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MEMÓRIAS GASTRONÔMICAS DO PIONEIRO JOSÉ MANOEL

José Manoel de Souza nasceu em abril de 1927 em São José do Egito, município do sertão pernambucano. Quando jovem, ao se casar, foi morar no município de Santa Terezinha e trabalhar na roça para subsistência de sua família. Sem êxito, mudou-se novamente, dessa vez para o município de Patos, onde comprou um ponto de venda para comercializar cereais.

No ano de 1956, chegou até ele a notícia da construção de Brasília e da vida promissora que poderia ter ao trabalhar no ramo da construção civil. Não demorou a vender seu comércio em Patos e seguir viagem rumo à nova Capital. Deixou a esposa e três filhos, o último ainda recém-nascido, com a promessa de que assim que estivesse instalado levaria a família ao seu encontro.

Mesmo após ter completado noventa anos em 2017, José mantém claro em sua memória os acontecimentos de sessenta anos atrás. Apesar do tempo transcorrido, suficiente para suavizar seu sotaque, para ele é um orgulho ostentar sua origem pelo modo de agir e falar. Seu falar transparece alguém que sente falta da terra natal e dos costumes. Suavizar o modo de se expressar seria mais um distanciamento desnecessário de sua origem.

Conosco, no momento da narrativa, estavam nossos familiares, todos sentados à mesa ansiosos por escutar o que meu avô tinha a dizer. Seu modo metódico de sentar à mesa, com as mãos entre as pernas que iam sendo alternadas para que pudesse segurar o talher, nos remete à simplicidade de sua origem e da forma em que viveu sua vida. Ele, muito tranquilo, começa a narrar sua vinda a Brasília. Sua chegada foi marcada pelas condições precárias e extremamente difíceis pelas quais passaram boa parte dos nordestinos que chegaram até aqui.

“Saí de Patos da [espinhara] da Paraíba... Um pau-de-arara andando pra cá, seu Carneiro, aí nós saímos de lá gastamos quinze dias. Pra vir pra cá no pau de arara, tinha gente que prometia pagar quando chegasse aqui, eu paguei o meu à vista, era uns 200 ou 300 reais, o meu eu paguei. Mas

quando eu cheguei na NOVACAP14 ali de noite eu não tinha mais nenhum tostão”.

É explícita a determinação e coragem que Seu José teve ao desbravar a longa distância entre sua terra e o planalto central, por vezes, durante a fala, dá a entender que sua decisão de tentar a vida em Brasília foi um misto de aventura e trabalho.

O local de chegada é preciso e nos indica onde era concentrado o desembarque dos migrantes.

“Chegamos na NOVACAP, desembarcamos na NOVACAP, naquela NOVACAP véia ali, sessenta pessoas entre adultos e crianças, as crianças era pouca aí no outro dia fomos convidados todo mundo pra fichar na NOVACAP.”

FIGURA 12 - CARTEIRA PROFISSIONAL DO SENHOR JOSÉ MANOEL DE SOUZA.

FONTE: Imagem registrada pela pesquisadora em 15 de janeiro de 2017.

A primeira manifestação referente à alimentação vem logo em seguida quando diz quase sem querer que na falta de abrigo, quando chegou à ‘Velhacap’,

hoje Candangolândia, precisou se abrigar num forno em uma padaria até saber seu próximo destino.

“Lá e tinha uma padaria nós fizemo... eu dormia era dentro do forno

mode do frio (risos), ixi fazia um frio que [cachorro gemia], bem cedo, bem

cedo pra nois trabalhar era preciso fazer um fogo pra esquentar os pés que tava tudo dormente, tudo entrevado, eles esquentavam os pés aí começava no serviço e esquentava.”

É notória a falta de preparo dos migrantes ao lidar com o clima da região Centro Oeste. Aos risos Seu José nos conta que, em meio ao desconforto da estadia e do trabalho a que eram submetidos, em sua memória vem a lembrança do forno da padaria que além de assar o pão que os alimentava também os aquecia em meio ao frio.

Seu José conta que os recém chegados eram recepcionados por funcionários da NOVACAP responsáveis por organizar e direcionar o pessoal para trabalhar em diversas áreas da construção civil.

“Os cara pegaram nóis tudo pra fichar, dormia no acampamento era um acampamento, era só um, só tinha um acampamento, só um cara pra lutar com nós tudo que era um fiscal, o comandante.”

Com firmeza, o narrador afirma que quando chegou só existia um acampamento e repetindo por três vezes, como forma de expressar seu pioneirismo e também a realidade de um espaço em construção em meio ao nada. Neste acampamento conviviam homens, mulheres e crianças. A impressão quando seu José diz “lutar” e “comandante” é que o cenário em questão se assemelhava a um palco de conflitos, visto as condições hostis em que se encontravam.

Podemos perceber também que, para alguns, a situação de migrante trabalhador da construção civil era uma questão de tempo, o interesse era conseguir o máximo de dinheiro possível para então retornar aos seus estados de origem em condições financeiras melhores do que quando saíram.

“Trabalhava de dia e de noite, quem quisesse trabalhar de dia e de noite podia, mas tinha gente que queria tirar um dinheiro favorável pra ir embora,

que dormia meio dia e trabalhava de noite, eles achavam bom porque de noite não tinha muita gente pra mandar e o serviço era melhor.”

O início dos trabalhos na construção da cidade teve como ponto de partida o desmatamento da região aonde seria represado o Lago Paranoá. Fica evidente sua participação nos dois momentos precursores e iniciais da construção.

“Eu pedi conta... eu fichei na NOVACAP depois saí pra entrar na empreita da derrubada, depois voltei pra NOVACAP de novo pra uma turma que era pra limpar o lago, era feitor de uma turma de quarenta e cinco pessoas pra limpar o lago, aí era rolo”.

No trecho a seguir Seu José faz referência ao início dos primeiros acampamentos que deram origem a Vila Sacolândia, Bananal e Vila Amaury que ficavam localizadas ao longo do leito do futuro Lago.

“Fui trabalhar no desmatamento do lago, na granja, ali no Torto, na ponte do Bragueto era nosso estaleiro, fiquemos até 1960, três anos. Cheguei ficar na Vila Maury, que o lago cobriu depois voltemos a ficar lá na ponte do Bragueto ali foi que nóis se arranchamo, arranchou-se todo mundo lá... era uma vila de saco de cimento, coberto com saco de cimento”.

Ele rememora determinado acampamento como uma “sociedade”. Com isso podemos entender que o acampamento funcionava como uma pequena empresa formada por quatorze trabalhadores, cada um com uma função, inclusive dois desses eram responsáveis por preparar a comida. Sem estarem fichados em empresas privadas, pegavam serviços aleatórios como o desmatamento do lago.

“Quando desmatava o lago nóis tinha um acampamento nosso como uma sociedade nós peguemo uma empleita, entrou quatorze só os trabalhador, agora tinha dois na cozinha, fazendo a comida.”

A vida que levou no sertão não foi muito diferente daquela vivida no Planalto Central, visto as condições e dificuldades em que se deparou ao chegar.

“E lá no norte comia essas coisa tudo também, comia tatu, tatu peba, aqui era porque os tatu peba do mato tinha lombriga, comia só tatu galinha”.

Morando em acampamentos feitos de madeira e sacos de cimento não é difícil, para nós, imaginarmos o quão improvisado era o local em que preparavam as refeições. Suas lembranças mais carregadas de detalhes são as que envolvem as suas memórias gastronômicas.

“No Bananal era fogo de lenha... O fogãozão era no chão, nós fizemo de pedra, e alí cozinhava, quando era pra assar um quati, nos pegava ele e assava”.

A forma como se expressa no aumentativo significa que precisavam de um local grande o suficiente para preparar a comida necessária para todos, não havia individualidade quando se tratava de comida, ou seja, as famílias preparavam as refeições e comiam em coletividade.

A presença do pronome nós em quase todas as suas falas evidencia as representações coletivas em que sua memória individual se baseia, corroborando o que diz Halbwachs (2013, p.72) “a memória coletiva, por sua vez, engloba as memórias individuais, estas mudam de aspecto na medida em que são substituídas em um conjunto que não é mais uma consciência pessoal”.

A memória gustativa, que envolve todos os sentidos, fica evidenciada no trecho em que Seu José se recorda da textura, odor e sabor da carne de capivara e sua ojeriza ao encontrar um preá se alimentando de fezes.

“Comia carne, nós passemo uns tempo comendo carne de Tatu, tinha muito tatu, veado, porco do mato, capivara a carne é mole, mas é fedorenta precisava lavar em água corrente senão o cara não dava conta de comer com o gosto ruim dela... Tinha preá, comia também. Quando foi um dia tinha um comendo cocô, aí eu larguei de comer”.

A carne de caça, de variados tipos, fazia parte da alimentação cotidiana de sua comunidade pioneira, visto suas lembranças recorrentes sobre esse fato.

“Quati, tatu, capivara, anta e veado do mato, porco nós comemo um bucado de porco, era caititu e queixada e tinha outras qualidade de porco, não tinha muito javali, mais pro lado do Gama”.

E ainda apresenta a forma rudimentar de abate desses animais.

“E tinha um nego véi chamado mané Gustavo, ele disse: ‘eu vou cortar esse porco’, deu uma machadada nesse porco, o porco escapuliu gritando mas ele conseguiu pegar e matou, pegou uma espingarda pra atirar nele porque não podia chegar perto. Tinha um tal de Mané Galego que era brabo, ele dizia cumpade Zé vou matar um porco ali, saiu com a espingarda, a porca voou em riba dele, ele subiu num pé de pequi, a porca foi atrás”.

A carne de vaca também fazia parte do cardápio e vinham de fazendas próximas.

“E tinha um fazendeiro que vendia carne de vaca pra nóis, até fiado.”

Seu modo de expressar faz-me entender que comer carne de caça não era uma circunstância à qual teve que se adaptar ao chegar aqui, ao contrário, fazia parte do seu cotidiano. Podemos perceber tal fato quando descreve a caça e o modo de preparo da carne de tatu.

“Aí de tardezinha eu saia pra pegar tatu, que ele saia assim que o sol se punha ele saia pra comer e eu enfiava a perna nele porque entrava no buraco, nois butava agua e ele saia. Pelava, botava no fogo, tirava o casco e tava pronto, tratava, tirava o couro, e a carne era do mesmo jeito igual hoje.”

Ainda hoje, em alguns almoços de família, há a presença de carne de caça, escolha voluntária de alimentação, diferente da ocasião em que era a única alternativa.

“O que caçava era o que tinha...”.

Permeiam suas lembranças a presença de sua esposa e seus filhos, ainda crianças, participando da caça a esses animais.

“Outro dia fui mais Ninha, Deda e a Finada caçar fruta, eu tinha um cachorrinho, daqui um pouco o cachorrinho tava na boca dum buraco, quando eu vi era um tatu desse tamanho, aí eu peguei, eu levava um facão, puxei pelo rabo e dei uma facãozada na cabeça. Levei pra casa, mas eu

peguei muito tatu, eu corria atrás deles e eles entravam num buraco ai eu levava um saco, botava na boca do buraco, ele ia sair entrava dentro do saco, saia rolando e nois pegava, não escapava nada”.

Havia também na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, armazéns que vendiam alimentos variados como frutas, verduras, carnes, cereais e etc.

“Nóis ia fazê feira no Bandeirante e nós ia de pé com o saco de feira nas costas... Fubá essas coisas comprava na Cidade Livre, enriquecemo Valdemar, era um cearence que montou um comércio, tudo que comprava era dele”.

Visto as condições financeiras desfavoráveis, compravam somente os itens essenciais e alimentavam-se com o que o cerrado tinha a oferecer. Podemos notar a presença de elementos representativos da culinária típica do centro-oeste como o pequi, muito comum na cozinha goiana e brasiliense.

“Tinha pequi, jatobá, manga, cagaita tinha muita, fruta de ema. Lá no terrero era assim de fruta, goiabinha, araçá, era parecido um com outro, fruta de ema e cagaita tinha como o diacho. Plantava milho e a anta de noite vinha e comia tudo, umas duas capivara comia uma roça de milho que nos comia num mês elas comia numa noite.”

Seu relato ora fala de fartura ora de carência; o fato de comprar fiado também transparece uma relação de confiança e compaixão aos migrantes por parte dos nativos que aqui habitavam, em virtude das condições em que se encontravam. A situação de carência fica clara em trechos do relato.

“Tudo a gente comia... não escapava nada... Eu tinha um tempo... um tempo que Bernardo Sayão15 foi visitar nóis porque soube que tinha um povo do norte que tava passando fome lá, a bota dele batia aqui (mostrando o alto da perna) aí tinha Noel que era consertador de calçado e consertou a bota dele todinha e ele acostumou-se a toda semana ir comer carne assada mais nóis, aí nóis já tinha uma carninha ou de caça ou de vaca”.

15 Bernardo Sayão era engenheiro agrônomo e nomeado em 1956, fazia parte da direção da

A imagem construída na memória sobre Bernardo Sayão revela uma relação social mais igualitária que não era comum nessa época. A relação que os depoimentos estabelecem entre o chefe e o candango, mais especificamente entre o engenheiro e o peão, a ponto de repartirem o alimento, expressa o papel da comida que permeia a relação entre classes sociais distintas. Sayão mesmo em sua condição de engenheiro quis compartilhar da mesma comida como forma de demonstrar sua compaixão pela situação de fome desses candangos. Nesse momento, sinto na fala de meu avô um tom de gratidão a esse homem, que se preocupou com a situação por eles vivida e como forma de agradecimento a essa preocupação ofereciam a Sayão, sempre que ele voltava ao acampamento, o que tinham de melhor, a carne.

Além dos sentimentos, são relatados nesses fragmentos de memórias não somente o tipo de comida, mas também a forma de cozimento, o assado no chão, que é um tipo de cozimento utilizado na cultura alimentar brasileira, mas que também transparece a falta de opção por outro tipo de cocção devido às condições do acampamento.

Seus hábitos e costumes nordestinos ficam evidentes principalmente nas narrativas sobre a comida. Considerando que as primeiras geladeiras chegaram ao mercado brasileiro no inicio da década de 1950, como artigo de luxo, em meio ao cerrado tinham que recorrer à técnica de conservação de carnes mais comum do nordeste brasileiro.

”Quando tinha sol salgava e secava ela. Quando não tinha (sol) azedava e se ficava muito ruim a gente não comia não, se fosse em tempo de chuva era de acordo com tempo que a gente pegava a carne”.

A vulnerabilidade às condições climáticas também os faziam selecionar quase que forçadamente o que comer. Além dos tipos de alimentos e dos modos de cocção ele relembra também os temperos que utilizavam na comida fruto do intercambio que faziam com os goianos nativos.

“O tempero era açafrão, os goiano trazia da roça, aonde plantava o açafrão, o corante fazia de açafrão, fazia um preparo pra poder pisar pra fazer o pó, usava coentro, que plantava”.

A incorporação de saberes e ingredientes colaborou para o surgimento da cultura alimentar dessa nova comunidade que aqui se formou. Entre suas memórias gastronômicas ele relembra a chegada de sua esposa e de seus filhos.

“A falecida veio no outro ano, veio em 1958 aí, mas ainda...”.

Maria de Lourdes, sua esposa, também percorreu o mesmo caminho em pau-de-arara da mesma forma que outrora seu José havia percorrido até se encontrarem no acampamento, que é chamado por ele de Pindaíba16.

“A Vila Planalto era daquele lado de baixo ali do Palácio da Alvorada, ficava pra baixo assim ela cobriu todinha aí quando cobriu nós já tava morando cá no acampamento da Pindaíba, saía por ordem quando chegava o tempo de sair, saía”.

Ao fazer uma leitura simples de seu depoimento a conclusão que se tira, à primeira vista, é de uma vida difícil e pobre, porém suas lembranças são leves e alegres, reforçando o pensamento de Halbwachs (1990) quando diz que a memória é sempre uma reconstrução do passado no presente. “A lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente.” (HALBWACHS, 1990, p.71). Caso Seu José tivesse feito um relato de sua vida há sessenta anos, o tom melancólico estaria presente.

“Quando sua Vó chegou eu estava na Pindaíba (risos), aí nóis fiquemo, quando Lourdes chegou eu tinha um barraco lá na pindaíba ele não ficou com nome de Pindaíba não, só no tempo que a gente chegou”.

Seu pioneirismo é lembrado em vários momentos de sua fala, principalmente quando deixa claro as origens do aglomerado de barracos de madeira de Pindaíba, que deram origem aos acampamentos em meio à mata virgem do cerrado.

“O lugar que só tinha pindaíba porque aquele lago era uma mata completa, era estreita, às vezes enlarguecia muito, às vezes estreitava, mas era mata virgem, mata...”.

Detalhe importante na fala de meu avô é que esses acampamentos eram formados principalmente por conterrâneos.

“Aí eu já tinha um barraco feito, tinha mais de um porque eu tinha peão e tocava areal, aí tinha muita gente era uma vila, a vila dos peão do Norte”.

Em meio às dificuldades eles se ajudavam e falando com a firmeza de quem enfrentou o cerrado e o trabalho, ele relata como recebeu e ajudou outros migrantes nordestinos.

“Aí todo mundo que vinha do norte ia pra lá, eles iam pra lá os conhecidos nossos iam pra nossas casas lá e cada um ia pra casa de conhecida, eu dei muito serviço pro povo do norte no areal, eu dava um ranchinho pra ele morar e ele ficava trabalhando pra nós”.

Além de desmatar, receberam a ordem e autorização de Bernardo Sayão para retirar areia, que posteriormente seria vendida às construtoras responsáveis pelas obras dos Ministérios, Congresso Nacional, etc.

“Aí Bernardo Sayão chegou foi visitar nóis, chegou, disse: ‘oh vocês aqui debaixo desse chão tem areia vocês desdobram aqui tira uma parte por cima, desdobra e aí vocês vão colher areia, achar areia aqui de baixo.’ aí vendia lá nos ministérios, no palácio, começando no palácio aqueles ministérios todinhos nóis fornecemos e cumpade Basti comprou um carro, um caminhão e nóis fornecia areia pra ele e ele levava pras companhias pra vender”.

O narrador também relata o episódio de retirada de madeiras de lei, como jatobá, que chegou a causar um desconforto entre Israel Pinheiro, que à época era presidente da NOVACAP, e um Deputado que o acusou de desmatar e distribuir aos seus mais íntimos amigos de forma irregular a madeira da empreita.

“Aí deu orde pra nóis vende madeira, lenha pra ir comendo enquanto nóis ia vendendo algum pau de... de... uma linhagem... madeira de casa, de barraco que era o que tinha muito e era proibido, ele foi quem mandou que nóis podia usar enquanto fazia o estaleiro de areia”.

Depois de devidamente justificado, ponto a ponto por Israel Pinheiro, o episódio foi esclarecido e a madeira pôde ser utilizada.

“Tinha cada pé de jatobá que duas pessoas não abarcava não, era uma madeira muito grossa”.

Num dado momento, a alimentação, tema central de nossa conversa, evocou em sua memória o episódio do massacre da Pacheco Fernandes, quando em 1959, esse acampamento, localizado na Vila Planalto foi palco de um episódio triste. Sua fala envolveu-se de revolta e transpareceu um sentimento de compaixão àqueles que compartilhavam a mesma trajetória.

“A matança na Vila Planalto foi igual aquele [caranguru]”.

Cercado de mistérios e histórias por contar.

“Peão dormia, comia e vivia lá no acampamento da Vila Planalto, aí quando pegava briga, matavam cozinheiro, peão, ninguém sabe a quantia”.

Podemos notar a gravidade do episódio quando sua lembrança o associa ao

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