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Mediadores envolvidos no controle periférico da ereção: mecanismos

1.1 Evolução do conceito da resposta sexual humana

1.2.6 Mediadores envolvidos no controle periférico da ereção: mecanismos

pressão nos sinusóides do tecido cavernoso. Contudo, a vasculatura do tecido erétil difere de vários leitos vasculares por ser composta de arteríolas e espaços sinusoidais preenchidos por sangue, onde ambos são delineados por células de músculo liso vascular e endoteliais. Durante o estímulo sexual ou tumescência relacionada ao sono, a liberação de óxido nítrico (NO) [predominantemente pela ativação da sintase de óxido nítrico neuronal (nNOS) em nervos NANC e células endoteliais locais] estimula o relaxamento das células de músculo liso dos vasos e do corpo cavernoso (Figura 7).9-11 A dilatação das arteríolas e dos sinusóides do corpo cavernoso resulta em aumento do fluxo sanguíneo (impulsionado pela força da pressão arterial) e subsequente elevação da pressão intracavernosa. A resposta erétil segue como consequência da força da pressão elevada que provoca expansão da túnica albugínea externa, resultando em aumento do comprimento e diâmetro do pênis, característicos da ereção.

Embora vários vasodilatadores tenham sido implicados na resposta erétil, acredita-se que o NO seja o principal estimulador da vasodilatação do corpo cavernoso e da ereção

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peniana.12-14 O NO é formado a partir do aminoácido precursor, L-arginina, pela ação enzimática da sintase de óxido nítrico (NOS), que existe como três isoformas principais: nNOS, NOS induzível (iNOS) e NOS endotelial (eNOS). As três isoformas já foram detectadas no pênis, contudo, nNOS e eNOS são as principais isoformas expressas constitutivamente no tecido cavernoso.13, 15-17 Após liberação, o NO difunde-se localmente para as células do músculo liso adjacentes do corpo cavernoso e liga-se à guanilato ciclase solúvel (sGC), que catalisa a conversão do trifosfato de guanosina (GTP) a 3’,5’-monofosfato cíclico de guanosina (cGMP). Este nucleotídeo cíclico, por sua vez, ativa a proteína cinase G, também conhecida como proteína cinase I dependente de cGMP (cGKI), a qual diminui a concentração de cálcio (Ca2+) citosólico. O decaimento da concentração citosólica de Ca2+

induz o relaxamento das células de músculo liso vascular e do corpo cavernoso, levando à dilatação dos vasos arteriais, aumento do fluxo sanguíneo nos sinusóides do corpo cavernoso, e consequente ereção peniana.18, 19

Figura 7. Relaxamento das células de músculo liso do corpo cavernoso durante a ereção. Durante o estímulo sexual, a ativação do sistema nervoso parassimpático resulta na liberação de acetilcolina (ACh) pelas terminações colinérgicas, ou na produção direta de óxido nítrico (NO) pela sintase de óxido nítrico neuronal (nNOS) presente nas inervações não-adrenérgicas não-colinérgicas (NANC). A ACh se liga a receptores muscarínicos do subtipo 3 (M3) na superfície das células endoteliais e

provoca a produção de NO por meio da ativação da sintase de óxido nítrico endotelial (eNOS). Uma vez produzido, o NO se difunde para as células de músculo liso e promove a conversão de trifosfato de guanosina (GTP) em monofosfato cíclico de guanosina (cGMP). Este por sua vez, ativa ou inibe uma série de mecanismos intracelulares que resulta no relaxamento da célula de músculo liso do tecido cavernoso. eNOS NO• M3 (+) NO• nNOS NO• Relaxamento GTP cGMP Célula endotelial dos sinusóides NO• Nervo NANC Nervo Parassimpático ACh ACh Célula de músculo liso do cavernoso

Na ausência de estímulo sexual, a contração da vasculatura e do tecido cavernoso mantém o pênis no estado flácido. A contração do tecido cavernoso é principalmente determinada em resposta à noradrenalina (NA), liberada de terminais nervosos simpáticos, e à endotelina-1 (ET-1). Essa contração estreita o lúmen arteriolar e as cavidades sinusoidais e restringe o fluxo sanguíneo para manter uma baixa pressão intracavernosa e, consequentemente, o pênis no estado flácido.9-11 A elevação da concentração citosólica de Ca2+ desencadeia a contração do músculo liso e provoca flacidez peniana. O aumento intracelular de Ca2+ desencadeia a ligação de Ca2+ à proteína calmodulina (CaM), levando à ativação da miosina cinase de cadeia leve (MLCK) e à fosforilação da cadeia leve da miosina (MLC20) da miosina II (Figura 8). A extensão da fosforilação da MLC20 ou a força de

contração induzida pela estimulação do agonista é normalmente maior do que o predito pela atual concentração de Ca2+ na célula. Este processo é conhecido como sensibilização ao Ca2+.

A ativação da via de sensibilização ao Ca2+ é regulada pela família de genes homólogos da

Ras (Rho), membro A (RhoA), uma pequena proteína G da família Rho que é ativada pela ligação ao GTP. A ativação da RhoA, que é facilitada por fatores de intercâmbio dos nucleotídeos de guanina específicos da Rho (RhoGEFs), estimula efetores tais como a Rho- cinase ou ROCK. A Rho-cinase ativada induz a fosforilação da subunidade regulatória da fosfatase da cadeia leve da miosina (MLCP) e inibe a atividade desta, tendo como efeito final a inibição da defosforilação da MLC20 e favorecendo a contração do músculo liso e

consequente flacidez do corpo cavernoso.18, 19 A importância da Rho-cinase na sensibilização das células de músculo liso do corpo cavernoso ao Ca2+ e manutenção da flacidez peniana é bem estabelecida.19-21 Além disso, todos os componentes da via de sinalização RhoA/Rho- cinase [RhoA, inibidor da fosfatase CPI-17, as subunidades regulatória da miosina fosfatase (MYPT-1) e catalítica (PP1 delta), isoformas da ROCK] são expressos no corpo cavernoso de diversas espécies e a inibição da Rho-cinase aumenta a pressão intracavernosa em modelos experimentais in vivo.18, 19 O aumento da atividade da Rho-cinase também exerce um papel importante em vários tipos experimentais de DE.22-27 De outra forma, vias de sinalização

dependentes da Rho são ativadas por diversos estímulos e medeiam outras funções celulares que não a contração das células de músculo liso vascular, incluindo a organização da actina no citoesqueleto, adesão celular, proliferação, migração e inflamação, as quais são associadas com remodelamento vascular.28, 29 Evidências recentes indicam que a RhoA/Rho-cinase está envolvida na progressão da lesão de órgãos-alvo induzida por hormônios vasoativos, tais como angiotensina II (AngII) e aldosterona.30, 31

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Figura 8. Mecanismo de contração da célula de músculo liso do corpo cavernoso que mantêm o pênis no estado flácido. A liberação de noradrenalina (NA) pelas terminações nervosas simpáticas ativa os receptores α-adrenérgicos. Subsequentemente, a ativação específica de proteínas G provoca o aumento da atividade da fosfolipase C (PLC). A PLC, por meio de uma cascata de sinalização intracelular, eleva os níveis citoplasmáticos de cálcio (Ca+2). O aumento intracelular de Ca2+ desencadeia a ligação de Ca2+ à proteína calmodulina (CaM), levando à ativação da miosina cinase de

cadeia leve (MLCK) e fosforilação da cadeia leve da miosina (MLC). A ativação da RhoA, que é facilitada por fatores de intercâmbio dos nucleotídeos de guanina específicos da Rho (RhoGEFs), estimula efetores tais como a Rho-cinase ou ROCK. A Rho-cinase ativada induz a fosforilação da subunidade regulatória da fosfatase da cadeia leve da miosina (MLCP) e inibe a atividade desta, tendo como efeito final a inibição da defosforilação da MLC e favorecendo a contração do músculo liso e consequente flacidez do corpo cavernoso.

Com base nas observações acima, pode se postular que qualquer substância que diminua os mecanismos de relaxamento ou aumente os mecanismos de contração nas células de músculo liso do corpo cavernoso pode agir como um agente causador no desenvolvimento da DE. Neste sentido, várias citocinas, particularmente o fator de necrose tumoral alfa (TNF- α) aparece como um candidato proeminente na fisiopatologia da DE devido às suas ações na vasculatura.

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