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Medidas anticorrupção recomendadas às firmas fornecedoras

No que diz respeito às ações que devem ser praticadas pelas empresas fornecedoras de equipamentos militares, a Transparência Internacional (TI) também menciona algumas orientações. Para Magahy, Cunha e Pyman (2010), essas firmas devem desenvolver os programas de compliance e de integridade ética por toda a corporação, mediante a elaboração de códigos de conduta, a fim de lidar com os riscos de corrupção relacionados aos projetos de offsets. Além disso, os fornecedores devem

realizar diligências prévias (due dilligence1) com relação aos demais parceiros ou partes relacionadas, como consultores, vendedores e empresas beneficiárias. Isso permite à principal contratada avaliar os riscos envolvidos em um acordo de offset e determinar se deve manter ou abandonar o projeto (MAGAHY, CUNHA e PYMAN, 2010; IFBEC, 2015).

Ainda, como muitas empresas não adotam rotinas de diligências prévias, deve- se premiar aquelas corporações que já têm essa prática como um esforço anticorrupção (PLATZGUMMER, 2013).

Durante a realização de diligências prévias, podem ser identificados alguns alertas (red flags) que indicam possíveis riscos à ocorrência de suborno. A existência desses alertas não significa a obrigação automática de desfazer compromissos ou negócios em andamento, mas a empresa deve realizar ações para mitigar tais riscos. Desse modo, baseado em questionário formulado a especialistas do setor de defesa nacional2, o IFBEC (2015) menciona alguns alertas, listados no Quadro 7. Eles devem ser levados em consideração pelas empresas vendedoras de equipamentos militares durante o processo de aquisições governamentais e de contratos de offsets, que envolvem relações com, por exemplo, terceiras partes, intermediários e demais fornecedores.

Quadro 7 - Alertas (Red Flags) de Riscos de Corrupção em Offsets.

Histórico de corrupção na área de negócios e/ou baixo desempenho em índices internacionais de corrupção e de transparência.

Reputação relativa às terceiras partes, ou indivíduos e firmas que já tenham sido representados por elas.

Recusa da terceira parte em ser signatária de cláusula anticorrupção da empresa e conceder direitos para realização de auditoria.

Falta de registros contábeis adequados.

Recusa da terceira parte em divulgar as identidades ou os proprietários beneficiários envolvidos. Uso de empresas de fachadas ou de blind trust3.

O emprego de terceiros é sugerido ou exigido por funcionários ou agências governamentais, que possuem poderes decisórios no contrato de aquisição ou, ainda, nas transações e créditos de

offsets.

Um terceiro é ex-funcionário público ou possui contatos importantes dentro do governo.

1“Due diligence significa, em tradução livre, diligência prévia. É um processo que avalia riscos em oportunidades de negócios. Ele é feito a partir de um conjunto de ações que permite analisar detalhadamente os ativos e os passivos contábeis e jurídicos de uma empresa. A ideia é que, ao verificar os cenários contábil, tributário, trabalhista e previdenciário de uma organização, seja possível analisar seus potenciais riscos e pontos críticos. Com isso, ela garante de forma imparcial e isenta a veracidade dos dados do empreendimento”. Disponível em: http://www.mxm.com.br/blog/entenda-o-que-e-due-diligence-e-qual-o-seu- papel-na-empresa/. Acesso em: 4 nov. 2018.

2De acordo com o grupo de trabalho estabelecido pelo IFBEC (2015), o questionário do estudo foi direcionado a uma seleção de empresas aeroespaciais e de defesa, entrevistas individuais selecionadas com especialistas do setor, sociedade civil e profissionais da área jurídica.

3 "Acordo financeiro em que o dinheiro de alguém é investido por outra pessoa ou empresa, que controla e toma todas as decisões sobre os investimentos” (Tradução nossa). Disponível em: < https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/blind-trust>. Acesso em: 25 nov. 2018.

A exigência do uso de terceiras partes ocorre próximo à homologação do contrato.

Falta de qualificação comercial e de experiência, e não possuir sede no país onde será executado o offset.

Sistemas questionáveis de honorários, além da presença de transações financeiras duvidosas, como pagamentos em dinheiro vivo, diversas contas bancárias, mas nenhuma no país de execução dos contratos e falta de clareza entre os serviços prestados e as taxas cobradas.

Requisitos de offset superiores a 100% do contrato de aquisição sem a devida justificativa. Ambiguidades nos mecanismos de avaliação de offset por parte do país comprador. Fonte: IFBEC (2015).

Diante dos riscos de corrupção presentes nos offsets ligados às transações do setor de defesa nacional, no documento produzido pelo IFBEC (2015) constam recomendações à própria instituição e às empresas membros4. Essas recomendações visam estabelecer padrões de compliance voltadas a uma agenda anticorrupção na indústria que pratica acordos de compensação, conforme relacionadas no Quadro 8.

Quadro 8 - Recomendações para Diminuir os Riscos de Corrupção em Offsets.

Aplicar programa de ética e conformidade da empresa ao seu negócio de offset, com medidas adicionais onde o aumento dos riscos pode surgir.

Aplicar programa de treinamento e conscientização sobre ética e conformidade da empresa a toda a equipe envolvida nos negócios de offset, incluindo a gerência sênior e treinamento adicional sob medida para funções/funcionários, conforme necessário.

Realizar treinamento de auditoria interna em arranjos de compensação e em riscos de corrupção relacionados a eles, para desenvolver capacidades de auditoria interna relativas às atividades de offset.

Incluir rastreamento de pagamentos, relacionados ao desempenho de offset, para agentes intermediários e como realizá-los de forma eficaz.

Elaborar políticas e critérios internos de comprometimento na participação de offsets.

Estabelecer funções e responsabilidades específicas nos processos de oferta, de aprovação e de planejamento de offsets.

Estipular alçadas, com níveis de aprovações de gerenciamento superior para todas as ofertas e contratos de offset, além de rotinas de encaminhamento de aprovações para requisitos contratuais incomuns ou outras características que possam aumentar o risco.

Proceder diligência prévias baseadas no risco de qualquer parte relacionada com a execução de uma obrigação de offset.

Incluir cláusulas de auditoria e de ações e garantias anticorrupção nos contratos firmados com terceiros que executam obrigações de offset.

Estabelecer política detalhada sobre conflitos de interesse, de modo que seja identificável quando os riscos possam surgir e como devem ser mitigados.

Avaliar a maturidade dos programas de conformidade dos parceiros nos acordos de compensação e incluir treinamentos quando necessário.

Nomear supervisores, internos ou externos, desse que não haja conflitos de interesse, obrigação de offset para realizar avaliações periódicas, identificar possíveis riscos de corrupção, conforme possam surgir durante a execução do acordo de compensação.

Incluir avaliação de risco de corrupção relacionada à offset durante processos de fusão e aquisição de empresa.

Fonte: IFBEC (2015).

4 O Fórum Internacional de Conduta Ética nos Negócios (IFBEC) foi criado por empresas membros da Associação das Indústrias Aeroespaciais da América (AIA) e da Associação das Indústrias de Defesa e Aeronáutica da Europa (ASD) em 2010. É uma maneira de trocar informações sobre as melhores práticas na área de atividades empresariais éticas e tendências globais entre os participantes da indústria. Disponível em: https://ifbec.info/. Acesso em: 7 nov. 2018.

O IFBEC (2015) também assinala que essas empresas devem fomentar a colaboração entre as indústrias do setor com outras instituições. Uma das ações é compartilhar o conhecimento (know-how) com as autoridades governamentais acerca dos mecanismos preventivos à corrupção, por meio de fóruns e conferências. Além disso, criar grupo de trabalho junto com representantes públicos responsáveis pelos

offsets para debater os pontos classificados como riscos por parte das empresas,

desenvolvendo o diálogo com os governos demandantes de bens de defesa nacional para combater a corrupção no setor.