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Medidas de apoio ao regime de progressão continuada adotadas: o projeto de

Parte I – Os ciclos e a progressão escolar

2. O regime de progressão continuada no Estado de São Paulo (1998-2004)

2.4 Medidas de apoio ao regime de progressão continuada adotadas: o projeto de

Além da elaboração da proposta pedagógica e do fortalecimento do trabalho coletivo, medidas alternativas de suporte à proposta do regime de progressão continuada, como: o reforço, a recuperação paralela, recuperação intensiva e recuperação contínua foram estabelecidas e destacadas na Deliberação 09/97 do CEE- SP. O intuito era garantir a avaliação da aprendizagem de alunos com problemas de aprendizagem. Assim, o artigo 1º da Deliberação 09/97, que instituiu o regime de progressão continuada no sistema de ensino do Estado de São Paulo, no parágrafo 3º estabelece que:

O regime de progressão continuada deve garantir a avaliação do processo de ensino-aprendizagem, o qual deve ser objeto de recuperação contínua e paralela, a partir de resultados periódicos parciais e, se necessário, no final de cada período letivo (DELIBERAÇÃO CEE, número 09/97).

No artigo 3º, a Deliberação 09/97 esclarece que o projeto educacional de implantação do regime de progressão continuada deve especificar os mecanismos que assegurem: a avaliação institucional interna e externa (inciso I); avaliações contínuas e cumulativas da aprendizagem ao longo do processo (inciso II); atividades de reforço, recuperação paralela e contínua ao longo do processo e, se necessário, ao final de ciclo ou nível (inciso III); meios alternativos de adaptação, reforço, reclassificação, avanço, reconhecimento, aproveitamento e aceleração de estudos (inciso IV).

A avaliação, portanto, mediante as diretrizes apresentadas pela Deliberação 09/97, transforma-se no principal mecanismo de êxito da proposta do regime de progressão continuada, juntamente com medidas pedagógicas suplementares, como: o reforço, a recuperação paralela e a intensiva. As atividades de reforço, recuperação paralela e contínua, além de favorecem a apropriação dos conhecimentos e o cumprimento dos objetivos educacionais pelos alunos com dificuldades, de acordo com Oliveira (1998, p. 9), poderão orientar o acompanhamento do progresso realizado, das condições em que este ocorreu e o planejamento dos próximos passos, considerando que:

Não se coloca assim a aprovação sem critério, sem um diagnóstico pedagógico, sem um plano de trabalho a ser vencido nos anos posteriores, mera promoção automática (OLIVEIRA, 1998, p. 9). Apesar de as atividades de reforço, recuperação paralela e recuperação contínua contribuírem como um instrumento essencial para o sucesso escolar do aluno com dificuldades de aprendizagem, Vera Lúcia Wey, coordenadora da CENP, durante o Fórum de Debates: “Progressão Continuada: Compromisso com a Aprendizagem”, realizado em junho de 2002, promovido pela SEE-SP, destaca que os projetos de Reforço e Recuperação, organizados na rede, têm sido pouco explorados em suas potencialidades, mesmo sendo considerados como suportes essenciais para a garantia da aprendizagem progressiva.

Com base no quadro evolutivo51 dos projetos desenvolvidos pela SEE-SP e apresentados por Wey (2002), durante o Fórum, observa-se que o Projeto de Reforço e Recuperação torna-se obrigatório somente no ano letivo de 1998, período em que o regime de progressão continuada foi adotado na rede de ensino. A Resolução SE nº 67/98, que dispõe sobre os estudos de reforço e recuperação paralela para os alunos da rede estadual de ensino, destaca que esses projetos visam garantir ações específicas voltadas à aprendizagem “efetiva e bem sucedida de todos os alunos”, devendo ocorrer, de acordo com o artigo 1º:

I – de forma contínua, como parte integrante do processo de ensino e de aprendizagem, no desenvolvimento das aulas regulares;

II – de forma paralela, ao longo do ano letivo e em horário diverso das aulas regulares, sob a forma de projetos de reforço e recuperação da aprendizagem; III – de forma intensiva, nas férias escolares de janeiro, sempre que houver necessidade de atendimento a alunos com rendimento insatisfatório e, também, no recesso de julho para os cursos supletivos ou de organização semestral.

As Resoluções da SE, posteriores à de nº 67/98, referentes ao Projeto reforço e recuperação paralela dispõem, de alterações no cronograma, de orientações sobre o tempo de duração das aulas, de formas de atribuição das aulas e de registro da evolução dos alunos. Contudo, apesar da obrigatoriedade do Projeto reforço e recuperação entendido como um mecanismo de apoio ao regime de progressão continuada, Barretto (2002) aponta alguns problemas em sua operacionalização.

[...] as medidas relativas à recuperação paralela precisam passar por um crivo mais apurado. [...] Um dado que aparece com freqüência é a impressão que têm os professores de que a escola, ou eles próprios, estão sendo postos sob suspeita quanto à possibilidade de fazer a recuperação paralela. [...] Eu não sei que mecanismos estão funcionando, mas é comum que as classes de recuperação sejam oferecidas aos professores ingressantes, substitutos eventuais, àqueles que têm menor experiência e um manejo de classe mais precário, conseqüentemente, mais dificuldade de trabalhar justamente com os

51 Quadro evolutivo apresentado por Wey (2002) no Fórum de Debates: “Progressão Continuada: Compromisso com a Aprendizagem” encontra-se no Anexo IV.

alunos que apresentam maiores dificuldades. Pois são exatamente esses professores de quem, em princípio se espera que dêem conta daqueles problemas que o corpo docente mais experiente e estável não conseguiu resolver. Seria preciso garantir de fato a autonomia da escola para repensar os processos de acompanhamento desses alunos com maior flexibilidade e proveito (Barretto, 2002).

A descrição de algumas situações, verificadas no interior de várias escolas estaduais por Barretto (2002), aponta o processo provisório e precário em que o Projeto recuperação paralela tem funcionado em certas unidades escolares. Como professora da rede estadual e municipal de ensino fundamental, presenciei este fato, ao ver a realização das atividades de reforço e recuperação paralela ocorrerem na sala dos professores, devido à falta de espaço físico na escola e observar a desarticulação entre as atividades propostas pelos professores do projeto e das turmas regulares.

Certamente, muitas escolas estão procurando encontrar alternativas para superar os problemas apontados. Porém, é o processo avaliativo que se encontra em questão com relação à desarticulação entre a proposta do regime de progressão continuada e o Projeto de reforço – recuperação (paralela e intensiva), pois, segundo Sousa (1998, p. 91):

A implantação da progressão continuada no ensino fundamental, ao contrário do que muitas vezes ouvimos, não “elimina a avaliação” mas, ao invés disso, traz o desafio de vivenciá-la em seu sentido constitutivo, remetendo à necessidade de uma conceituação precisa quanto às funções que deve desempenhar no processo de escolarização (SOUSA, 1998, p. 91).

A falta de clareza nas funções que a avaliação deve desempenhar em um processo de escolarização sob o regime de ciclos de progressão continuada me leva a compreender este aspecto como a principal justificativa para a desarticulação entre o Projeto de Reforço e Recuperação nas escolas, considerando que ambos poderiam favorecer um acompanhamento mais individualizado do aluno, um diagnóstico mais preciso de suas necessidades, orientando o planejamento às suas especificidades. Afinal de acordo com Sousa (1998),

No sistema de progressão continuada, a função classificatória perde importância, impulsionando a que se busque o cumprimento de funções nucleares da avaliação, capazes de promover sentido ao processo de ensino e de aprendizagem (Sousa, 1998, p. 91).

Até 1997, sem caráter obrigatório, o Projeto reforço e recuperação deveria atender alunos com grandes possibilidades de retenção, sempre ao final do ano letivo. Após 1998, com o estabelecimento de resoluções específicas, torna-se obrigatório o oferecimento do reforço, recuperação paralela e intensiva52 pelas escolas estaduais, tendo em vista o atendimento de todos os alunos com dificuldades de aprendizagem, tornando possível a ampliação das oportunidades educacionais.