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Meditação, oração e contemplação

A FORMAÇÃO ESPIRITUAL DO CATEQUISTA

2.2 Dimensões da espiritualidade do catequista

2.2.1 Meditação, oração e contemplação

Existem muitas formas de oração. Elas têm suas raízes nas Escrituras e na espiritualidade cristã antiga. Em toda a história da Igreja, houve santos, teólogos e mestres espirituais que afirmaram a importância desse tipo de oração, tanto para o indivíduo como para a sociedade. “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu pai em segredo; e teu pai que vê num lugar oculto, recompensar-te-á. Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de palavras” (Mt 6,6-7).

A tradição contemplativa continua prosperando atualmente, atraindo homens e mulheres que anseiam por ensinamentos espirituais que ajudem a satisfazer seu desejo de um relacionamento profundo e amoroso com Deus.

Na contemplação, somos levados pelo Espírito Santo (Gl 5,25) a entrar em profundo silêncio interior, dispensando as palavras habituais de oração e também os pensamentos e sentimentos que, em geral, são associados à oração. Para além de palavras, pensamentos e sentimentos, a contemplação é a capacidade humana inerente, que, nutrida pela graça, permite ter a experiência de união essencial com Deus.

O Espírito Santo nos torna pessoas discípulas de Jesus. Deixar-se conduzir por Ele é seguir a Jesus, é colocar-se de forma comprometida e engajada a serviço do Reino de Deus.

Vivenciar fé e espiritualidade, refletir e falar sobre essa experiência é testemunhar os valores e as relações fundamentais na dinâmica pessoal e social do Reino de Deus: é reconhecer a dignidade de todas as criaturas, respeitando os seus direitos e promovendo justiça em todas as relações, como fundamento para uma vida plena de paz.

Assim, espiritualidade é viver segundo os frutos do Espírito. Para que isso aconteça, é preciso saber quais são eles na nossa vida e entre nós. Em sua carta aos gálatas, São Paulo os enumera assim: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gl 5,22-23).

A nossa prática cotidiana vai falar concretamente da nossa espiritualidade: se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito (Gl 5,25). Muitas vezes, nós limitamos o Espírito Santo a dons, virtudes, carismas, inspirações e revelações. No entanto, Ele é Deus.

Quando Jesus diz: “Sede perfeitos como o pai celestial é perfeito” (Mt 5,48), Ele nos convida à perfeição. O Espírito Santo, dado a nós pelo sacramento do batismo, reveste o nosso interior e exterior com a roupagem da graça, que nos chama à santidade, configurando-nos a Cristo.

No diálogo entre Jesus e Nicodemos, Ele afirma que é “necessário nascer de novo” (Jo 3,7). Jesus quer ressaltar a necessidade do homem de dar espaço para a ação do Espírito em sua vida. Assim, Deus sai ao nosso encontro e nos convida a participar de sua vida pelo Espírito, oferecendo-nos uma nova vida que brota da Trindade e que só pode se desenvolver sob sua ação.

Uma vida espiritual intensa implica precisamente em uma constante abertura ao Espírito, comportando uma exigência cotidiana em cada uma de nossas ações e, de modo especial, implica também em uma consciência daquilo que dá sentido a nossa vida: é Deus quem nos convida a participar de sua comunhão plena de amor.

O exemplo de Cristo orante: o Senhor Jesus, que passou pela terra fazendo o bem e anunciando a palavra, dedicou, sob o impulso do espírito santo, muitas horas à oração. O cristão, movido pelo espírito santo, há de fazer da oração motivo de sua vida diária e de seu trabalho. A Igreja que ora em seus membros une-se à oração de Cristo95

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O catequista deve ser uma referência em oração durante toda a sua vida e o grande incentivador de seus catequizandos. Ele tem o dever de levar o catequizando a compreender a necessidade desse encontro pessoal com Deus na oração; quem não tem um contato diário com Deus, na oração, não é capaz de compreender a própria missão que está no coração do pai – a oração nos leva à ação.

Uma catequese que se renova em seus métodos com o objetivo de levar os catequizandos a ter um contato vivo e pessoal com Jesus ressuscitado

95 CELAM. Puebla. A Evangelização no presente e no futuro da América Latina. Petrópolis:

exige também uma renovação no perfil do catequista: hoje, não basta ser pedagogo, é necessário também ser mistagogo. Hoje, o catequista tem a missão dupla de transmitir o ensinamento e conduzir o catequizando no mistério da fé. Neste processo de iniciar no mistério, catequizando e catequista interagem permanentemente, crescendo e aprendendo a fé em direção à Pessoa de Cristo, que se manifesta de muitos modos, impulsionando a caminhar com Ele na construção do Reino de Deus. Jesus é o mistagogo por excelência, Ele é a referência para o catequista. Na pessoa de Jesus, encontramos três características centrais que marcam a vida e a missão do catequista mistagogo:

 A presença de Deus revelado entre nós na Pessoa de Jesus  A pedagogia com qual conduz e acompanha o iniciante  A experiência mística

A mistagogia é um caminho que requer e pede um acompanhamento pessoal. Essa relação precisa ser construída com amor, paciência, respeito e comprometimento, a fim de orientar as pessoas na iniciação à fé. Não é simplesmente uma tarefa a ser cumprida e tampouco uma apresentação teórica da doutrina, mas sim uma experiência pessoal e comunitária de fé.

Ao contemplarmos Jesus de Nazaré, o Cristo da nossa fé, nos empenhemos em fazer uma catequese que conduz ao mistério que é Deus, pois o mistério de Deus se revela na humanidade, se faz um conosco, entra na história e, a partir de dentro, a conduz a seu sentido pleno.

Pensando na vida mística que envolve a pessoa do catequista, podemos falar de dois alicerces que sustentam e põem de pé a espiritualidade: vida contemplativa e ação (missão). São eles os dois alicerces da caminhada mística na espiritualidade cristã, não somente da pessoa do catequista.

A verdadeira mística nos impele na direção de Deus e do mundo imerso em Deus. Não pode existir vida contemplativa verdadeira se ela não for um canal para a uma vida ativa, de serviço.

A vida contemplativa se ocupa com a busca da união com Deus através do caminho interior do silêncio e da meditação bíblica. Ela nos convida a uma

parada e nos insere num mundo de quietude no qual a Palavra de Deus recria tudo e todos no Cristo envolto em mistério.

A vida ativa compele-nos à ação. O seu chamado é de que nos tornemos sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14). Tanto pela luz como pelo sal, o catequista deve ser o que transforma, o que conserva, o que clareia, o que ensina, o que ajuda o irmão, o que participa ativamente da vida em comunidade, o que faz desse mundo um lugar melhor para se viver. Ser sal da terra e luz do mundo é algo que deve se manifestar em todas as ações de cada um e no dia a dia das pessoas de fé.

Catequizar hoje é dar sabor aos relacionamentos. O catequista, através do seu exemplo e de sua vivência cristã, deve ser o transformador, aquele que trabalha para fazer do mundo presente um lugar de justiça, retidão e santidade. Assim, a missão do catequista é o viver em Cristo, o viver Deus na realidade mais essencial e mais imediata de cada ser humano.