• Nenhum resultado encontrado

A MEDIDA DE TODAS AS COISAS

Vivemos num mundo constantemente mediado por dispositivos, num limbo entre a rea- lidade efectiva e os ambientes artificiais. Podemos estar imersos num espaço preenchido por focos de luz artificial, podemos recorrer a relógios para medir o tempo cronológico e assim acabamos por nos afastar de uma tradição que se relevou fundamental ao longo da história, o tempo medido em função do percurso dos astros no céu, e neste caso concreto a partir do Sol e da sua característica fundamental no ordenamento da vida e das suas actividades. A medi- da de todas as coisas constituiu um exercício que procurou reconectar-me, a mim enquanto artista, à minha produção e a quem analisa o produto final, a esse exercício de avaliação da passagem do tempo.

O trabalho consiste em cerca oitenta e oito registos fotográficos realizados recorrendo à utilização da câmara do telemóvel e a um tripé, colocados nas coordenadas geográficas de latitude 41.8659575 e de longitude -8.86326313, sem qualquer tipo de alteração à sua posi- ção desde o início até à conclusão do exercício. Os registos fotográficos tiveram inicio às 5:15 horas e repetiram-se num intervalo de 5 minutos até às 7 horas; num intervalo de 10 minutos até às 11 horas; em 20 minutos até às 16 horas; voltando a um ritmo de registo de 10 minutos até às 18 horas e 5 minutos até às 21 horas.

O trabalho foi efectuado segundo uma lógica quase performativa que me colocou num estado imersivo perante o objectivo do exercício e o próprio decorrer da passagem. A esco- lha do registo a partir da câmara do telemóvel constitui um processo que procura aproximar a medida natural e cósmica da vida da artificialidade dos processos contidos nos dispositi- vos que integram em si um carácter de hiper-realidade. As duas fotografias seleccionadas e apresentadas correspondem às horas convencionadas como o nascer e o pôr do Sol, o que se reflecte nos conceitos que proponho de espectro e hauntologia, no sentido em que o Sol, bem como todos os astros, nunca estão ausentes na nossa realidade, estão apenas noutra medida de presença e percepção, estão lá mas não são acedidos tendo em conta a nossa posição terrestre em relação a eles.

CONCLUSÃO

O projecto aqui apresentado, desenvolvido para a conclusão do Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas, constituiu um momento de crescimento e desafio pessoal e com o qual construi um compromisso, seja na leitura da minha prática artística e na procura da sua profundidade, como no auto-conhecimento, problemas e questões que lidam com o meu fa- zer e reflectir na arte. Do agora que já não é: Uma experiência nos limites do objecto artístico

surgiu como o título que confina toda esta exploração, em todas as suas vicissitudes pessoais e particulares. Este foi o projecto mais longo na minha prática artística, até à data da sua exe- cução, o mais exigente como também o mais importante, por todas as etapas que me propor- cionou em termos de crescimento pessoal, artístico e conceptual. Colocou-me em confronto com os discursos internos e externos da minha prática artística e os seus limites, como tam- bém com a procura de sentidos, por vezes complexos, com os quais enquanto artista lido no fenómeno da criação e a urgência de os justificar, encontrando adjectivos e influências para o seu fazer artístico que por vezes surge por impulso e de modo desorganizado ou caótico, fora de qualquer limite conceptual e linguístico.

Este projecto não deve, contudo, ser encarado como um problema terminado, ele per- manecerá num estado de constante resolução pois as questões e dinâmicas que foram trans- portadas nesta reflexão para um plano mais lógico da consciência são de uma importância fundamental e estão profundamente relacionadas, exploradas e integradas transversalmente na minha prática artística. Assim Do agora que já não é: Uma experiência nos limites do objec- to artístico funciona tanto como um passado, um presente, um futuro, que se manifesta nestes limites e propostas que apresentei mas é em simultâneo um ponto de partida para outros ru- mos e materializações dos assuntos tratados aqui nesta reflexão.

BIBLIOGRAFIA

Agamben, Giorgio. What Is an Apparatus? and Other Essays. Stanford: Stanford University Press, 2009 Barthes, Roland. A câmara clara. Lisboa: Edições 70, 2010.

Benjamin, Walter. Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política. Lisboa: Relógio d’Água, 2012. Carrol, Lewis. Alice do Outro Lado do Espelho. Lisboa: Edições Nelson de Matos, 2010.

Carrol, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Mem Martins: Publicações Europa-América, LDA., 2010 Groom, Amelia. Time. London: Whitechapel Gallery e MIT Press, 2013.

Huxley, Aldous. As portas da percepção/Céu e Inferno. Lisboa: Antígona, 2013.

Puente, Moisés. Leer es respirar, es devenir: Escritos de Olafur Eliasson. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SL, 2012.

Shaw, Debra. Technoculture: The Key Concepts. New York: Berg Publishers, 2008.

Baudrillard, Jean. Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio d’Água, 1991. https://monoskop.org/Fi- le:Baudrillard_Jean_Simulacros_e_simula%C3%A7%C3%A3o_1991.pdf

Burham, Jack. Beyond Modern Sculpture: The effects of science and technology on the sculpture of this century. New York: George Braziller, 1968. https://monoskop.org/File:Burnham_Jack_Beyond_Mo- dern_Sculpture.pdf

Caws, Mary Ann. Manifesto: A century of Isms. Lincoln: University of Nebraska Press, 2001. https://mo- noskop.org/File:Caws_Mary_Ann_ed_Manifesto_A_Century_of_Isms_2001.pdf

Derrida, Jacques. Specters of Marx: the State of the Debt, the Work of Mourning and the New Interna- tional. New York: Routledge, 1994. https://fswg.files.wordpress.com/2013/08/derrida-specters-chap- ter-1.pdf

Harrison, Charles e Paul Wood. Art in Theory 1900-1990: An anthology of Changing ideas. Oxford: Blackwell Publishers Ltd., 1992. https://monoskop.org/File:Harrison_Charles_Wood_Paul_J_Gaiger_Ja- son_eds_Art_in_Theory_1648-1815_An_Anthology_of_Changing_Ideas.pdf

Krauss, Rosalind. A Voyage on the North Sea: Art in the Age of the Post-medium Condition. London: Thames and Hudson, 1999. https://pt.scribd.com/document/375022955/ROSALIND-KRAUSS-a-voya- ge-on-the-north-sea-art-in-the-age-of-the-post-medium-condition-pdf

Krauss, Rosalind. “Notes on the Index: part 1” em The Originality of the Avant-guard. Cambridge: MIT Press, 1985. https://monoskop.org/images/6/6e/Krauss_Rosalind_E_1977_1985_Notes_on_the_Index_ Part_1.pdf

Krauss, Rosalind. Passages in Modern Sculpture. New York: The Viking Press, 1977. https://monoskop. org/File:Krauss_Rosalind_E_Passages_in_Modern_Sculpture.pdf

Krauss, Rosalind. “Sculpture in the Expanded Field” em The Originality of the Avant-guard. Cambridge: MIT Press, 1985. https://monoskop.org/images/6/62/Krauss_Rosalind_E_1979_1985_Sculpture_in_the_ Expanded_Field.pdf

le:Krauss_Rosalind_E_Optical_Unconscious.pdf

Langer, Susanne K. Problems of Art: Ten Philosophical Lectures. New York: Charles Scribner’s Sons, 1957. https://pt.scribd.com/document/242245388/Langer-Problems-of-Art

Lemoine, Serge. Dynamo: Un siècle de lumière et de mouvement dans l’art, 1913-2013. Paris: RMN, 2013.

Moholy-Nagy, Laszlo. The New Vision and abstract of an artist. New York: Wittenborn, Schultz, Inc. , 1947. https://monoskop.org/File:Moholy-Nagy_Laszlo_The_New_Vision_and_Abstract_of_an_Artist.pdf Paquete, Hugo. Meta-Escuta: objecto sonoro espectro, imanência-vibrátil e resto-cognitivo em Dis- positivos na Prática Artística Contemporânea #2. Porto: Centro de Estudos Arnaldo Araújo da CESAP/ ESAP, 2015. https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/19897/1/Ed.%20Caseiras%2024_Dispositi- vos%202.pdf

Siffre, Michel. “Caveman: an interview with Michel Siffre”. Entrevista por Joshua Foer. Issue 30/ The Un- derground, Cabinet, Summer 2008. http://www.cabinetmagazine.org/issues/30/foer.php

DO AGORA

QUE JÁ NÃO É

Documentos relacionados