• Nenhum resultado encontrado

2 CORRUPÇÃO NA POLÍCIA E A RESPONSABILIDADE DOS

3.1 MEIOS DE CONTROLE APLICADOS

A forma mais comum de controle da corrupção policial é o chamado controle interno, sendo que este é realizado por meio das corregedorias, órgãos responsáveis pela fiscalização, apuração e sanção das irregularidades.

No caso específico da Polícia Civil de Rondônia, embora sejam raros os casos de processo administrativo instaurado pela Corregedoria da Polícia Civil de Rondônia especificamente, sendo que de acordo com informações fornecidas pelo órgão acima no mês de novembro de 2011, nos últimos cinco anos há o registro de quatro casos de policiais civis envolvidos com crimes, sendo dois casos de extorsão, um caso de associação para o tráfico e um caso de homicídio. No entanto, apenas os casos de extorsão tiveram os processos concluídos com a demissão dos servidores nos anos de 2008 e 2009, enquanto que os outros dois processos ainda estão tramitando, com os servidores afastados das funções.

O Processo Administrativo Disciplinar (PAD) é o meio legal utilizado pela Administração para a aplicação de penalidades por infrações graves cometidas por seus servidores e no âmbito da Administração Pública Federal, encontra-se disciplinado nos art. 143 a 182 da Lei n. 8.112/1990.

De acordo com Alexandrino (2008, p. 387):

A instauração de PAD será sempre necessária para a aplicação das penalidades de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão, destituição de função comissionada e no caso de suspensão superior a 30 dias (lembremos que o limite da penalidade de suspensão é de 90 dias).

Outra forma de controle da corrupção é a instauração de inquérito policial, quando policiais são flagrados cometendo infrações penais, sendo que após serem

condenados e transitado em julgado a decisão, necessariamente é instaurado o PAD (caso ainda não tenha sido instaurado) e ao final deste o servidor é demitido.

Nestes casos, quando estão envolvidos policiais civis, é muito comum o inquérito policial ser instaurado pela Polícia Federal, levando-nos a conclusão que mesmo não sendo admitida, existe uma certa obstacularização para se apurar irregularidades dentro do quadro policial.

Conforme assevera Antônio Flávio Testa (apud GIESTEIRA, 2011, não paginado), “A corrupção policial e suas alianças com o crime organizado têm conexões muito poderosas e difíceis de serem desmontadas”.

Existem ainda casos em que não encontrando outra maneira de combater a corrupção no meio policial, optam por extinguir todo o quadro de policiais, como o exemplo do estado do Amazonas, como foi lembrado pelo Ministro Cezar Peluso, Presidente do Supremo Tribunal Federal – STF (apud ALMANÇA, 2011, não paginado):

Mesmo dizendo que não falaria dos “problemas de segurança, como a questão crônica da violência e corrupção policial‟‟, o ministro citou outro caso de corrupção. “Por mera coincidência, lembrei-me de que alguns anos atrás, o Amazonas foi obrigado a extinguir a Polícia Civil. Porque o grau de corrupção era tal que era impossível recuperar os agentes. Não sei como está hoje, mas foi uma tentativa‟‟, afirmou.

Contudo, a melhor maneira de controle da corrupção é o controle interno, com os próprios policiais comprometidos com a corporação e a imagem que a sociedade atribui a ela. De acordo com Marcos Bretas (apud MUNHOZ, 2010), historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no artigo sobre origem e custo da corrupção:

[...] o que mais tem funcionado é o controle interno, exercido pelos próprios policiais. "É preciso quebrar as cadeias de solidariedade que existem entre o bom e o mau policial. Percebo que isso está começando a acontecer. Hoje, o bom policial se preocupa muito mais com a boa imagem da corporação do que com o medo de denunciar o colega", constata o historiador.

Realmente, não resta a menor dúvida que o comprometimento do bom policial com a instituição é a melhor maneira de controlar aqueles que não merecem fazer parte daquele grupo.

infância, contribuem de maneira especial para que cheguem a ocupar os postos policiais, apenas cidadãos que honram sua instituição e querem verdadeiramente uma sociedade melhor.

Pessoas que não aceitam que poucos se beneficiem em detrimento de muitos, e em consequência destes atos, acabem por desencadear um circulo de violência que poderá inclusive afetar a ele próprio ou seus familiares, como no exemplo das quadrilhas de traficantes de drogas que compram armas de policiais e em tiroteios contra operações policiais, podem atingir pessoas que não tem nenhuma ligação com o crime, apenas a triste sorte de estarem no local e hora errada.

O articulista Carlos Pino Torres (2009, não paginado), Oficial Policial da Polícia de Investigações do Chile, país detentor do melhor índice de percepção da corrupção da América Latina, apresenta uma relação de sete medidas para o controle da corrupção policial, conforme relação:

1. Aperfeiçoamento dos mecanismos de seleção de pessoal; 2. Reforço de valores policiais na primeira etapa de formação profissional;

3. Reforço cíclico de valores no pessoal por vários anos;

4. Geração de uma maior capacidade da instituição para identificar e monitorar fatores de risco;

5. Explicitação de condutas exemplares e reforço de condutas positivas;

6. Consolidação de mecanismos que aumentam a capacidade de detecção de casos de faltas à probidade, corrupção e procedimentos irregulares; e

7. Exploração e busca de estratégias validadas para tratamento do tema.

Ainda de acordo com o artigo do Oficial da Polícia Chilena, Carlos Pino Torres (2009, não paginado), embora não haja indícios de corrupção sistêmica instalados naquela instituição, conforme demonstram os monitoramentos internos e os estudos de registros estatísticos externos, é necessário um enfoque situacional e preventivo, e não apenas punitivo, tratando os fatores que geram oportunidades de corromper. Portanto, além da relação de medidas para o controle da corrupção policial acima elencadas, há uma extensa relação de medidas que estão sendo implementadas na Polícia de Investigações do Chile (PDI), que apontam para uma política de tolerância zero às condutas indevidas e que passam a ser matéria de prestação de contas das respectivas chefias e repartições envolvidas na sua implementação, que serão apresentadas no quadro a seguir :

Característica Prevenção

1. O reforço do Departamento V de Assuntos Internos e do Departamento VII de Procedimentos Policiais, com pessoal destinado à investigação das denúncias e queixas contra funcionários. 2. A criação de uma Unidade de Análise e Monitoramento de condutas ilícitas e indevidas na Inspetoria Geral.

3. A implementação de um programa permanente de atualização de conhecimentos e práticas modernas de gestão policial através da Academia Superior de Estudos Policiais.

4. A criação de um Departamento de Direitos Humanos e Deontologia Policial na Chefia de Educação Policial.

5. O reforço acadêmico-valorativo do pessoal vinculado à Escola de Investigações Policiais.

6. A criação de uma Comissão Especial ad hoc para estudar, revisar e propor melhoras no corpo jurídico e regulamentar da PDI

7. A antecipação dos prazos de execução do Projeto 10 do Plano Estratégico Institucional “Minerva”, que busca gerar, executar e sistematizar estratégias orientadas a evitar que aconteça uma conduta indevida.

8. A execução de um programa de indução em nível nacional como parte da Agenda de Probidade e Transparência, sobre a base de conversas sobre acesso à informação pública.

Característica Controle

9. Foi fortalecida a liderança da Chefia Nacional de Crimes contra a Propriedade.

10. Será criada a figura de um “Controlador Regional Interno” que terá a missão de contribuir com a desconcentração da labor da Inspetoria Geral.

11. Será implementada uma Comissão Especial para formular propostas que permitam aperfeiçoar as atribuições do Conselho Superior de Ética Policial.

12. Será dada continuidade à aplicação seletiva e aleatória e será aumentada a quantidade de testes de droga entre o pessoal institucional.

13. Será criada uma Unidade Especial destinada a desenhar os mecanismos e cursos de ação correspondentes, a fim de melhorar a resposta a queixas e denúncias dos cidadãos, que facilite a pré-denúncia via web.

14. Serão introduzidos novos índices de gestão no sistema de monitoramento e controle através da Ordem Geral que determina as metas, índices e indicadores da gestão policial.

Caracteristica Monitoramento

15. Serão implementadas entrevistas aleatórias e obrigatórias com funcionários destinados a novas unidades dentro dos primeiros 6 meses, com a finalidade de detectar fatores de risco.

16. Será criado um cadastro permanente de sumários e investigações sumárias pendentes, permitindo antecipar resultados e possíveis fatos de alto impacto mediático.

17. Será estudada a criação de um sistema de prevenção de dívidas excessivas por parte dos funcionários. Isto busca evitar condutas indevidas para sustentar dívidas econômicas.

18. Serão realizadas reuniões com o pessoal em todas as unidades do país, a fim de explicar os fatos e sensibilizá-los respeito à responsabilidade do mando e do controle social informal responsável que devem exercer sobre seu pessoal.

19. Serão promovidas reuniões das chefias superiores com autoridades regionais, provinciais e locais, incluindo os meios de comunicação, a fim de prover antecedentes verídicos e estatísticas que reflitam a real magnitude do problema, facilitando o conhecimento das ações empreendidas pela PDI neste campo.

Figura 1: Medidas implementadas na Polícia de Investigação do Chile (PDI) Fonte: Torres (2009)

Ao analisar as medidas acima, vê-se que são passíveis de serem implantadas no Brasil, bastando que façam os ajustes necessários para a realidade geográfica brasileira.

Outra maneira de se combater a corrupção policial é a independência financeira e política das polícias. Não parece realmente nada correto a polícia ficar

atrelada ao poder Executivo, quando em muitos casos precisa investigá-lo, e não são raros os exemplos.

Como disse a Juíza Renata Gil (apud BRUNET, 2011) em entrevista ao jornal O Globo :

[...] Primeiro, a polícia precisa ser independente, como o Tribunal de Justiça é. Independente financeira e administrativamente. Hoje, ela é vinculada a um poder político, ao governador do estado. E o governo interfere nos cargos. A qualquer momento, por uma decisão do governo, o policial é trocado de delegacia, de batalhão. Quem escolhe o presidente do Tribunal de Justiça são os desembargadores do Órgão Especial. Na polícia não é assim. O Ministério da Justiça já discute há bastante a possibilidade de os governos fazerem um repasse obrigatório de verba às polícias. Essa seria uma solução para que as instituições alcançassem a tão necessária autonomia.

Espera-se que isso seja realidade para breve e não fique apenas nas discussões intermináveis dentro de gabinetes, sem que se faça algo de concreto para mudar a realidade que aí está.

No entanto, existem motivos para ficarmos preocupados com a implantação destas novidades, a Polícia Federal apesar de possuir orçamento próprio e servir como parâmetro para as demais classes policiais, tem demonstrado preocupação por intermédio de entidades de classes representativas de seus servidores com a situação de contenção de despesas vivenciadas na atualidade.

Os cortes de gastos determinados pela Presidenta Dilma Roussef no intuito de conter a inflação, acabaram refletindo em consideráveis cortes na emissão de diárias para os policiais e também na paralização da contratação de novos policiais.

De acordo com estudos realizados pela Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (FENADEPOL), e que se encontram à disposição para consultas do público (AZIMUTE, 2011), a situação é:

Essas entidades classistas levantaram dados que apontam para uma situação alarmante. O enxugamento do Orçamento da União de 2011, determinado pela Presidenta Dilma Rousseff com um corte recorde de R$ 50 bilhões para tentar conter a inflação, atingiu em cheio a Polícia Federal.

A PF é uma das principais responsáveis pelo combate à corrupção e ao crime organizado. As limitações de verbas podem ainda comprometer as ações do órgão nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014. A situação tende a se agravar, pois a União sinaliza com a manutenção da política de cortes no Orçamento de 2012.

O orçamento do Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da Polícia Federal (Funapol), inicialmente previsto em R$ 479 milhões, foi reduzido em 28%. Além disso, os gastos com diárias, transporte, hospedagem e alimentação de policiais federais em missão ou operações oficiais custeados pelo Funapol foram limitados a R$ 58 milhões

em 2011, uma redução de cerca de 35% em relação aos R$ 89,8 milhões utilizados em 2010. Em função disso, a PF está sendo obrigada a frear o deslocamento de policiais em operações.

Diante das informações nada animadoras acima, resta-nos esperar que nossos governantes e legisladores priorizem os serviços de segurança, para que o Brasil consiga continuar avançando na luta contra a corrupção no meio policial.

3.2 PRIORIZAR A PUNIÇÃO NAS ALTAS ESFERAS

Documentos relacionados