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O melhoramento genético vegetal é definido como a arte e a ciência que visam à modificação genética das plantas para torná-las mais úteis aos homens, animais e ambiente. Desde os primórdios o homem iniciou o processo de melhoramento selecionando espécies e variedades mais desejáveis, obtendo-se assim as primeiras mudanças alélicas e contribuindo de forma decisiva para as características das espécies cultivadas atualmente (BORÉM e MIRANDA, 2005).

Em um âmbito geral, o melhoramento de forrageiras no Brasil foi intensificado na década de 80, com coletas de germoplasma que tiveram como objetivos a exploração da variabilidade natural existente bem como a geração de nova variabilidade por meio de cruzamentos (SAVIDAN et al., 1985). A seleção, a partir da variabilidade natural nessas coleções, tem sido o principal método de desenvolvimento de cultivares utilizado para forrageiras tropicais no Brasil, no entanto este método, apesar de mais simples e rápido, é finito, visto que se baseia apenas na avaliação da capacidade adaptativa de materiais coletados

na natureza. O melhoramento de forrageiras via recombinação genética passa, portanto, a se constituir na melhor opção na geração de novos cultivares (VALLE et al., 2009).

Segundo Valle et al. (2009), o melhoramento de forrageiras tropicais, no Brasil e no mundo, é uma atividade que demanda equipes multidisciplinares. Por limitações de germoplasma, de equipes com conhecimentos básicos e de métodos eficientes de triagem para avaliar os complexos critérios de mérito, são poucos os gêneros e espécies trabalhados com o fim de responder à urgente demanda por diversificação dos extensos monocultivos que se formaram no Brasil Central.

Dentro do gênero Paspalum, Ortiz et al. (2013) destacam os principais objetivos em programas de melhoramento genético desta cultura, que podem ser enumerados: (a) tolerância ao frio e crescimento em estações mais amenas; (b) plantas com maior rendimento de sementes; (c) resistência ao pastejo; (d) maior valor nutritivo; e (e) resistência a estresses bióticos. No entanto, o autor destaca alguns pontos que devem ser levados em consideração antes de se iniciar um programa de melhoramento envolvendo espécies do gênero Paspalum como: (1) disponibilidade de uma coleção diversa de germoplasma; (2) conhecimento adequado da biologia, citologia e sistema reprodutivo do material disponível; e (3) objetivos explícitos e alcançáveis. Assim sendo, vale a pena ressaltarmos que o presente trabalho entra em conformidade com o item 2, que vem a enriquecer o conhecimento do modo reprodutivo dos acessos de Paspalum pertencentes ao grupo informal Plicatula, sendo informações indispensáveis para os programas de melhoramento do gênero.

É relatada a ocorrência da apomixia no gênero Paspalum. Assim sendo, o melhoramento genético dentro deste gênero pode ser realizado por meio de seleções de ecótipos superiores e via cruzamentos. Para viabilizar a seleção de ecótipos, é necessária a realização de coletas de germoplasma, avaliação, seleção, multiplicação dos melhores ecótipos e liberação de genótipos superiores como novas cultivares apomíticas, ou seja, clones propagados por sementes (ORTIZ et al., 2013). Como exemplo de seleção de ecótipos superiores, foi lançada no mercado em meados do século XX a cultivar tetraploide Argentina (PI 148996), que foi oriunda de uma avaliação de mais de 80 acessos de P. notatum e é amplamente cultivada até os dias atuais (BLOUNT et al., 2009). Existem várias espécies pertencentes ao grupo informal Plicatula (P. atratum, P. guenarum e P. plicatulum) que foram lançadas como cultivares no mercado, fruto do trabalho de diversas equipes de melhoramento genético do mundo. Como exemplo de cultivares lançadas do grupo Plicatula, encontramos a cultivar Capim Pojuca (P. atratum - BRA-009610), lançada no mercado pela Embrapa Cerrados em 2002 e que possui grande produção de forragens e sementes, boa resistência a

ataques de cigarrinhas, além de boa palatabilidade (FERNANDES et al., 2002). Já a cultivar Azulão (No 586) de P. guenoarum, originária do Brasil, apresenta boa palatabilidade aos animais, boa resistência à geada e floração tardia (TROPICAL FORAGES, 2019). A cultivar Bryan (CPI 21378) de P. plicatulum possui boa palatabilidade aos animais sendo adaptada a solos costeiros com baixa fertilidade (TROPICAL FORAGES, 2019).

O melhoramento de genótipos apomíticos de Paspalum via hibridação começou com o trabalho pioneiro do Dr. G. W. Burton (USDA-ARS, Tifton, GA, EUA) e sua equipe, que geraram plantas tetraplóides sexuais induzidas por colchicina (BURTON e FORBES, 1960) e as cruzaram com ecótipos tetraplóides naturais para obter híbridos apomíticos, que não foram liberados como cultivares (BURTON et al, 1992). Em outro trabalho, um híbrido sexual tetraplóide foi cruzado com um ecótipo local argentino para produzir vários híbridos, dos quais foi originada a cultivar 'Boyero UNNE', que foi lançada em 2012 como a primeira cultivar apomítica de Paspalum desenvolvida pelo método de hibridação (QUARÍN et al., 2003).

Além dos métodos tradicionais de melhoramento descritos, é relatado o uso da engenharia genética no melhoramento de espécies de Paspalum, principalmente da espécie de

P. notatum, detentora de um grande potencial para gramados e fins forrageiros. Plantas de P. notatum se mostraram resistentes à lagarta do cartucho do milho Spodoptera frugiperda por

meio da inserção de um gene cry1Fa codificando uma δ-endotoxina de Bacillus thuringiensis pelo bombardeamento de partículas (LUCIANI et al., 2007). Sandhu et al. (2007) inseriram por meio de técnica de biobalística o gene “bar” que conferiu resistência ao glifosato em plantas de P. notatum e permitiu um incremento na habilidade competitiva contra plantas daninhas durante o estabelecimento de pastagens. No entanto, vale a pena ressaltarmos que nenhuma destas novas plantas geneticamente modificadas foram liberadas no mercado.

Desta forma, poucos são os trabalhos relatados na literatura que possuem como base a caracterização reprodutiva de espécies do gênero Paspalum, pertencentes ao grupo informal Plicatula. Assim sendo, os resultados deste trabalho são de grande importância uma vez são informações que podem servir como base para um programa de melhoramento genético de apomíticos com potenciais aplicações na alimentação animal e possível incremento na produção de carne no país.