibliotecas.

Na ideia de mediação da informação, são imprescindíveis: a existência do “terceiro” e o conceito de informação.

Inicialmente, o terceiro não é apenas aquele ou o que está entre um sujeito e outro, mas deve ser entendido como aquele que se faz presente, que atua de maneira a marcar um processo informacional. Ele interfere na relação entre os dois sujeitos, implicando em alterações nos pro- dutos – no caso específico, a informação – que estão em troca. Como entendemos a mediação da informação como um processo, cada sujeito dele, incluindo o terceiro, é também um coautor da informação. Ele deve ser entendido como mais um elemento a trazer e determinar significa- dos para a informação.

A informação, quando produzida, consciente ou não, já carrega desde seu nascedouro, significados, uma vez que ela não é elaborada apenas a partir da vontade, desejos, necessidades, entendimentos do produtor. Este, exterioriza partes – pequenas – de seu conhecimento que, por sua vez, foi construído por ele, mas, sempre em uma relação. Não há conhecimento construído isoladamente. Ele é construído individualmente, mas, necessariamente, a partir de uma relação. Se construído a partir de uma relação, ele recebe interferências várias, significados vários e o resultado é um entrelaçamento de significados. Exteriorizada, a parcela de conhecimento já carrega consigo uma gama de significados oriundos da relação com o externo e dos significados que o sujeito acrescenta. A partir do momento em que é disseminado o conhecimento faz-se informação e esta, em um longo processo, vai recebendo significados em cada momento de seu ciclo de vida. Pensando dessa forma, a informação está sempre por se construir, ela é sempre inacabada, embora seja plena em cada um dos momentos pelos quais passa até o sujeito que dela se apropria. No entanto, o sujeito não é único, não há um trajeto linear entre o produtor e sujeito informacional. A cada situação pela qual a informação passa ela recebe significados

sujeitos do ciclo de vida daquela informação. Ele interfere na informação, dá novos significados a ela e deve ser entendido como um “terceiro”. As formas de recuperação, o ambiente, o tipo de documento em que a informação está inserida etc., tudo isso dá novos significados, interfere na apropriação dela por um sujeito e, assim, também são terceiros.

Após apropriada, a informação não se desfaz, embora se mescle com o conhecimento já existente no sujeito. Ela alterou, pouco ou muito o conhecimento do sujeito e continuará a fazê-lo, ou seja, ela não morre ou desaparece, mas se mantém latente, interferindo, apesar de não mais ser identificada de maneira isolada.

Cada significado recebido pela informação, incorporado por ela, significa a interferên- cia de um terceiro.

É preciso ressaltar que a trajetória da informação não possui uma única trilha, um único caminho. No seu ciclo de vida – lembrando que a morte não faz parte dessa “biografia” –, a informação tem nós, inúmeras bifurcações. Depois de produzida, ela vai se desdobrando. Cada sujeito que dela se apropria, a recebe a partir de um único caminho, mas diferente de todos os outros caminhos pelos quais a informação circula. Talvez o termo circular não seja apropriado, como também não o é o termo linear. Quando estudamos informação, a entende- mos, a partir de sua produção, como sendo apenas uma. De fato, ela nunca foi apenas uma, nem mesmo quando oriunda do conhecimento de alguém. Assim, após disseminada, ela vai seguindo por uma quase infinidade de caminhos, embora, quando apropriada, será sempre exclusiva. Todos os significados recebidos e incorporados – diferentes em cada trajeto, em cada “vida” – darão a ela a propriedade de ser única. De igual modo, não há uma trilha cor- reta, natural.

Pensando dessa forma, existem vários “terceiros” e essa quantidade é variável e não quantificável. Importante sempre lembrar que os terceiros interferem e possibilitam o acúmu- lo de significados à informação.

Discutir a informação é uma necessidade presente em todas as áreas do conhecimento humano. No âmbito da Arquivologia, da Biblioteconomia, da Ciência da Informação e da Museologia, essa necessidade se exacerba, pois ela está presente no próprio objeto delas.

O termo informação, como amplamente discutido, é polissêmico, ou seja, possui muitos significados. Nos cursos de graduação em Biblioteconomia – onde possuímos nossa maior experiência como docente na formação de profissionais – invariavelmente os alunos perguntam qual o significado correto de informação, ou, em outros momentos, eles se quei- xam que os professores não se entendem, uma vez que cada um deles apresenta um significa- do para essa palavra. Sempre que ouvimos isso, insistimos na polissemia do termo e tentamos relacionar esses vários significados com entendimentos mais amplos. Por exemplo, quem trabalha com um conceito matemático da informação, compreenderá essa palavra de forma diferente de quem lida e assume um conceito mais social da informação.

Conceituamos informação em acordo com o nosso pensamento mais geral da área que estou atuando ou pesquisando.

O conceito correto é aquele que atende e responde ao meu pensamento mais geral. As- sim, cada professor de um curso de graduação em Biblioteconomia, por exemplo, conceituará informação de forma a responder não só às suas concepções gerais da área, como também as que dizem respeito ao segmento com o qual ele trabalha. Os conceitos podem ser idênticos entre alguns professores, mas, em geral, terão diferenças, às vezes até opostas.

Alguns definem informação pela negação, “informação não é...”. Em boa parte das vezes, essa negação fica implícita e nosso entendimento da definição fica prejudicado. Outros apresentam o conceito de informação de maneira mais objetiva ou de maneira mais subjetiva. Creio que a informação deve ser entendida de maneira subjetiva e objetiva ao mesmo tempo. A objetividade da informação, no entanto, não pode ser entendida apenas como algo palpável, tangível, concreto, material. Do mesmo modo, a objetividade da informação não pode ser entendida apenas no momento em que ela é registrada em um determinado suporte ou, para empregar outros termos, quando ela se mescla com um documento para ser apropriada.

A apropriação da informação dá-se na relação propiciada pela leitura de um determi- nado documento (escrito, imagético ou sonoro) realizada por um sujeito. Apenas nos apro- priamos da informação pela leitura. Esse é um dado importante, pois a leitura pressupõe o leitor como coautor. O leitor interfere no conteúdo da escrita quando lê.

O sujeito que se apropria da informação dá sentido para o que está lendo, recria, re- constrói, transforma, adapta, traduz. Seguindo Almeida Júnior (2019), a informação:

[...] é uma construção, elaborada em um processo, constituída de ações, elementos, interferências, situações, interesses, embates e memórias, gerada pela explicitação de segmentos de conhecimentos e que, em um continuum, durante seu ciclo de vida, recebe significados e tende a criar conflitos nos conhecimentos e certezas suposta- mente constituídos.

O autor afirma que esse é um esboço de um conceito de informação, estruturado a partir dos seus entendimentos sobre a Arquivologia, a Biblioteconomia, a Ciência da Infor- mação e a Museologia.

Partindo do que foi visto até agora, podemos voltar nossa atenção para aspectos espe- cíficos da mediação da informação. Um conceito para ela, dentro da Ciência da Informação, foi apresentado por Almeida Júnior em 2006, no evento Edibcic (atual EDICIC). No entanto, tal conceito apenas foi mais conhecido quando apresentado no ENANCIB de 2008 e, poste- riormente, publicado na Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, de 2009 (ALMEIDA JÚNIOR, 2009). Em 2015 esse conceito foi atualizado e publicado como capítulo de livro (ALMEIDA JÚNIOR, 2015, p.25):

Toda ação de interferência – realizada em um processo, por um profissional da infor- mação e na ambiência de equipamentos informacionais –, direta ou indireta; conscien-

No atual conceito, 5 itens merecem ser destacados: ação de interferência, processo, apropriação, satisfação parcial e momentânea, e conflito.

Alguns deles já foram por nós desenvolvidos anteriormente, não de maneira mais aprofundada, como gostaríamos, dado que o espaço para isso é reduzido, mas atendendo a nossos interesses de momento. A ideia de interferência, a de processo e a de apropriação estão entre o rol das já discutidas. Cabe ampliar um pouco os itens: “satisfação parcial e momentânea” e “conflito”.

Nenhuma necessidade, nenhum interesse e nenhum desejo podem ser satisfeitos to- talmente. Ao contrário, a satisfação deles é sempre parcial e momentânea. Os interesses não são puros nem naturais. Eles são construídos da relação com um momento histórico. Em boa parte das vezes, são impostos, determinados por razões econômicas e de poder. Em um siste- ma capitalista, no qual predomina a individualidade e o consumo, as necessidades, interesses e desejos das pessoas acompanham essa ideia que foi exacerbada com a globalização. Toda necessidade pretensamente satisfeita gera uma nova necessidade, mas estas acompanhando o pensar capitalista, representam o atendimento do consumo de um produto, do consumo de uma atividade artística ou de entretenimento etc. “A aceleração tecnológica e econômica é tal que até mesmo o atual é ultrapassado: tudo o que é... já era; a atenção concentra-se não no que é, mas no vir-a-ser.” (SANTOS, 2000, p. 1).

Assim, não há satisfação completa, satisfação saciada, pois, no lugar de uma necessi- dade pretensamente atendida, surgem outras tantas que pedem urgência em seu atendimento.

Somos não só resistência informacional, mas desnudadores de tudo o que, no âmbito da informação, reveste-se de uma impossível naturalidade. Somos os que tentam tornar consciente que não temos poder sobre a informação e todas as suas interferências em nosso conhecimento.

Por fim, é preciso destacar o “conflito”. Entendemos que a informação não resolve problemas, mas os cria. É a informação que tira o sujeito da passividade, que quebra as cer- tezas. E faz isso porque ela gera conflitos. A cada momento em que nos defrontamos com o novo, com o desconhecido, somos levados a nos reconstruir em relação ao nosso conheci- mento – que aparentemente estava equilibrado e respondia às nossas inquietações. O conflito exige tomada de posição, exige resposta às arguições do mundo, exige uma outra forma de ver e explicar o mundo.

Competência em informação (CoInfo) e o desenvolvimento do senso crítico sobre o mundo informacional

O desenvolvimento ilimitado de ciência e tecnologia tem ocasionado uma mudança nos paradigmas do conhecimento: a velocidade e quantidade de informações geradas demandam novas necessidades, atitudes e posturas dos sujeitos quanto à busca pela atualização contínua de seus saberes como condição de viver dignamente.

A atualização de saberes requer o desenvolvimento de competências em uma perspec- tiva dinâmica e dialética que faça o sujeito reconhecer-se na sua humanidade, situando-o no

universo enquanto indivíduo, sociedade e espécie (MORIN, 2002). Para esse autor, “[...] todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana” (MORIN, 2002, p. 59).

O desenvolvimento humano, pautado no paradigma das competências, deve compreen- der as dimensões do aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser, denominados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como os pilares da educação (DELORS, 1996). Esses pilares formam uma base solidificada e polivalente para a constituição do ‘eu-universo’ na percepção da complexidade das mudanças e variantes do mundo, uma vez que fazem parte de um saber-fazer evolutivo.

O aprender a conhecer é considerado como um meio e uma finalidade, visto que não congrega a aquisição de um acervo de saberes codificados, mas sim o domínio dos instru- mentos do conhecimento. Meio, pois pretende que cada um aprenda a compreender o mundo que rodeia e finalidade porque se fundamenta no prazer de compreender, de conhecer e de descobrir (DELORS, 1996).

O aprender a fazer está associado à formação e qualificação profissional, do ensino integrado ao trabalho e à maneira que o conhecimento adquirido pode ser colocado em prática (DELORS, 2010). Não se resume apenas à instrumentalidade e a operações mecânicas: abrange capacidades de saber se comunicar, de trabalhar em equipe e de enfrentar situações novas.

O aprender a viver juntos abrange a compreensão do outro: é um saber reconhecer-se no outro, ter empatia pelo próximo, compreender a perspectiva de outras culturas, grupos étnicos e / ou religiosos para evitar o ódio, a incompreensão e a violência (DELORS, 2010).

O aprender a ser auxilia no “[...] desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade” (DELO- RS, 1996, p. 99). Todos devem ser preparados para elaborar pensamentos autônomos e críticos, formular os seus próprios juízos de valores de modo que decida por si próprio como agir nas diferentes circunstâncias da vida (DELORS, 2010).

As dimensões que compõem os pilares da educação promovem o “despertar” de uma série de competências que tornam o sujeito capaz de ter uma visão humana e global sobre sua relação com o mundo e construção de conhecimento. Nessa conjuntura, também percorre a noção sobre incompetência, tornando-se necessário apontar a distinção entre competência en- quanto potencialidade da competência como uma tarefa específica.

Para Roegiers e De Ketele (2004), a competência está a serviço do sujeito e daquilo que ele decide fazer com ela. Ela se desenvolve progressivamente, por meio de situações de apren- dizagens, de modo a constituir um potencial que pode ser mobilizado quando há necessidade. Santos (2017, p. 77), em complemento a essa noção, aponta que

Cada ser humano possui potencialidades peculiares, o que significa que elas não são determinantes para julgar se um indivíduo é ou não competente.

Complementando a ideia de que competência é uma potencialidade, Perrenoud (1999) aponta que os seres humanos têm a faculdade aportada em seu patrimônio genético de construir competências, mas que estas só se transformam efetivamente quando as potencialidades do sujeito são estimuladas por meio de aprendizados. Logo, as competências são aquisições, são aprendizados construídos e não uma virtualidade da espécie.

A atualização de saberes, a construção de conhecimento e o desenvolvimento da critici- dade do “eu” com o mundo está diretamente ligado à maneira com que lidamos com o excesso de informação que nos encontramos “imersos” diariamente.

A informação é elemento nodal na maneira com que nos relacionamos com o mundo: é por meio de seu uso crítico que agimos como protagonistas na construção de conhecimento, nas relações com os outros e nas reflexões, interpretações e intervenções sobre os fenômenos que nos cercam. É a criticidade que constrói nosso empoderamento.

A criticidade perante o mundo informacional é formada por meio do desenvolvimento/ aprimoramento da competência em informação (CoInfo). A CoInfo consiste em um

[...] processo de ensino-aprendizagem que busca que um indivíduo e seu coletivo, devido ao apoio profissional e de uma instituição educativa ou uma biblioteca, em- pregando diferentes estratégias de ensino e ambientes de aprendizagem (modalidade

presencial, virtual ou mixta – blend learning), alcance as competências (conhecimen- tos, habilidades e atitudes) digitais, comunicacionais e informacionais, de forma que

lhes permitam, depois de identificar suas necessidades informacionais, utilizando di- ferentes formatos, meios e recursos físicos, eletrônicos ou digitais, poder localizar, selecionar, recuperar, organizar, avaliar, produzir, compartilhar e divulgar (Compor-

tamento informacional) adequada e eficientemente essa informação, com uma posi-

ção crítica e ética, a partir de suas potencialidades (cognitivas, práticas e afetivas) e conhecimentos prévios (outras competências), e alcançar uma interação apropriada com outros indivíduos e grupos (prática cultural/ inclusão social), de acordo com os