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O melhoramento genético de plantas é uma das áreas da ciência que obteve maior sucesso no Brasil. São inúmeros os resultados que mostram a sua contribuição no agronegócio (Vencovsky & Ramalho, 2006). Praticamente, todas as espécies que compõem o agronegócio no país foram introduzidas. Essas introduções iniciaram logo após o descobrimento. O trigo e a cana-de-açúcar foram as primeiras, em 1532. O café, por exemplo, chegou em 1727, a Belém do Pará.

A adaptação das cultivares não foi imediata, pois ocorre interação dos genótipos x ambientes. Foi necessária muita persistência dos primeiros agricultores para que essas culturas pudessem ser economicamente cultivadas. Em função desses trabalhos, o Brasil tornou-se exportador de produtos agrícolas há algumas centenas de anos (Ramalho et al., 2009).

Como conseqüência, nos últimos 30 anos, a área destinada ao cultivo de grãos tem permanecido basicamente a mesma e a produção de grãos está crescendo anualmente, possibilitando atender a demanda do mercado interno como também das exportações (Ramalho et al., 2009).

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Deve ser mencionado, entretanto, que o número de profissionais que dedicam ao melhoramento genético é pequeno e com tendência à redução (Vencovsky & Ramalho, 2006).

Com base no entendimento de que as plantas forrageiras podem pertencer aos mais diferentes gêneros, apresentando hábito de crescimento, estrutura reprodutiva e ciclo vegetativo variáveis, pode-se concluir que discutir os métodos adaptados ao melhoramento para forrageiras equivale a tratar de todos os métodos de melhoramento existentes para plantas. Dessa forma, é mais conveniente focalizar, apenas, os métodos mais freqüentemente utilizados e as espécies mais importantes (Souza Sobrinho et al., 2009).

Valle et al. (2008) comentam que no Congresso Internacional de Pastagens em Dublin, em 2005, aconteceu um simpósio a respeito do melhoramento de forrageiras e gramados, e quase todos os trabalhos foram direcionados às forrageiras temperadas alfafa, trevo e azevém. Dos 53 trabalhos apresentados, apenas oito envolviam forrageiras tropicais.

A intensificação dos sistemas de produção de leite e carne vem ocorrendo, notadamente, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. Na busca pelo aumento da produtividade, esses sistemas requerem o uso de animais de maior potencial genético e que, ao mesmo tempo, exigem alimentos volumosos de melhor qualidade. Isso significa que existe intensa procura por novas variedades forrageiras que combinem elevada capacidade de produção com alta qualidade. Na atualidade, poucas variedades preenchem estes requisitos, sendo grande o desafio do melhoramento na obtenção de novas variedades (Ramalho et al., 2009).

Sem dúvida, uma condição básica para que o melhorista realize com êxito suas atividades é o conhecimento profundo da espécie com a qual trabalha; detalhes fitotécnicos relacionados ao cultivo da espécie são também fundamentais para que o melhorista tenha percepção clara no estabelecimento de

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prioridades para o seu programa e, sobretudo, habilidade para realizar com sucesso a seleção de indivíduos geneticamente superiores (Bueno et al., 2001).

O melhoramento de espécies destinadas à alimentação animal, forrageiras, não se encontra no mesmo nível de conhecimento do melhoramento genético da maioria das outras culturas, tais como cereais, madeiras e hortaliças. Enquanto, para essas culturas, os incrementos proporcionados pelo melhoramento são inquestionáveis e reconhecidos por todos como de suma importância para o aumento de produtividade e qualidade das lavouras, sustentando o crescimento da população mundial, para as forrageiras a situação é diferente (Souza Sobrinho et al., 2009).

Dentre as plantas forrageiras, o nível de conhecimento é muito maior para as espécies de clima temperado, principalmente aquelas utilizadas nos países europeus e nos Estados Unidos. Para a alfafa, por exemplo, espécie considerada a rainha das forrageiras, os conhecimentos disponíveis na literatura são semelhantes ao de algumas culturas. No caso das espécies tropicais, pouco se conhece e são poucos os programas de melhoramento em andamento no mundo (Pereira et al., 2001).

Em geral, as gramíneas tropicais possuem qualidade inferior em relação às espécies temperadas, entretanto apresentam produtividade e rusticidade superiores (Minson, 1990; Van Soest, 1994). Dessa forma, entre os principais objetivos dos programas de melhoramento de forrageiras tropicais, destacam-se parâmetros de digestibilidade, composição química e consumo animal. A melhoria das cultivares atuais depende da utilização da variabilidade genética disponível no germoplasma. Para algumas espécies pode-se recorrer ao germoplasma de espécies pertencentes a conjuntos gênicos próximos, para conseguir combinações gênicas mais adequadas. Nas pastagens tropicais, utilizadas de forma contínua ao longo do ano, o melhoramento de forrageiras deve ser direcionado, também, para manter uma boa disponibilidade de forragem

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e atender às exigências nutricionais dos animais, produzir sementes viáveis em quantidades satisfatórias, tolerar pisoteio e pastoreio, suportar estresses nutricionais e climáticos e tolerar ou resistir pragas e doenças (Souza Sobrinho, 2005).

O Brasil possui extensas áreas ocupadas por diferentes formações campestres, como o cerrado, o pantanal, a caatinga e o pampa gaúcho. Dentro de cada um destes macroecossistemas, o número de ambientes é também extremamente variável, o que faz pressupor a existência de ecotipos de plantas adaptadas às condições de clima e solo muito diversas (Ramalho et al., 2009).

O número de espécies de gramíneas e leguminosas nativas é muito elevado, e a maioria apresenta ampla distribuição geográfica. Paim (1977) cita a ocorrência de 800 espécies de gramíneas e 200 espécies de leguminosas apenas no Rio Grande do Sul. Ainda, Serrão & Simão Neto (1975) e Barreto & Kappel (1964) relatam a existência de um grande número de gêneros e espécies comuns, encontradas desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul.

A pecuária nacional explora cerca de 180 milhões de hectares com pastagens, sendo 100 milhões de hectares ocupados com forrageiras cultivadas e 80 milhões de hectares com pastagens naturais, os quais alimentam um rebanho de 170 milhões de bovinos (Pereira et al., 2001). Nas áreas de pastagens naturais prevalecem as forrageiras nativas e as “naturalizadas”, que não sofreram nenhum processo de melhoramento, e que, portanto, apresentam baixa capacidade suporte e qualidade muito variável com a estação do ano.

Apesar da existência de grande número de espécies nativas apresentando potencial forrageiro, a maioria das forrageiras cultivadas, no Brasil, é constituída por espécies exóticas. Algumas espécies introduzidas, como as braquiárias, o colonião, o capim-gordura, o andropogon, a grama-bermuda e outras, dominam a paisagem das pastagens cultivadas (Souza Sobrinho et al., 2009).

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Até o momento, a introdução foi o método de melhoramento mais utilizado para forrageiras no Brasil. A sua eficiência tem sido comprovada pela liberação de diversas cultivares superiores que têm proporcionado aumento significativo da produtividade animal. Novas cultivares, principalmente, lançadas com sucesso, com base no trabalho de introdução e avaliação de germoplasma (Ramalho et al., 2009).

Espera-se, contudo, que o sucesso de um programa de melhoramento venha a contribuir efetivamente para o aumento da produtividade da pecuária brasileira. Como o nível de conhecimentos é baixo, todos os estudos, nas mais diferentes áreas, apresentam grande potencial de contribuição, conseguindo-se, provavelmente, ganhos significativos no início. Este ponto pode ser considerado como favorável para o ingresso de novos pesquisadores na área de melhoramento de forrageiras (Souza Sobrinho, 2005).

No melhoramento de forrageiras, os aspectos morfológicos e agronômicos são importantes, contudo, o caráter mais importante é o desempenho animal. Isto é, a produção de carne, por exemplo, por unidade de área e de tempo. Assim, a avaliação com o animal é imprescindível. Esse é um complicador dentro dos programas de melhoramento. De início, tem-se o questionamento de quando realizar as avaliações com os animais. Ela demanda tempo e área maiores. Em princípio, ela deve ser realizada nas etapas finais do melhoramento, quando restam poucos clones e/ou futuras cultivares para serem mais intensivamente avaliados (Souza Sobrinho et al., 2009).

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