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Medidas extraordinárias e transitórias que visam proteger os devedores

IV. DO NÃO CUMPRIMENTO DO CONTRATO DE CRÉDITO À

6. Medidas extraordinárias e transitórias que visam proteger os devedores

O Decreto-Lei n.º 103/2009, de 12 de maio, criou uma linha de crédito extraordinária e transitória destinada à proteção de habitação própria permanente em caso de desemprego de, pelo menos, um dos mutuários. A linha de crédito disponibilizada pelo Estado suportava a redução de 50% da prestação mensal de capital e juros a cargo do mutuário, durante um período máximo de 24 meses. O acesso a esta linha cessou no dia 31 de dezembro de 2010.

Com a aprovação da Lei n.º 58/2012, de 9 de novembro, foi criado um regime extraordinário de proteção de devedores de crédito à habitação em situação económica muito difícil, que vigora até dia 31 de dezembro de 201595.

94 MAFALDA BARBOSA e DIOGO CAMPOS,ob. cit. p. 396.

95 O regime aplica-se a todos os contratos celebrados antes da entrada em vigor da citada lei e a todos os

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O regime estabelecido no diploma citado aplica-se às situações de incumprimento de contratos de crédito à habitação quando o agregado familiar esteja em situação económica muito difícil e o imóvel em causa seja a única habitação do mesmo, sem prejuízo do preenchimento cumulativo dos requisitos previstos no art. 4º.

O regime aplica-se nas situações em que estão preenchidos cumulativamente os seguintes requisitos: 1) O crédito à habitação esteja garantido por hipoteca que incida sobre imóvel que seja a habitação própria permanente e única do agregado familiar do mutuário; 2) O agregado familiar se encontre em situação económica muito difícil; 3) O valor patrimonial do imóvel não exceda €90.000,00, €105.000,00 ou €120.000,00, nos casos em que o coeficiente de localização não exceda o 1,4, esteja entre 1,5 e 2,4 ou esteja entre 2,5 e 3,5, respetivamente; 4) O crédito não esteja garantido por outras garantias reais ou pessoais, salvo se neste último caso os garantes também se encontrem em situação económica muito difícil.

A definição de ‘situação económica muito difícil’ que consta do art. 5º do diploma citado constitui desde logo um entrave ao acesso a este regime extraordinário; para efeitos de aplicação da lei só está em situação económica muito difícil o agregado familiar relativamente ao qual se verifiquem cumulativamente os seguintes requisitos: 1) um dos cônjuges esteja desempregado ou o agregado familiar tenha sofrido uma redução do rendimento anual bruto igual ou superior a 35%; 2) A taxa de esforço com o crédito à habitação tenha subido para 45% ou 50% em agregados com ou sem dependentes, respetivamente; 3) O valor do património financeiro seja inferior a metade do rendimento anual bruto; 4) O património imobiliário seja constituído apenas pelo imóvel que seja a habitação própria e garagem ou imóveis não edificáveis até €20.000,00; e 5) O rendimento anual bruto não exceda 12 vezes o valor máximo calculado em função da composição do agregado familiar, calculado com base no art. 5º alínea e) da citada lei.

O acesso a este regime faz-se por meio de requerimento apresentado pelo mutuário à instituição de crédito com quem tenha celebrado o contrato de crédito à habitação. Depois de aferir se o mutuário preenche cumulativamente os requisitos de aplicabilidade da lei previstos no art. 4º e 5º, a instituição de crédito defere ou indefere o pedido de acesso ao regime extraordinário.

crédito com fundamento em incumprimento sem que tenha decorrido prazo para oposição à execução ou, para os casos em que não houve reclamação de créditos, até à venda executiva (art. 40º).

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Caso o agregado familiar preencha os requisitos de aplicabilidade da lei citada, em caso de eventual execução da hipoteca sobre o imóvel tem direito à aplicação de uma ou várias modalidades de medidas de proteção, entre elas: 1) Plano de reestruturação das dívidas emergentes do crédito à habitação; 2) Medidas complementares ao plano de reestruturação (de aplicação voluntária); 3) Medidas substitutivas da execução hipotecária (de aplicação subsidiária em relação às primeiras). O plano de reestruturação da dívida é apresentado pela instituição de crédito ao mutuário e pode prever a aplicação de um período de carência, a prorrogação do prazo de amortização do empréstimo, a redução do spread aplicável durante o período de carência, ou até a concessão de um empréstimo adicional autónomo destinado a suportar temporariamente o pagamento das prestações do crédito à habitação. Durante a vigência deste plano, a instituição de crédito não pode resolver o contrato de crédito à habitação nem intentar ações declarativas ou executivas tendo em vista a satisfação do crédito. Podem ainda ser adotadas medidas complementares ao plano nos termos do art. 19º da lei citada.

As medidas substitutivas da execução hipotecária, subsidiárias em relação ao plano de reestruturação, podem implicar: 1) a dação em cumprimento do imóvel hipotecado; 2) a alienação do imóvel a FIIAH96 com ou sem arrendamento e opção de compra pelo mutuário, liquidando-se assim a dívida; e 3) a permuta por uma habitação de valor inferior com revisão do contrato de crédito.

Quando para efeitos de aplicação do regime seja necessário apurar o valor atualizado do imóvel, a instituição de crédito promove essa reavaliação, recorrendo a um avaliador certificado pela CMVM a expensas do mutuário.

O diploma introduziu uma série de mecanismos audazes de proteção dos devedores em situação mais precária; no entanto, devido aos critérios de aplicabilidade tão restritos, a sua aplicação ainda tem muito pouco alcance deixando fora do seu âmbito muitas famílias em dificuldades.

96 Fundos de investimento imobiliário para arrendamento especial consagrados nos artigos 102.º a 104.º

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