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Melhoramento genético e biotecnologia

5 INOVAÇÃO E CONHECIMENTO NA FRUTICULTURA

5.5 INOVAÇÕES E TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO

5.5.2 Melhoramento genético e biotecnologia

Os principais problemas da cultura do mamoeiro no Brasil decorrem de sua suscetibilidade a pragas e doenças, inexistência de cultivares recomendadas para os diversos ecossistemas e deficiências no fornecimento de sementes e mudas.

É recente, porém, o emprego de técnicas de biotecnologia como ferramentas importantes nos programas de melhoramento genético da cultura, com vistas a contribuir para a melhoria da produtividade e qualidade dos frutos, como também a atender às exigências de mercados internacionais, especialmente o europeu e o americano (OLIVEIRA et al., 1996).

Antes do desenvolvimento de um programa de melhoramento genético, é necessária uma definição prévia sobre os critérios de seleção para as características demandadas pelos clientes e usuários (COSTA e PECOVA 2003). Nesse sentido, alguns caracteres das plantas e frutos, que devem ser utilizados nos programas de melhoramento em diferentes regiões, são citados por vários autores37, a saber:

Características da planta: • vigor;

• ausência de ramificação lateral;

• frutificação precoce e em altura de planta mais baixa;

• ausência ou ocorrência mínima de carpeloidia, petândria e esterilidade feminina, onde os tipos de hermafroditas são cultivados;

• resistência a doenças e pragas; • alta capacidade de produção. Características do fruto:

• tamanho uniforme, livre de manchas, com casca amarelo-clara quando maduro; • polpa grossa com cavidades internas pequenas;

• alto teor de açúcares, ausência do odor desagradável almíscar; • longevidade pós-colheita.

Os programas de melhoramento genético tornaram-se prioritários, em diferentes instituições nacionais de pesquisa, contando com parcerias entre as instituições públicas de pesquisa, empresas privadas, universidades e associações nacionais de produtores, com o objetivo de reduzir a dependência brasileira do mercado externo de genes melhorados do mamão. O avanço do programa em grande parte está relacionado ao intercâmbio entre as diferentes instituições, promovendo a geração, a difusão e a aplicação do conhecimento na produção (COSTA e PACOVA, 2003). Existem duas estratégias de melhoramento, a convencional e a não-convencional, que serão resumidamente descritas a seguir.

Costa e Pacova (2003, p. 83) afirmam que “[...] mesmo com a evolução dos métodos de engenharia genética, o melhoramento convencional continua sendo de grande importância para o desenvolvimento e a manutenção de variedades com características superiores”. Tal método consiste basicamente nos seguintes procedimentos:

• Coleta de genótipos: coleta de materiais genéticos com características superiores para a formação da base do programa de melhoramento;

• Cruzamento intra-específico: os retrocruzamentos são utilizados quando se necessita melhorar, especificamente, apenas uma característica de uma variedade comercial “defeituosa” em apenas poucos genes;

• Teste de competição: nos testes de competição de genótipos selecionados em gerações avançadas, deve-se proceder a avaliações em campo, ou seja, deverão ser avaliados preliminar e regionalmente, antes de se avaliar em macroparcelas (ou teste de produtores);

• Capacidade combinatória de linhagens para produção de híbridos: com interesse em reduzir a dependência dos produtores por sementes importadas, principalmente do grupo Formosa, inúmeros trabalhos buscando a obtenção de híbridos do grupo Formosa estão sendo realizados em diferentes institutos de pesquisa. O primeiro híbrido brasileiro UENF/Caliman 01 foi desenvolvido através da parceria entre a Caliman Agrícola S.A., sediada em Linhares – ES, e a Universidade Estadual Norte Fluminense. O híbrido se mostrou bastante produtivo e com frutos de qualidade em comparação com o Tainung 01.

Considerando o melhoramento não-convencional, a engenharia genética é uma das técnicas aplicadas na biotecnologia que pode ser utilizada para explorar o potencial dos vegetais, permitindo mudanças diretas ou indiretas no gene e nas frequências genotípicas, podendo ser vista como uma revolução na área de melhoramento genético (COSTA e PACOVA, 2003). Para os autores “[...] a ocorrência de plantas transgênicas vem se processando naturalmente durante a evolução das espécies, mas foi impulsionada com a chegada da biotecnologia e da engenharia genética”.

Uma alternativa que vem sendo desenvolvida é o mamoeiro transgênico resistente ao PRSV. O primeiro mamoeiro transgênico, planta denominada linha 55-1, foi desenvolvido com a colaboração entre a Univesidade de Cornell do Havaí (EUA) e a Empresa UpJohn. Esta planta mostrou-se resistente aos isolados havaianos, porém, quando testada com isolados de outras regiões, incluindo o Brasil, apresentou suscetibilidade. Em razão desse problema, a Embrapa, por meio do Centro de Mandioca e Fruticultura na Bahia, em parceria com a Universidade de Cornell, desenvolveu o mamoeiro transgênico resistente aos isolados brasileiros de PRSV (RUGGIERO et al, 2003).

O licenciamento do primeiro experimento transgênico de campo no país, com regras definidas pelo governo, foi concedido no dia 20/10/2003, durante um seminário, com a presença da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcos Luiz Barros, entregou ao presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Clayton Campanhola, uma autorização para plantio e estudo de mamão geneticamente modificado, na área de Cruz das Almas, no sul da Bahia. O Ibama autorizou a Embrapa a realizar pesquisas com sementes geneticamente modificadas de

mamão para que a planta resista ao vírus da mancha anelar. Atualmente, o vírus é a pior ameaça ao cultivo do mamão, diminuindo o tamanho da folha e prejudicando o crescimento da fruta e, com isso, a sua produção. A pesquisa servirá para verificar o comportamento do mamoeiro transgênico fora dos laboratórios e o impacto ambiental da cultura alterada geneticamente. O pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Francisco Aragão, estima que a pesquisa deve durar de quatro a cinco anos. De acordo com Aragão, todos os frutos da plantação devem ser destruídos, o que deixa a pesquisa um pouco mais lenta (Jornal do Brasil, 21/10/2003).

A exploração da cultura do mamão no Estado do Espírito Santo é realizada, atualmente, com genótipos do grupo Solo, como Sunrise Solo e Golden, esta voltada especialmente para o mercado externo in natura e genótipos do grupo Formosa, principalmente o Tainung nº 1. A maior parte dos plantios, cerca de 60%, utiliza genótipos do grupo Solo e 40% do Tainung nº 1. No estado destacam-se dois municípios produtores da cultura, Pinheiro, maior produtor de mamão Formosa, e Linhares, maior produtor de mamão Solo (ALVES, 2003).

O cultivo do mamoeiro do grupo Formosa, no estado, vem se expandindo nos últimos anos. Porém, o maior problema da expansão da área plantada é a limitação da aquisição de sementes híbridas, devido ao fato de serem importadas da China a preços elevados. Dessa forma, o aproveitamento de sementes de mamoeiro do grupo Solo, sem qualquer critério de seleção, e a utilização de gerações do híbrido do grupo Formosa Tainung 01 estão impedindo que o produtor obtenha mamoeiros com as mesmas características das variedades e híbridos originalmente introduzidos (COSTA e PACOVA, 2003).

O Programa de Melhoramento Genético do Incaper, desenvolvido a partir de 1991, tem como objetivo gerar genótipos superiores aos atuais (variedades e híbridos), com elevada produtividade, adaptados, resistentes e/ou tolerantes às principais pragas e doenças, com características agronômicas e comerciais desejáveis, principalmente com frutos de alto padrão de qualidade, para atender o mercado interno e externo. O programa é constituído pelas seguintes etapas:

• Seleção massal e obtenção de progênies; • Obtenção de híbridos;

• Ensaios de competição de genótipos superiores; • Banco ativo de germoplasmas;

• Multiplicação de sementes.