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Melhoria de Processos de Software Multi-Modelos em Organizações

CAPÍTULO 2 – MELHORIA DE PROCESSOS DE SOFTWARE E INICIATIVAS

2.4 Melhoria de Processos de Software Multi-Modelos em Organizações

A partir do estudo baseado em revisão sistemática (descrito no Anexo I) e da revisão informal da literatura, identificaram-se relatos de iniciativas de melhoria de

processos de software multi-modelos em organizações, envolvendo tanto a implementação quanto a avaliação de processos.

NUNES et al. (2005) relatam uma experiência de melhoria de processos contemplando a norma ISO 9001 e o modelo CMMI-DEV para alcance do nível 2 de maturidade concomitantemente, observando que um processo de software aderente a um determinado nível do CMMI-DEV pode ser também aderente à ISO 9001, no que se refere à Engenharia de Software.

A partir do objetivo estabelecido de ampliar a participação no mercado e atender à crescente exigência dos clientes de produtos com qualidade assegurada, o projeto foi definido e organizado em 10 fases, dentre elas: definição da coordenação do projeto; estudo das áreas de processo do CMMI nível 2; contratação de consultoria externa; treinamentos para os funcionários em engenharia de software; acompanhamento; avaliação prévia ISO; e avaliação prévia CMMI (Readiness Assessment).

Como principais lições aprendidas, foram destacadas: a importância do apoio da alta gerência e do envolvimento dos profissionais; o investimento adequado pela direção; a importância do apoio ferramental; e o foco adicional aos objetivos e práticas do nível de maturidade buscado. Outro aspecto indicado é que o processo deve ser definido a partir das práticas de sucesso da organização, que mesmo não formalizadas, devem ter seus pontos fortes aproveitados.

Em FERREIRA et al. (2006) são apresentados resultados quantitativos do programa de melhoria de processos de uma organização que adotou a norma ISO 9001 e os modelos MPS e CMMI e que alcançou benefícios, envolvendo redução do retrabalho, diminuição de custos, aumento da motivação e melhoria de produtividade da equipe, com aumento da satisfação dos seus clientes. Dentre as dificuldades encontradas, pode-se ressaltar: (i) absorção dos processos e a montagem da planilha para a avaliação (a planilha do MPS-BR Nível F possuía mais indicadores que a planilha do CMMI Nível 2), considerando que o modelo era recente e não existia material de apoio suficiente; (ii) o método de avaliação, diferente do que a organização estava habituada, o que gerou insegurança nos entrevistados e na organização.

Em MELLO et al. (2009) é relatada uma experiência de implementação do MR- MPS (SOFTEX, 2009a) em conjunto com a ISO 9001 (ISO/IEC, 2008b), realizado em dois ciclos consecutivos de melhoria, com apresentação do mapeamento definido entre os modelos, em nível do item da norma para o processo do modelo, dificuldades encontradas e fatores de sucesso do projeto.

Dentre as características apresentadas neste relato, podem ser citadas: implantação do Sistema de Gestão da Qualidade organizado segundo os itens da norma ISO 9001; aproveitamento da mesma documentação, produtos de trabalho e evidências para avaliação e auditoria; produção de artefatos de projeto de forma independente, mas com referência no Sistema de Gestão da Qualidade; realização de reuniões de acompanhamento do projeto de melhoria no contexto da análise crítica da ISO; utilização de ferramentas comuns; e definição de um processo único de mudança para evolução dos processos.

Algumas das dificuldades encontradas, com respectivas ações de resolução, ao longo dos ciclos de melhoria, estão apresentadas na Tabela 2.6.

Tabela 2.6 – Dificuldades Encontradas e Ações de Resolução (MELLO et al., 2009) Dificuldades Encontradas Ações de Resolução

1. Pouca disponibilidade dos integrantes do Comitê de Qualidade para realização das reuniões.

Alinhamento constante dos envolvidos para facilitar os encontros. Elaboração do resumo das reuniões, facilitando o acompanhamento no caso de ausência. 2. Alocação paralela dos responsáveis

pelo processos em atividades de cliente.

Negociação com gestores de contrato nos períodos críticos. Divisão de tarefas para melhor aproveitamento dos recursos.

3. Baixo conhecimento dos conceitos de Engenharia de Software.

Inscrição nos cursos oferecidos pela Riosoft. Incentivo ao estudo.

4. Baixo conhecimento dos modelos de referência.

Organização de palestras específicas e participação dos colaboradores nas reuniões e atividades com a consultoria externa.

5. Comprometimento parcial dos responsáveis dos processos.

Sensibilização. Em alguns casos, substituição por outro colaborador. 6. Baixo comprometimento para

coleta das métricas

Melhoria da comunicação. Alinhamento direto. Escalonamento para diretoria.

Um ponto importante a ser considerado na adoção de mais de um modelo pelas organizações está relacionado à documentação produzida. THIRY et al. (2008b) descrevem que, no contexto das avaliações integradas envolvendo mais de um modelo de referência, há um esforço com a gerência de documentos, tanto na fase preparatória como na documentação dos resultados.

Como os dados são utilizados em mais de um documento, o volume dessas informações cresce de forma significativa, o que torna relevante o desenvolvimento de

trabalhos de apoio à gerência dos documentos consumidos ou produzidos durante uma avaliação integrada. Para tal, uma ferramenta foi proposta para apoiar avaliações integradas de processos de software, aumentando a adequação, flexibilidade e abrangência das avaliações de processos.

Recentemente aprovadas pela coordenação do programa MPS.BR (SOFTEX, 2009a), as avaliações conjuntas MPS/CMMI-DEV começaram a ser adotadas pelas organizações para, entre outros aspectos, otimizar o tempo e o esforço do processo. Das lições aprendidas relatadas em SOUZA et al. (2009) após a primeira avaliação conjunta dos níveis de maturidade C do MPS e 3 do CMMI-DEV, observou-se que as diferenças de exigência entre os modelos MPS (SOFTEX, 2009a) e CMMI-DEV (SEI, 2006a) ocasionaram a produção de resultados diferentes para as caracterizações dos processos da organização em ambos os modelos. Outro importante aspecto destacado está relacionado ao entendimento prévio, por parte dos avaliadores e representantes da empresa na equipe de avaliação, das sutis diferenças e compatibilidades entre os modelos, de forma a evitar que, de fato, fosse realizada uma avaliação dupla ao invés de uma avaliação conjunta.

Ainda nesse contexto, SOUZA et al. (2009) descrevem as seguintes recomendações:

• Preparação de instrumentos para apoiar as avaliações conjuntas;

• Elaboração de um quadro comparativo entre os modelos, com a respectiva cobertura de cada área de processo; e

• Elaboração de um mapeamento entre os modelos, destacando suas diferenças.

A identificação das partes interessadas no desenvolvimento de software, responsáveis pela execução de cada processo, também pode auxiliar a utilização de normas para estruturar e descrever os processos, facilitando o entendimento da relação entre as pessoas e áreas da organização, conforme experiência citada em MACHADO et al. (1999) na utilização da norma ISO/IEC 12207 (ISO/IEC, 1994), juntamente com o SW-CMM (PAULK et al., 1993a) para reestruturar e melhorar os processos de software.

O mapeamento entre modelos de referência também traz benefícios para a evolução dos próprios modelos. BECKER et al., (2007) apresentam um conjunto de oportunidades de melhoria para os níveis iniciais do modelo MPS (SOFTEX, 2009a),

sugerindo alternativas de evolução elaboradas por integrantes do grupo de estudos, implementadores e empresas participantes do projeto Cooperativa MPS.BR – SOFTSUL. Nesse relato, concluiu-se que iniciativas de organização de grupos de estudos, similares à citada no artigo, podem contribuir significativamente para o aperfeiçoamento e consolidação de modelos de melhoria de processos, pois os grupos podem proporcionar um foro de aprendizado coletivo, trocas de experiências, aquisição e disseminação de conhecimento.

Neste sentido, a compatibilidade dos requisitos e a viabilidade de realização de uma avaliação oficial de processos em prazos pré-definidos com sucesso, são fatores que podem influenciar a seleção de normas e modelos de referência de processos em iniciativas de melhoria (RESENDE et al., 2009).

Outros trabalhos relacionados à compatibilidade e interpretação de mais de uma norma ou modelo de referência de processo têm sido desenvolvidos e serão apresentados a seguir.

2.5 Mapeamento, Integração e Harmonização de Normas e Modelos de

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