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Memórias e Conferências sobre História e Arqueologia

No documento Biografia de Henrique Quirino da Fonseca (páginas 44-47)

2.2 História e arqueologia naval

2.2.1 Memórias e Conferências sobre História e Arqueologia

Um bom exemplo é a sua obra intitulada “Memórias e Conferências sôbre História e Arqueologia” da Academia das Ciências de Lisboa e Associação de Ar- queólogos Portugueses de 1930, onde é feito um apanhado de várias conferências elaboradas por Quirino da Fonseca enquanto sócio dessa associação.

Numa das conferências, intitulada “O Brasão da cidade de Lisboa”, Quirino conta-nos a história do brasão da cidade de Lisboa desde a idade média até à (sua) atualidade, a qual termina propondo, um novo brasão para o seu município:

“Que as armas da cidade de Lisboa sejam: Em campo de prata uma bireme romana, de preto, sôbre mar de prata e azul, tendo à prôa um côrvo, encimando o escudo circular a corôa mural e em volta a legenda “Sôbre todas excelente e maioral”. Rodeando o escudo, o colar da Torre e Espada.” (Fonseca, 1930)

Acrescentando também uma proposta para o Estandarte Municipal, que cito: “Que o Estandarte Municipal seja de sêda branca e preta, gironada, com o escudo oficial da cidade bordado ao centro, tendo em volta a divisa,

das mesmas côres, com iguais emblemas, podendo os particulares usar esta bandeira sem o escudo e seus acessórios.” (Fonseca, 1930)

Prossegue a obra com uma conferência pronunciada na Associação dos Arqueólogos Portugueses em 22 de junho de 1929 na sessão de homenagem a Henrique Lopes de Mendonça. Nesta conferência são notáveis, ao longo de toda ela, os inúmeros elogias que Quirino da Fonseca tece ao mesmo e com uma grande proximidade, como se percebe logo na segunda página desta conferência na passagem:

“(...) êle me desculpará por certo, a sem-cerimónia do tratamento com que o invoco, do tratamento que, aliás, todos lhe dâmos como nosso que é, nosso íntimo, pelo menos espiritualmente, escritor primoroso, Mestre venerado, amigo bondosíssimo, ainda para com os humildes que só podem admirar seus méritos preexcelentes.” (Fonseca, 1930)

Elogios semelhantes ao anterior não faltam nas diversas áreas sobre a qual Quirino da Fonseca exalta o trabalho e contributo de Henrique Lopes de Mendonça, princi- palmente nas áreas da literatura portuguesa, mais concretamente a poesia referindo que “os verdadeiros poetas são desde o berço, almas destinadas ao ritmo, aos êxtasis melódicos, à côr deslumbrante das imagens, aos arroubos da imaginação creadora” completando e elogiando, mais uma vez, a figura principal dessa conferência dizendo que “É o caso de Lopes de Mendonça que nasceu poeta” e que ele sim “Muito bem sabe, que faz versos, magníficos versos, que sempre os fez e fará, mesmo quando escreve a sua prosa orquestral e académica”. (Fonseca, 1930)

Após a exaltação da poesia de Mendonça, Quirino passa imediatamente a versar os importantes contributos do mesmo para o conhecimento e, até mesmo, para a evolução da arquitetura naval. Evolução, pois a temática da arquitetura naval na época (há pouco mais de um século, na verdade) representava um terreno ainda deveras desconhecido que fazia contrariar as opiniões dos seus estudiosos, e sobre a qual a documentação existente não era abundante, assim como refere Quirino da Fonseca ao dizer que:

“ainda que o navio – estudado nos seus estranhos factores, nos seus com- ponentes e nas transformações construtivas que experimenta – seja um auxiliar fecundo para interpretar a evolução histórica de um povo nave- gador, abala-se todavia o seu préstimo com a existência fugaz que lhe é própria; a documentação que nos faculta, é assim bem transitória, mi- mosamente rara. Por isso a arqueologia naval se mostra o mais ingrato e esquivo de todos os cultos do passado”. (Fonseca, 1930)

Quirino da Fonseca, ainda nesta conferência, aponta o século XIX como a altura em que a arqueologia naval se pode considerar criada, utilizando como marcos as obras “History of Marine Architecture” de John Charnock, e em França, com a publicação das “Memórias de Jal”, publicadas em 1840, e mais tarde com o “Glossário Náutico”. Quanto aos conhecimentos anteriores ao século XIX sobre arqueologia naval, Quirino refere-se como “leves tentativas durante os séculos XVII e XVIII, por parte de raros investigadores”. (Fonseca, 1930)

Para Quirino da Fonseca, todavia, com presumível tristeza e até vergonha, que nós “pátria de navegadores” e repletos de história e feitos inigualáveis por outros, não possuíssemos um livro onde, nas palavras dele, “se estabelecesse formalmente a sua (nossa) história marítima, sem um museu evocativo das suas tradições no uso do mar, sem uma nobre representação do seu passado como (país) navegador”. Prossegue na sua prosa, referindo-se a Mendonça, então, como o primeiro autor português a publicar estudos sobre as caravelas portugueses, inspirando então outros estudiosos a incidirem o seu foco na temática da arqueologia naval portuguesa. (Fonseca, 1930)

Prosseguindo na sua obra, a seguinte conferência teve como alvo de home- nagem outra grande figura portuguesa, Afonso de Albuquerque, a qual intitulou “A obra colonial de Afonso de Albuquerque e a prioridade dos portugueses no exercício da Colonisação Scientífica”. Infelizmente esta obra que compõe o espólio não se en- contra completa, e esta conferência está disponível apenas para leitura o seu primeiro capítulo de título “O Homem: Preliminares biográficos, 1453 – 1503” onde, como o título indica, Quirino nos apresenta uma breve biografia de Afonso de Albuquerque. (Fonseca, 1930)

Apresenta-nos de seguida uma conferência que, à semelhança da de Afonso de Albuquerque, se encontra incompleta não estando presente o início da mesma e respetivo título, pelo que não a irei abordar no contexto desta obra, mas a qual citarei no decorrer da dissertação ao abordar a temática das caravelas latinas (temática a que esta conferência diz respeito). (Fonseca, 1930)

Como seguinte temática abordada nas conferências e que compõe esta obra, pelo menos do que está disponível a consultar na mesma que compõe o espólio, intitulada “A Tôrre de Belem, baluarte de artelharia: Planeado por D. João II ”. Fazendo uma breve descrição do ponto de vista artístico e, inclusive, belo da Torre de Belém, Quirino da Fonseca esclarece que “só julgarei (julgará) tal arquitetura sob o ponto de vista da arte militar quinhentista, o que passo a fazer nuns leves apontamentos”. (Fonseca, 1930)

Segundo Quirino da Fonseca, à semelhança de como D. João II fez com o armamento das caravelas, ou seja, na aplicação de armamento pesado nestas, assim tentou fazê-lo recorrendo a fortificações terrestres à beira-mar, munidas igualmente de armamento pesado. Para tal, D. João II recorrera ao desenhista e cronista Garcia de Rezende para que planeasse e desenhasse um baluarte para ser erguido no Restelo. Infelizmente, antes de ver edificado o seu desejo e plano, D. João II faleceu, tendo sido a Torre de Belém edificada apenas no reinado seguinte o de D. Manuel, assim como explica Garcia Rezende citado por Quirino da Fonseca na sua obra, e que agora cito:

“E tinha (D. João II) ordenado de fazer uma forte fortaleza onde ora está a formosa Tôrre de Belem, que El-Rei D. Manuel que santa glória haja, mandou fazer para que a fortaleza de uma parte e a Tôrre (de Caparica) da outra, tolhessem a entrada do rio. A qual fortaleza eu por seu mandado desenhei e com ele ordenei a sua vontade. E porque el-rei logo faleceu, não houve tempo para se fazer.” (Fonseca, 1930)

Assim, Quirino da Fonseca, considera (assim como supõe que fosse a consideração de D. João II) que a Torre de Belém, sob o ponto de vista militar, “um baluarte de artelharia e para o seu exclusivo emprego foi construída”. (Fonseca, 1930)

Segue a já extensa obra de Quirino da Fonseca, com a “Saudação a Mr. Pierre de Cénival por ocasião da sua conferência na Associação dos Arqueólogos Portugueses sôbre a Igreja de Safim” que, como o título indica, se trata de um agra- decimento a Pierre de Cénival por ter traduzido com, e passo a citar, “sapiente rigor e literária elegância, o que dizem, o que segredam, o que entôam patrióticamente, para ainda serem ouvidas por nós, essas velhas cantarias da velhíssima Igreja de Safim”. (Fonseca, 1930)

Termina assim a sua obra (julgando pelo exemplar disponível no espólio), com a comunicação feita em sessão de 12 fevereiro de 1931, da 2ª Classe da Aca- demia das Sciências de Lisboa, intitulada “Nomes próprios de navios portugueses: Subsídios de panteonímia”. Nesta comunicação, Quirino explica a origem (maiorita- riamente religiosa) dos nomes com os quais foram apelidados os navios portugueses ao longo dos anos. (Fonseca, 1930)

Com esta obra de Quirino da Fonseca, que se trata resumidamente de um apanhado de conferências e comunicações das quais foi autor enquanto membro sócio da Academia das Sciências de Lisboa e Associação dos Arqueólogos Portugueses, conseguimos ter uma bela noção do contributo deste estudioso da nossa história e arqueologia naval, tanto para as temáticos sobre as quais se debruçou, como para a respetiva academia e associação.

No documento Biografia de Henrique Quirino da Fonseca (páginas 44-47)