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Chamam-se em arqueologia pré-histórica «megálitos» os monumen- tos de grandes dimensões, como, por exemplo, as antas; quando se

compõem de uma só pedra, têm geralmente o nome de «monolitos»253.

Além das antas, de que já falei, os arqueólogos conhecem: o menhir254,

monolito tosco, isolado, de maiores ou menores dimensões, enterrado verticalmente no solo; o cromleck, grupo de menhires que formam uma curva; o alinhamento, fileira de menhires; a pedra baloiçante, rochedo enorme pousado sobre outro em certas condições de equilíbrio e osci- lando a um certo impulso255.

251 Trata-se de sepulturas escavadas na rocha, de contorno subtrapezoidal, por vezes antropomórfico, por vezes com um recorte destinado à cabeça do cadáver, como é o caso do exemplar representado por Leite de Vasconcelos na Fig. 6 do seu livrinho. A cronologia destas sepulturas situa-se desde os finais da Alta Idade Média até aos inícios da Baixa Idade Média, distribuindo-se desde o norte do país até ao Alto Alentejo, aproveitando frequentemente as superfícies de extensos afloramentos graníticos e raramente se encontrando isoladas.

252 Nesta obra (Carlos Ribeiro, Noticia de algumas estações [...], I, op. cit.) publicam-se os resultados das escavações realizadas por Carlos Ribeiro numa pequena cavidade natural aberta na escarpa calcária que delimita de um dos lados o povoado pré-histórico de Leceia e na qual se recolheram restos de alguns indivíduos ali depositados secundariamente (cf. João Luís Cardoso et al., O homem pré-histórico

no concelho de Oeiras. Estudos de antropologia física, Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, 1991). Porém, Leite de Vasconcelos poderia ter invocado, com maior propriedade, a gruta da Casa da Moura, ou a da Furninha, como necrópoles neolíticas importantes, as quais refere em passagens anteriores desta sua obra.

253 «Menires» será o termo mais adequado. 254 menhir = menir.

255 Para esta nomenclatura e mais minudências, vide A. Filipe Simões (Introducção á Archeologia, cap. vi), Estacio da Veiga (Antiguidades de Mafra, pág. 6). (NA)

Têm-me dito que existem em Portugal todos estes monumentos256;

mas faltam-me indicações positivas para deles poder dizer aqui alguma coisa. O onomástico também neste caso poderia servir de auxílio ao arqueólogo. Assim, Peravana («pedra abana») é provável que conserve a memória de uma pedra baloiçante257.

Resumo258

A vida neolítica passou-se em melhores condições que a paleolítica. O clima devia diferir muito pouco do atual.

O homem caçava ainda e pescava; mas já sabia também extrair alguns produtos da terra, essa fecunda mãe sempre pronta a dar.

Diferentes raças habitaram o nosso solo – raças que, em parte, seriam representantes das do período precedente259, em parte repre-

sentantes de raças novas, vindas de longe. De feito260, os caracteres

anatómicos estabelecem analogias entre os habitantes neolíticos de Portugal e os de outros pontos, como os de Canstadt (raça representada no cabeço da Arruda), os mongóis, os bascos. A análise dos produtos da civilização leva a resultados semelhantes. Já acima vimos que as antas enxameavam toda a terra, e não pode deixar de se estabelecer uma relação tal ou qual, se não de parentesco biológico, pelo menos de comunicação, entre os construtores delas. O mesmo direi para as enigmáticas covinhas. Muitas machadinhas da Furninha são feitas de diferentes rochas que não existem na localidade, o que mostra que os trogloditas de Peniche comunicavam com tribos de regiões afastadas261.

Em Liceia apareceram muitos instrumentos de substâncias que não só não têm jazigo ali, mas nem mesmo no país, como o sílex negro, o que confirma o raciocínio precedente. As construções e a cerâmica

As «pedras baloiçantes» resultam da erosão de grandes massas graníticas, isolando-as naturalmente, produzindo assim aquele tipo de ocorrências, de carácter estritamente natural.

256 Os alinhamentos pré-históricos de menires só excecionalmente é que foram identificados no terri- tório português. Trata-se de um conjunto de pelo menos três estelas-menir do arranco do Lavajo, Alcoutim (cf. João Luís Cardoso et al., «Menires do Alto Algarve Oriental: Lavajo I e Lavajo II (Alcou- tim)», Revista portuguesa de arqueologia, 5 (2), 2002, pp. 99-133). Existe um alinhamento de menires em Tera, Montemor-o-Novo, publicado por Leonor Rocha e colaboradores, mas é possível que a sua cronologia seja já da Idade do Ferro, uma vez que ali se encontraram, em aparente associação, espólios daquela época.

257 Adolfo Coelho, in Compte-rendu do congresso de Lisboa, pág. 419. (NA)

258 Tratando-se de resumo da exposição anterior, a qual foi devidamente comentada, optou-se por prescindir de apresentar nesta parte do trabalho quaisquer comentários, por se afigurarem redun- dantes com os anteriormente apresentados.

259 No cabeço da Arruda (época neolítica) apareceu um crânio, onde os autores da Crania ethnica (Quatrefages e Hamy) veem a fusão de duas raças, uma das quais é a do Vale do Arieiro (época paleolítica). (NA) 260 de feito = com efeito.

liceienses não deixam igualmente de abonar, segundo Carlos Ribeiro, a existência de duas civilizações nesse território da Estremadura262.

Além das raças pequenas de que falei, viveram também (ao que parece) em Portugal raças de talhe gigantesco (ou, pelo menos, pouco comum) e que não deixariam, porventura, de se relacionar com os homens grandes, fortes, musculosos, ósseos, de nariz às vezes aquilino, que Henri Martin observou em Castela e que, na opinião dele, repre- sentarão talvez uma raça pré-histórica (Compte-rendu, 231).

Destes homens, uns extinguir-se-ão na luta pela existência, outros perpetuar-se-ão ligados com os que provieram das invasões e comu- nicações subsequentes.

Apesar de toda a vantagem sobre o período precedente, que costumes os do período neolítico!...

O homem era antropófago, pintalgava o seu corpo com drogas e envolvia o pescoço em colares de contas, porque (como Spencer nota) a humanidade tratou primeiro de se adornar do que de se vestir!

Por toda a parte esculpia hieroglíficos e levantava monumentos. Quando a morte vinha bater-lhe à porta da gruta de terra, o seu corpo era arrastado para uma anta, sobre a qual depois os parentes e os amigos celebravam festins cruentos e faziam libações bárbaras por grosseiras taças de barro, à maneira dos selvagens modernos – costumes que, em parte, se conservaram nas tradições populares.

A eternidade era acaso um longo mundo, de luta e de ação, onde a vida terrestre se continuava; por isso se depositavam junto do morto armas e utensílios para ele prosseguir lá nos seus hábitos guerreiros ou laboriosos.

CAPÍTULO II

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