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3.7 OS CONSTRUTOS DE WERTSCH

3.7.3 Mediação semiótica

Ocorre quando o parceiro mais capaz, ou um adulto, abre mão de formas adequadas para a comunicação com o aprendiz, as quais possibilitem a intersubjetividade do processo. Nesse sentido, a mediação semiótica pode ser considerada qualquer simbologia que o parceiro mais capaz e o menos capaz dispõem durante a intersubjetividade em uma colaboração, levando a uma definição da situação única da atividade. Para Wertsch, na mediação semiótica os processos envolvidos

... são às vezes conceituados operacionalmente como operações independentes da fala, uma visão que, erradamente, supõe que a fala simplesmente dá nome ou reflete uma definição previamente existente. Tal visão subestima o fato de que a intersubjetividade é freqüentemente criada através do uso da linguagem.(WERTSCH, 1984, p. 13)

Assim, para Gaspar (2006. p. 80),

... não basta ao adulto apresentar o problema ou a tarefa, é preciso acompanhar a criança enquanto a desenvolve e utilizar todos os recursos de linguagem para que ela tenha a mesma definição da situação do adulto, ou seja, para que a criança construa a montagem de acordo com o modelo proposto, não o que ele própria inventou.

Segundo Oliveira (1997), a relação homem-mundo não é direta, mas sempre fundamentada numa relação mediada. Seja ela por instrumentos ou por signos.

Ainda, segundo essa autora, ao lado de sua constante preocupação com a questão do desenvolvimento humano, Vygotsky enfatiza a importância dos processos de aprendizado, sendo este adquirido a partir de informações, habilidades, atitudes, valores por meio do contato do indivíduo com a realidade, meio e outras pessoas.

A mediação simbólica tem sua gênese no encontro das formas de relação homem-mundo, por um lado, e, por outro, na crença explicita no papel da educação no processo de desenvolvimento humano. O desenvolvimento do pensamento depende da presença de estímulos e signos, o que faz com que o homem modifique as suas atividades psíquicas.

Enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas um acesso mediado, isto é, feito através dos recortes do real operados pelos sistemas simbólicos que dispõe. O conceito de mediação inclui dois aspectos complementares. Por um lado refere-se ao processo de representação mental: a própria idéia de que o homem é capaz de operar mentalmente sobre o mundo supõe, necessariamente, a existência de algum tipo de conteúdo mental de natureza simbólica, isto é, que representa os objetos, situações e eventos do mundo real no universo psicológico do indivíduo. Essa capacidade de lidar com representações que substituem o real é que possibilita que o se humano faça relações mentais na ausência dos referenciais concretos, imagine coisas jamais vivenciadas, faça planos para um tempo futuro, enfim, transcenda o espaço e o tempo presentes, libertando-se dos limites dados pelo mundo fisicamente perceptível e pelas ações motoras abertas. A operação com sistemas simbólicos – e o conseqüente desenvolvimento da abstração e da generalização – permite a realização de formas de pensamento que não seriam possíveis sem esse processo de representação e define os saltos para os chamados processos psicológicos superiores, tipicamente humanos. O desenvolvimento da linguagem – sistema simbólico básico de todos os grupos humanos – representa, pois, um salto qualitativo na evolução da espécie e do indivíduo (OLIVEIRA, 1993, p.26).

As condições para o desenvolvimento da colaboração ou interações sociais entre o parceiro mais capaz e o menos capaz serão disponibilizadas em um ambiente que também se propicia o desenvolvimento cognitivo dos envolvidos no processo. Essas condições, em nossa pesquisa, serão disponibilizadas no ambiente de aprendizagem, MOODLE, que é uma tecnologia de informação baseada nos recursos virtuais contemporâneos. E a análise das colaborações que esse ambiente disponibiliza as aulas serão analisadas nos pressupostos de Wertsch.

4 RECURSOS VIRTUAIS

Nos últimos 30 anos, a informática está sendo cada vez mais incorporada à sociedade humana, especialmente nas formas de comunicação e organização de dados, em sistemas empresariais ou em instrumentos de uso pessoal (BERNHEIM, 2008).

Da mesma forma, no campo da educação, muitas ferramentas e propostas vêm sendo desenvolvidas, utilizando tecnologias da informação voltadas para a escola ou em busca de novos espaços educacionais. Ao mesmo tempo, a investigação sobre a integração da tecnologia da informação e comunicação no contexto educacional tem sido o foco de diversos estudos, nos diferentes níveis de escolaridade e em diferentes partes do mundo.

No que diz respeito ao ensino de física, vários trabalhos têm procurado investigar as formas de inserção e, assim, buscam desenvolver propostas concretas, em um conjunto ainda pouco articulado e não bem demarcado, como resultado de experiências locais e propostas pontuais.

Diante desse quadro com contornos pouco definidos, tornou-se particularmente difícil situar uma proposta pontual como a que foi objeto da pesquisa aqui apresentada. Mesmo assim, buscamos uma localização temporal de trabalhos com propostas semelhantes identificando suas abordagens e pressupostos.

Para Fiolhais e Trindade (2003), os principais modos de utilização do computador no ensino são: aquisição de dados, modelização e simulação, multimídia, realidade virtual e internet.

Veit et al. (2002) classificam os trabalhos publicados em ensino de Física em três grandes categorias:

i) princípios e ideias gerais sobre a possibilidade de uso de novas tecnologias no Ensino de Física;

ii) o uso de um determinado software e seu entorno docente; iii) aquisição automática de dados em laboratórios didáticos de

Física.

Gobara et al. (2002) agrupam as diversas formas de utilização de programas educacionais apresentadas na literatura em seis categorias: administração, simulação, instrução assistida por computador, controle de experimentos, análise de dados e outras aplicações.

Para Medeiros e Medeiros (2002), na atualidade, a informática tem tido uma aplicação muito diversificada no ensino da Física, utilizada em medições, gráficos, avaliações, apresentações, modelagens, animações e simulações.

Diante dessa diversidade de formas de classificação, opto por estabelecer como delimitador o universo próximo do Ensino de Física, deixando de incluir assim quaisquer usos voltados para aspectos mais administrativos ou utilizados para gerenciamento.

Nesse recorte, em uma primeira análise, ficou clara a existência de dois grandes conjuntos de discussões, intervenções ou investigações, demarcados, sobretudo por suas abrangências. Há trabalhos que têm um foco bem delimitado, dirigido para uma determinada ferramenta, instrumento, software ou programa, seja como descrição de uma proposta, seja como investigação de seus usos e significados, buscando suas potencialidades ou mesmo suas

fragilidades, apontando para suas características técnicas ou então por sua necessidade de mercado.

Existe outro conjunto de trabalhos mais abrangentes, voltados na direção do desenvolvimento de espaços de intervenção ou da criação de ambientes de ensino e aprendizagem, nos quais podem estar presentes muitas ferramentas descritas anteriormente, mas cujo foco principal é o estabelecimento de espaços de interlocução e articulação, em geral com especial atenção para o estabelecimento de meios de diálogo, tais como fóruns, chats etc. Esse é o caso das várias propostas de ensino a distância assim como do desenvolvimento de outros ambientes de aprendizagem para cursos presenciais.

Em relação a esses dois conjuntos, a proposta objeto desta pesquisa é um claro exemplo de desenvolvimento e utilização de uma ferramenta e, portanto, se inscreve no segundo conjunto.

4.1 FERRAMENTAS E USOS LOCALIZADOS DE TECNOLOGIAS DA