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Medidas de mitigação e convivência

Todos os movimentos de massa representam riscos e podem ocasionar perdas tanto humanas como econômicas, especialmente em áreas urbanas. Porém, os fluxos de detritos são os mais catastróficos devido à alta velocidade com que ocorrem e a ausência de sinais de iniciação.

A falta de sinal de alerta e grande velocidade, geralmente muito maior que a velocidade de corrida de uma pessoa, tornam a reação humana impossível para o enfretamento do problema. Desta forma, torna-se essencial o desenvolvimento de medidas de proteção e de redução de vulnerabilidades aos fluxos de detritos, as quais podem ser ativas ou passivas.

As medidas ativas são aquelas que interferem diretamente no processo de instabilização, conseguindo eliminar as possibilidades de ruptura e os riscos. Em contraste com essas medidas, as passivas tentam reduzir os riscos e danos de ruptura, sem entretanto evitar as rupturas. Além disso, são medidas combinadas entre técnicas e político-administrativas (NUNES & SAYÃO, 2014). A Figura 2.7 apresenta uma classificação das principais medidas de mitigação.

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Figura 2.7. Métodos de mitigação de fluxo de detritos (NUNES & RIOS FILHO, 2009).

Medidas passivas

As medidas passivas não incluem nenhum tipo de obra ou qualquer intervenção técnica física e representam principalmente as ações governamentais para a proteção de pessoas e infraestruturas em áreas de riscos de fluxos de detritos. Compreendem o mapeamento de áreas, relocação de infraestruturas e moradores, instalação de sistemas de alerta e educação (NUNES & SAYÃO, 2014).

PELIZONI (2014) afirma que deve existir uma combinação de medidas ativas e passivas contra debris flows para garantir uma adequada relação custo-benefício da intervenção a se realizar. Recomenda também a elaboração de mapeamentos para definição de áreas de riscos pelas instituições governamentais, objetivando principalmente a avaliação de soluções tais como a realocação ou a convivência monitorada com sistemas de alerta. As medidas passivas relativas à instrução e educação da população também são importantes, pois informam e preparam as pessoas que moram em áreas de riscos de movimentos de massa, além de minimizar a ocupação ilegal.

Relocação

Leis de uso da terra

Sistema de alarme Educação Mitigação Remediação para redução ou eliminação de acidentes

Proteção para redução das consequencias Medidas

Passivas

Medidas Ativas

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Medidas ativas

As medidas ativas atuam diretamente nos fatores deflagradores e nos processos de transporte e deposição de fluxos de detritos, visando principalmente reduzir o seu escoamento e erosão. Tais medidas podem ser responsáveis pela redução da probabilidade de ocorrência do movimento. Por exemplo, a diminuição do escoamento pode ser obtida por meio da redução da descarga de pico resultante da ação de medidas florestais, gestão de bacias hidrográficas e desvio de escoamento para outras áreas. Por outro lado, pode- se reduzir a erosão com o aumento da estabilidade das encostasse, produzido pela diminuição da descarga de água na parte alta do canal (HUEBL & FIEBIGER, 2005). A Tabela 2.9 apresenta a classificação das medidas ativas considerando sua função, proposta por NUNES & RIOS FILHO (2009).

O tipo de estrutura de controle de fluxo de detritos depende das características topográficas, estruturas geológicas, litologia do material envolvido, localização, geomorfologia, aspectos geotécnicos, facilidade de acesso na área, topo de material que compõe o fluxo e da estrutura local para a realização da obra (MOTTA, 2014; PELIZONI 2014).

VAN DINE (1996) classifica as estruturas de controle de fluxos de detritos em dois tipos: abertas e fechadas. As estruturas abertas confinam e restringem o movimento do fluxo, enquanto que as estruturas fechadas são dimensionadas para conter o material do fluxo. Entre as estruturas abertas estão as áreas de deposição não confinadas, baffles (obstáculos de fluxo), check dams, bermas laterais, bermas de deflexão e bermas ou barreiras terminais. As estruturas fechadas são representadas por debris racks, barragens permeáveis, estruturas vazadas que funcionam como barreiras resistentes aos detritos, e que são projetadas para impedir a passagem dos detritos grosseiros. A Figura 2.8 apresenta as medidas ativas contra fluxos de detritos.

As áreas de deposição não confinadas são aquelas situadas na zona de deposição e que coletam os detritos. São geralmente áreas de depósito extensas, que ser acompanhadas de defletores (baffles) e bermas terminais. Os defletores são estruturas que impedem e/ou retardam o fluxo e são usualmente complementares a outras medidas (NUNES & SAYÃO, 2014).

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Tabela 2.9. Medidas ativas para mitigação de fluxo de detritos (NUNES & RIOS FILHO, 2009).

As barragens permeáveis (check dams) reduzem os gradientes e minimizam a erosão de fundo e laterais do canal, em contraste com as bermas laterais e de deflexão, cuja função é controlar a trajetória de fluxo e restringir o espraiamento lateral. As bermas ou barreiras terminais são construídas para facilitar a deposição por obstrução do fluxo, além de aumentar o comprimento da trajetória do fluxo, promovendo a dissipação de energia. Também existem estruturas de controle abertas e fechadas conjuntas que podem ser mais eficientes, mas são mais onerosas e sofisticadas. Os túneis falsos protegem as estradas e infraestruturas que se encontram em zonas ou canais onde pode ocorrer o fluxo (NUNES & SAYÃO, 2014). Os parâmetros de projeto a serem considerados dependem da estrutura selecionada, e são específicos para cada local. Eles devem incluir parâmetros do fluxo de detritos, assim como do talvegue e da zona de deposição. Os parâmetros mais comuns são frequência e intensidade ou volume do evento, trajetória preferencial, granulometria dos detritos, distância total percorrida, vazão de pico, espessura na proximidade das estruturas, ângulo de deposição provável e forças de impacto (VANDINE et al., 1997).

Função Medida

Reflorestamento Controle de descarga

Desvio de runoff para outras áreas Reflorestamento

Uso de bioengenharia Drenagem

Estabilização do talude Alargamento de canal

Establização de leito de canal Desvio de runoff

Criação de reservatórios Alargamento de canal

Bacia de deposição de debris Bermas de deflexão

Debris flow breaker Túneis para detritos

Túneis falsos para proteção Barragens permeáveis Barreiras rígidas e flexíveis Redução de runoff

Redução de erosão

Controle de descarga

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Figura 2.8. Medidas ativas para fluxos de detritos: (a) Túnel de desvio, França (HUEBL & FIEBIGER, 2005); (b) Check dams, Espanha (COROMINAS, 2013); (c) Debris racks, Colorado, USA (DE WOLFE et al., 2008); (d) Barreiras tubulares, Japão (MISUYAMA, 2008); (e) e (f) Barragem, BC, Canadá (WIECZOREK et al., 1997); (g) Barreira flexível, Japão (VOLKWEIN et al.,2011); (h) Túneis falsos (COROMINAS, 2013).

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CAPÍTULO 3

MODELOS DE FORÇAS DE IMPACTO

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