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CAPÍTULO 3. ANISTIA, IDENTIDADE E INTERGERACIONALIDADE: A DINÂMICA DA

3.3 MEMÓRIA E O COMPONENTE INTERGERACIONAL NA TRAJETÓRIA DE UM GRUPO

Paulo Abrão, ao pontuar a historicidade do conceito de anistia na história brasileira, afirma que estamos na etapa de evolução do significado da anistia política, pela possibilidade de a interpretação “ser lida enquanto memória” (2012). No entanto, a leitura da anistia enquanto memória, não é realizada de modo voluntário, ou seja, se manifestada através de práticas, discursos e ações direcionadas no estabelecimento de uma conexão entre o passado de autoritarismo e o presente/futuro democrático. Importam a intencionalidade da transmissão de bens simbólicos e culturais.

A memória é percebida nas suas potencialidades para a defesa da democracia, dos valores republicanos, da dignidade humana. E esse diálogo é único para afirmar a identidade social de um povo e construir processos de sujeitos humanizados e a conscientização política e histórica. Várias são as preocupações que surgem com o ato de narrar. A exposição de cenas familiares especialmente quando do sentimento da prisão e clandestinidade e do momento da anistia são evidenciados.

Quando de seus testemunhos, os elementos da marginalização que afetou os perseguidos, pelo fato das crianças também terem sido consideradas como “inimigas da sociedade”, é uma fala recorrente e denota os danos que também afetaram os perseguidos políticos na infância e juventude. Zuleide contou em seu testemunho perante a CA/MJ, a forma como foram tratados pelos órgãos de repressão e a maneira como a avó Tercina Dias foi registrada em documento do DEOPS/SP, acostado aos autos dos processos, em que era chamada de “marginala”:

“Minha avó não era marginala, minha avó era uma mulher humilde, uma mulher Pernambucana que passou fome, que criou seus filhos com muita dificuldade e dedicou a vida para lutar para melhorar o Brasil, para que todos nós pudéssemos ter direitos iguais, então ninguém tem condições de calcular a dor que nós sentimos [...]”.

Uma certa significação daquele ato dentro do contexto de suas vidas é marcante. Agradecimentos e referências à militância dos país foram recorrentemente trazidas. Ernesto registrou “tenho que agradecer a minha mãe, por ser seu filho mãe, por tudo que você fez, nós andamos sob espinhos, mas sempre tinham rosas”. Lembrou de seu pai “meu pai Manoel Dias do Nascimento, que faz uma luta nobre até hoje”. Também que seu pai foi cassado, preso, depois reconstruiu o sindicato de metalúrgicos elegendo o José Ibrahim, “essa luta é a mesma luta que defende aqui vocês, o trabalhador, assim como o nosso presidente Lula que chegou aí”.

Reiterou o agradecimento pela força de seu pai: “agradecer esse guerreiro aí, porque lhe chantagear com seus filhos é duro manter firmeza e ele manteve firmeza mesmo sob tortura e à beira da morte”:

[...] agradecer a uma pessoa muito especial [...] a uma grande protagonista nesse processo, a Tercina Dias de Oliveira, minha avó com a qual eu sai, conhecida como a Tia, a tia de todos, [...~essa tia que foi uma das poucas torturadas nesse processo, a diferença da maioria ela tinha quase 60 anos, [...] quando meu pai ingressa na VPR e vai avisa-la que ia desaparecer e ela disse: não, nós vamos juntos, Carlinhos é testemunha desse processo como, quando a polícia batia lá em casa, inclusive ele sendo interrogado com 06 anos, isso lá em casa lá em Osasco. E ela vai ser a cozinheira, a costureira, a dona de casa do Carlos Lamarca.

A relação trazida com a significação da experiência dos pais abre margem para compreensão da noção de figuração formulada por Omar Murad (2014, p. 186-202), que a utiliza para dar conta da atuação específica de filhos de perseguidos da ditadura argentina no âmbito do discurso da memória. A ideia de figuração é utilizada como uma análise estética da interpretação histórica, sobretudo as representações do passado realizadas pela geração dos filhos e netos. Para o autor, além do aspecto biológico, a figura do “filho” é em muitos casos construída de modo retrospectivo enquanto um complemento à figura do próprio perseguido. A posição ético-política construída pela figura do filho é parte da intervenção e ressignificação dos elementos disputados - a interpretação do passado. As formas de reparação contam com recursos estéticos e linguísticos de usos do passado para fornecer ao presente.

A compreensão da dimensão política da atuação dos ascendentes também é elemento interessante. Apesar de crianças na época, hoje adultos, há a formação de um conceito sobre a integralidade da luta política na ditadura. Assim, e dos elementos que integram a dimensão de reparação, o reconhecimento público das violações e da integralidade da resistência:

mas mesmo assim agradeço a Comissão, e a única coisa que peço é que a sociedade reconheça, e o Estado Brasileiro reconheça os crimes que na realidade eles cometeram, porque eles foram verdadeiramente os criminosos, minha vó e outros companheiros estavam fazendo o que os corações deles mandavam, que era lutar por este país, e que eu reafirmo meu compromisso com aqueles todos os companheiros que morreram tentando mudar este Brasil, e reafirmo o compromisso com minha vó que já faleceu infelizmente de continuar a luta para fazer do Brasil um País melhor, digno de todos poderem viver dignamente em seu país, obrigado.”

Depois foi a vez de seu filho, Ernesto, que inicialmente agradeceu o apoio de Iara Xavier Pereira que, segundo afirmou, havia convivido com ele no exílio, e ressaltou o papel de militância de Iara: “ela tem que acumular uma força para defender a nossa história. [...] Esse espírito dela vem do pai dela que foi muito importante na nossa vida também, o Zé do Boné

[...] fazia nossa vida muito agradável lá em Cuba, pessoas brilhantes que lutaram”. Agradeceu também ao esposo de Iara, Gilney Viana, pela ajuda.

Ernesto agradeceu ao presidente e a comissão, disse que não sabia o que esperava, sabia que era uma experiência difícil porque a sua irmã já havia ido, tratava-se de Zuleide, seu pai e seu irmão mais velho, também. Para ele, a atividade da Comissão era um exercício de democracia, que fazia mesmo na divergência, e por fim disse que “independente o que vocês decidirem eu vou aceitar, porque eu sei que vocês estão fazendo o bom senso”, concluindo pela confiança depositada no julgamento dos conselheiros. Pediu, nas suas conclusões, para que os conselheiros continuassem nesse “processo democrático [...], de resgatar a história, pensando no futuro que não se repita isso, porque as crianças também foram perseguidas políticas. Evocou, por fim, a história de todos os que ainda na juventude foram perseguidos e que estavam acompanhando aquela sessão, disse “eu quero que seja afirmado a importância dessa perseguição”.

No julgamento do grupo também aconteceu a apreciação do processo da militante Jovelina, mãe de Ernesto, que contou inicialmente que dividiu a cela com a presidente Dilma Rousseff, “tinha uma menina ao lado da cela, e essa menina é presidente. E eu também tive com ela, foi meio fantasia, mas era realidade. Tô muito feliz por ela tá lá, espero que alguém coopere com ela, porque ela sozinha não vai fazer nada”. Depois enfatizou a dificuldade de relatar o que se passou “se a gente for descrever o que passamos na tortura, foge daqui, foge de lá, é difícil descrever a realidade, só quem passou, que sabe”:

“[...] mas ficou que todas essas pessoas que sofreram, ficamos muito muito unidos, mas que uma família de sangue. Mesmo assim, agradeço por todo o sofrimento, pelas coisas lindas que a gente passou. Eu sou muito chorona, meu filho está ai, pra ele foi difícil separar daquela mãe, tinha tirado do peito, em fevereiro, em maio fui presa, pra ele foi muito difícil porque só fui ver ele depois de 28 dias, aí ele saiu pro exterior, quando eu cheguei em Cuba ele foi debaixo da cama, aí me mordeu e sempre [...] ele ficou uma distância muito grande da mãe e isso me dói pra mim até hoje, pra ele também. Eu quero agradecer vocês, vocês já beneficiaram, quer dizer, vocês já trabalharam pra beneficiar muitas pessoas, que foi pouco o que nós recebemos, por exemplo eu estudei, hoje sou enfermeira universitária, e podia ter um bom salário, [...] mas tô agradecida por vocês".

Após, foi ofertado testemunho pelo requerente Luís Carlos, que fez outra referência à passagem de outros familiares na Comissão de Anistia, “minha irmã já passou aqui”. O tom do discurso foi todo acompanhado por uma significação da experiência traumática que passou enquanto criança: “com 6 anos de idade eu não tive oportunidade de brincar com carrinhos, o que eu mais via eram armas, armas e armas” “o que nos uniu mais foi o sofrimento junto”. Reconheceu o primo no juizado de menores.

“a força da repressão que eu senti foi naquele dia, quando chegou os policiais da polícia militar, perguntando por meu tio Manoel Dias do Nascimento, perguntando pra minha vó, eu brincando no quintal, minha vó não deu muita atenção aos policiais, [...] e a polícia me tratou com muita arrogância, “e aí moleque, você sabe onde seu tio mora? Vem, vamos, sobe aqui que eu vou te levar pra você levar onde seu tio mora”, que já estava sendo procurado, e minha avó “o que é isso?” quem manda aqui nessa casa sou eu, ele não vai a lugar nenhum, “entra Carlinhos”. Isso foi assustador pra mim. [...] Essa foi uma vez das muitas vezes que eu sofri da repressão.

Os prejuízos e efeitos sobre sua subjetividade foram enunciados com a perda da identidade, em razão da constante mudança de nome: “eu não tinha mais nem nome, uma vez era Carlos, outra era João Carlos, outra vez era Marcos, porque praticamente a identidade da Tercina também era mudada, [...] nossos nomes eram mudados, então eu já não tinha nem identidade, eu fui saber muito tempo depois, em Cuba, que meu nome era Luís Carlos Max, depois eu já com quase 10 anos de idade”.

Luís Carlos ainda teve dificuldade de conhecer a mãe, não conviveu com o lado materno, “eu fui privado de ter a minha família, vim conhecer meu pai quando eu cheguei” Fique registrado todo o meu sofrimento.”. Pediu o reconhecimento da escolaridade igual ao caso Ernesto, visto que também não pôde estudar. Contou que depois de 1979 também não pôde voltar logo ao Brasil “eu não tenho identidade, quem sou eu, como eu ia entrar no brasil? Não entrei com um passaporte no brasil, com um salvo conduto da ONU”. Agradeceu a participação de Iara Xavier. Por fim, registrou “espero que isso aqui fique na história, que meus filhos possam saber”.

O primeiro indício percebido centrou-se no fato de que as sessões de julgamento dos casos ocorreram em momentos relevantes para o órgão e para o debate público sobre os limites e perspectivas da anistia: nas duas primeiras sessões do órgão, em 2010 e 2012. Ambas foram organizadas dentro de um evento maior. A primeira em 13 de janeiro de 2010, inserida na 11ª Anistia Cultural destinada94, exclusivamente, à homenagem de filhos e netos de perseguidos políticos e nos instantes das polêmicas surgidas com a promulgação do Decreto nº. 7.037, de 21 de dezembro de 2009, que havia instituído o 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). E a segunda, em 02 de fevereiro de 2012, também destinada aos casos de perseguição intergeracional; logo após a criação da Comissão Nacional da Verdade, com as devidas polêmicas e atritos institucionais.

94 Em 20 de março de 2012, também foi realizada Anistia Cultural destinada a homenagem de filhos e netos de

As evidências de que a escolha do julgamento dos casos de filhos e netos para tematizar as sessões é verossímil em razão da clara associação entre os casos julgados e o então contexto de ataque ao PNDH-3. O jornal O Globo, ao noticiar o evento com a seguinte manchete, “Comissão reconhece anistia para filhos e netos de perseguidos políticos durante a ditadura militar” frisou e reconheceu que teria ocorrido “em meio à polêmica sobre a punição para militares que atuaram na repressão e a criação da Comissão da Verdade”95. Por esta razão, a defesa do PNDH-3 foi o principal tema de fundo daquela sessão. A necessidade de abertura de arquivos do período da ditadura e os efeitos da repressão no contexto da infância convergiram para a crítica aos discursos de setores militares e de grupos conservadores que atacavam a edição do Plano de Direitos Humanos.

O relator dos dois Requerimento de Samuel e Zuleide, o conselheiro Juvelino Strozake, aduziu que a comprovação das perseguições sofridas por crianças poria abaixo o “argumento recente junto ao jornal dos militares que foram contra o Plano Nacional de Direitos Humanos dizendo que havia uma ameaça comunista, que essa ameaça comunista precisava ser combatida por pessoas patriotas”:

“eu fico imaginando um argumento recente junto ao jornal dos militares que foram contra o Plano Nacional de Direitos Humanos dizendo que havia uma ameaça comunista, que essa ameaça comunista precisava ser combatida por pessoas patriotas, eu fico imaginando qual ameaça uma criança de 9 (nove) anos, de 6 (seis) anos, 4 (quatro) anos e de 2 (dois) anos, deveria representar ao país, isso só mostra um caráter mentiroso, enganador desse discurso que essas Forças de segurança protegiam o país, quando na verdade condenavam crianças a serem expulsas do Brasil, uma coisa inaceitável, e a Zuleide então com 4 (quatro) anos de idade, então em virtude disso, desse Decreto, desse ato de exceção absurdo, onde toda história da Dona Tercina, que por consequência, acabou acarretando em perseguição aos seus entes mais queridos”.

O PNDH-3 havia reconhecido o eixo orientador VI o “Direito à memória e à verdade” como direito humano da cidadania, e estabelecia uma série de diretrizes96 para sua implementação. Como ressaltado pela reportagem d’O Globo, os principais pontos polêmicos foram a possibilidade de investigação de crimes praticados no contexto da ditadura, disposto no objetivo estratégico I “promover a apuração e o esclarecimento público das violações de Direitos Humanos praticadas no contexto da repressão política ocorrida no Brasil no período

95 Comissão reconhece anistia para filhos e netos de perseguidos políticos durante a ditadura militar. O Globo -

portal eletrônico. 13 jan. 2010. Disponível em: https://oglobo.globo.com/politica/comissao-reconhece-anistia- para-filhos-netos-de-perseguidos-politicos-durante-ditadura-militar-3069415

96 a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como Direito Humano da Cidadania e dever do

Estado;b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção pública da verdade; e c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com promoção do direito à memória e à verdade, fortalecendo a democracia.

fixado pelo art. 8o do ADCT da Constituição, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional” que incluía a designação de um grupo de trabalho para elaborar, até o mês de abril daquele ano, um projeto de lei que criasse uma Comissão Nacional da Verdade, de caráter suprapartidário, para examinar as graves violações de direitos humanos.

O intuito desse item foi reconhecer que as demandas por direitos são acompanhadas por um arsenal de sentidos, sentimentos e memórias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Paul Ricoeur, em Memória, História e Esquecimento (2008), ao citar a celebre anistia promulgada depois da vitória dos democratas sobre a oligarquia e o governo dos Trinta Tiranos, em Atenas de 403 a.C. registrou que a partir dela todos os cidadãos atenienses foram compelidos a jurar que não rememorariam mais em público as infelicidades e acontecimentos do passado, “para tentar evitar o desastre da sedição (stasis) interna e do consequente enfraquecimento diante dos inimigos externos; [...] assim os membros podiam reconstruir um mínimo de paz cívica, condição da retomada da vida em comum” (GAGNEBIN, 2010).

A etimologia do termo anistia (amnistia – em escrita etimológica) deriva da raiz grega mn, memória, e da partícula a, o alfa privativo helênico, que associados significam, o “apagamento da memória”. Anistiar, seria assim, um ato de apagamento, esquecimento ao suprimir algo do mundo e da existência jurídica. É oblívio dos romanos: A lex oblivionis era a lei do esquecimento. Pela anistia volta-se ao esquecimento. Diante das marcas das relações entre a anistia e a proibição de lembrar, podemos transpor a análise e pensá-las a partir do campo da anistia no Brasil, diante de seus significados, de ontem e de hoje.

Na passagem do século XIX para o século XX, o senador e jurista Rui Barbosa teorizou a relação entre a anistia e o esquecimento. Para Rui Barbosa, a anistia significava a aposição metafórica do chamado “véu do eterno esquecimento” aos assuntos do passado, que reporia, segundo ele, as situações no lugar em que se encontravam antes dos momentos de perturbação política (RODEGHERO, 2014). As formulações de Rui Barbosa permanecem inscritas no tradicionalismo jurídico brasileiro e são evocadas em momentos decisivos de mudança institucional e política. No entanto, a tradição não naturaliza suas proposições, pois os sentidos estão inseridos dentro de um campo de conflito, no qual alguns reputam suas relações com o esquecimento e outros a reivindicam dentro de uma perspectiva da memória, verdade, reparação

e justiça. A anistia política, dessa forma, ocupa ponto central no debate sobre o processo de transição e, na democracia, permanece como ponto nevrálgico quando se remete ao tratamento dos legados do passado autoritário brasileiro (1964 – 1985).

No intuito de atentar-se para os significados que os atores, pouco tematizados, atribuem à anistia, dentro de um contexto histórico de disputas e de que forma a tradição jurídica vem sendo desestabilizada nos seus sentidos e ambições de construção constitucional, é que escolhemos o estudo de dinâmicas concretas de luta política e expressão institucional relacionadas ao tema.

O estudo de caso, micro-localizado, de uma trajetória processual em busca da reparação material garantida pela anistia do art. 8º do ADCT da Constituição Federal de 1988. Os Requerimentos de Anistia Política (RA) de um grupo foram importantes meios de apreensão de uma realidade. O estudo procurou preencher uma perspectiva um pouco ignorada nos estudos frequentes sobre o tema, de olhares e narrativas de um recorte (geracional/etário) pouco estudado e tematizado, os filhos de militantes políticos perseguidos no contexto da ditadura militar (1964 – 1985). Procurou demonstrar a percepção da historicidade do conteúdo da anistia com atenção para a dinâmica de construção dos sentidos dos direitos humanos fundamentais que perpassa, essencialmente, pela percepção dos sujeitos históricos que tentam imprimir seus sentidos; atribuindo significância em determinado contexto histórico.

Dessa forma, foram selecionados os processos do grupo dos filhos e netos da família Dias do Nascimento, composto pelos anistiados/a, Zuleide Aparecida do Nascimento, Luís Carlos Max do Nascimento, Samuel Dias de Oliveira e Ernesto Carlos Dias do Nascimento. O grupo é formado por descendentes diretos de uma então militante política conhecida como “A Tia” nos meios da organização armada clandestina Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Tercina Dias de Oliveira. A militante Tercina, além do filho Manoel Dias do Nascimento e a nora Jovelina Tonello do Nascimento foram integrantes da VPR, no auge da radicalização da repressão/resistência da ditadura militar.

A demanda permitiu a percepção de elementos práticos e linguísticos que constroem um arsenal de sentido de reparação que repercutiu na leitura teórico-conceitual da anistia política. A análise detida dos processos permitiu investigar os desdobramentos da trama processual na compreensão da anistia a partir da história, do direito e da memória de seus protagonistas. A partir dos requerimentos, com as petições dos requerentes, seus testemunhos, discussões e práticas dos conselheiros na aplicação do direito revelou-se como a anistia ocupa um ponto central – no campo político e simbólico para a compreensão do período e o entendimento das lutas políticas contra a ditadura, além dos conflitos circundantes a memória e história do

período, da transição vivida, das polêmicas surgidas com o processo de reparação e as polêmicas com a implementação de ações de memória, verdade e justiça.

Em outros termos, o estudo da trajetória processual do grupo permitiu observar no tempo presente como o mandamento do constituinte originário se desdobrou em níveis de complexidade, até então não imaginados, que problematizam as premissas que guiaram a transição política e o conhecimento do passado, ou seja, o mandamento do constituinte se desdobrou em outros níveis que informam a relação entre a História e o Direito. Os níveis de complexidade observados incidem diretamente nos significados da anistia, que a partir das

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